“O setor não precisa de favor, precisa de uma política transparente do Governo Federal”

30/10/2016 Cana-de-Açúcar POR: Andréia Vital – Revista Canavieiros – Edição 124
A afirmação é de André Rocha, presidente do Fórum Nacional Sucroenergético e presidente-executivo do Sifaeg/Sifaçúcar, sindicatos que representam as usinas produtoras de etanol, açúcar e bioeletricidade em Goiás. De acordo com ele, o setor sucroenergético foi penalizado com as políticas públicas que aumentaram a carga tributária e diminuíram a competitividade das usinas, levando várias delas a entrarem em processo de recuperação judicial.
“Um reflexo da crise é que começamos o ano com cinco empresas em recuperação judicial no Estado de Goiás e estamos encerrando 2016 com 10 empresas nesta condição”, diz, lembrando que, agora que poderia ser um período mais tranquilo, devido aos bons preços dos produtos da cana, o segmento sofre com o clima seco, prejudicando o andamento da safra. 
Rocha acabou de ser indicado para ocupar a cadeira como presidente da Câmara Setorial de Açúcar e Álcool do Ministério da Agricultura, fato que deverá ser oficializado pelo ministro da pasta para assumir a partir de novembro. O executivo dá um panorama sobre a cadeia da cana nesta entrevista dada à Canavieiros.
Confira:
Revista Canavieiros: Qual é o papel do Fórum Sucroenergético do qual o senhor é presidente?
André Rocha: O Fórum já existia informalmente com reuniões entre os presidentes dos principais sindicatos e associações do país, onde cada um trazia a sua experiência, tanto de problemas ocorridos a nível estadual, quanto de soluções para algumas questões. Assim, juntos, traçávamos objetivos para trabalhar em prol do setor e de lutar por desafios comuns. 
Há cerca de quatro anos, na gestão do Luiz Custódio Cotta Martins, decidiu-se formalizar o Fórum, sendo que este ato ocorreu na minha gestão. O nosso objetivo é traçar uma pauta em comum do setor, identificando os pontos de convergência, utilizar as ferramentas disponíveis, os recursos humanos, os nossos contatos políticos, os locais de representatividade que nós participamos
e, juntamente com os demais membros da cadeia produtiva, tentar resolver problemas comuns do setor.
Revista Canavieiros: O senhor está em seu segundo mandato frente à entidade. Quais são seus atuais desafios?
AR: Na realidade persistem algumas questões que necessitam ser resolvidas como no caso do etanol, que precisa voltar a ser uma política de Estado. 
Quando o Proálcool foi criado, na década de 70, o combustível era uma política de Estado, deixando de ser já no final do governo Lula e ficando totalmente à margem de qualquer discussão de política, seja ela ambiental ou econômica, no mandato da Dilma. Nós começamos a retomar este diálogo em 2015 sobre a liderança da ministra Kátia Abreu e, agora, esperamos que na nova agenda que será construída com o presidente Temer, possamos lutar para que seja criada uma política de Estado para o setor, recuperando assim seu papel de destaque, como também o reconhecimento das externalidades positivas do segmento, tanto no que diz respeito ao etanol quanto ao que diz respeito à biomassa e com isso ajudar o Brasil a cumprir inclusive os compromissos que firmou na COP 21.
Revista Canavieiros: O senhor é também presidente dos Sindicatos da Indústria de Fabricação de Açúcar e de Etanol do Estado de Goiás (Sifaeg/Sifaçúcar). Como está a situação neste Estado?
AR: A situação não é diferente do Brasil. Goiás é um Estado que, nos últimos 16 anos, cresceu bem acima da media nacional, que foi de 3,4% ao ano e em Goiás foi de 4,8%. Uma boa parte deste crescimento deve-se ao setor sucroenergético, às instalações das usinas e à interiorização do desenvolvimento fizeram com que, de certa forma, a crise fosse menos sentida. Mas o setor como um todo, em função das políticas do Governo Federal, tem amargado vários problemas. Temos várias unidades em recuperação judicial, em Goiás são 10 usinas já, embora o ano tenha começado com cinco e no Brasil chega a 80, e a dívida do segmento é maior do que o seu faturamento, ou seja, já ultrapassa R$ 120 bilhões.
