O paradoxo do açúcar
24/07/2019
Edições
POR: Revista Canavieiros
Ao assumir a presidência da WABCG, Eduardo Romão se torna um dos líderes do mercado mundial de açúcar
Por: Marino Guerra
A maior percepção deixada após a realização da 13ª Conferência da WABCG (Organização Mundial dos Produtores de Cana e Beterraba Açucareira) é de que o seu mercado consumidor atravessa um grande paradoxo.
Por um lado, é nítido que o consumo por pessoa tenha atingido o seu pico e que há uma tendência de queda dentre os integrantes das classes A, B, C e D dos países minimamente desenvolvidos.
Para constatar esse fato basta observar o portfólio atual da indústria de doces e bebidas não alcoólicas, onde é possível identificar uma imensidão de produtos com menos açúcares e zero açúcar, além da pressão governamental para a regulamentação de embalagens e até mesmo da cobrança de taxas sobre os alimentos mais doces.
Do outro lado sabe-se que há muita gente abaixo da linha da pobreza no mundo e, se essa população consumisse pelo menos os 50 gramas diários recomendados pela OMS (Organização Mundial da Saúde), segundo o professor da FEA (Faculdade de Economia e Administração da USP), Marcos Fava Neves, haveria um crescimento de pelo menos 1,5% na demanda mundial. Mas isso se o consumo do resto do mundo se mantivesse no mesmo lugar.
Acrescenta-se ao ponto de interrogação a questão da produção, a qual a maioria esmagadora dos representantes dos países produtores no evento, inclusive tradicionais players internacionais como a França e a Alemanha, disse que as regras quanto ao uso de defensivos e também as questões climáticas estão desanimando produtores a cultivarem, principalmente no caso da beterraba açucareira.
Essa informação é importante, pois traz a percepção de que o mundo aprendeu a não produzir mais estoques totalmente sem sentido, derrubando o preço a níveis aquém até mesmo de seu custo de produção, tornando a prática insustentável globalmente e alimentando uma crise que o mercado enfrenta há pelo menos dois anos.
Nas entrelinhas desta conjuntura, se desnuda a oportunidade gerada principalmente para o açúcar orgânico e demerara (o famoso “de valor agregado”), motivada pelo crescente número de pessoas dispostas a pagar mais caro por algo supostamente mais saudável.
Contudo, o evento também trouxe uma certeza: a de que o Brasil está anos luz à frente de qualquer outro produtor de cana do mundo.
Como analogia pode-se dizer que o setor canavieiro daqui, em relação aos pares, é igual ao futebol americano nos Estados Unidos, se comparado com o que se pratica no restante do globo.
Desde a primeira apresentação da consultora ambiental Samanta Pineda, quando foi esmiuçado nos mínimos detalhes o trabalho realizado pela Embrapa Territorial, que foi comprovado pela Nasa e liderado pelo pesquisador Evaristo de Miranda, ficou provado que o país está há mais de uma volta à frente do segundo colocado no quesito conservação de áreas.
O evento destacou ainda os aspectos técnicos (como o plantio em meiosi e MPB), a política governamental (RenovaBio) e a mobilidade urbana (tendo o carro elétrico recarregado a hidrogênio cujo o etanol é o combustível mais viável).
À noite aconteceu um baile de gala, momento em que foi oficializado que o ex-presidente da Orplana, Eduardo Romão, assumiria o posto de líder da associação.
No segundo dia do evento, os queixos dos representantes internacionais caíram de vez. Isso porque eles puderam conhecer como funciona o Centro de Cana do IAC e conferir o quanto o Brasil está avançado em seus mais de 100 anos de desenvolvimento genético, através de uma apresentação de representantes do próprio IAC, da Ridesa e do CTC. Eles também conheceram a tecnologia revolucionária de plantio que a Syngenta está prestes a lançar.
À tarde, o encontro se encerrou em grande estilo e com uma visita ao Condomínio Agrícola Santa Izabel, localizado em Jaboticabal, cuja administração é feita por Paulo Rodrigues. Lá, os participantes puderam conferir na prática boa parte das informações passadas anteriormente.
Ao verem o tamanho das canas, como funciona uma operação de colheita in loco e o desempenho de outras máquinas (como o autopropelido, por exemplo) a expressão no rosto deles era bem parecida a de turistas ao verem a maravilhosa vista do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, sendo desnecessário relatar a quantidade de fotos tiradas.