Odebrecht Agro renegocia R$ 4 bilhões

05/05/2015 Cana-de-Açúcar POR: Valor Econômico
A despeito das denúncias envolvendo sua controladora na Operação Lava­Jato, da Polícia Federal, a Odebrecht Agroindustrial, braço sucroalcooleiro da Organização Odebrecht, inicia a safra 2015/16 de cana­de­açúcar com 20% de seu endividamento no curto prazo. Até então, eram incômodos 45%. Em uma negociação "mais trabalhosa" do que o usual, a subsidiária conseguiu concluir no fim do primeiro trimestre deste ano o alongamento de R$ 4 bilhões. "Levou mais tempo e demandou mais explicações. Mas conseguimos entrar a nova safra com o caixa que precisávamos", afirmou ao Valor o presidente da companhia de açúcar e etanol, Luiz de Mendonça.
Ele explicou que a operação reduziu a dívida com vencimento em até 12 meses a R$ 1,7 bilhão, número que será apresentado nas demonstrações financeiras referentes ao exercício encerrado em 31 de março (2014/15), com divulgação prevista para junho.
Um ano antes, em março de 2014, o endividamento líquido da companhia era de R$ 10,8 bilhões, sendo metade no curto prazo. Ao longo do ano passado, outras repactuações foram realizadas, mas a maior delas, dos R$ 4 bilhões, ocorreu justamente no calor das investigações da Lava­Jato. "Temos enfrentado um pouco de
desconfiança do setor bancário, da comunidade e de lideranças. O 'denuncismo' gera incertezas e nunca é bom para o negócio", lamentou.
Desde o início de 2014, a Odebrecht Agroindustrial tenta arrumar a condição financeira da companhia, que tem uma dívida equivalente a cerca de quatro vezes sua receita líquida. Entre as operações realizadas, destaca­se a venda dos ativos de cogeração para uma outra subsidiária da própria Organização Odebrecht por R$ 3,7 bilhões.
Além disso, em outubro passado, a controladora também injetou R$ 820 milhões por meio de um aumento de capital privado. 
"Essas medidas, tomadas nos últimos meses, aliadas a um maior uso da capacidade instalada, vão levar a empresa a uma melhor condição financeira e operacional", disse Mendonça. Com capacidade para processar 34 milhões de toneladas, as nove usinas do grupo ­ distribuídas nos Estados de São Paulo, Mato Grosso do Sul e Goiás ­ vão moer neste ciclo 2015/16 perto de 27,5 milhões de toneladas, o equivalente a 78% da capacidade instalada. No ciclo 2014/15, esse percentual foi de 67%, observou Mendonça
Seu otimismo, no entanto, encontra limites na alavancada condição financeira da companhia e de todo o setor sucroalcooleiro. Durante os oito anos de política de preços controlados dos combustíveis no país, o endividamento das usinas superou a receita, indo para níveis de R$ 70 bilhões. "É preciso discutir com as empresas que têm condição de continuar investindo no setor, um alongamento de dívida. Alguns grupos, mais
capitalizados, vão comprar usinas quebradas, mas no fim das contas vai continuar sendo uma perda de capacidade", afirmou.
Questionado se o ideal seria um Proer [Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional], Mendonça afirmou não gostar de usar um termo do passado, uma vez que pode confundir o contexto presente com "perdão de dívida". "Estamos falando de um alongamento para as empresas que podem continuar investindo e honrando seus compromissos", disse. 
Outra questão urgente a ser equacionada, segundo ele, são os créditos tributários retidos pelo governo. "Somente de Pis e Cofins, o setor sucroalcooleiro tem R$ 2 bilhões a receber do governo. Quem investiu foi penalizado", afirmou o executivo. Só a Odebrecht Agroindustrial, disse ele, tem mais de R$ 600 milhões em crédito dessa natureza a receber, contraídos quando a empresa estava construindo suas nove usinas. "Até hoje a companhia não recebeu. É muito dinheiro. O governo se esmera tanto em cumprir os contratos com o mercado financeiro, mas esse contrato de Pis e Cofins também foi feito com o setor industrial. Não ressarcir esses créditos é quase uma quebra contratual. Nós é que estamos financiando o governo", reclamou.