Atualmente, no meu Estado, temos 36 usinas em safra, três hibernando e uma fechou. Nesta temporada, iniciou a operação da única unidade construída no Brasil nos últimos anos, a Eber Bio-Energia, localizada em Montes Claros de Goiás e está em construção uma unidade da Nardini Agroindustrial, em Aporé, que deveria ter ficado pronta há mais de cinco anos, mas devido ao momento atravessado pelo setor, seu término foi postergado pelo grupo empreendedor.
Revista Canavieiros: As unidades
devem moer até quando em Goiás?
AR: De acordo com um levantamento feito pelo Sifaeg e o Sifaçúcar haverá quebra de 13% na safra de cana-de-açúcar no Estado. Em São Paulo e no Paraná, essa redução deverá ser de 4%. Sendo assim, a safra de cana praticamente acaba em novembro, já que os dados mostram que das 36 unidades atuantes, somente duas irão produzir até dezembro. Portanto, teremos uma entressafra bem maior, já que normalmente as usinas costumam processar cana até final de dezembro.
Outro levantamento feito no setor também mostrou que no fim de setembro 10 unidades já haviam paralisado a safra, sendo sete delas em Goiás, isso devido ao clima mais seco que prejudicou o andamento da safra. Ou seja, ocorreu um fenômeno conhecido como “morte súbita”, por falta de chuvas, a cana para de se desenvolver e tem que ser colhida precocemente, tendo como consequência perda de peso.
Revista Canavieiros: Como o senhor avalia a missão do Governo Federal à Ásia, da qual participou?
AR: Foi positiva. Temos uma grande oportunidade de estreitar parcerias com vários países da Ásia para fornecimento de tecnologia, variedades de cana, colheitadeiras e também chances reais de negócios para a indústria de base brasileira e, sobretudo, o desenvolvimento de um programa de etanol, que ajudará o biocombustível a ser uma commodity global, viabilizando inclusive a sua exportação.
A comitiva foi liderada pelo ministro da Agricultura Blairo Maggi, tendo representantes de cerca de 40 empresas e entidades do agronegócio e visitou sete países: China, Índia, Vietnã, Coreia do Sul, Myanmar, Tailândia e Malásia.
Além de participou das rodadas de negócios na China e Coreia, apresentei a realidade do setor sucroenergético no Vietnã, Malásia e Mianmar. Há um grande interesse indiano na mistura do etanol na gasolina.
O país é o maior consumidor de açúcar no mundo, importa muita gasolina e isso pesa na balança comercial. Existem cidades com alto nível de poluição, mas no país só é permitida a fabricação pequena de etanol, através do uso residual do melaço. São 715 usinas e 40 milhões de fornecedores de cana, sendo que o país é o 2º produtor de cana e 2º produtor de açúcar. Na Índia já é feita uma mistura de 10% de etanol na gasolina, mas a possibilidade de aumentar para 20% irá abrir uma grande oportunidade de exportação do etanol brasileiro. Então, o comércio do Brasil com a Índia tem muito potencial, mas ainda é restrito por causa de barreiras tarifárias e não tarifárias.
Revista Canavieiros: Como está o relacionamento do setor com o Governo Temer?
AR: Nós estamos tendo excelentes interlocuções com os ministros do Temer, posso destacar o Bruno Araújo (Cidades); o Fernando Coelho Filho (Minas e Energia) (ambos exonerados pelo presidente no dia 10 de outubro para votarem na PEC dos gastos); o Ricardo Barros (Saúde); o Gilberto Kassab (Comunicação, Ciência e Tecnologia) e o Maurício Quintella Lessa. 
Ainda falta uma aproximação maior com o ministro Blairo Maggi (Agricultura) para que possamos mostrar a ele a realidade nacional do setor. Talvez o ministro tenha uma visão do seu Estado, Mato Grosso, e nós temos toda uma visão nacional da interiorização do desenvolvimento de novas tecnologias de modernidade e uma série de questões e isso não quer dizer que não tenha no Mato Grosso, mas sim que é necessário um conhecimento da abrangência do nosso setor para a economia de alguns Estados como no caso de Alagoas, Mato Grosso do Sul, Goiás, São Paulo. Além da Agricultura, os representantes do segmento precisam se aproximar mais da pasta de Relações Exteriores (ministro José Serra) e da Fazenda (ministro Henrique Meireles), pois são três ministérios que podem servir de ancora para o nosso setor.
Revista Canavieiros: Quais são os pleitos do setor atualmente?
