O Ikigai do produtor de cana

16/10/2023 Noticias POR: Marino Guerra

Okinawa é uma ilha localizada no extremo sul do Japão banhada pelo mar da China e o mar das Filipinas, conhecida por dois fatos antagônicos, um deles de profunda tristeza por ter sido o palco, em 1945, de uma das mais sangrentas batalhas da segunda guerra mundial, travada entre o extinto exército imperial japonês e as forças armadas dos Estados Unidos, que levou mais de duzentas mil vidas.

Porém, o segundo é de extrema felicidade, pois a ilha tem a maior média de centenários do planeta, longevidade atribuída por muitos ao IKIGAI, ou numa tradução livre: “A razão pela qual eu acordo todos os dias de manhã”, uma filosofia que os ajudam a encontrar o propósito e a felicidade nas atividades diárias.

Aos que consegue encontra-lo, a aposentadoria deixa de fazer parte dos planos para o futuro, pois simplesmente suas rotinas são a razão deles continuarem a ter uma vida feliz.

Representado por uma mandala, o início da prática consiste em responder à quatro perguntas: O que você ama? Em que você é bom? Pelo que você pode ser pago? O que o mundo precisa?

Quando agrupadas em pares, as respostas indicam características onde, por exemplo, se um produtor responder que ama a agricultura e é bom em produzir cana, isso é sua paixão. Quando a produtividade é a resposta pelo que ele pode ser pago, ao ter como par aquilo que ele é bom (produzir cana), isso remete ao seu profissionalismo.

O par formado entre a remuneração e a resposta sobre o que o mundo precisa, que no exemplo pode ser bioenergia e alimento, então se tem a vocação e, fechando o ciclo, na relação entre o que o mundo precisa e aquilo que o indivíduo ama, se revela a missão.

Posteriormente, vem mais uma sequência de pares, quando a mistura é entre a paixão e a profissão, se encontra a satisfação, porém é gerado um sentimento de inutilidade, pois se faz aquilo que gosta, onde é bom e bem remunerado, mas falta a questão em entender o que tudo aquilo pode beneficiar os outros, é tipo uma festa onde somente eu estou curtindo.

Da mesma forma, quando a ligação é entre a profissão e a vocação é possível alcançar a sensação de conforto, contudo haverá um vazio, pois faltará o amor, a paixão, o sentimento de pertencimento na atividade.

No caso da vocação e missão surge o entusiasmo, mas também a insegurança de que, embora se tenha a remuneração, sabe-se que a estabilidade é finita, pois falta o talento, como um atleta disciplinado, porém sem o dom para o esporte, que ao perder a condição física pela idade não consegue mais permanecer entre os melhores.

Por fim, quando a paixão e a missão se relacionam, é revelada a alegria, no entanto de bolso vazio, exceto aqueles que possuem uma renda externa que sustentem esta ligação.

Então, no caso de um canavieiro, para conseguir encontrar o seu IKIGAI basta ele amar a agricultura e produzir bem, com qualidade e sustentabilidade.

Nas próximas páginas contaremos diversas histórias que mostram as práticas de diversos produtores e profissionais da canavicultura, cujo conteúdo é a simples razão deles acordarem é irem para a roça, não apenas para trabalharem, mas para viverem a vida deles, e principalmente serem felizes naquilo que fazem.

Observação: coincidência ou não, uma das principais produções agrícolas da ilha de Okinawa é a cana-de-açúcar.

 

Em que você é bom? Ter um canavial totalmente sistematizado
E não estamos falando apenas do desenho do talhão

 

O verbo “sistematizar” no mundo canavieiro está ligado no importante manejo de fazer o desenho das ruas da maneira mais inteligente possível pensando no aproveitamento melhor do espaço e, principalmente, na qualidade da colheita e redução de pisoteio na soqueira.

Como dito, um processo fundamental para quem quer fazer parte da elite produtiva canavieira, contudo, após conhecer como o produtor Alfredo Benedetti Gonçalves administra sua produção, a tradução para o termo sistematização deveria ser mais ampla e passar a identificar o conjunto de manejos que ao serem adotados no modo e tempo corretos traz resultados positivos, seja em produtividade, na redução de custos e/ou na longevidade da soqueira.

“Acho que a agricultura é um sistema, não adianta eu querer fazer só uma coisa e deixar outra de lado, ou usar só um produto. É necessário todo um trabalho que vai desde a análise de solo bem-feita, a correção, a escolha de variedades, a produção de mudas, uma colheita bem-feita, pois é um processo delicado, que pode prejudicar um canavial sadio, e aí vai desde esperar o terreno secar bem depois de uma chuva para evitar a compactação. Essa é a ideia do sistema, fazer todos os manejos, não apenas da maneira correta, mas também sempre agregando uma prática para beneficiar, como o uso de biológicos, condicionadores de solo, tudo isto medido e analisado se realmente traz ganho de performance”, explicou Benedetti.

Partindo da rebrota como o grande foco inicial, a primeira ação de sua sequência de processos que chama a atenção é a retirada da palha da linha, e não é uma prática recente, que vem sendo bastante utilizada pelos produtores para controle de pragas de solo, mas seu alvo é não ter obstáculos que possam interferir na rebrota: “meu manejo de Sphenophorus é preventivo através do corte de soqueira, eu faço a retirada da palhada da linha em áreas onde a colheita é realizada em julho, quando os dias normalmente são mais frios, se não tem barreiras física, a cana sai mais rápido”.

Em seguida, dá o passo inicial em sua estratégia de manejo nutricional com a aplicação do boro sólido em grânulo (fonte ulexita), que é menos solúvel e com isso está pouco sujeita à lixiviação por fazer a liberação gradual do nutriente.

