O principal mercado consumidor de combustíveis do planeta é palco de uma acirrada batalha no campo da energia, com o etanol na linha de frente. O confronto nos Estado Unidos tem de um lado os produtores do biocombustível, e, do outro, as principais empresas da indústria petrolífera no mundo. Nem mesmo os incentivos federais e os crescentes volumes obrigatórios para mistura de etanol e outros biocombustíveis foram capazes de mitigar a proporção desse duelo, digno de um Davi e Golias.
Mas, assim como na narrativa secular, a indústria do etanol nos EUA garante que sairá vitoriosa deste embate com os gigantes do petróleo. Se no Brasil o biocombustível ainda está longe de um patamar desejável quando se analisa as condições atuais do mercado e vozes se levantam por uma política mais justa para o setor, a gritaria norte-americana já é mais alta e está longe de terminar.
A contenda ganhou mais um capítulo a partir de um documento elaborado pela Renewable Fuels Association (RFA), entidade que representa os produtores de etanol no país. No relatório - lançado durante a Conferência Nacional do Álcool dos EUA, entre os dias 4 e7 de fevereiro, em Las Vegas - é a própria RFA quem define a busca por espaço para o etanol como um verdadeiro embate. "Lutando pelo barril", foi a expressão eleita pelo presidente da entidade, Bob Dinneen, para definir a competição das alcooleiras norte-americanas com as petrolíferas do país.
O site www.novaCana.com, dedicado inteiramente ao mercado de etanol e cana-de-açúcar, apresenta abaixo os destaques do documento de cerca de 30 páginas da RFA.
Um olhar especial é dedicado ao desempenho no ano passado, quando, em meio a uma seca severa e dificuldades econômicas, a indústria produziu cerca de 50,34 bilhões de litros de etanol (13,3 bilhões de galões), regredindo aos níveis de 2010. "Olhando para o futuro, temos de enfrentar a dura realidade. Em 2012, pela primeira vez em 16 anos, a produção de etanol EUA experimentou um declínio anual em relação ao ano anterior. Com a pior seca em décadas, os preços recordes do milho, e uma queda na demanda por gasolina devido à economia em recuperação, o etanol dos EUA passou por uma ´tempestade perfeita´ de condições adversas. Algumas empresas tiveram que fechar as instalações e demitir empregados", conta Dinneen.
O relatório mostra que esta foi a primeira queda na produção de etanol desde 1996, outro ano de seca. Aliado a isso, 96 foi o ano marco para o início de um crescimento exponencial. O ápice produtivo se deu em 2011, quando o volume quase bateu a casa dos 53 bilhões de litros de etanol (14 bilhões de galões).
"À medida que começamos 2013, estamos lutando pelo barril em muitas frentes, lutando para manter políticas energéticas futuras em Washington, trabalhando para abrir novos mercados aqui e no exterior, quebrando muros para a maior utilização no mercado, derrubando barreiras comerciais de Bruxelas até Brasília e restaurando a narrativa positiva para o etanol na mídia", escreve o presidente da RFA.
O cenário estadunidense interessa ao Brasil pois o etanol de cana é classificado como biocombustível avançado e está apto a suprir a lacuna da produção norte-americana. Na análise da Agência de Proteção Ambiental (EPA), o Brasil aparece como o principal candidato para fornecer um volume equivalente a 2,5 bilhões de litros em 2013.
Barreiras políticas
A associação exaltou os desafios domésticos e internacionais que permeiam o horizonte do biocombustível nos EUA. "Na arena internacional, estamos lutando pelo barril contra as políticas protecionistas, desde as políticas fiscais e de comércio no Brasil até uma investigação por ´antidumping´ na União Europeia", relata. No início desta semana a União Europeia autorizou a taxação de 9,5% sobre o etanol norte-americano por considerá-lo com preços desleais, "ilegalmente baixos".
Opinião pública e os "mitos"
O último aspecto citado por Dinneen é um dos principais alvos da entidade, que trabalha pesado para conquistar o amplo apoio da opinião pública. "Na arena da opinião pública, nacional e internacional, estamos contrariando os mitos sobre os biocombustíveis: desde a teoria não comprovada de ´mudança indireta do uso da terra´ até as falsas acusações de que o etanol diminui o abastecimento de alimentos, aumenta os preços dos alimentos e não protege o ambiente natural". Entre as ações, a associação produziu um guia de bolso para informar comerciantes e consumidores a respeito da mistura de 15% de etanol à gasolina, chamada de E15, além de outra publicação destinada especialmente aos misturadores de combustível, distribuidores e varejistas. Os materiais informativos além de orientar, querem desmistificar supostos prejuízos causados pelo uso do etanol.
