O ciclo de alta das cotações internacionais das commodities agrícolas marcado pelo forte incremento da demanda de países emergentes, notadamente a China, ficou mesmo para trás. É difícil imaginar uma escalada do consumo global como a da década passada -ainda que, em geral, a tendência ainda seja de alta - e em 2014, como em 2012 e 2013, o prato da balança que mais pesou sobre os preços foi o da oferta.
Como era previsto, os principais grãos (milho, trigo e soja) não resistiram ao avanço do movimento de recuperação da produção global e voltaram a tombar, pelo segundo ano seguido e para os menores patamares desde o fim da década passada; em contrapartida, produtos como café, cacau e suco de laranja encontraram sustentação em adversidades em larga medida surpreendentes e iniciarão 2015 em níveis mais elevados que os esperados.
O açúcar fez parte desse segundo grupo principalmente entre os meses de maio e outubro, em consequência da mesma estiagem no Centro-Sul do Brasil que afetou a colheita de café. Mas, nesse caso, os problemas se mostraram menos graves e o suporte perdeu força.
Mas foi outro sinal do crescente peso brasileiro no quadro global da oferta de alimentos, num ano em que a valorização do dólar exerceu pressão baixista sobre as cotações nas principais bolsas americanas e no qual a carga especulativa, sob forte influência climática, sofreu considerável esvaziamento do ponto de vista de participação nas posições abertas em Chicago e Nova York.
No mercado de grãos de Chicago, o milho, cereal mais produzido no mundo e commodity agrícola de maior liquidez, refletiu bem esse movimento. Iniciou 2014 cercado por um pessimismo maior dos fundos em relação aos preços por causa das perspectivas de colheita global recorde nesta safra 2014/15, recuperou apostas com o atraso do plantio nos EUA, voltou a perdê-las com a confirmação de mais uma safra americana recorde e, em dezembro, atraiu novamente recursos em função de uma expectativa de maior demanda para a produção de rações.
Conforme cálculos do Valor Data baseados nas oscilações dos contratos futuros de segunda posição de entrega, o saldo desse vaivém é uma cotação média anual em 2014 (o balanço foi fechado no dia 29) quase 25% menor que a de 2013 - e a mais baixa desde 2009. A média deste quarto trimestre do ano, porém, é quase 4,5% superior à do terceiro.
A confiança dos especuladores na baixa do trigo também predominava no início do ano, mas o cenário começou a mudar em fevereiro. A seca nas Grandes Planícies dos EUA teve papel importante nessa guinada, engrossada pelo acirramento do conflito entre Rússia e Ucrânia, importantes produtores mundiais. As apostas na alta do trigo ganharam musculatura entre abril e maio, mas depois arrefeceram. Retomaram o gás nas últimas semanas, em meio à decisão da Rússia de restringir as exportações para controlar a inflação. Mesmo assim, os papéis de segunda posição negociados em Chicago encerram 2014 com uma média 14% inferior à registrada em 2013, mesmo que também em meio a uma recuperação no quarto trimestre.
Entre os grãos referenciados em Chicago, a soja continua a ser o que mais reflete a situação da oferta no Brasil. O ano começou com chuvas em Mato Grosso e seca no Sul, o que aumentou o otimismo dos "managed money" quanto a possíveis valorizações. Particularmente nesse mercado, a demanda chinesa estava mais aquecida do que se supunha, e as apostas na alta chegaram ao ápice em março, de acordo com estatísticas da Comissão de Negociação de Futuros de Commodities (CFTC).
Ocorre que a colheita brasileira de 2013/14 depois avançou sem atropelos e o plantio da nova safra evoluiu bem nos EUA, o que fez a soja registrar, em setembro, o pico das apostas baixistas do ano. Mas as reviravoltas não pararam por aí. A partir de outubro, a lentidão da colheita nos EUA e do plantio no Brasil levou a oleaginosa a voltar a apresentar saldo líquido de contratos comprados em Chicago, mas as portas estão abertas para novas quedas, já que um novo recorde na produção mundial tende a ser confirmado nesta safra 2014/15 quando a colheita estiver concluída no Hemisfério Sul.
Assim, apesar do apetite chinês, a média dos contratos de segunda posição da soja fecha 2014 em queda de 11% sobre 2013 em Chicago, e com o menor patamar trimestral do ano entre outubro e dezembro, num sinal que reforça a expectativa de que novas quedas podem acontecer.
