“O setor não se comunicou bem, este foi o maior erro”

04/06/2014 Agronegócio POR: O Estado de S.Paulo
Produtor e fornecedor de cana-de-açúcar, o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues considera que a indústria sucroenergética "passou uma borracha no passado" ao escolhê-lo para assumir a presidência do conselho deliberativo da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), cargo antes reservado apenas para executivos das companhias do setor.
Em entrevista ao Broadcast, Rodrigues admitiu que o setor não soube se comunicar e considerou que os números da
crise nas unidades produtoras são assombrosos. Rodrigues mostrou cautela ao falar sobre sua ex-colega da Esplanada dos Ministérios e atual presidente da República, Dilma Rousseff. Ele considerou que a ausência dela no Prêmio TOP Etanol na noite de hoje em São Paulo é uma decisão política justificada, mas lamentável em relação ao setor, já que os seus principais adversários, Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB), confirmaram presença.
Broadcast - Como é para um agricultor assumir o conselho deliberativo de uma entidade de indústrias?
Roberto Rodrigues - É interessante, pois não é só um agricultor, mas ainda um fornecedor de cana-de-açúcar. São longos anos de confronto, mas me parece que o setor industrial entrou firme, passou a borracha no passado e aceitou a ideia de integrar a cadeia produtiva.
Broadcast - Como o senhor avalia a crise do setor, que atingiu até mesmo a Unica, com o corte do orçamento?
Roberto Rodrigues - Os números são assombrosos. O tamanho da dívida é quase o faturamento de um ano inteiro e hoje as usinas trabalham para pagar juros. E cerca de 15% da dívida são juros. Temos outros números mais conhecidos. São 50 usinas paradas e outras 60 sem situação muito delicada.
Broadcast - E qual a saída?
Roberto Rodrigues - A saída é conhecida e passa pela definição clara e abrangente do papel do etanol na matriz energética brasileira, pois 15% da matriz energética vem da cana. Tem de haver as ações de equilíbrio do preço do etanol vis-à-vis ao preço da gasolina. E sabemos que não é simples o aumento da gasolina. Além disso, tem o tema tributário, a necessidade da volta da Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico) sobre a gasolina, ou então outro tributo que vise as externalidades do etanol e que balanceie o combustível com gasolina. Existe ainda a questão do ICMS (Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) que deveria ser unificado para o etanol pela alíquota mais baixa entre os Estados. Já a questão tecnológica, por sua vez, é fundamental desde a área agrícola à industrial.
Broadcast - O senhor foi colega da presidente Dilma no ministério do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Como será voltar agora ao Planalto para negociar com ela?
Roberto Rodrigues - Em primeiro lugar, não sei se ela vai me chamar, mas vou tentar. Soube pela imprensa que houve um pedido dela para que o (ministro da Casa Civil, Aloizio) Mercadante chame o setor. Temos de mostrar ao governo que os benefícios do etanol são para a sociedade inteira e que o setor gera 1 milhão de empregos. A segunda questão é saúde pública. Mais de mil mortes por ano por doenças respiratórias seriam eliminadas se o etanol tivesse o papel do passado. São dados de interesse global e precisam ser mostrados. Esse é meu papel.
Broadcast - Como o senhor avalia a ausência da presidente Dilma no evento de hoje em São Paulo, que terá a presença dos principais adversários dela, Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB)?
Roberto Rodrigues - É uma decisão justificada, porque ela não tem vontade de se expor a uma eventual competição com os concorrentes. Do ponto de vista político (a ausência) é explicada, mas lamenta-se do ponto de vista do setor.
Broadcast - A Unica deve anunciar o apoio a algum candidato específico?
Roberto Rodrigues - Não. A Unica não vai ter preocupação com candidato, mas é claro que o candidato que oferecer uma posição mais clara com o setor nos pontos mais sensíveis terá a maior simpatia.
Broadcast - Qual foi o maior erro do setor sucroenergético?
Roberto Rodrigues - É difícil dizer, mas acho que, de uma maneira geral, não se comunicou bem e não explicou porque era importante o uso do etanol, por exemplo.
Broadcast - Mas a comunicação foi uma das prioridades e recebeu um dos maiores investimentos da Unica recentemente.