Em defesa do RFS
A associação dos produtores norte-americanos de biodiesel prevê uma batalha histórica em defesa do Renewable Fuel Standard (RFS), que estabelece os padrões mínimos para aquisição de biocombustíveis pelas refinarias. "Uma das políticas energéticas de maior sucesso já promulgadas nos Estados Unidos, a RFS lançou as bases para o investimento privado ainda maior no setor de biocombustíveis domésticos", defende o documento. Para o RFA, a regra ajudou na criação de empregos, na revitalização das economias rurais, na redução das importações de petróleo e dependência internacional e diminuiu os preços da gasolina. Além de reduzir a poluição e as emissões de gases de efeito estufa aspecto, aspecto determinante da RFS.
O relatório da RFA ressalta que, "atualmente, a indústria de etanol dos EUA lidera o mundo, não só na produção e uso de biocombustíveis, mas também na exportação de etanol". Porém os principais mercados consumidores internacionais - Canadá, União Europeia, Nigéria, Filipinas, Jamaica, Cingapura, Japão, Coreia do Sul, Taiwan, Omã e os Emirados Árabes Unidos - e mercados emergentes, como México e Peru, ainda tem oportunidades importantes que podem ser ocupadas pelo concorrente sul-americano.
Números da RFA sobre os benefícios do etanol
Para atestar a contribuição do etanol à economia do país, mesmo em um momento difícil para o setor, a associação sustenta números expressivos. Em 2012, a indústria apoiou mais de 70 mil empregos diretos, além de outros 295 mil empregos indiretos. A produção de etanol contribuiu com US$ 40,6 bilhões para o produto interno bruto e US$ 28,9 bilhões dólares para a renda familiar. Além de estimular setores relacionados à produção, construção e manutenção, que incluem postos de trabalho em áreas como engenharia, química e contabilidade. "Estes são empregos de qualidade, com mais de 75% dos trabalhadores recebendo US$ 50.000 por ano e 99% com benefícios de saúde", indica o documento em relação a dados de 2010. A indústria ainda contribuiu com US$ 8 bilhões em impostos federais, estaduais e locais.
"À medida que a batalhamos pelo barril, estamos lutando pela segurança econômica da América, a segurança energética e a segurança ambiental. Como sempre, é uma luta difícil, mas que não ousamos - e não vamos - perder", conclui Bob Dinneen.
Amanda SchArr
O principal mercado consumidor de combustíveis do planeta é palco de uma acirrada batalha no campo da energia, com o etanol na linha de frente. O confronto nos Estado Unidos tem de um lado os produtores do biocombustível, e, do outro, as principais empresas da indústria petrolífera no mundo. Nem mesmo os incentivos federais e os crescentes volumes obrigatórios para mistura de etanol e outros biocombustíveis foram capazes de mitigar a proporção desse duelo, digno de um Davi e Golias.
Mas, assim como na narrativa secular, a indústria do etanol nos EUA garante que sairá vitoriosa deste embate com os gigantes do petróleo. Se no Brasil o biocombustível ainda está longe de um patamar desejável quando se analisa as condições atuais do mercado e vozes se levantam por uma política mais justa para o setor, a gritaria norte-americana já é mais alta e está longe de terminar.
A contenda ganhou mais um capítulo a partir de um documento elaborado pela Renewable Fuels Association (RFA), entidade que representa os produtores de etanol no país. No relatório - lançado durante a Conferência Nacional do Álcool dos EUA, entre os dias 4 e7 de fevereiro, em Las Vegas - é a própria RFA quem define a busca por espaço para o etanol como um verdadeiro embate. "Lutando pelo barril", foi a expressão eleita pelo presidente da entidade, Bob Dinneen, para definir a competição das alcooleiras norte-americanas com as petrolíferas do país.
O site www.novaCana.com, dedicado inteiramente ao mercado de etanol e cana-de-açúcar, apresenta abaixo os destaques do documento de cerca de 30 páginas da RFA.
Um olhar especial é dedicado ao desempenho no ano passado, quando, em meio a uma seca severa e dificuldades econômicas, a indústria produziu cerca de 50,34 bilhões de litros de etanol (13,3 bilhões de galões), regredindo aos níveis de 2010. "Olhando para o futuro, temos de enfrentar a dura realidade. Em 2012, pela primeira vez em 16 anos, a produção de etanol EUA experimentou um declínio anual em relação ao ano anterior. Com a pior seca em décadas, os preços recordes do milho, e uma queda na demanda por gasolina devido à economia em recuperação, o etanol dos EUA passou por uma ´tempestade perfeita´ de condições adversas. Algumas empresas tiveram que fechar as instalações e demitir empregados", conta Dinneen.