AR: O principal pleito do setor é ver reconhecidas as suas externalidades positivas e isso pode ser feito através de questões tributárias como a CIDE e como o próprio PIS Cofins no que diz respeito ao Governo Federal e também ao ICMS nos Governos Estaduais, mas podemos também trabalhar em programas que possam melhorar a eficiência do motor flex e porque não, ser mais audaz no momento em que os EUA estão anunciando que vão reduzir em 25% o consumo de diesel, colocando outras formas de combustível para poder suprir este diesel. Por que nós não podemos fazer o mesmo no Brasil? Por que que não podemos ou utilizar o diesel da cana ou o biodiesel, ou termos motores mais eficientes, tanto no transporte público, como também, nas máquinas agrícolas e no transporte de cargas? Por que não ter motores mais eficientes que possam utilizar, inclusive, o etanol, destituindo o diesel que, além de hoje ser subsidiado, é altamente poluente?
Outro fato é que temos o desafio de colocar o açúcar na pauta comum do Mercosul, pois sempre houve uma resistência muito grande da Argentina para que isso ocorresse. Acho que hoje o setor tem condição de viver um momento diferente: nós temos entraves na OMC (Organização Mundial do Comércio) com a Tailândia e com a Índia, esperamos que o Governo continue a nos dar o apoio para essas questões eque nos ajude também a abrir portas.
Hoje nós temos muitas questões de restrições no que diz respeito a açúcar com cota para a Europa e para os EUA, acho que é preciso quebrar essas barreiras e entrar na pauta de livre comércio em igualdade de condições com outros países, com isso conseguimos ampliar o nosso mercado.
Revista Canavieiros: O clima no início da Fenasucro & Agrocana, no final de agosto, da qual o senhor participou, foi de otimismo, indicando que a feira marcou o início da retomada do setor. Qual a sua percepção sobre isso?
AR: O setor viveu preços melhores no ano passado e, neste ano, mas não dá para a gente comemorar muito.
Primeiro porque nós ainda temos um grande passivo, o endividamento do setor é grande, os custos financeiros são grandes, ainda temos dificuldades de acesso a crédito. Este ano teremos um recuo de mercado que diz respeito ao etanol, nós estamos produzindo mais e vendendo melhor o açúcar, mas no que diz respeito ao etanol, nós de vemos produzir menos e não necessariamente vender melhor. Além disso, é preciso lembrar que não dá para a gente comemorar no momento em que o país vive um processo de estagnação econômica com dificuldades. Quer dizer, a gente espera, somos otimistas esperamos que vá haver até o final do ano, o início da recuperação econômica, com indicações de se ter um último quadrimestre melhor e com isso preparar para voltar a crescer no ano que vem.
A volta do crescimento do PIB vai ser traduzida também no crescimento do consumo de energia, no crescimento do consumo de combustíveis e esperamos também o aumento das vendas de veículos, que são três fatores que atingem diretamente o nosso setor.
Revista Canavieiros: O senhor comentou recentemente que é necessário melhorar a logística para atender à demanda do agronegócio e do setor e escoar a safra. Como isso pode ocorrer?
AR: Esperamos que o novo Governo recupere rapidamente a confiança de investidores, que mostre que o Brasil se encontra em momento de estabilidade
política podendo atrair capital estrangeiro, tenha um plano de parcerias e investimentos em logísticas, seja na modernização de portos, ferrovias, hidrovias quem sabe, e também em novas concessões rodoviárias. É necessário este investimento para melhorar a nossa logística para que possamos ter modais mais eficientes no que diz respeito ao consumo de CO2 e também mais baratos.
É preciso ter linhas de crédito para melhorar a infraestrutura e assim minorar os problemas referentes a transporte e logística, principalmente Região Centro-Oeste, onde se produz muito etanol e este produto chega com menos competitividade em São Paulo ou mesmo para exportação, justamente pelo alto custo do frete. É importante também que o Brasil continue também destravando o que diz respeito à navegação de cabotagem e outros instrumentos que possam diminuir os custos logísticos. 
A afirmação é de André Rocha, presidente do Fórum Nacional Sucroenergético e presidente-executivo do Sifaeg/Sifaçúcar, sindicatos que representam as usinas produtoras de etanol, açúcar e bioeletricidade em Goiás. De acordo com ele, o setor sucroenergético foi penalizado com as políticas públicas que aumentaram a carga tributária e diminuíram a competitividade das usinas, levando várias delas a entrarem em processo de recuperação judicial.
 
