Até mesmo as folhas das árvores dos remanescentes dizem muito sobre o tipo de vegetação nativa de uma área
A identificação da situação histórica e atual do local onde será implementado o Projeto de Recuperação de Áreas Degradadas e Alteradas – Prada é a base necessária para a definição do planejamento das ações de reflorestamento. Para organizar esse diagnóstico o manual propõe cinco pontos de atenção que serão descritos (de forma resumida) a seguir:
1 - Histórico e uso atual da área:
Além do trabalho de identificação do bioma e do tipo de vegetação no qual a área está inserida, é muito importante que seja realizado um levantamento de todas as atividades (áreas abandonadas, pastagens, áreas agrícolas e florestas comerciais) que existiram e existem (tanto na área escolhida como no seu entorno), visando identificar os impactos causados por cada uma delas, e com isso, definir as ações a serem adotadas.
2 – Condições do solo
O tipo de solo tem um papel de extrema importância no sucesso da recuperação da vegetação nativa, dando condições ao desenvolvimento de árvores, arbustos, gramíneas etc. Dessa forma, é indispensável avaliar a situação do local a ser recuperado, levando-se em consideração a presença ou não de erosão, compactação, profundidade, umidade, área encharcada e/ou alagada, mecanização, condição de drenagem, afloramento
rochosos etc. Tais fatores implicarão diretamente na seleção adequada das espécies utilizadas na recuperação.
3 – Potencial de regeneração natural
O processo de regeneração natural consiste na renovação da vegetação nativa ao sabor da natureza (regeneração natural passiva), caso houver necessidade, há possibilidade de intervenção (regeneração natural ativa), que consiste na aplicação de algumas técnicas para induzir o processo. Como ela é uma das formas de recuperação de ambientes degradados, estas podem exercer potencial regenerativo ou não. Portanto, a avaliação do
bioma e do tipo de vegetação característico do local é tão importante, pois é a partir dessa avaliação, é possível projetar o seu comportamento, pois cada bioma responde de uma maneira. Por exemplo para ecossistemas florestais é importante que a existência de remanescentes próximos a área de regeneração, pois o propágulo de sementes (através de ventos e fezes de animais), é muito benéfico para o local a ser restaurado. Já para a
área de Cerrado a regeneração natural se dá através da rebrota de estruturas subterrâneas e não de chuva de sementes.
4 – Fatores de perturbação
Um dos fatores de perturbação que assola os proprietários rurais canavieiros são os incêndios, com altas temperaturas, fortes ventos e baixa umidade relativa do ar, fica realmente muito difícil controlar o fogo, mesmo sendo o setor que mais investe em equipes de combate etc.
Além dos incêndios existem outros fatores de perturbação em casos de recuperação, um deles são as formigas cortadeiras, que também podem atrapalhar ou até mesmo destruir por completo etapas de um projeto, principalmente no estado inicial, causando grande prejuízo em mudas ou regenerantes nativos em formação.
Sendo as saúvas e as quenquéns as espécies mais comuns, onde as primeiras se caracterizam por formigueiros grandes com montes expressivos de terra solta e as operárias terem de 12 a 15 mm de comprimento, enquanto que os formigueiros das segundas são pequenos e suas operárias medem de 8 a 10 mm.
Outro problema que ataca diretamente a mata em formação é a invasão de herbívoros (bovinos, javalis, javaporcos, capivaras, entre outros), que causam danos pois comem as plantas recém brotadas e também as prejudicam através do pisoteio. Para o controle de bovinos, o texto indica a construção de cerca e diz que é possível utilizá-los para se alimentarem de gramíneas exóticas.
Enquanto que no caso dos javalis, o manual orienta o produtor a entrar em contato com a Secretaria de Agricultura e Abastecimento pelo site ou telefone (11-5067-0060), especialmente quando há morte natural desses animais, o que pode ser indício de doenças importantes como a peste suína clássica e africana, raiva ou aftosa. A omissão poderá gerar problemas futuros com relação ao atraso no cumprimento do termo de compromisso de recomposição florestal.
Outro tipo de invasão que acontece é o das plantas daninhas exóticas, as quais, assim como nas culturas comerciais, competem por luz, alimento e água podendo levar a iniciativa ao insucesso. Sobre o assunto, a publicação faz um alerta aos produtores próximos das áreas onde há o cultivo de Pinus, em decorrência da facilidade de germinação de suas sementes, podendo surgir dentro dos projetos.
Incêndios é um dos fatores de perturbação
E conclui dizendo que os manejos de controle não devem se concentrar apenas anterior ao plantio, mas ao longo de todo processo de formação até o momento que o próprio ambiente bloqueie o desenvolvimento da vegetação indesejada.
Fechando a lista de fatores que atrapalham o andamento de um projeto está a toxidez por agroquímicos que podem acontecer por deriva da aplicação numa lavoura vizinha propondo como solução, além da adoção de um cuidado maior e atenção as condições climáticas (principalmente falta ou excesso de vento), cercar o perímetro da futura mata com o plantio de árvores e/ou arbustos, que serviriam como uma espécie de quebra-vento, protegendo o terreno. Um detalhe é a questão do uso das ferramentas com residual alto, bastando ao produtor manter o histórico do que foi aplicado e se tiver dúvidas fazer o plantio de uma adubação verde e posteriormente algumas mudas, para observar se ainda persiste algum grau de toxidade.
5 – Outras considerações
Em caso de áreas heterogêneas (diferença no tipo de solo, declividade, culturas de vegetação, condições de drenagem, entre outros fatores) cada gleba precisa ser individualizada dentro do plano de recomposição, isso porque elas poderão demandar estratégias distintas de manejo, condição que evidencia importância da contratação de técnicos especialistas em projetos, pois um plano mal elaborado pode impactar significativamente no bolso do produtor. Outra dica é conversar com os vizinhos para saber a localização que desenvolverão os seus projetos e, se possível, desenvolver ações integradas.
Depois de tantos detalhes, não pode passar a checagem se há passagem de linhas de transmissão, gasoduto ou trilhos de trem, o que pode impedir a concretização do plano por restrição de uso nas faixas de domínio.