Aplicando de 25 a 30 quilos por hectare do micronutriente na linha, ele garante o suprimento necessário ao longo de todo o ciclo. Para se ter ideia, estudos apontam que o ácido bórico tem uma solubilidade de 49 g/l a 20ºC, enquanto na ulexita é de apenas 0,9 g/l.

“Na recomendação padrão, em um litro você terá 136 gramas de ácido bórico, antes eu fazia de 1,5 a dois litros no corte de soqueira e depois mais uns dois litros via foliar, ou seja, seria mais ou menos 500 gramas contra 2,5 quilos que é a quantidade do micronutriente presente da ulexita nos 25 quilos que distribuo hoje. Além disso mantenho um litro de foliar, para ajudar no arranque de desenvolvimento com a chegada da primavera, então consigo oferecer ao canavial uma quantidade maior por todo o ano numa relação de custo, observando apenas a aquisição do insumo, que não chega a 20% a mais”, disso o produtor.

Imediatamente após, é feita a correção de solo e o corte da soqueira, os quais são executados em dois tanques separados, um para os inseticidas químicos (ele trabalha de maneira preventiva na defesa contra a broca, cigarrinha e Sphenophorus) e o outro com a parte nutricional e condicionares de solo.

“O Alfredo é um produtor que pensa no manejo, porque independente se tem ou não a praga ele percebeu que se trabalhar no preventivo tem um resultado muito melhor, o desempenho do produto também é melhor, ao invés dele ficar esperando. Então, por exemplo, ele corta a soqueira visando ao Sphenophorus, só que a tecnologia que usa dá supressão também na cigarrinha”, disse o RTV da Copercana, Augusto Segatto Strini Paixão, que também ressaltou o perfil de trabalho de Benedetti: “ele faz o que precisa ser feito, executa o manejo, mede e analisa se valeu a pena ou não”.

Essa postura traz resultado, na última safra o seu índice de broca foi 0%, quando chega perto das águas ele faz a contagem de cigarrinha, prática que executa há quatro anos, sem a constatação de índice para refazer a pulverização, ou seja, a proteção do corte de soqueira segura a proliferação da praga.

Finalizando a sequência de manejos da rebrota, é aplicado na linha 90 quilos de potássio por hectare através da vinhaça que tem em parceria com a unidade industrial que fornece a matéria-prima, contudo, através do que é indicado na análise de solo, ele complementa com uma taxa que varia entre 50 a 80 quilos de KCL.

Perante trabalho tão minucioso, a resposta vem em produtividade e longevidade. Como já terminou a colheita, ele produziu em média 111 toneladas por hectare com um ciclo médio de quatro anos, tendo talhões no quinto corte que entregaram 115 toneladas por hectare.

“Meu foco é a média de cinco anos, claro que quero ter o sexto, sétimo, mas eu preciso conseguir produzir 500 toneladas em cinco safras, é assim que eu consigo expressar o lucro planejado”, disse Alfredo, que possui um modo bastante consciente de enxergar a gestão de sua operação: “Eu preciso ter a lavoura forte, o chão pronto, pois quando o clima está favorável, ter uma produção significativa. Por outro lado, sei que vão ter anos de geada, estou sujeito a sofrer com incêndios criminosos, que vai chover metade da média histórica, que vai ter um janeiro com um veranico de 20 dias, fatores como esse precisam ser considerados porque ocorrem com certa frequência, calculo uma produção ruim nesses casos, mas com o manejo, a pancada é amenizada”.

E completou seu pensamento falando como encaixa as novas ferramentas que surgem através do processo de inovação da indústria de insumos: “Depois que está tudo certo, o chão arrumado, o V% correto, o arroz com feijão está bem-feito, vou acrescentando outras práticas como o uso do aminoácido pós-herbicida. Por exemplo se usar um Boral com Reator vai dar fito, o aminoácido reduz o sofrimento da planta que pode durar até quinze dias, ou seja, é preciso executar os trabalhos na hora certa, respeitando as condições ideais, conhecendo as ferramentas e quando o clima traz boas condições, a performance vem”.

Reforma do Canavial

Como não poderia ser diferente, Alfredo adota a mesma postura, sistematizada, também nos manejos que envolvem a reforma do canavial. Cultivando soja como cultura de rotação, além da questão financeira e nutricional que a leguminosa se destaca, ele também aponta para o controle de plantas e pragas invasoras como prática preventiva em relação ao novo canavial como por exemplo o uso do glifosato que influencia no banco de sementes e o combate ao percevejo da soja, como maneira de dinamizar o controle das principais pragas canavieiras.

E mais uma vez se torna evidente a lei do retorno na agricultura, ou seja, a terra e as plantas devolvem os agrados que são feitos nelas, tanto que em ano bom de chuva a produção da fazenda se aproxima nos 70 sacos de soja por hectares, enquanto que na seca rigorosa são produzidos quase 55 sacos, o que é suficiente para pagar as contas e fazer uma reserva com o objetivo de investir na formação do novo talhão de cana.

Quanto ao material genético, como o padrão é o início da colheita no máximo em 15 de maio e a finalização no meio da safra, seu perfil é focado em variedades de maturação precoce e média.

Como faz o desenvolvimento do viveiro primário a partir de mudas adquiridas no formato de MPB (tanto como a formação de linhas-mãe no sistema de meiosi, como na formação de cantosi) o produtor consegue observar as que melhor se adaptam ao seu ambiente e, principalmente, ter boa brotação de soqueira, fator indispensável para ser convocada a entrar no time comercial.

Sendo hoje a sua preferida a IACSP01-5503 e mostrou um talhão onde o primeiro corte teve que ser feito com a roçadeira, em virtude da geada de 2021, com uma CV 6654 ao lado, colhida junto e com a mesma idade, que conta com um desenvolvimento inicial da primeira muito superior para justificar sua escolha.