“Um reflexo da crise é que começamos o ano com cinco empresas em recuperação judicial no Estado de Goiás e estamos encerrando 2016 com 10 empresas nesta condição”, diz, lembrando que, agora que poderia ser um período mais tranquilo, devido aos bons preços dos produtos da cana, o segmento sofre com o clima seco, prejudicando o andamento da safra. 
 
Rocha acabou de ser indicado para ocupar a cadeira como presidente da Câmara Setorial de Açúcar e Álcool do Ministério da Agricultura, fato que deverá ser oficializado pelo ministro da pasta para assumir a partir de novembro. O executivo dá um panorama sobre a cadeia da cana nesta entrevista dada à Canavieiros.
 
Confira:
 
Revista Canavieiros: Qual é o papel do Fórum Sucroenergético do qual o senhor é presidente?
 
André Rocha: O Fórum já existia informalmente com reuniões entre os presidentes dos principais sindicatos e associações do país, onde cada um trazia a sua experiência, tanto de problemas ocorridos a nível estadual, quanto de soluções para algumas questões. Assim, juntos, traçávamos objetivos para trabalhar em prol do setor e de lutar por desafios comuns. 
 
Há cerca de quatro anos, na gestão do Luiz Custódio Cotta Martins, decidiu-se formalizar o Fórum, sendo que este ato ocorreu na minha gestão. O nosso objetivo é traçar uma pauta em comum do setor, identificando os pontos de convergência, utilizar as ferramentas disponíveis, os recursos humanos, os nossos contatos políticos, os locais de representatividade que nós participamos e, juntamente com os demais membros da cadeia produtiva, tentar resolver problemas comuns do setor.
 
 
Revista Canavieiros: O senhor está em seu segundo mandato frente à entidade. Quais são seus atuais desafios?
 
AR: Na realidade persistem algumas questões que necessitam ser resolvidas como no caso do etanol, que precisa voltar a ser uma política de Estado.  Quando o Proálcool foi criado, na década de 70, o combustível era uma política de Estado, deixando de ser já no final do governo Lula e ficando totalmente à margem de qualquer discussão de política, seja ela ambiental ou econômica, no mandato da Dilma. Nós começamos a retomar este diálogo em 2015 sobre a liderança da ministra Kátia Abreu e, agora, esperamos que na nova agenda que será construída com o presidente Temer, possamos lutar para que seja criada uma política de Estado para o setor, recuperando assim seu papel de destaque, como também o reconhecimento das externalidades positivas do segmento, tanto no que diz respeito ao etanol quanto ao que diz respeito à biomassa e com isso ajudar o Brasil a cumprir inclusive os compromissos que firmou na COP 21.

 
 
Revista Canavieiros: O senhor é também presidente dos Sindicatos da Indústria de Fabricação de Açúcar e de Etanol do Estado de Goiás (Sifaeg/Sifaçúcar). Como está a situação neste Estado?
 
AR: A situação não é diferente do Brasil. Goiás é um Estado que, nos últimos 16 anos, cresceu bem acima da media nacional, que foi de 3,4% ao ano e em Goiás foi de 4,8%. Uma boa parte deste crescimento deve-se ao setor sucroenergético, às instalações das usinas e à interiorização do desenvolvimento fizeram com que, de certa forma, a crise fosse menos sentida. Mas o setor como um todo, em função das políticas do Governo Federal, tem amargado vários problemas. Temos várias unidades em recuperação judicial, em Goiás são 10 usinas já, embora o ano tenha começado com cinco e no Brasil chega a 80, e a dívida do segmento é maior do que o seu faturamento, ou seja, já ultrapassa R$ 120 bilhões.
 
