O planeta e milhões de pessoas precisam do Renovabio

10/11/2017 Agronegócio POR: Revista Canavieiros
Por: Marino Guerra

A atual crise que passa o setor agroenergético já produziu feridas que levarão muito tempo para serem cicatrizadas em todos os elos que fazem parte de sua cadeia produtiva. Uma testemunha que presenciou, e ainda presencia todos os dias, a abertura dessas lesões é o secretário de desenvolvimento econômico de Sertãozinho, Paulo Gallo.

Em entrevista exclusiva para a Revista Canavieiros, que foi concedida no início de outubro, o também empresário e líder do setor fala dos detalhes políticos que ainda seguram a aprovação do Renovabio, programa que vai inserir todos os biocombustíveis na matriz energética nacional de maneira intensa, baseado nas metas de redução de emissão de gases causadores do efeito estufa, e também de sua eficiência como antídoto para essas úlceras.

Revista Canavieiros: Qual a expectativa da prefeitura de Sertãozinho em relação à aprovação do Renovabio?

Paulo Gallo: A expectativa da prefeitura de Sertãozinho é a mesma que a do Brasil inteiro. Nós achamos que é um programa crucial para a sequência do desenvolvimento do setor de biocombustíveis como um todo. Embora o programa tem seu horizonte em todos os biocombustíveis, lógico que o etanol será um dos mais beneficiados, isso porque ele é o mais produzido disparadamente. A grande importância que todos estão dando a esse programa é porque ele atende a uma série de pedidos que o setor faz há pelo menos 15 anos, principalmente no sentido de dar um horizonte, uma previsibilidade.

Revista Canavieiros: Ao analisar os bastidores políticos, você acha que a aprovação do programa levará mais quanto tempo?

Gallo: Essa é uma previsão impossível de ser feita, vou dizer o porquê. O Renovabio andou muito rápido dentro do Ministério de Minas e Energia. Começou no final do ano passado, entrou rapidamente em consulta pública. Seu texto base está pronto desde março. Isso já tramitou por diversas pastas e agora ele está na Casa Civil, ali que é o momento para se decidir se o presidente encaminha e como o faz para o Congresso Nacional. Então a primeira decisão é se encaminha ou engaveta. Eu tenho uma expectativa muito positiva do seu encaminhamento, pois o presidente não iria cometer a insanidade de um programa com essa abrangência não ser encaminhado. O Palácio do Planalto pode enviar para aprovação do legislativo de duas maneiras diferentes: formato de projeto de lei, onde terá que tramitar pelas comissões, votado, discutido na Câmara e no Senado, seria um processo bem mais demorado; a opção mais prática é enviar uma medida provisória, na qual ele passa a ter uma validade quase que imediata. No melhor dos mundos ele manda encaminhar através de medida provisória, se isso acontecer dessa forma, que é o que todo mundo espera, aí eu acho que até novembro ele já esteja valendo. Agora se for por projeto de lei, aí sabemos como está Brasília, ainda mais ano que vem sendo ano eleitoral, têm várias questões para serem discutidas, até se falando da reforma política, aí fica imprevisível, corre-se o risco de ficar lá por um ou dois anos, aí não vai servir mais, talvez podemos perder o “time”.

Revista Canavieiros: Em relação ao tempo, se o projeto não for aprovado agora, o setor aguenta esperar passar as eleições para ver o projeto ser aprovado em 2019?

Gallo: O setor é cascudo, resiste muito, porém é preciso pensar na cadeia produtiva. As usinas e destilarias têm mais músculos, que embora estejam exaustos, conseguem suportar, pelo menos aquelas que estão mais equilibradas. Mas a maior preocupação é com a cadeia produtiva, especialmente a indústria de máquinas, a indústria de bens de capital. Prova disso é o cenário de extrema dificuldade que os dois polos industriais mais tradicionais desse segmento, Sertãozinho e Piracicaba, vivem nos últimos anos. É ilusão pensar que o Renovabio vai dar resultado imediato, já para essa entressafra, mas ele criaria uma mudança de ambiente tão grande que muitos investimentos em manutenção ou em pequenas ampliações, antes do início da safra de 2018, poderiam ser vistos nas unidades industriais. Outro elo da cadeia muito desgastado é o fornecedor de cana, onde os preços baixos do mercado já levam fortes questionamentos sobre o Consecana. Então, as unidades industriais conseguem suportar um pouco mais, mas o entorno da cadeia terá sérios problemas se o programa for engavetado ou tiver a sua aprovação retardada.

Revista Canavieiros: Em relação a números (empregos, dinheiro), a prefeitura já calculou quanto Sertãozinho poderá voltar a gerar a pequeno e médio prazo com a aprovação do programa?

Gallo: A cidade perdeu, somente na indústria, nos últimos cinco anos, cerca de 5,2 mil empregos. Se o Renovabio for aprovado já vai gerar um ambiente para começar a recuperar esse deficit. Eu acredito que se o programa vingar, e ele dar a claridade necessária para as pessoas voltarem a investir, em cerca de dois ou três anos todas as vagas fechadas serão abertas, e ainda continuarão com uma forte tendência de crescimento. O programa, em sua plenitude, implica na geração de 750 mil novos empregos, esse é o número calculado e estimado. Os investimentos, até 2030, na ordem de US$ 40 bilhões. Então é um negócio gigantesco, fora o que economizaria, se colocarmos como exemplo a realidade deste ano, onde o Brasil chegou ao cúmulo de importar etanol dos EUA. Esses números só comprovam que não tem como ninguém ir contra o projeto, dificilmente o Temer vai querer carregar o ônus político de não passar esse programa.

Revista Canavieiros: Do ponto de vista político, os municípios canavieiros têm alguma organização para pressionar Brasília?

Gallo: Têm vários municípios trabalhando, o próprio prefeito de Sertãozinho, Zezinho Gimenes, esteve em Brasília com o Temer no final de setembro, onde falou sobre o Renovabio. Nós estivemos no Ethanol Summit, que aconteceu em São Paulo, onde conversamos com o ministro e autoridades que estavam lá. Eu também fui à Capital Federal, em reunião com o secretário de desenvolvimento econômico e também em outras reuniões que aconteceram durante o processo para a sua aprovação nos diversos ministérios. Sertãozinho está se mexendo, o prefeito tem a visão da importância do setor para a cidade. Tanto que sempre apoiou, sem exceção, todas as iniciativas que foram tomadas nos últimos 5 anos no sentido de mitigar os efeitos da crise. Do ponto de vista político eu vejo que Sertãozinho está fazendo e muito bem o seu papel.