O potencial do biogás no setor sucroenergético

12/01/2022 Noticias POR: Alessandro Gardemann - presidente da ABiogás


Alessandro Gardemann - presidente da ABiogás

O Brasil possui o maior potencial do mundo para a produção de biogás. Quando falamos em potencial, estamos nos referindo a todos os resíduos orgânicos disponíveis, ou seja, os da agroindústria, com destaque para a indústria de cana-de-açúcar, e do saneamento, que hoje não possuem aproveitamento energético ou são descartados de forma inadequada na natureza. Todos estes insumos estão distribuídos pelo país, o que favorece a geração de energia descentralizada.
A partir do biogás é possível desenvolver toda a cadeia de biorrefinaria, transformando o biometano em hidrogênio, amônia e metanol. É uma oportunidade única para o Brasil, principalmente, com esta escala. Hoje, o país desperdiça 100 milhões de m³ de metano renovável por dia, que equivalem a 35% da energia elétrica consumida no Brasil e 70% do diesel. Falamos que é o ‘pré-sal caipira’, porque de fato cada usina de cana-de-açúcar tem a escala de um poço de petróleo do pré-sal.
O interior do país carece do energético para abastecer o setor agrícola e o industrial além do consumo residencial, ainda dependente do GLP. Nossas indústrias necessitam de um combustível mais limpo e econômico, a fim de fomentar o desenvolvimento econômico e social. Se o gás natural é tido como o combustível da transição energética, o biogás é o ponto de chegada para uma economia carbono neutro. Pelo seu enorme potencial.
No interior do país, com seu alto potencial agropecuário, o biogás é a forma mais eficiente de gerar energia limpa e combustível renovável, garantindo a sustentabilidade completa da produção, ao gerar energia e combustível dentro da própria porteira.
O setor sucroenergético corresponde a 50% do potencial do biogás, que chega a 57,6 milhões de m³/dia. Novas tecnologias de produção, com o aproveitamento de resíduos como vinhaça e torta de filtro, prometem trazer autossuficiência às usinas de etanol. Um exemplo é a usina de biogás da Raízen Geo Energética, inaugurada no ano passado, uma das maiores do mundo, com capacidade instalada de 21 MW. Com moagem de mais de 5 milhões de toneladas de cana por ano, que geram um volume elevado de resíduos para um projeto em escala comercial, a vinhaça será operada na safra, e a torta ao longo do ano inteiro. Esta combinação vai gerar uma produção de 138 mil MWh.
A expectativa é de que as 381 usinas de etanol que existem hoje no Brasil, concentradas principalmente no Sudeste, invistam neste potencial, garantindo sustentabilidade em toda a cadeia produtiva. O RenovaBio, política nacional para os biocombustíveis, será um grande incentivador deste movimento, ao premiar os combustíveis com menor intensidade de carbono por meio dos CBios, que são os créditos de carbono comercializados na bolsa de valores.
O Compromisso Global de Metano, assinado pelo Brasil na COP26, será um grande incentivador do biogás. Com investimentos, podemos ter uma agroindústria descarbonizada, e, para isso, contamos com o projeto de lei que cria o Programa de Incentivo à Produção e ao Aproveitamento de Biogás, de Biometano e de Coprodutos Associados – PIBB, apresentado recentemente na Câmara dos Deputados.
No desenvolvimento de uma política energética para o país, é preciso que as externalidades positivas do biogás sejam corretamente precificadas. Entre seus benefícios estão a redução dos gases do efeito estufa e o fato de ser uma fonte armazenável e flexível – serve tanto como fonte de energia elétrica quanto de combustível. Além disso, é uma fonte de energia renovável não intermitente, de geração descentralizada, que pode promover a interiorização do metano. Outra característica importante em termos econômicos consiste no fato de o biometano ter estrutura de custos em reais, o que garante previsibilidade de preços, ao contrário dos combustíveis de origem fóssil atrelados ao preço internacional do petróleo e ao dólar, com alta volatilidade de preços.
Por tudo isso, reafirmamos que o biogás apresenta todas as condicionantes para aumentar cada vez mais a sua participação na matriz energética brasileira. Ainda ocupamos um espaço pequeno, tendo em vista seu enorme potencial, porém, analisando sua curva de crescimento, percebemos uma expansão vertiginosa.
No setor sucroenergético, temos ainda o projeto da Cocal com a Gás Brasiliano, chamado de Cidades Sustentáveis, que vai implementar um gasoduto dedicado beneficiando 230 mil pessoas nas cidades de Narandiba, Pirapozinho e Presidente Prudente, para escoar a produção de biometano a partir da vinhaça, bagaço e palha de cana, inaugurado em agosto deste ano. E ainda na geração a partir do saneamento, temos os bem-sucedidos exemplos do Ceará e Rio de Janeiro. No Nordeste, a produção do biogás a partir do aterro sanitário de Caucaia, já fornece 40% do volume de gás distribuído pela Cegás, com a vantagem de ser um gás renovável. No Rio, a empresa Gás Verde conta com usinas nos aterros de Seropédica, São Gonçalo e Nova Iguaçu.
Em Seropédica, o maior deles, a capacidade de produção é de 200 mil m³/dia, que corresponde a 1% do mercado fluminense de gás natural. Uma parte da produção é destinada a postos de GNV e outra fornecida para a indústria siderúrgica Ternium.
Por tudo isso, acreditamos que o futuro do biogás já começou e, até 2030, vai ocupar uma fatia significativa na matriz energética brasileira. Quem ganha somos todos nós, com redução de emissões, desenvolvimento econômico e social e geração de empregos


Vinhaça, além de fertilizante, será a matéria-prima para a produção do biogás