Negociado em Nova York, o algodão também foi fortemente influenciado pela China, que domina 60% dos estoques globais. Inicialmente aquecida, a demanda do país asiático embalou a crença na alta da pluma na primeira metade de 2014. Mas essa tendência mudou de direção na medida em que a boa safra americana se confirmou e o consumo global emitiu sinais de desaceleração. As apostas dos fundos na baixa já marcam dezembro e a média anual da segunda posição fecha o ano no nível mais baixo desde 2009 na bolsa, segundo o Valor Data.
Também em Nova York, os investidores mantiveram durante boa parte do ano a crença na valorização do açúcar, em função do tempo quente e seco em importantes regiões produtoras de cana do Brasil. Após encerrar a semana de 26 de junho com a posição líquida de compra do ano, a commodity caminhou para o campo negativo e chegou a meados deste mês com saldo líquido de contratos vendidos. Pesa a produção maior que a inicialmente estimada no Centro-Sul do Brasil, e o valor médio da segunda posição em 2014 é a menor desde 2008.
Já o café arábica e o cacau sustentaram firmemente as apostas altistas no mercado nova-iorquino. Durante a maior parte do ano, os fundos se apoiaram nas perspectivas de redução da produção no Brasil, devido à estiagem, e a tensão deve crescer, já que a florada do ciclo 2015/16 (que será colhido a partir de maio) também sofreu com a baixa umidade. No caso do cacau, foram os temores com a oferta aquém da demanda e o surto de ebola no oeste da África que deram suporte. O café encerra 2014 com a maior cotação média anual desde 2011, enquanto o cacau atinge o pico histórico na comparação.
No mercado de suco de laranja, finalmente, a seca nas regiões produtoras de laranja no Brasil, aliada ao recuo da oferta da Flórida impulsionaram a confiança dos fundos na elevação dos preços no começo de 2014, mas a ausência de furacões nos EUA e o consumo americano em queda prevaleceram e a tendência, agora, é de baixa. Ainda assim, o preço médio anual da segunda posição em Nova York é o maior desde 2011.
O ciclo de alta das cotações internacionais das commodities agrícolas marcado pelo forte incremento da demanda de países emergentes, notadamente a China, ficou mesmo para trás. É difícil imaginar uma escalada do consumo global como a da década passada -ainda que, em geral, a tendência ainda seja de alta - e em 2014, como em 2012 e 2013, o prato da balança que mais pesou sobre os preços foi o da oferta.
Como era previsto, os principais grãos (milho, trigo e soja) não resistiram ao avanço do movimento de recuperação da produção global e voltaram a tombar, pelo segundo ano seguido e para os menores patamares desde o fim da década passada; em contrapartida, produtos como café, cacau e suco de laranja encontraram sustentação em adversidades em larga medida surpreendentes e iniciarão 2015 em níveis mais elevados que os esperados.
O açúcar fez parte desse segundo grupo principalmente entre os meses de maio e outubro, em consequência da mesma estiagem no Centro-Sul do Brasil que afetou a colheita de café. Mas, nesse caso, os problemas se mostraram menos graves e o suporte perdeu força.
Mas foi outro sinal do crescente peso brasileiro no quadro global da oferta de alimentos, num ano em que a valorização do dólar exerceu pressão baixista sobre as cotações nas principais bolsas americanas e no qual a carga especulativa, sob forte influência climática, sofreu considerável esvaziamento do ponto de vista de participação nas posições abertas em Chicago e Nova York.
No mercado de grãos de Chicago, o milho, cereal mais produzido no mundo e commodity agrícola de maior liquidez, refletiu bem esse movimento. Iniciou 2014 cercado por um pessimismo maior dos fundos em relação aos preços por causa das perspectivas de colheita global recorde nesta safra 2014/15, recuperou apostas com o atraso do plantio nos EUA, voltou a perdê-las com a confirmação de mais uma safra americana recorde e, em dezembro, atraiu novamente recursos em função de uma expectativa de maior demanda para a produção de rações.
Conforme cálculos do Valor Data baseados nas oscilações dos contratos futuros de segunda posição de entrega, o saldo desse vaivém é uma cotação média anual em 2014 (o balanço foi fechado no dia 29) quase 25% menor que a de 2013 - e a mais baixa desde 2009. A média deste quarto trimestre do ano, porém, é quase 4,5% superior à do terceiro.