Atualmente, no meu Estado, temos 36 usinas em safra, três hibernando e uma fechou. Nesta temporada, iniciou a operação da única unidade construída no Brasil nos últimos anos, a Eber Bio-Energia, localizada em Montes Claros de Goiás e está em construção uma unidade da Nardini Agroindustrial, em Aporé, que deveria ter ficado pronta há mais de cinco anos, mas devido ao momento atravessado pelo setor, seu término foi postergado pelo grupo empreendedor.

 
 
Revista Canavieiros: As unidades devem moer até quando em Goiás?
 
AR: De acordo com um levantamento feito pelo Sifaeg e o Sifaçúcar haverá quebra de 13% na safra de cana-de-açúcar no Estado. Em São Paulo e no Paraná, essa redução deverá ser de 4%. Sendo assim, a safra de cana praticamente acaba em novembro, já que os dados mostram que das 36 unidades atuantes, somente duas irão produzir até dezembro. Portanto, teremos uma entressafra bem maior, já que normalmente as usinas costumam processar cana até final de dezembro.
 
Outro levantamento feito no setor também mostrou que no fim de setembro 10 unidades já haviam paralisado a safra, sendo sete delas em Goiás, isso devido ao clima mais seco que prejudicou o andamento da safra. Ou seja, ocorreu um fenômeno conhecido como “morte súbita”, por falta de chuvas, a cana para de se desenvolver e tem que ser colhida precocemente, tendo como consequência perda de peso.

 
 
Revista Canavieiros: Como o senhor avalia a missão do Governo Federal à Ásia, da qual participou?
 
AR: Foi positiva. Temos uma grande oportunidade de estreitar parcerias com vários países da Ásia para fornecimento de tecnologia, variedades de cana, colheitadeiras e também chances reais de negócios para a indústria de base brasileira e, sobretudo, o desenvolvimento de um programa de etanol, que ajudará o biocombustível a ser uma commodity global, viabilizando inclusive a sua exportação.
 
A comitiva foi liderada pelo ministro da Agricultura Blairo Maggi, tendo representantes de cerca de 40 empresas e entidades do agronegócio e visitou sete países: China, Índia, Vietnã, Coreia do Sul, Myanmar, Tailândia e Malásia. Além de participou das rodadas de negócios na China e Coreia, apresentei a realidade do setor sucroenergético no Vietnã, Malásia e Mianmar. Há um grande interesse indiano na mistura do etanol na gasolina.
 
O país é o maior consumidor de açúcar no mundo, importa muita gasolina e isso pesa na balança comercial. Existem cidades com alto nível de poluição, mas no país só é permitida a fabricação pequena de etanol, através do uso residual do melaço. São 715 usinas e 40 milhões de fornecedores de cana, sendo que o país é o 2º produtor de cana e 2º produtor de açúcar. Na Índia já é feita uma mistura de 10% de etanol na gasolina, mas a possibilidade de aumentar para 20% irá abrir uma grande oportunidade de exportação do etanol brasileiro. Então, o comércio do Brasil com a Índia tem muito potencial, mas ainda é restrito por causa de barreiras tarifárias e não tarifárias.

 
 
Revista Canavieiros: Como está o relacionamento do setor com o Governo Temer?
 
AR: Nós estamos tendo excelentes interlocuções com os ministros do Temer, posso destacar o Bruno Araújo (Cidades); o Fernando Coelho Filho (Minas e Energia) (ambos exonerados pelo presidente no dia 10 de outubro para votarem na PEC dos gastos); o Ricardo Barros (Saúde); o Gilberto Kassab (Comunicação, Ciência e Tecnologia) e o Maurício Quintella Lessa. 
 
Ainda falta uma aproximação maior com o ministro Blairo Maggi (Agricultura) para que possamos mostrar a ele a realidade nacional do setor. Talvez o ministro tenha uma visão do seu Estado, Mato Grosso, e nós temos toda uma visão nacional da interiorização do desenvolvimento de novas tecnologias de modernidade e uma série de questões e isso não quer dizer que não tenha no Mato Grosso, mas sim que é necessário um conhecimento da abrangência do nosso setor para a economia de alguns Estados como no caso de Alagoas, Mato Grosso do Sul, Goiás, São Paulo. Além da Agricultura, os representantes do segmento precisam se aproximar mais da pasta de Relações Exteriores (ministro José Serra) e da Fazenda (ministro Henrique Meireles), pois são três ministérios que podem servir de ancora para o nosso setor.

