Discutir as principais dificuldades enfrentadas pela indústria de transformação no Brasil, especialmente no Estado de São Paulo, e possíveis medidas para reduzir seus impactos. Esse foi o principal objetivo da vinda, a Ribeirão Preto-SP, de Paulo Skaf, presidente do Sebrae-SP (Serviço Brasileiro de Apoio a Micro e Pequenas Empresas), da FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e do CIESP (Centro das Indústrias
do Estado de São Paulo).
O encontro, realizado no Hotel JP, em Ribeirão Preto, no dia 27 de março, com empresários de dezenas de municípios da região, entre eles Sertãozinho-SP e Franca-SP, onde estão dois polos importantes – o sucroenergético e o calçadista –, foi motivado por um recente levantamento que mostra que, no ano passado, a indústria de transformação brasileira mais demitiu do que contratou, amargando uma queda de 164 mil postos de trabalho. De acordo com o Decomtec (Departamento de Competitividade e Tecnologia da Fiesp), foi o primeiro saldo negativo desde 2002.
Antes da reunião, que tratou de temas como desoneração da folha de pagamentos e a proposta de junção do PIS/Cofins, em pauta no Governo Federal, Skaf concedeu uma entrevista coletiva. Confira.
Revista Canavieiros: Qual a sua avaliação sobre as dificuldades enfrentadas pela indústria no Brasil?
Paulo Skaf: Hoje [27 de março], por
coincidência, foi anunciado o PIB de
2014. E a economia teve um crescimento
de apenas 0,1%, ou seja, não houve
crescimento no ano passado. A indústria
geral teve um crescimento negativo, de
1,2%, e a indústria de transformação,
menos 3,8%. Isso não é novidade, mas
mostra a falta de competitividade que
o país tem passado. Os altos custos da
energia, da infraestrutura, da logística,
dos juros, dos impostos, a burocracia,
a falta de crédito, todas essas dificuldades
roubam a competitividade do País e
prejudica, especialmente, a indústria de
transformação, que responde por 13%
do PIB e paga um terço dos impostos.
Ou seja, a cada três reais recolhidos de
impostos, um é pago por essa indústria.
Isso pesa muito e acaba dando um resultado
negativo.
Revista Canavieiros: Desonerar a
folha de pagamento é uma saída?
Skaf: Não. Desonerar foi já uma sa-
ída porque foi feito e o governo quer
agora retroagir. Encaminhou um proje
to de lei para a Câmara dos Deputados
e nós vamos lutar, porque essa desoneração
foi feita em troca de um percentual
sobre o faturamento das empresas
e, agora, o governo quer mais que dobrar
esse percentual. Quando a folha de
pagamento, dependendo do setor, foi
desonerada em 20%, foi colocado 1%
de imposto novo sobre o faturamento e,
em alguns casos, 2%. O que o governo
propõe agora é o que era 1% virar 2,5%,
e o que era 2% virar 4,5%. É isso que
não vamos permitir que aconteça.
Revista Canavieiros: O governo
está mais atrapalhando que ajudando?
Skaf: Os governos mais atrapalham
mesmo. Lamentavelmente, no Brasil,
eles têm mostrado isso. Cobram muitos
impostos e não dão retorno para
as pessoas, para a sociedade. Veja o
exemplo da Segurança Pública, da
Saúde, da Educação, do Transporte
Público. E, em relação ao Governo Federal,
a burocracia tremenda, a carga
tributária elevadíssima e uma mudança
de regras a toda hora. Os empresários
programam investimento, uma direção
e, de repente, as regras mudam e todo
mundo fica perdido, como está acontecendo
agora.
Revista Canavieiros: Falando especificamente
das regiões de Ribeirão
Preto, Sertãozinho e Franca, haveria
uma saída peculiar?
Skaf: A nova realidade cambial, com
o dólar a R$ 3, R$ 3,20, é um respiro,
sem dúvida, para exportação. É um respiro
também para controlar as importa-
ções, ou seja, isso vai ajudar de uma forma
linear, uma forma horizontal a todos
os setores de todas as regiões. Eu diria
que, em meio a tantas más notícias, se
há uma boa é o dólar nesses patamares,
que recupera parte da competitividade
brasileira. Também estamos lutando
para ampliar a faixa do Simples. Hoje,
existem no Estado de São Paulo cerca
de 2,5 milhões de micro e pequenas
empresas que precisam ser apoiadas. E,
também, mais de um milhão de microempreendedores
individuais, chamados
de MEIs. E essa é a forma que estamos
encontrando para ajudá-los: aumentar
a faixa de enquadramento no Simples.
