Marcos Guimarães Landell - Diretor-geral IAC
Quem acompanha o trabalho de Marcos Landell há algum tempo imaginamos que tenha duas reações ao receber a notícia de que ele havia aceitado o convite para se tornar o diretor-geral do IAC (Instituto Agronômico de Campinas).
A primeira talvez relacionada a um sentimento de posse: “Que história é essa de termos que dividir o Landell com outras culturas?”, deve ter pensado boa parte do pessoal da cana-de-açúcar.
Logo após do pensamento que sucede o susto, já raciocinando melhor, com certeza os canavieiros concluíram, não poderia haver lugar melhor para ele estar.
A entrevista a seguir vem corroborar, através do que o pesquisador já está fazendo e a sua expectativa por fazer, de que realmente o desafio se encaixa perfeitamente não somente porque se trata de um dos maiores nomes no quesito empreendedorismo científico voltado para a cana-de-açúcar que se une a instituição mais tradicional agrícola do país, mas pelo tipo de líder que é.
Ao Landell boa sorte, aos Canavieiros excelente leitura!
Revista Canavieiros: Como será sua atuação à frente do IAC?
Marcos Landell: Estou indo para Campinas com o objetivo de fomentar ideias, pretendo fazer uma inserção maior do setor produtivo para que, de alguma forma, aumente a quantidade de recursos para pesquisa. Como na minha vida inteira eu fiz isso, acho que eu posso emprestar um pouco dessa experiência nas outras culturas que o IAC trabalha.
Revista Canavieiros: Conte como foi a montagem de toda estrutura do Centro de Cana, referência em pesquisa agrícola no Brasil?
Landell: Quando organizamos a área de cana-de-açúcar do IAC, há 30 anos, foi um grande desafio, trabalhávamos com pouquíssimos recursos. Então partimos em busca de parcerias e trouxemos para dentro do centro organizações importantes como a própria Copercana, associações e usinas, e com o tempo fomos nos estruturando.
Mediante ao surgimento dos primeiros resultados também passamos a ganhar destaque internamente, dentro do próprio centro e também da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, o que foi importante para, por exemplo, formarmos o time de pesquisadores que temos hoje.
Revista Canavieiros: A formação da equipe não ficou condicionada apenas na abertura de novas vagas. Como vocês conseguiram crescer o número de pessoas?
Landell: Num caso muito interessante de parceria público/privada. Através da criação de uma fundação conseguimos abrir uma possiblidade de captação de recursos e para atuar nela (socializando o conhecimento através de cursos) fomos trazendo pessoas e, conforme identificávamos talentos para a pesquisa, convidávamos para fazer parte do time. Muitos deles hoje são gestores responsáveis por setores de pesquisa dentro do centro.
Revista Canavieiros: Você vai implementar esse perfil em alguma cultura específica?
Landell: O IAC tem um portfólio de pesquisa fantástico, quero trabalhar na área de melhoramento de planta em todas as culturas que fazem parte de seu escopo, inclusive no crescimento de lavouras menores como de uva, oliva e ervas aromáticas.
Revista Canavieiros: Qual a disposição do ambiente interno em aceitar suas propostas?
Landell: Estou trabalhando muito com a palavra resgate no sentido de trazer novamente o brilho aos olhos de pessoas que estavam desanimadas, sem perspectivas e desafios dentro da instituição. Eu acredito que vão acontecer coisas muito importantes, há um enorme potencial adormecido e não necessitando de muitos investimentos para florescerem, e assim, trazer contribuições importantíssimas para o agro brasileiro, principalmente olhando o quesito da diversidade.
O IAC já tem isso dentro de casa, lá há grandes pesquisadores que estão com as mãos amarradas porque lhes faltam um técnico agrícola para montar os ensaios por exemplo, então o objetivo é trazer condições através do envolvimento do setor privado.
Revista Canavieiros: E do alto escalão, terá apoio?
Landell: Todos os dias, tenho conversado, provavelmente em alguns meses vamos conseguir mostrar resultados desse esforço. Outro ponto importante é o apoio que chega da secretaria na figura do secretário Itamar Borges e seu adjunto, Francisco Maturro, que são pessoas bastante ligadas ao agro.