O relatório mostra que esta foi a primeira queda na produção de etanol desde 1996, outro ano de seca. Aliado a isso, 96 foi o ano marco para o início de um crescimento exponencial. O ápice produtivo se deu em 2011, quando o volume quase bateu a casa dos 53 bilhões de litros de etanol (14 bilhões de galões).
"À medida que começamos 2013, estamos lutando pelo barril em muitas frentes, lutando para manter políticas energéticas futuras em Washington, trabalhando para abrir novos mercados aqui e no exterior, quebrando muros para a maior utilização no mercado, derrubando barreiras comerciais de Bruxelas até Brasília e restaurando a narrativa positiva para o etanol na mídia", escreve o presidente da RFA.
O cenário estadunidense interessa ao Brasil pois o etanol de cana é classificado como biocombustível avançado e está apto a suprir a lacuna da produção norte-americana. Na análise da Agência de Proteção Ambiental (EPA), o Brasil aparece como o principal candidato para fornecer um volume equivalente a 2,5 bilhões de litros em 2013.
Barreiras políticas
A associação exaltou os desafios domésticos e internacionais que permeiam o horizonte do biocombustível nos EUA. "Na arena internacional, estamos lutando pelo barril contra as políticas protecionistas, desde as políticas fiscais e de comércio no Brasil até uma investigação por ´antidumping´ na União Europeia", relata. No início desta semana a União Europeia autorizou a taxação de 9,5% sobre o etanol norte-americano por considerá-lo com preços desleais, "ilegalmente baixos".
Opinião pública e os "mitos"
O último aspecto citado por Dinneen é um dos principais alvos da entidade, que trabalha pesado para conquistar o amplo apoio da opinião pública. "Na arena da opinião pública, nacional e internacional, estamos contrariando os mitos sobre os biocombustíveis: desde a teoria não comprovada de ´mudança indireta do uso da terra´ até as falsas acusações de que o etanol diminui o abastecimento de alimentos, aumenta os preços dos alimentos e não protege o ambiente natural". Entre as ações, a associação produziu um guia de bolso para informar comerciantes e consumidores a respeito da mistura de 15% de etanol à gasolina, chamada de E15, além de outra publicação destinada especialmente aos misturadores de combustível, distribuidores e varejistas. Os materiais informativos além de orientar, querem desmistificar supostos prejuízos causados pelo uso do etanol.
Em defesa do RFS
A associação dos produtores norte-americanos de biodiesel prevê uma batalha histórica em defesa do Renewable Fuel Standard (RFS), que estabelece os padrões mínimos para aquisição de biocombustíveis pelas refinarias. "Uma das políticas energéticas de maior sucesso já promulgadas nos Estados Unidos, a RFS lançou as bases para o investimento privado ainda maior no setor de biocombustíveis domésticos", defende o documento. Para o RFA, a regra ajudou na criação de empregos, na revitalização das economias rurais, na redução das importações de petróleo e dependência internacional e diminuiu os preços da gasolina. Além de reduzir a poluição e as emissões de gases de efeito estufa aspecto, aspecto determinante da RFS.
O relatório da RFA ressalta que, "atualmente, a indústria de etanol dos EUA lidera o mundo, não só na produção e uso de biocombustíveis, mas também na exportação de etanol". Porém os principais mercados consumidores internacionais - Canadá, União Europeia, Nigéria, Filipinas, Jamaica, Cingapura, Japão, Coreia do Sul, Taiwan, Omã e os Emirados Árabes Unidos - e mercados emergentes, como México e Peru, ainda tem oportunidades importantes que podem ser ocupadas pelo concorrente sul-americano.
Números da RFA sobre os benefícios do etanol
Para atestar a contribuição do etanol à economia do país, mesmo em um momento difícil para o setor, a associação sustenta números expressivos. Em 2012, a indústria apoiou mais de 70 mil empregos diretos, além de outros 295 mil empregos indiretos. A produção de etanol contribuiu com US$ 40,6 bilhões para o produto interno bruto e US$ 28,9 bilhões dólares para a renda familiar. Além de estimular setores relacionados à produção, construção e manutenção, que incluem postos de trabalho em áreas como engenharia, química e contabilidade. "Estes são empregos de qualidade, com mais de 75% dos trabalhadores recebendo US$ 50.000 por ano e 99% com benefícios de saúde", indica o documento em relação a dados de 2010. A indústria ainda contribuiu com US$ 8 bilhões em impostos federais, estaduais e locais.
"À medida que a batalhamos pelo barril, estamos lutando pela segurança econômica da América, a segurança energética e a segurança ambiental. Como sempre, é uma luta difícil, mas que não ousamos - e não vamos - perder", conclui Bob Dinneen.