Hoje, o microempreendedor individual
tem uma faixa de até R$ 60 mil por ano
de faturamento, o microempreendedor
até R$ 360 mil e as micro e pequenas
empresas até R$ 3,6 milhões. Quando
ultrapassam essas faixas, perdem todas
as vantagens, no caso do Simples. Estamos
trabalhando para aprovar a amplia-
ção, dobrando o valor das faixas. Para
os microempreendedores individuais,
o limite passaria de R$ 60 mil para R$
120 mil. Para os microempreendedores,
de R$ 360 mil para R$ 720 mil. E para
as micro e pequenas empresas, dos atuais
R$ 3,6 milhões para R$ 7,2 milhões.
Revista Canavieiros: Outro problema
que as empresas enfrentam é a dificuldade
de conseguir crédito. O que
pode ser feito nesse caso?
Skaf: Estive recentemente com a
presidência do BNDES (Banco Nacional
de Desenvolvimento Econô-
mico e Social), levando justamente
essa mensagem, da dificuldade que os
setores industriais estão passando. Citei,
especialmente, a região onde está
Ribeirão Preto e Sertãozinho, devido
à situação do setor sucroalcooleiro
e as empresas que fornecem equipamentos
para este setor. E solicitei que
o BNDES faça um estudo especial,
permitindo um fôlego a essas atividades,
que estão fazendo todo o sacrifí-
cio, mas não por culpa delas e, sim,
por culpa de uma conjuntura da economia
brasileira. Espero que a gente
consiga alguma coisa, um oxigênio
para esta cadeia produtiva.
Revista Canavieiros: O setor emprega
mais de 2,5 milhões de pessoas
em todo o país. Só isso já não justifica
que o governo olhe para ele com
mais carinho?
Skaf: Não tenha dúvida, ainda
mais que São Paulo responde por dois
terços deste setor no Brasil. Então, é
interesse total do nosso Estado e do
país que o setor sucroalcooleiro seja
prestigiado, coisa que não tem sido já
há algum tempo.
Discutir as principais dificuldades enfrentadas pela indústria de transformação no Brasil, especialmente no Estado de São Paulo, e possíveis medidas para reduzir seus impactos. Esse foi o principal objetivo da vinda, a Ribeirão Preto-SP, de Paulo Skaf, presidente do Sebrae-SP (Serviço Brasileiro de Apoio a Micro e Pequenas Empresas), da FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e do CIESP (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo).
O encontro, realizado no Hotel JP, em Ribeirão Preto, no dia 27 de março, com empresários de dezenas de municípios da região, entre eles Sertãozinho-SP e Franca-SP, onde estão dois polos importantes – o sucroenergético e o calçadista –, foi motivado por um recente levantamento que mostra que, no ano passado, a indústria de transformação brasileira mais demitiu do que contratou, amargando uma queda de 164 mil postos de trabalho. De acordo com o Decomtec (Departamento de Competitividade e Tecnologia da Fiesp), foi o primeiro saldo negativo desde 2002.
Antes da reunião, que tratou de temas como desoneração da folha de pagamentos e a proposta de junção do PIS/Cofins, em pauta no Governo Federal, Skaf concedeu uma entrevista coletiva. Confira.
Revista Canavieiros: Qual a sua avaliação sobre as dificuldades enfrentadas pela indústria no Brasil?
Paulo Skaf: Hoje [27 de março], por coincidência, foi anunciado o PIB de 2014. E a economia teve um crescimento de apenas 0,1%, ou seja, não houve crescimento no ano passado. A indústria geral teve um crescimento negativo, de 1,2%, e a indústria de transformação, menos 3,8%. Isso não é novidade, mas mostra a falta de competitividade que o país tem passado. Os altos custos da energia, da infraestrutura, da logística, dos juros, dos impostos, a burocracia, a falta de crédito, todas essas dificuldades roubam a competitividade do País e prejudica, especialmente, a indústria de transformação, que responde por 13% do PIB e paga um terço dos impostos.