Outra querida da fazenda é a IACSP95-5094 pelo seu arranque inicial, mas também por ter entregue 166 toneladas por hectare no primeiro ano de cultivo. Por outro lado, mesmo produzindo bem, a RB97-5201, deixará o plantel por não se adaptar a estratégia do produtor: “Esta é uma variedade que não vou trabalhar mais, muito boa de produzir, entregou um TCH de 145 no segundo corte, mas ela é ruim de brotação de soqueira, e isso fez com que deixe de fazer sentido para minha estratégia, eu até fiz Etrhel (regulador de crescimento) nela para melhorar sua rebrota, é a única variedade que adotei esse manejo, melhora muito, mas mesmo assim sua manutenção não faz muito sentido”.

Quanto ao manejo do plantio, o primeiro destaque é sua convicção na forma manual, tanto nas meiosis como em áreas totais, embora todo o rigor de sua adequação perante a regulamentação trabalhista, o que é seguido à risca, ele não consegue enxergar viabilidade na adoção da mecanização.

“Além de todo o investimento em estrutura, pois além da plantadora é preciso ter uma frente de colheita adaptada, o consumo de mudas é muito maior, são cerca de sete toneladas a mais por hectare, o que não fecha a conta na minha metodologia de trabalho, pois eu que monto meus viveiros e cultivo minhas mudas”

Sobre os fatores que o influenciam a adotar a técnica da meiosi ou não, Benedetti revela que leva em consideração o tamanho da área, pensando em sua capacidade em executar a irrigação de salvamento da linha-mãe, mas ressalta que a técnica é muito importante quando se observa a economia de muda.

Em suas contas, em um hectare de viveiro, formado por algo em torno de 11 mil MPB’s, num desdobramento conservador de 1:5, é possível fazer dez hectares de linhas-mãe, o que resultará em um canavial de 50 hectares.

E para que não falte nada, no sulco de plantio o produtor trabalha com um verdadeiro banquete tecnológico que vai desde o uso de defensivos biológicos, o boro (fonte ulexita), azospirillum com molibdênio, ácidos úmicos e fúlvicos, fungicidas, além de outras ferramentas que após serem testadas acabam entrando no manejo.

Para encerrar, vale o destaque que com a mesma atenção e capricho que o produtor dedica à lavoura, as áreas de preservação também são cuidadas, o que é perceptível através da preservação de aceiros totalmente limpos e demarcados com postes de concreto e o plantio constante de mudas de espécies nativas com o objetivo de acelerar o processo de reconstituição da vegetação.

Pensando sob o ponto de vista do Ikigai, o produtor Alfredo Benedetti tem como paixão, compromisso profissional e vocação trabalhar com um sistema de produção que ao mesmo tempo onde é bem definido, é aberto a adoção de novas práticas e tecnologias para cumprir com sua missão que vai além da rentabilidade, mas ser espelho de como é possível cumprir uma verdadeira maratona das 500 toneladas de cana-de-açúcar em pelo menos cinco cortes, onde mora o seu propósito de vida.

 

O que o mundo precisa?
Profissionais inovadores

Que tenham coragem para propor e força para conseguir executar as mudanças necessárias

Quem tem em sua personalidade a busca incessante pela vitória sabe que a pior das derrotas é quando ela acontece para si mesmo, pois vencer ou perder faz parte da competição da vida, o problema é quando a derrota vem por W.O., quando nem se sobe no ringue por medo, incompetência ou o mais vergonhoso dos motivos, comodismo.

“A vinhaça, hoje, ocupa o destaque que sempre deveria e mereceu. Já foi tratada apenas como resíduo, algo secundário. Quando constatamos os primeiros resultados de sua aplicação localizada, o cenário mudou completamente e hoje, para nós, ela é considerada um divisor de águas no cultivo de cana-de-açúcar da Alta Mogiana”.

O depoimento acima é do gerente do processo de nutrição e fornecedores da usina localizada em São Joaquim da Barra-SP, Gustavo Villa Gomes, que atualmente é um dos líderes do mais bem-sucedido projeto de implantação de aplicação de vinhaça na linha de cana do setor. Uma história inspiradora de profissionais que encararam o desafio complexo e venceram.

Iniciado em 2017, após uma reformulação da área agrícola, quando foi criado um setor focado somente na nutrição e puderam ser observadas oportunidades de melhoria na distribuição de vinhaça e na questão da saturação de potássio. O manejo localizado deu seus primeiros passos de forma tímida, com apenas três aplicadores (conjunto formado por um trator, dotado em média de 230 cavalos de potência, já equipado com GPS e controladores de vazão num implemento capaz de cobrir oito linhas) atingindo apenas 8,7 mil hectares.

“Começamos a trabalhar em pequena escala, mas queríamos mais. Quando fomos ao mercado e conhecemos o fabricante do implemento que faz a distribuição da vinhaça na linha e compramos os primeiros, foi possível estudar a dinâmica da atividade e criar processos. Ao final da safra, avaliamos os resultados e tomamos a decisão de comprar mais um conjunto, para ficar com duas frentes e saltamos para 22,4 mil hectares. Neste período começamos a pensar na viabilidade de criarmos mais de um ponto de abastecimento, o que era plausível, especialmente por iniciarmos também o enriquecimento através da adubação líquida (nitrogênio, fósforo e micronutrientes) e, com o aumento da área, precisávamos reduzir o tempo de viagem e a distância percorrida dos caminhões tanques que levam a vinhaça dos pontos até a área onde as frentes estão trabalhando”, contou o supervisor de produção, Moizes Ferreira Teles Neto, que está no projeto, praticamente, desde o primeiro dia.