Para Mendonça, o pior da crise do setor já passou. A retomada, ainda que parcial, da cobrança da Cide na gasolina e os recentes reajustes no preço da gasolina na refinaria são sinalização positiva para setor. "Percebe­se na agenda do governo, tanto na da ministra Kátia Abreu [Agricultura], como no do Eduardo Braga [titular de Minas e
Energia], que a preocupação com o etanol e a bioenergia voltou à agenda".
No entanto, ele observou que os reajustes concedidos à gasolina nos últimos dois anos, na casa de 5% a 8%, vieram acompanhados de reajustes também para o diesel, em percentuais ainda maiores. "Portanto, o efeito desses aumentos foram praticamente nulos ­ de R$ 0,02 a R$ 0,03 por litro ­ ao etanol, na medida em que o diesel
é um componente importante de custos para as usinas". Já a volta da cobrança da Cide, de R$ 0,22 por litro, foi mais substancial, apesar de ter recomposto apenas 
parcialmente a incidência do tributo, disse o executivo. Atualizada, a Cide deveria estar incidindo em R$ 0,45 a R$ 0,50 por litro de gasolina. "Teve um alento, mas para quem ficou por sete anos com preços controlados, ainda é muito pouco. Ainda há correções a serem feitas". Sem contar, segundo ele, que faltam regras claras para a política energética do país no longo prazo. "É um absurdo o governo aceitar pagar um preço elevado pela energia das usinas térmicas a diesel, e não aceitar pagar um pouco mais pela cogeração a partir de biomassa", lamentou.
Assim, investimentos, antes superiores a R$ 1 bilhão por ano, agora ficam na casa dos R$ 600 milhões, basicamente destinados à renovação de canaviais e à conclusão dos últimos projetos de expansão industrial, como o da usina Eldorado (MS), que de 1,7 milhão de toneladas, teve sua capacidade ampliada para 3,5 milhões. "O foco neste momento é reduzir o custo da cana colocada na esteira, o chamado Corte, Carregamento e Transporte (CCT)", afirmou.
A despeito das denúncias envolvendo sua controladora na Operação Lava­Jato, da Polícia Federal, a Odebrecht Agroindustrial, braço sucroalcooleiro da Organização Odebrecht, inicia a safra 2015/16 de cana­de­açúcar com 20% de seu endividamento no curto prazo. Até então, eram incômodos 45%. Em uma negociação "mais trabalhosa" do que o usual, a subsidiária conseguiu concluir no fim do primeiro trimestre deste ano o alongamento de R$ 4 bilhões. "Levou mais tempo e demandou mais explicações. Mas conseguimos entrar a nova safra com o caixa que precisávamos", afirmou ao Valor o presidente da companhia de açúcar e etanol, Luiz de Mendonça.
Ele explicou que a operação reduziu a dívida com vencimento em até 12 meses a R$ 1,7 bilhão, número que será apresentado nas demonstrações financeiras referentes ao exercício encerrado em 31 de março (2014/15), com divulgação prevista para junho.
Um ano antes, em março de 2014, o endividamento líquido da companhia era de R$ 10,8 bilhões, sendo metade no curto prazo. Ao longo do ano passado, outras repactuações foram realizadas, mas a maior delas, dos R$ 4 bilhões, ocorreu justamente no calor das investigações da Lava­Jato. "Temos enfrentado um pouco de
desconfiança do setor bancário, da comunidade e de lideranças. O 'denuncismo' gera incertezas e nunca é bom para o negócio", lamentou.
Desde o início de 2014, a Odebrecht Agroindustrial tenta arrumar a condição financeira da companhia, que tem uma dívida equivalente a cerca de quatro vezes sua receita líquida. Entre as operações realizadas, destaca­se a venda dos ativos de cogeração para uma outra subsidiária da própria Organização Odebrecht por R$ 3,7 bilhões.
Além disso, em outubro passado, a controladora também injetou R$ 820 milhões por meio de um aumento de capital privado. 