O Maturro, que foi um dos principais apoiadores para trazer a Agrishow dentro da fazenda do Centro de Cana, inclusive foi testemunha de todo trabalho desenvolvido, e quando existe respeito mútuo, tem também confiança, o que aumenta a possibilidade de maior apoio à pesquisa.
Revista Canavieiros: Uma das marcas na sua passagem pelo Centro de Cana foi não ficar dentro dos limites da fronteira do estado, desenvolvendo pesquisa numa amplitude nacional. Assim permanecerá a sua conduta?
Landell: Hoje você não tem fronteira na Europa, assim não pode colocar limites dentro de um único país, ainda mais um que tem no agronegócio sua principal atividade econômica. Além disso não dá para restringir o conhecimento de uma instituição com 134 anos como é o IAC.
Ele foi fundado na época do império com o objetivo de desenvolver pesquisas na área agrícola similares com as melhores práticas que se faziam no mundo naquela época, primeiramente focado na cultura cafeeira, mas posteriormente trabalhando com cana a partir de 1890. Isso trouxe a verticalização da produção estadual, fazendo com que o setor saísse da condição de subsistência.
Além de ter sido um dos inspiradores para a criação da Embrapa, mediante toda essa história e a qualidade de pesquisa desenvolvida ali, é impossível pensar numa disseminação do conhecimento de maneira regionalizada.
Revista Canavieiros: Já começou a montar o time que estará com você nessa caminhada?
Landell: Quem me conhece sabe que não sou centralizador, trouxe para me apoiar no núcleo da diretoria dois pesquisadores muito importantes, que são a Regina Célia de Matos Pires e o Heitor Cantarella. Eles vieram somar com o conselho diretor para dar o respaldo a todo corpo técnico para haver a segurança necessária que estamos num momento de envolvimento, de entrar de cabeça, pois muita coisa será feita e sobretudo concretizada.
Estamos empenhados em não deixar nossos pesquisadores na expectativa por não haver recursos, vamos ter os recursos, pois vamos atrás dos parceiros apresentar projetos e justificar que se houver investimento a produtividade vai aumentar.
Revista Canavieiros: O IAC é fundamental para o desenvolvimento genético do amendoim. Como o senhor pretende trabalhar com essa cultura tão importante para o Estado de São Paulo?
Landell: No amendoim nós contamos com uma estrutura minúscula, formada por um pesquisador já sênior que atua de maneira magnífica e com muita dedicação. Como você mesmo disse, já sabemos da importância da cultura para algumas regiões do estado, como a de Ribeirão Preto, e o envolvimento de cooperativas importantes, como a Copercana, e a formação de um significativo parque industrial.
Com isso precisamos procurar todo esse complexo da cadeia, inclusive os produtores, para entender suas carências em termos de pesquisa e depois propor soluções em parceria com a iniciativa privada.
São recursos mínimos, perto do que podem trazer para uma lavoura como do amendoim, um exemplo inclusive latente é a disponibilização de mais dois pesquisadores e três técnicos agrícolas para trabalharem ao lado do Ignácio José de Godoy, resultando lá no final em ganhos significativos de produtividade.
Revista Canavieiros: Solicito um exercício de projeção de como andará o Centro de Cana sem Marcos Landell?
Landell: Isso era uma preocupação do passado, em determinado momento do processo de evolução do Programa Cana eu tive que assumir um protagonismo, mas quando o modelo implementado passou a ganhar forma, principalmente quando pudemos iniciar um processo de formação de lideranças devido ao fato do mercado acreditar no que estávamos propondo, outros líderes floresceram.
Repito, “não sou centralizador”, e acredito que por isso hoje o programa anda sozinho pela presença de grandes pesquisadores líderes, desde aqueles da minha geração bem como profissionais mais novos de muito valor.
Eu tenho certeza que em menos de um ano o Centro de Cana estará melhor do que deixei, pois participei da implementação de processos de excelência que o time irá tocar da maneira objetiva que sempre foi.