As safras foram se sucedendo e a estrutura nunca parou de crescer. Em 2019, a frota chegou a seis conjuntos (três frentes). No ano seguinte, foram adquiridos mais quatro que permitiram o trabalho em quase que o dobro da área da temporada anterior, e atingindo assim, praticamente, a área total de colheita da usina, sem contar os fornecedores.

Em 2021, a estrutura foi a mesma, com a frota chegando a 14 conjuntos aplicadores, sendo quatro divididos com a irrigação e marcando a aplicação da vinhaça também em áreas de fornecedores, abrangendo em torno de 10 mil hectares. É válido ressaltar que no ganho de área também estão envolvidos talhões definidos para receber uma segunda aplicação, sendo a adicional somente com a vinhaça e também locais vítimas de incêndios.

Contudo, para a estrutura funcionar de maneira correta foi preciso ir além dos tratores e implementos com a criação de quatro pontos de abastecimento, com oito pistas, dotados de tecnologia de automação que coloca a dose planejada de adubo.

Toda essa engrenagem, que ao longo dos 200 dias de safra trabalha em três períodos, é capaz de aplicar na linha da cana 2,5 milhões de litros por dia. Além disso, a equipe também é responsável pelo desenvolvimento da logística que vai distribuir o produto gerado pelo processo de produção de etanol pelos tanques, o que exige muita atenção, pois acontecem momentos em que a atividade agrícola precisa ser interrompida por chuva, por exemplo, e o volume continua vindo da usina que às vezes nem para. Isso exige uma estratégia de distribuição eficaz e que não sobrecarregue a estrutura de armazenamento.

Da mesma maneira, é preciso contar com um fornecedor de adubo líquido que principalmente consiga atender à rotina de demanda e também entenda a necessidade de parceria no sentido de propiciar instalações de armazenamento e até equipamentos dosadores, trabalho que a Fass Agro vem desempenhando de maneira satisfatória, inclusive ganhando a confiança necessária para se transformar no parceiro exclusivo da usina na atual safra.

Para quem conhece a fundo as oscilações do mercado de adubos, conseguir uma exclusividade numa usina do tamanho e seriedade como as da Alta Mogiana, não é tarefa fácil.

“Acredito que o maior desafio é manter a melhoria contínua dos processos, o que nos exige estar atentos às melhores práticas do setor e procurar indicadores e soluções para desafios que, de fora, podem parecer pequenos, mas que são complexos - por exemplo, fazer uma bomba atender a dois reservatórios diferentes - que surgiu com a implantação de um ponto adicional de carregamento”, disse o encarregado de produção, Wellington Aparecido da Silva.

 

Vantagem em relação à adubação sólida

“Como nós tínhamos um processo de distribuição da vinhaça via hidro roll, que demandava uma grande estrutura, seguida mais de pessoas e máquinas para realizar a adubação sólida, com tratores, adubadeiras, guinchos... Na vinhaça localizada, nós unificamos essas duas atividades, concentramos pessoal e infraestrutura em apenas um manejo, que ainda ‘pisa’ em apenas duas de cada oito ruas”.

Em sua análise, Moizes narra somente um detalhe da grande revolução que a fertirrigação através da vinhaça localizada trouxe para a Usina Alta Mogiana. Outra vantagem da nutrição líquida é que a planta vai absorver o nutriente no momento que suas raízes tiverem contato com ele, ou seja, é um alimento imediato, o que não acontece quando é distribuído o sólido, que depende da água, na maioria dos casos da chuva, para começar a entregar algum alimento para a planta.

A diferença da fonte do potássio também é um item que precisa ser considerado, na versão sólida ele é um cloreto, ou seja, um sal que pode causar estragos na microbiota do solo, enquanto o nutriente originário da vinhaça é orgânico, vem pronto para a planta absorver. E potássio de qualidade, gera mais potássio de qualidade: como já pratica o manejo há seis anos, a empresa conseguiu um patamar quatro vezes maior do que a média de outras empresas, em presença de potássio por litro de vinhaça.

Outro destaque é a importância dela como irrigação, conforme explica Villa: “Aplicamos na touceira, justamente no momento de stress hídrico e que ela precisa de energia para rebrotar, para fazer raiz e as primeiras folhas”.

Tudo isso, culminando no maior dos argumentos quando se fala em cana-de-açúcar, a Alta Mogiana apresenta na corrente safra uma média de produtividade próxima de 115 toneladas por hectare, lógico que na agricultura nenhum resultado vem sozinho, mas todos na empresa não têm dúvidas de que a fertirrigação é um dos protagonistas.

“A vinhaça localizada é um divisor de águas na adubação. Você viu a estrutura que foi montada, cada centavo investido foi baseado em avanços comprovados, seja na redução de custos como no ganho de produtividade. Nossa diretoria tem plena ciência da representatividade do manejo sob o ponto de vista estratégico”, completou Villa.

Oportunidade para os fornecedores

Como as coisas que dão certo no campo precisam ser propagadas (é para isso que existe a Revista Canavieiros), a usina passou, a partir de 2022, a ofertar aos seus fornecedores a aplicação da vinhaça localizada, acrescentando na temporada atual, a possibilidade de aquisição enriquecida com adubo líquido.

Na colheita de 2023, os primeiros resultados registraram um ganho de produtividade superior a 15%, onde metade se deu em razão do clima favorável. E os outros 50%, a única mudança que tiveram em suas rotinas, adivinha qual?

“Batemos muito nesse assunto nos encontros com os fornecedores, sempre digo que eles podem optar por não fazer um monte de coisas, mas perder a oportunidade de uma lâmina rica em potássio na linha, logo no momento da rebrota, é negar um benefício reconhecido e consolidado” resumiu Villa.