Roberto Rodrigues - Não se trata apenas de comunicar, mas de como comunicar.
Produtor e fornecedor de cana-de-açúcar, o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues considera que a indústria sucroenergética "passou uma borracha no passado" ao escolhê-lo para assumir a presidência do conselho deliberativo da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), cargo antes reservado apenas para executivos das companhias do setor.
Em entrevista ao Broadcast, Rodrigues admitiu que o setor não soube se comunicar e considerou que os números da
crise nas unidades produtoras são assombrosos. Rodrigues mostrou cautela ao falar sobre sua ex-colega da Esplanada dos Ministérios e atual presidente da República, Dilma Rousseff. Ele considerou que a ausência dela no Prêmio TOP Etanol na noite de hoje em São Paulo é uma decisão política justificada, mas lamentável em relação ao setor, já que os seus principais adversários, Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB), confirmaram presença.
Broadcast - Como é para um agricultor assumir o conselho deliberativo de uma entidade de indústrias?
Roberto Rodrigues - É interessante, pois não é só um agricultor, mas ainda um fornecedor de cana-de-açúcar. São longos anos de confronto, mas me parece que o setor industrial entrou firme, passou a borracha no passado e aceitou a ideia de integrar a cadeia produtiva.
Broadcast - Como o senhor avalia a crise do setor, que atingiu até mesmo a Unica, com o corte do orçamento?
Roberto Rodrigues - Os números são assombrosos. O tamanho da dívida é quase o faturamento de um ano inteiro e hoje as usinas trabalham para pagar juros. E cerca de 15% da dívida são juros. Temos outros números mais conhecidos. São 50 usinas paradas e outras 60 sem situação muito delicada.
Broadcast - E qual a saída?
Roberto Rodrigues - A saída é conhecida e passa pela definição clara e abrangente do papel do etanol na matriz energética brasileira, pois 15% da matriz energética vem da cana. Tem de haver as ações de equilíbrio do preço do etanol vis-à-vis ao preço da gasolina. E sabemos que não é simples o aumento da gasolina. Além disso, tem o tema tributário, a necessidade da volta da Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico) sobre a gasolina, ou então outro tributo que vise as externalidades do etanol e que balanceie o combustível com gasolina. Existe ainda a questão do ICMS (Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) que deveria ser unificado para o etanol pela alíquota mais baixa entre os Estados. Já a questão tecnológica, por sua vez, é fundamental desde a área agrícola à industrial.
Broadcast - O senhor foi colega da presidente Dilma no ministério do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Como será voltar agora ao Planalto para negociar com ela?
Roberto Rodrigues - Em primeiro lugar, não sei se ela vai me chamar, mas vou tentar. Soube pela imprensa que houve um pedido dela para que o (ministro da Casa Civil, Aloizio) Mercadante chame o setor. Temos de mostrar ao governo que os benefícios do etanol são para a sociedade inteira e que o setor gera 1 milhão de empregos. A segunda questão é saúde pública. Mais de mil mortes por ano por doenças respiratórias seriam eliminadas se o etanol tivesse o papel do passado. São dados de interesse global e precisam ser mostrados. Esse é meu papel.
Broadcast - Como o senhor avalia a ausência da presidente Dilma no evento de hoje em São Paulo, que terá a presença dos principais adversários dela, Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB)?
Roberto Rodrigues - É uma decisão justificada, porque ela não tem vontade de se expor a uma eventual competição com os concorrentes. Do ponto de vista político (a ausência) é explicada, mas lamenta-se do ponto de vista do setor.
Broadcast - A Unica deve anunciar o apoio a algum candidato específico?
Roberto Rodrigues - Não. A Unica não vai ter preocupação com candidato, mas é claro que o candidato que oferecer uma posição mais clara com o setor nos pontos mais sensíveis terá a maior simpatia.
Broadcast - Qual foi o maior erro do setor sucroenergético?
Roberto Rodrigues - É difícil dizer, mas acho que, de uma maneira geral, não se comunicou bem e não explicou porque era importante o uso do etanol, por exemplo.
Broadcast - Mas a comunicação foi uma das prioridades e recebeu um dos maiores investimentos da Unica recentemente.
Roberto Rodrigues - Não se trata apenas de comunicar, mas de como comunicar.