 
Revista Canavieiros: Quais são os pleitos do setor atualmente?
 
AR: O principal pleito do setor é ver reconhecidas as suas externalidades positivas e isso pode ser feito através de questões tributárias como a CIDE e como o próprio PIS Cofins no que diz respeito ao Governo Federal e também ao ICMS nos Governos Estaduais, mas podemos também trabalhar em programas que possam melhorar a eficiência do motor flex e porque não, ser mais audaz no momento em que os EUA estão anunciando que vão reduzir em 25% o consumo de diesel, colocando outras formas de combustível para poder suprir este diesel.

Por que nós não podemos fazer o mesmo no Brasil? Por que que não podemos ou utilizar o diesel da cana ou o biodiesel, ou termos motores mais eficientes, tanto no transporte público, como também, nas máquinas agrícolas e no transporte de cargas? Por que não ter motores mais eficientes que possam utilizar, inclusive, o etanol, destituindo o diesel que, além de hoje ser subsidiado, é altamente poluente?
 
Outro fato é que temos o desafio de colocar o açúcar na pauta comum do Mercosul, pois sempre houve uma resistência muito grande da Argentina para que isso ocorresse. Acho que hoje o setor tem condição de viver um momento diferente: nós temos entraves na OMC (Organização Mundial do Comércio) com a Tailândia e com a Índia, esperamos que o Governo continue a nos dar o apoio para essas questões eque nos ajude também a abrir portas.
 
Hoje nós temos muitas questões de restrições no que diz respeito a açúcar com cota para a Europa e para os EUA, acho que é preciso quebrar essas barreiras e entrar na pauta de livre comércio em igualdade de condições com outros países, com isso conseguimos ampliar o nosso mercado.

 
 
Revista Canavieiros: O clima no início da Fenasucro & Agrocana, no final de agosto, da qual o senhor participou, foi de otimismo, indicando que a feira marcou o início da retomada do setor. Qual a sua percepção sobre isso?
 
AR: O setor viveu preços melhores no ano passado e, neste ano, mas não dá para a gente comemorar muito. Primeiro porque nós ainda temos um grande passivo, o endividamento do setor é grande, os custos financeiros são grandes, ainda temos dificuldades de acesso a crédito. Este ano teremos um recuo de mercado que diz respeito ao etanol, nós estamos produzindo mais e vendendo melhor o açúcar, mas no que diz respeito ao etanol, nós de vemos produzir menos e não necessariamente vender melhor. Além disso, é preciso lembrar que não dá para a gente comemorar no momento em que o país vive um processo de estagnação econômica com dificuldades. Quer dizer, a gente espera, somos otimistas esperamos que vá haver até o final do ano, o início da recuperação econômica, com indicações de se ter um último quadrimestre melhor e com isso preparar para voltar a crescer no ano que vem.
 
A volta do crescimento do PIB vai ser traduzida também no crescimento do consumo de energia, no crescimento do consumo de combustíveis e esperamos também o aumento das vendas de veículos, que são três fatores que atingem diretamente o nosso setor.

 
 
Revista Canavieiros: O senhor comentou recentemente que é necessário melhorar a logística para atender à demanda do agronegócio e do setor e escoar a safra. Como isso pode ocorrer?
 
AR: Esperamos que o novo Governo recupere rapidamente a confiança de investidores, que mostre que o Brasil se encontra em momento de estabilidade política podendo atrair capital estrangeiro, tenha um plano de parcerias e investimentos em logísticas, seja na modernização de portos, ferrovias, hidrovias quem sabe, e também em novas concessões rodoviárias. É necessário este investimento para melhorar a nossa logística para que possamos ter modais mais eficientes no que diz respeito ao consumo de CO2 e também mais baratos.
 
É preciso ter linhas de crédito para melhorar a infraestrutura e assim minorar os problemas referentes a transporte e logística, principalmente Região Centro-Oeste, onde se produz muito etanol e este produto chega com menos competitividade em São Paulo ou mesmo para exportação, justamente pelo alto custo do frete. 
É importante também que o Brasil continue também destravando o que diz respeito à navegação de cabotagem e outros instrumentos que possam diminuir os custos logísticos.