Ele ressalta que ainda há uma resistência de produtores quanto ao adubo líquido, pois analisam somente o custo imediato, o que é um erro, especialmente, neste caso em que as vantagens já são nítidas nos canaviais, muitas vezes ao lado da área deles.

Na mandala que representa a filosofia Ikigai, ficam nítidos o profissionalismo e a vocação de todos envolvidos com o projeto de fertirrigação para o cumprimento da missão. No entanto, talvez o elemento fundamental para o sucesso da empreitada é a paixão que todos demonstram pelo ofício, o que deixa evidente o propósito profissional deles, eles sabem porque acordam a cada manhã.

 

 

Pelo que você pode ser pago?
Pela persistência

A felicidade em se fazer o que precisa ser feito

Qual é a reação da grande maioria das pessoas frente aos problemas imponderáveis? Muitos se revoltam, outros caem no desânimo e tem ainda aqueles que tentam se livrar deles através da criação de soluções mágicas encaixadas de maneira forçada como medida que trará até um conforto artificial momentâneo, mas quando essa barragem feita de isopor estoura, aí que a situação virá furiosa, podendo aniquilar tudo o que estiver pela frente.

Sábios, verdadeiros conhecedores dos sabores da vida, são aqueles que encaram o fato de frente e persistem até que uma solução seja alcançada, não importando quanto de tempo e energia ela demandará, pois sabem que todos os dias apareceram soluções e problemas novos o que faz parte da grande jornada que é a vida.

Imagina se os imigrantes italianos e japoneses, que fizeram do Estado de São Paulo um imenso mar bioenergético se rebelassem ou então desistissem quando chegaram no porto de Santos e perceberam que a propaganda de uma vida maravilhosa na América não condizia com o que prometiam.

Ou então o gaúcho que transformou o Centro-Oeste no grande celeiro do mundo, fosse pedir indenização para o governo se fazendo de coitado para cada perda na família por falta de recursos médicos ou ataques de animais ao invés de ir destocar o campo e brigar contra a acidez do solo do cerrado para formar as lavouras originárias da maior região produtora de grãos do mundo que é hoje.

A prosperidade que o agro tem é fruto de coragem, força, persistência, de fazer o que precisa ser feito, um acúmulo de histórias de superação, ano após ano, plantio após plantio, colheita após colheita, safra após safra, fazenda seguida de fazenda, vividas numa velocidade e intensidade tão alta, que se reunissem todas em livros, seria necessária uma biblioteca do tamanho do planeta Terra para armazená-las.

E nela, na sessão cana-de-açúcar, estante Copercana, prateleira Sertãozinho, seria encontrado um livro sobre o produtor Sergio Bota e dentre as diversas histórias, muitas delas já contadas inclusive nas páginas desta revista, como a do triciclo criado para pulverizar o canavial já grande, haverá uma sobre que deixará claro o doce sabor dos frutos que a árvore da persistência reserva somente para aqueles que sabem cultivá-la.

Ainda é clara na memória de qualquer canavieiro a crise climática vivida no início da atual década cujo seu pico foram as geadas de 2021 seguidas de incêndios incontroláveis lambendo como labaredas a produtividade paulista em mais de 50 milhões de toneladas.

Se não bastasse a complexidade do cenário local, o mundo vivia problemas no suprimento de insumos agrícolas devido à pandemia, agravado em seguida com o início da guerra entre Rússia e Ucrânia.

Um cenário desse é um prato cheio para se trancar na sede e ficar esperando até o sol voltar a nascer. Contudo o jogo da agricultura não é para os covardes e o protagonista do livro fez o contrário. Pragmático, ele manteve sua estratégia que em resumo, para a soqueira, é baseada em três ações as quais são executadas em 100% do canavial. Proteção contra as pragas e daninhas e nutrição.

“Eu carrego comigo uma lógica de trabalho, quanto mais você trabalhar com a terra, cuidar da lavoura, pode não vir de maneira imediata, mas com certeza, no longo prazo, retorno ela te dará”, disse o agricultor que revelou um ganho na atual safra, com metade da sua cana colhida na data que recebeu a reportagem, de 9,6 toneladas por hectare, desempenho bastante expressivo, ainda mais quando se acrescenta a informação que se tratou das mesmas áreas do período passado, ou seja, um ciclo mais velhas.

Manejo de persistência

Uma das vantagens em estabelecer uma rotina é que a previsibilidade vem junto, o que abre uma grande janela de oportunidades, principalmente no sentido de se antecipar aos problemas, que na agricultura vão e voltam.

Como é o caso do preço dos insumos, sempre quando é possível, Bota antecipa seu investimento em épocas que os valores, condições e/ou disponibilidade da tecnologia estão mais favoráveis.

O que lhe permite, por exemplo, adotar uma rotação de inseticidas no corte de soqueira, na temporada atual ele está utilizando o Engeo Pleno S, contudo, em cada um dos últimos anos, fez uso das melhores soluções disponíveis no mercado.

Na adubação, ele enterra um volume médio de 500 kg por hectare, como estes são os primeiros tratos onde está irrigando com vinhaça em 100% da área, sua adubação é quase toda líquida numa formulação NPK de 18-06-23.

E finaliza o seu tratamento antes da rebrota com o uso de um herbicida de longo residual, utilizando em 2023 o Provence Total: “Minha base de tratos é rigorosa, quando tenho oportunidade eu assimilo novas tecnologias, mas não diminuo o meu padrão. Depois que tira a cana, faço 100% de corte de soqueira, de nutrição e herbicida”, concluiu Bota.

O produtor destaca como exemplo da adoção de ferramentas disruptivas a substituição da adubação do nitrogênio mineral convencional pelo BVBooster, da Euroforte, que estimula a fixação biológica do macronutriente, sendo adotado depois que viu em sua própria área através da realização de um campo experimental.