A confiança dos especuladores na baixa do trigo também predominava no início do ano, mas o cenário começou a mudar em fevereiro. A seca nas Grandes Planícies dos EUA teve papel importante nessa guinada, engrossada pelo acirramento do conflito entre Rússia e Ucrânia, importantes produtores mundiais. As apostas na alta do trigo ganharam musculatura entre abril e maio, mas depois arrefeceram. Retomaram o gás nas últimas semanas, em meio à decisão da Rússia de restringir as exportações para controlar a inflação. Mesmo assim, os papéis de segunda posição negociados em Chicago encerram 2014 com uma média 14% inferior à registrada em 2013, mesmo que também em meio a uma recuperação no quarto trimestre.
Entre os grãos referenciados em Chicago, a soja continua a ser o que mais reflete a situação da oferta no Brasil. O ano começou com chuvas em Mato Grosso e seca no Sul, o que aumentou o otimismo dos "managed money" quanto a possíveis valorizações. Particularmente nesse mercado, a demanda chinesa estava mais aquecida do que se supunha, e as apostas na alta chegaram ao ápice em março, de acordo com estatísticas da Comissão de Negociação de Futuros de Commodities (CFTC).
Ocorre que a colheita brasileira de 2013/14 depois avançou sem atropelos e o plantio da nova safra evoluiu bem nos EUA, o que fez a soja registrar, em setembro, o pico das apostas baixistas do ano. Mas as reviravoltas não pararam por aí. A partir de outubro, a lentidão da colheita nos EUA e do plantio no Brasil levou a oleaginosa a voltar a apresentar saldo líquido de contratos comprados em Chicago, mas as portas estão abertas para novas quedas, já que um novo recorde na produção mundial tende a ser confirmado nesta safra 2014/15 quando a colheita estiver concluída no Hemisfério Sul.
Assim, apesar do apetite chinês, a média dos contratos de segunda posição da soja fecha 2014 em queda de 11% sobre 2013 em Chicago, e com o menor patamar trimestral do ano entre outubro e dezembro, num sinal que reforça a expectativa de que novas quedas podem acontecer.
Negociado em Nova York, o algodão também foi fortemente influenciado pela China, que domina 60% dos estoques globais. Inicialmente aquecida, a demanda do país asiático embalou a crença na alta da pluma na primeira metade de 2014. Mas essa tendência mudou de direção na medida em que a boa safra americana se confirmou e o consumo global emitiu sinais de desaceleração. As apostas dos fundos na baixa já marcam dezembro e a média anual da segunda posição fecha o ano no nível mais baixo desde 2009 na bolsa, segundo o Valor Data.
Também em Nova York, os investidores mantiveram durante boa parte do ano a crença na valorização do açúcar, em função do tempo quente e seco em importantes regiões produtoras de cana do Brasil. Após encerrar a semana de 26 de junho com a posição líquida de compra do ano, a commodity caminhou para o campo negativo e chegou a meados deste mês com saldo líquido de contratos vendidos. Pesa a produção maior que a inicialmente estimada no Centro-Sul do Brasil, e o valor médio da segunda posição em 2014 é a menor desde 2008.
Já o café arábica e o cacau sustentaram firmemente as apostas altistas no mercado nova-iorquino. Durante a maior parte do ano, os fundos se apoiaram nas perspectivas de redução da produção no Brasil, devido à estiagem, e a tensão deve crescer, já que a florada do ciclo 2015/16 (que será colhido a partir de maio) também sofreu com a baixa umidade. No caso do cacau, foram os temores com a oferta aquém da demanda e o surto de ebola no oeste da África que deram suporte. O café encerra 2014 com a maior cotação média anual desde 2011, enquanto o cacau atinge o pico histórico na comparação.
No mercado de suco de laranja, finalmente, a seca nas regiões produtoras de laranja no Brasil, aliada ao recuo da oferta da Flórida impulsionaram a confiança dos fundos na elevação dos preços no começo de 2014, mas a ausência de furacões nos EUA e o consumo americano em queda prevaleceram e a tendência, agora, é de baixa. Ainda assim, o preço médio anual da segunda posição em Nova York é o maior desde 2011.