O que pensa o novo presidente da Embrapa

11/10/2012 Geral POR: Sou Agro
O engenheiro agrônomo Maurício Antônio Lopes é o novo presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). A nomeação dele pelo ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro Filho, foi publicada nesta quarta-feira (10) no Diário Oficial da União.

Pesquisador da Embrapa desde 1989, Lopes ocupava o cargo de diretor-executivo de Pesquisa e Desenvolvimento, respondendo diretamente para o seu antecessor na presidência, Pedro Arraes.

Apesar de ter um grande currículo acadêmico e ser especialista em genética molecular, Lopes demonstra ser um técnico com uma visão ampla do agro, e não um cientista isolado do mercado. Em uma entrevista concedida ao Sou Agro em novembro de 2011, Lopes falou sobre o futuro da pesquisa agropecuária não apenas como uma atividade de laboratório e campos experimentais, mas também de inteligência, gestão e informação.

Mineiro de Bom Despacho, Lopes é agrônomo pela Universidade Federal de Viçosa, mestre em Genética pela Universidade Purdue (Estados Unidos), doutor em Genética Molecular pela Universidade do Arizona (EUA) e pós-doutor pelo Departamento de Agricultura da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO/ONU), em Roma.

"A indicação (de Lopes) agrada porque mantém na direção da Embrapa um pesquisador científico, assim como eram os presidentes anteriores, e afasta a tensão gerada por uma nomeação política para a entidade", avalia o presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), Cesário Ramalho.

Para saber mais sobre os pontos de vista do novo presidente da Embrapa, confira abaixo a íntegra da entrevista de Maurício Lopes ao Sou Agro, em novembro de 2011, então como diretor-executivo da entidade.

A quais as demandas a pesquisa agropecuária precisa responder hoje?
Diversos estudos e análises recentes mostram que a nossa agricultura será desafiada por transformações substanciais ao longo das próximas décadas. A agricultura brasileira precisará demandar à pesquisa agropecuária avanços em diversificação, agregação de valor, produtividade, segurança e qualidade, com velocidade e eficiência superiores àquelas alcançadas no passado. É também chegado o momento de se investir de forma mais agressiva em inovações para agregação de valor às chamadas commodities, criando mais oportunidades para a agroindústria brasileira, em especial em mercados mais competitivos, sofisticados e rentáveis.

Como a tecnologia pode resolver questões de sustentabilidade do agro?
Para se garantir a sustentabilidade futura da agricultura frente às mudanças climáticas e à intensificação de estresses térmicos, hídricos e nutricionais previstos para as próximas décadas, serão necessários avanços substanciais em diversos campos do conhecimento científico e tecnológico. O aumento da demanda por alimentos, fibras e bioenergia exigirá sofisticação tecnológica que racionalize o uso dos insumos ambientais. Isto é, os recursos naturais - água, solo, biodiversidade etc. - e dos serviços ambientais - reciclagem de resíduos, suprimento de água, qualidade da atmosfera etc.

A ciência dará conta de superar todos esses desafios, no tempo necessário?
Os desafios são enormes. Mas conta a nosso favor o fato de que o avanço tecnológico, em diversas frentes, é impressionante. Verdadeiras revoluções estão acontecendo em vários campos do conhecimento. Na biologia, com a genômica; na física e na química, com a nanotecnologia; no campo da informação e da comunicação, com inúmeras inovações que aumentam a nossa capacidade de responder a riscos e desafios. Veja, por exemplo, o que vem acontecendo na Biologia, ao longo das últimas décadas, com os tremendos avanços nos estudos dos genomas, que nos permitem ampliar a compreensão de mecanismos complexos em plantas, animais e microrganismos. Daí surgirão muitas inovações que permitirão à agricultura avançar em diversificação, agregação de valor, produtividade, segurança e qualidade.

Como os avanços da computação afetam a agropecuária?
Inovações nos campos da tecnologia da informação e da comunicação, do sensoriamento remoto, da instrumentação avançada, da automação e da robótica indicam que a agricultura de precisão emergirá como prática comum nas propriedades do futuro. Essas ferramentas e processos nos permitirão utilizar a nossa base de recursos naturais de forma cada vez mais inteligente, garantindo mais produtividade, eficiência e sustentabilidade à nossa agricultura. A nanotecnologia, com inovações na escala do bilionésimo do metro, também promete revolucionar o desenvolvimento de múltiplos produtos, processos e instrumentos. Sensores avançados viabilizarão o monitoramento de sistemas produtivos com grande precisão. Novos materiais nos permitirão construir máquinas e equipamentos mais eficientes, precisos e duráveis.

O que o agro precisa fazer para converter esse conhecimento científico em realidade?
O agronegócio brasileiro precisará investir em capacitação de recursos humanos e sofisticação de processos, métodos e instrumentação para continuarmos competitivos. As tecnologias da informação e da comunicação prometem também revolucionando os métodos de gestão das propriedades, o acesso a mercados, a gestão da logística e a relação com os consumidores. Tais tecnologias são revolucionárias também do ponto de vista das mudanças de comportamento que provocam. Isso exigirá atenção às tendências de consumo e às percepções da sociedade em relação ao agronegócio.

Isso quer dizer que os produtores precisam se adaptar para essa nova realidade?
Liderar o processo de inovação agropecuária em momentos tão dinâmicos e desafiadores demanda estratégias mais aprimoradas de gestão, para antevisão de futuros possíveis e desafios a eles associados. Eu não tenho dúvida de que o agronegócio brasileiro precisará se nortear por uma inteligência estratégica cada vez mais sofisticada se quiser aproveitar os benefícios das mudanças de paradigmas esperadas no campo da inovação tecnológica.