Uma quarta regra, já comentada neste texto, mas merecedora de um destaque maior é a aplicação de vinhaça em todo o canavial, mesmo nas áreas mais distantes da usina, o que foi colocado em prática pela primeira vez neste ano.

Sendo um dos principais motivos que o levou a tomada desta decisão uma área em Pitangueiras de 13 hectares que colheu o seu oitavo corte e produziu 104 toneladas por hectare. Ele conta que se trata de um canavial tirado em meados de maio e que sempre recebeu pelo menos uma lâmina de 20 mm, além de todos os tratos da casa: “Ela ajuda muito, outro dia eu fiquei abismado quando soube que era o único fornecedor que buscava a vinhaça em uma das usinas que eu forneço, eu faço questão de garantir em contrato, na minha visão, o canavicultor não pode perder a oportunidade de fertirrigar o seu canavial”, disse Bota.

Porém, com o conhecimento de que não se pode relaxar adquirido pela experiência no campo, em breve ele irá implantar uma inovação que se bem-sucedida vai trazer benefícios ainda maiores. Está em fase final de fabricação um aplicador de vinhaça na linha automatizado desenvolvido pelo próprio produtor em parceria com uma empresa de automação e outra de implementos o qual deve eliminar o corte de soqueira da operação, pois terá um tanque de 600 litros somente para o inseticida, e com isso reduzirá uma entrada na cana.

Além de aliviar a planilha de custo e os aspectos físicos do solo (com menos pisoteio), o projeto já desperta o interesse de outros produtores mediante o seu custo, que é pelo menos cinco vezes menor em relação aos equipamentos similares disponíveis no mercado.

Mas ainda não acabou, a aplicação do herbicida terá as rodas trocadas por hélices através da aquisição de um drone com capacidade para levar 40 litros de calda, equipamento que teve a concorrência de um autopropelido e venceu a disputa pela facilidade de transporte para quem tem sua operação em áreas picadas, como é o caso do protagonista da história, pois cultiva seus 300 hectares de cana em quatro municípios diferentes (Sertãozinho, Pitangueiras, Jaboticabal e Pontal) divididos em 15 sítios.

A aplicação aérea também deverá ter muita demanda nos manejos das águas, onde o padrão é fazer a nutrição foliar, o fungicida e também a defesa preventiva para broca e cigarrinha, a qual neste ano será utilizada pela primeira vez em área total a ferramenta biológica Boveril Cana (Beauveria bassiana) da Koppert, entrando com químico onde for identificado aumento de infestação.

E a lista de serviços do robô aéreo não para por aí, no verão, ele será o responsável por toda a pulverização na soja (cerca de 50 hectares) que Bota planeja cultivar.

Sua rotina de trabalho ainda contempla o replantio de falhas, correção do solo em anos intercalados, constante visitas a cada talhão entrando na cana para checar como está o seu desenvolvimento e a busca por assistência técnica, como a do agrônomo da Copercana, Guilherme Tonielo Barbosa, trabalho intenso que é retribuído com uma média de seis ciclos em toda sua operação.

“Sabemos que hoje um canavial precisa ter longevidade, se não tratar todos os anos de forma correta, você não perde só a produtividade, mas a longevidade também. Se precisar reformar a área toda com três ou quatro cortes a conta não vai fechar, isso mediante uma curva crescente há um bom tempo do custo de plantio. Por isso, a Copercana trabalha com um portfólio com o que há de melhor na questão de tratos, o que, aliado à nossa filosofia de estarmos sempre próximos do cooperado, conseguimos ajuda-lo a ter o ciclo mais longevo e produtivo possível”, disse Guilherme.

No entanto, se não tem problema, não tem roça, e a principal dor de cabeça desta safra é o florescimento de algumas áreas em virtude do atraso de quase um mês na colheita. Até o dia dez de agosto ainda faltava 30% do canavial a ser colhido: “Em julho praticamente não tirei cana, tenho um canavial de segundo corte que já floresceu e o problema é a isoporização, o que faz perder a gordura que havia ganho com as boas chuvas”, disse Bota se referindo às condições climáticas positivas do primeiro semestre, que também foram as principais responsáveis pelo atraso da colheita, revelando assim um dos diversos paradoxos que faz da agricultura uma atividade tão desafiadora mas, ao mesmo tempo, apaixonante.

Quando questionado se ele estudava a formação de uma frente de colheita própria com o objetivo de evitar os transtornos que o atraso traz, o canavieiro mostrou um segundo perfil profissional, o qual dedica a mesma persistência dos afazeres de todos os dias, com o futuro, que em sua visão é dividido em duas partes, a chegada da próxima geração e a sustentabilidade da operação.

Para implementar as ações sociais e ambientais, a colhedora acaba deixando a lista de prioridades para dar lugar a investimentos como do próprio drone, o planejamento para a aquisição de uma plantadeira automatizada e o investimento na construção de uma ampla estrutura (que vai desde barracões até banheiros, refeitório e escritório) propiciando um ambiente de trabalho que exija cada vez mais dos neurônios ao invés dos músculos.

“Eu acredito que dentro de poucos anos as usinas vão exigir a comprovação das boas práticas de seus fornecedores, isso não porque eles querem, mas o mundo, que são nossos clientes vão pedir”, disse ao se referir que já iniciou o processo de adequação para a certificação Bonsucro e prefere ir fazendo as melhorias aos poucos do que ser pego de surpresa e ter que mudar tudo de uma hora para outra, o que acarreta em custos maiores e problemas de adaptação aos novos processos.