Ou seja, a cada três reais recolhidos de impostos, um é pago por essa indústria.
Isso pesa muito e acaba dando um resultado negativo.
Revista Canavieiros: Desonerar a folha de pagamento é uma saída?
Skaf: Não. Desonerar foi já uma saída porque foi feito e o governo quer agora retroagir. Encaminhou um projeto de lei para a Câmara dos Deputados e nós vamos lutar, porque essa desoneração foi feita em troca de um percentual sobre o faturamento das empresas e, agora, o governo quer mais que dobrar esse percentual. Quando a folha de pagamento, dependendo do setor, foi desonerada em 20%, foi colocado 1% de imposto novo sobre o faturamento e, em alguns casos, 2%. O que o governo propõe agora é o que era 1% virar 2,5%, e o que era 2% virar 4,5%. É isso que não vamos permitir que aconteça.
Revista Canavieiros: O governo está mais atrapalhando que ajudando?
Skaf: Os governos mais atrapalham mesmo. Lamentavelmente, no Brasil, eles têm mostrado isso. Cobram muitos impostos e não dão retorno para as pessoas, para a sociedade. Veja o exemplo da Segurança Pública, da Saúde, da Educação, do Transporte Público. E, em relação ao Governo Federal, a burocracia tremenda, a carga tributária elevadíssima e uma mudança de regras a toda hora. Os empresários programam investimento, uma direção e, de repente, as regras mudam e todo mundo fica perdido, como está acontecendo agora.
Revista Canavieiros: Falando especificamente das regiões de Ribeirão Preto, Sertãozinho e Franca, haveria uma saída peculiar?
Skaf: A nova realidade cambial, com o dólar a R$ 3, R$ 3,20, é um respiro, sem dúvida, para exportação. É um respiro também para controlar as importações, ou seja, isso vai ajudar de uma forma linear, uma forma horizontal a todos os setores de todas as regiões. Eu diria que, em meio a tantas más notícias, se há uma boa é o dólar nesses patamares, que recupera parte da competitividade brasileira. Também estamos lutando para ampliar a faixa do Simples. Hoje, existem no Estado de São Paulo cerca de 2,5 milhões de micro e pequenas empresas que precisam ser apoiadas. E, também, mais de um milhão de microempreendedores individuais, chamados de MEIs. E essa é a forma que estamos encontrando para ajudá-los: aumentar a faixa de enquadramento no Simples.
Hoje, o microempreendedor individual tem uma faixa de até R$ 60 mil por ano de faturamento, o microempreendedor até R$ 360 mil e as micro e pequenas empresas até R$ 3,6 milhões. Quando ultrapassam essas faixas, perdem todas as vantagens, no caso do Simples. Estamos trabalhando para aprovar a ampliação, dobrando o valor das faixas. Para os microempreendedores individuais, o limite passaria de R$ 60 mil para R$ 120 mil. Para os microempreendedores, de R$ 360 mil para R$ 720 mil. E para as micro e pequenas empresas, dos atuais R$ 3,6 milhões para R$ 7,2 milhões.
Revista Canavieiros: Outro problema que as empresas enfrentam é a dificuldade de conseguir crédito. O que pode ser feito nesse caso?
Skaf: Estive recentemente com a presidência do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), levando justamente essa mensagem, da dificuldade que os setores industriais estão passando. Citei, especialmente, a região onde está Ribeirão Preto e Sertãozinho, devido à situação do setor sucroalcooleiro e as empresas que fornecem equipamentos para este setor. E solicitei que o BNDES faça um estudo especial, permitindo um fôlego a essas atividades, que estão fazendo todo o sacrifício, mas não por culpa delas e, sim, por culpa de uma conjuntura da economia brasileira. Espero que a gente consiga alguma coisa, um oxigênio para esta cadeia produtiva.
Revista Canavieiros: O setor emprega mais de 2,5 milhões de pessoas em todo o país. Só isso já não justifica que o governo olhe para ele com mais carinho?
Skaf: Não tenha dúvida, ainda mais que São Paulo responde por dois terços deste setor no Brasil. Então, é interesse total do nosso Estado e do país que o setor sucroalcooleiro seja prestigiado, coisa que não tem sido já há algum tempo.