"Essas medidas, tomadas nos últimos meses, aliadas a um maior uso da capacidade instalada, vão levar a empresa a uma melhor condição financeira e operacional", disse Mendonça. Com capacidade para processar 34 milhões de toneladas, as nove usinas do grupo ­ distribuídas nos Estados de São Paulo, Mato Grosso do Sul e Goiás ­ vão moer neste ciclo 2015/16 perto de 27,5 milhões de toneladas, o equivalente a 78% da capacidade instalada. No ciclo 2014/15, esse percentual foi de 67%, observou Mendonça
Seu otimismo, no entanto, encontra limites na alavancada condição financeira da companhia e de todo o setor sucroalcooleiro. Durante os oito anos de política de preços controlados dos combustíveis no país, o endividamento das usinas superou a receita, indo para níveis de R$ 70 bilhões. "É preciso discutir com as empresas que têm condição de continuar investindo no setor, um alongamento de dívida. Alguns grupos, mais
capitalizados, vão comprar usinas quebradas, mas no fim das contas vai continuar sendo uma perda de capacidade", afirmou.
Questionado se o ideal seria um Proer [Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional], Mendonça afirmou não gostar de usar um termo do passado, uma vez que pode confundir o contexto presente com "perdão de dívida". "Estamos falando de um alongamento para as empresas que podem continuar investindo e honrando seus compromissos", disse. 
Outra questão urgente a ser equacionada, segundo ele, são os créditos tributários retidos pelo governo. "Somente de Pis e Cofins, o setor sucroalcooleiro tem R$ 2 bilhões a receber do governo. Quem investiu foi penalizado", afirmou o executivo. Só a Odebrecht Agroindustrial, disse ele, tem mais de R$ 600 milhões em crédito dessa natureza a receber, contraídos quando a empresa estava construindo suas nove usinas. "Até hoje a companhia não recebeu. É muito dinheiro. O governo se esmera tanto em cumprir os contratos com o mercado financeiro, mas esse contrato de Pis e Cofins também foi feito com o setor industrial. Não ressarcir esses créditos é quase uma quebra contratual. Nós é que estamos financiando o governo", reclamou.
Para Mendonça, o pior da crise do setor já passou. A retomada, ainda que parcial, da cobrança da Cide na gasolina e os recentes reajustes no preço da gasolina na refinaria são sinalização positiva para setor. "Percebe­se na agenda do governo, tanto na da ministra Kátia Abreu [Agricultura], como no do Eduardo Braga [titular de Minas e
Energia], que a preocupação com o etanol e a bioenergia voltou à agenda".
No entanto, ele observou que os reajustes concedidos à gasolina nos últimos dois anos, na casa de 5% a 8%, vieram acompanhados de reajustes também para o diesel, em percentuais ainda maiores. "Portanto, o efeito desses aumentos foram praticamente nulos ­ de R$ 0,02 a R$ 0,03 por litro ­ ao etanol, na medida em que o diesel
é um componente importante de custos para as usinas". Já a volta da cobrança da Cide, de R$ 0,22 por litro, foi mais substancial, apesar de ter recomposto apenas 
parcialmente a incidência do tributo, disse o executivo. Atualizada, a Cide deveria estar incidindo em R$ 0,45 a R$ 0,50 por litro de gasolina. "Teve um alento, mas para quem ficou por sete anos com preços controlados, ainda é muito pouco. Ainda há correções a serem feitas". Sem contar, segundo ele, que faltam regras claras para a política energética do país no longo prazo. "É um absurdo o governo aceitar pagar um preço elevado pela energia das usinas térmicas a diesel, e não aceitar pagar um pouco mais pela cogeração a partir de biomassa", lamentou.
Assim, investimentos, antes superiores a R$ 1 bilhão por ano, agora ficam na casa dos R$ 600 milhões, basicamente destinados à renovação de canaviais e à conclusão dos últimos projetos de expansão industrial, como o da usina Eldorado (MS), que de 1,7 milhão de toneladas, teve sua capacidade ampliada para 3,5 milhões. "O foco neste momento é reduzir o custo da cana colocada na esteira, o chamado Corte, Carregamento e Transporte (CCT)", afirmou.