Quanto a próxima geração, seu pensamento é que não basta deixar “apenas” a propriedade: “eu preciso acompanhar a tecnologia para atrair o interesse dos mais novos, para eles irem se envolvendo, pois se não me preocupar com isso e desenvolver o trabalho apenas da forma como eu acredito ser a certa, as chances de tudo que foi construído acabar num simples arrendamento são grandes”, finaliza Sergio Bota.

O entusiasmo de Bota mostra que seu Ikigai está quase que completo, ficando apenas um ponto de incerteza quanto a próxima geração, contudo como diz o ditado do interior, que um fruto não cai muito longe do pé, somado aos exemplos da família, e ao esforço do produtor, o futuro, que é incerto por natureza, está muito bem encaminhado.

 

O que o mundo precisa?
Alta tecnologia integrada e, principalmente, disponível

Quando todos têm acesso a ferramentas que ajudarão no ganho de produtividade

Uma área com grande pressão de plantas invasoras somada a um produtor dando os primeiros passos na cultura canavieira, esta poderia ser a combinação perfeita para uma empreitada malsucedida. Porém, a história contada em Santa Cruz das Palmeiras através de um dia de campo mostra como é possível disponibilizar tecnologia para todos que buscam a evolução de suas lavouras.

O protagonista da história é o prestador de serviços agrícolas e produtor de soja e cana Felipe Rodrigues, que com o DNA de homem do campo encarou o desafio de formar um canavial numa área com grande pressão de plantas daninhas, especialmente grama-seda, mamona e corda-de-viola, que chegara a tal situação em virtude de receber aplicação de vinhaça por diversos anos.

Antes do plantio, realizado no mês de março, ele instalou uma lavoura de soja onde já iniciou sua batalha contra o mato com o uso do glifosato, o que foi fundamental para o controle do capim-colonião. Logo após o plantio da cana, na pré-emergência da cultura e das daninhas, foi feita a aplicação de dois herbicidas com amplo espectro, o Boral (sulfentrazone), com o Provence Total (indaziflam e isoxaflutole), esse último trazendo como característica o efeito residual mais elevado gerado pelo indaziflam possuir baixa lixiviação, formando uma camada que as daninhas, ao brotar, precisam atravessar.

Mesmo com as duas ações pesadas, o produtor já estava preparado por eventuais escapes, principalmente da mamona, até porque as opções de defesa escolhidas anteriormente surtem pouco efeito específico para esta planta.

Foi dito e feito, e quando os escapes surgiram apareceram diversos pontos de mamona, corda-de-viola e grama-seda. Como a cana já havia brotado e há um cafezal na vizinhança, o uso do 2,4D foi descartado, sendo a solução desenhada com a união de três tecnologias, uma herbicida, o Aurora (carfentrazona-etílica), uma ferramenta que embora não seja totalmente seletiva para a cana (gera alguma fito), é muito eficiente no caso das folhas largas e seletivo ao café.

Para evitar mais um pisoteio antes mesmo do quebra-lombo e também pensando no aumento da força do vento na área ao longo do inverno, o produtor decidiu fazer a aplicação via drone acrescentando a nova ferramenta adjuvante disponibilizada ao mercado pela Union Agro, o Adherence Spray, um produto antideriva pensado nas pulverizações aéreas feitas por robôs, necessitando de apenas um mililitro para cada litro de calda.

O resultado, apresentado no dia de campo, foi a área limpa das folhas largas, restando apenas alguns pontos com a grama-seda. Se houver um crescimento acelerado ele vai capinar, mas se o tamanho permanecer até a hora do quebra-lombo, que ele planeja para as primeiras águas, vai adotar o Boral Full (sulfentrazone e tebutiurom), com atuação para as gramíneas e folhas largas, como ferramenta.

Para o que ficar de grama-seda, será feita uma catação com glifosato e assim a expectativa é de que o canavial cresça no limpo.

Dia de campo: Com o case apresentado, os principais parceiros do produtor organizaram um dia de campo com o objetivo de disseminar o conhecimento para que os canavieiros da região pudessem assimilar os manejos e empregá- los em suas respectivas áreas.

A Copercana, como fornecedora das tecnologias de insumos, participou da realização, assim como a Union Agro, que utilizou uma cabine para simular uma aplicação em dia de vento e a diferença do uso do Adherence Spray em relação a uma pulverização sem adjuvante e posteriormente, numa forte ventania, realizou-se a aplicação via drone com e sem o adjuvante, onde ficou claro, através do uso de fitas de registro, que a ferramenta é fundamental para o produto atingir o alvo naquelas condições.

A mesma empresa que realizou a aplicação via drone, a Agro GPS, também presta um serviço de bastante valia para a região, o aluguel de piloto automático, tornando a tecnologia disponível para todos os produtores da região, o que gera, além da sistematização da área, dados importantes para diminuir o pisoteio na colheita, bem como na aplicação aérea por robô.

“Percebo que aqui em Santa Cruz e região, conforme a tecnologia aumenta, seja de GPS ou de drones, o produtor se sente mais confortável em fazer uso de insumos mais modernos, o que acarreta em canaviais mais sadios”, disse o agrônomo da Copercana, José Roberto Ferracini.

“Lógico que os custos são importantes, mas precisamos ficar atentos a tudo que vai chegando de novo e sabermos escolher aquilo que vem para somar conforme nossa realidade”, finalizou o produtor Felipe Rodrigues.

Relacionado ao Ikigai, quando a tecnologia se torna disponível, a prosperidade, que é algo intrínseco ao propósito, se torna um alvo com possibilidades maiores de ser acertado.

 

A maleabilidade como razão da existência
Meiosi intercalada com sorgo formada no início do ano cumpre com sua função

 

No mês de março, a Revista Canavieiros publicou uma reportagem da operação tocada pelos irmãos Paulo José e Antonio Roque Ferrarezi e o membro da terceira geração de agricultores da família, Henrique Antonio, que contou a história de que em decorrência do rigor climático de 2021 eles acabaram acumulando uma grande área de reforma.

“A tragédia começou com as geadas que atingiram mais de mil alqueires de canaviais de primeiro, segundo, terceiro e quarto cortes. Com o evento climático, as gemas apicais das plantas morreram, fazendo com que as canas começassem a murchar, ou seja, tanto as que estavam em ponto de colheita, como as em desenvolvimento, passaram a subtrair a boa expectativa de produção que o produtor tinha”, narrou a reportagem publicada na edição 197.

Desta área, em 2022 eles conseguiram plantar cerca de 600 hectares trabalhando até que a última gota de chuva do outono caísse do céu, esforço que valeu a pena, pois o que foi colhido até a data somado ao que está estimado, revela uma média superior às 100 toneladas por hectare.

Para a temporada de plantio de 2023, somado a mais alguns talhões que entrariam em reforma, havia uma área de 590 hectares, onde ele conseguiu fazer o plantio com o seu equipamento e a quantidade de mudas que tinha planejado, algo em torno de 425 hectares.

O restante estava planejado para ser executado por um parceiro, contudo, devido ao grande volume de chuvas do verão e primavera e o consequente atraso na marcha do manejo, aconteceram problemas que impediram a ação, então, entre formar um canavial no atropelo ou postergar, ele optou pela segunda estratégia, mas tomando providências para a área não ficar sem render nada por um ano e também já ganhar tempo para o plantio de 2024 instalando linhas mães de meiosi intercaladas com sorgo em 135 hectares (o restante ficou em pousio ou foi feita meiosi sem cultura intercalar).

Em julho retornamos numa dessas áreas, localizada em Batatais, para conferir como havia se expressado o manejo e, apenas ao se observar, foi possível perceber que, pelo menos sob o ponto de vista agronômico, houve um resultado bastante positivo.

A fazenda visitada tinha uma peculiaridade, um talhão era de cana e outro de café, ambos destruídos pelo fogo, detalhe que justifica a pequena diferença na cor do sorgo, o que é explicado pelo café deixar no solo uma quantidade superior de nutrientes em comparação com a cana.

Na área foi feito o cultivo de soja no verão, logo após foram instaladas as linhas-mãe, onde ele optou pelo cultivar RB85-5156 que perfilhou de maneira muito positiva e como é uma cana de início de safra, espera-se que esteja bem desenvolvida na hora da desdobra. A escolha por ela também tem a justificativa do produtor planejar sua colheita sempre antes dos meses mais críticos quanto à ocorrência de incêndios (julho e agosto).

A variedade de sorgo foi a Biomatrix 737, tratada com Benefic, uma variedade de ciclo precoce, tolerante ao acamamento com um adjuvante para proteger contra a fito causada pela ação de herbicidas que contenha S-metalocloro em sua formulação, muito utilizado em cana-de-açúcar.

No manejo do plantio foi utilizado o mesmo adubo para as duas culturas NPK 02-28-20, porém com dosagens diferentes, 500 quilos por hectare na linha-mãe e 180 quilos por hectare para os grãos.

Como parte da área vítima do fogo é um talhão de café, a matologia era bem variada e bastante presente, o que exigiu pelo menos três aplicações. A primeira aconteceu imediatamente no dia seguinte do plantio e consistiu no uso do Dual Gold (S-metalocloro), visando ao controle de gramíneas, em especial o capim (aqui se explica o uso do Benefic no tratamento de semente do sorgo) com Roundap (Glifosato), que dispensa maiores explicações, na calda.

A segunda entrada aconteceu somente nas linhas de meiosi dois dias após a primeira, ou seja, ainda em pré-emergência tanto das culturas como das invasoras, e consistiu na mistura do Gamit Star (Clomazona) com foco em braquiária, colonião e picão preto e Boral (Sulfentrazona) para controlar um espectro maior de gramíneas e folhas largas.

Por fim, no mês de julho, ele fez mais uma aplicação, com pingente para não dar fito na cana que já estava com um colmo, de Boral. Com isso atingiu um bom controle de uma área que estava muito infestada, ainda mais numa realidade de meiosi com sorgo na entrelinha, a qual o sombreamento é mais lento num outono um pouco mais molhado, o que significa em luz e água o suficiente para as daninhas se desenvolverem.

Quanto às pragas, a maior preocupação do produtor é o controle da broca, por isso vai aguardar a cana atingir o seu segundo colmo, por se tratar de uma época crítica por aliar uma época de ataques mais severos com o período mais sensível da planta (por ela estar utilizando muita energia para crescer), para utilizar o Engeo Pleno S (Tiametoxam com Lambda-Cialotrina), escolha realizada pela flexibilidade de uso conforme os cenários climáticos, efeito residual prolongado e conter uma molécula que tem o contato como modo de ação e outra que age de modo sistêmico, matando o inseto através da ingestão.

Entre a colheita do sorgo e a desdobra da cana, o produtor ainda fará um plantio de verão o qual ele está analisando entre o amendoim e a soja. Contudo, ele já está convicto na continuidade do uso da meiosi na maioria das áreas que entrarão em reforma ao final desta safra, isso porque em sua realidade o ganho operacional do manejo auxiliou muito.

Diante desta verdadeira coleção de histórias fica a certeza de que nossos produtores canavieiros não são eficientes somente na lavoura, mas no cultivo de paixão pelo que faz, conduta profissional, vocação para a agricultura, a missão de produzir a matéria-prima de um dos mais importantes setores tanto sob o ponto de vista econômico como ambiental do país o que resulta numa colheita de propósitos, de razões para viver e principalmente ser feliz naquilo que produz.