Nesta coluna estou colocando uma síntese de tópicos recentes que me chamaram a atenção no mercado da cana e um texto que escrevi para a Revista Dinheiro Rural, um conto que os deixará intrigados... Mas antes uma nota de solidariedade à Copersucar, pelo incêndio em Santos. Como grande admirador do agro brasileiro, do setor de cana e da Copersucar, senti grande dor no ocorrido. Que possamos colocar de pé esta estrutura o mais rapidamente possível.
Macroeconomia e Consumo: existe a perspectiva do Governo aumentar a mistura de biodiesel no diesel dos atuais 5% para 7% ainda neste ano o que traria mais mercado para os produtores de oleaginosas no Brasil e contribuiria para reduzir as importações de diesel. O setor pede um marco regulatório que possa levar a mistura até 20% em 2025.
O recuo do dólar e menor consumo de gasolina no hemisfério norte reduziram a defasagem de preços (mercado internacional e interno) para cerca de 9%, aliviando a situação da Petrobras.
O valor bruto da produção pecuária e de agricultura no Brasil deve somar R$ 417 bilhões em 2013, sendo quase 10% superior ao valor de 2012, proporcionando recorde histórico.
Cana: o valor bruto da produção de cana em 2013 deve passar de R$ 47 bilhões, quase 5% a mais que em 2012.
Movimentos e Investimentos (Empresas): a lamentável política energética do Brasil está destruindo o valor do setor de bens de capital. A Dedini anunciou vendas de apenas R$ 435 milhões em 2012, mais de 30% menores que 2011. Lembrar que a empresa chegou a vender mais de R$ 2 bilhões no auge do crescimento do setor. Em 2012 a empresa deu mais um prejuízo, de R$ 113 milhões.
Etanol: preços do hidratado mantém-se firmes nas Usinas a R$ 1,17/l, e o anidro a R$ 1,35/l. O grande risco do ano é uma possível solicitação da redução da meta de etanol pela EPA – Agência de Proteção Ambiental dos EUA. Viria de algo próximo a 18 bilhões de galões que era a meta original para 2014, para 15 bilhões, o que impactaria negativamente nos preços do milho, bem como nas importações americanas de etanol do Brasil. Até setembro de 2013, as importações totais de etanol estão ao redor de 2,3 bilhões de litros, sendo 1,4 bilhões aos EUA.
O risco de médio e longo prazo são as fontes de energia alternativa, e aí o gás de xisto deve ser estudado muito de perto, para ver os impactos que trará no etanol e no pré-sal. Num momento onde o mundo recua um pouco na questão ambiental, o mercado de créditos de carbono enfrenta grande crise e as fontes fósseis de energia mostram que durarão muito tempo.
O consumo total de etanol até o final de agosto estava em quase 19 bilhões de litros, 10% a mais que em 2012. Hoje o mix de consumo está em 37% de etanol e 63% para gasolina.
Açúcar: problemas climáticos e já um reflexo dos preços baixos do açúcar trazem boas notícias da Rússia. O país deve consumir 5,75 milhões de toneladas no próximo ciclo e necessitará importar cerca de 720 mil toneladas, boa parte vinda do Brasil. No início dos anos 2000 a Rússia importava mais de 4 milhões de toneladas, sendo um grande comprador que saiu do mercado devido ao crescimento da produção interna.
O Rabobank apresentou estudo onde estima em 5,4 milhões de toneladas o excedente entre produção e consumo de açúcar para o ciclo 13/14. Já a Datagro estima em 3,3 milhões de toneladas.
A Archer Consulting assumiu para outubro, antes do fato do incêndio no terminal de Santos, um valor de venda de R$ 945 por tonelada, contra um custo de produção das Usinas mais eficientes em R$ 875 por tonelada.
O Conto da Operação J. Dalton: (publicado no Dinheiro Rural) e você ficou curioso com este título deste artigo “O Conto da Operação J.Dalton”, vou ajudá-lo a entender através de dois capítulos desse gênero literário. A inspiração para o conto vem dos batismos dados pela Polícia Federal brasileira para suas grandes operações, cada vez mais frequentes no Brasil.
O primeiro capítulo começa com um fato extraordinário, que tem o poder de provocar uma grande alegria. As exportações do agronegócio, em agosto, somaram US$ 10,17 bilhões, sendo quase 50% do total exportado pelo Brasil. Em 2013, as exportações do setor acumuladas já batem em US$ 70 bilhões, e o saldo em quase US$ 58 bilhões, 10% acima de 2012. A renda do campo deve chegar a US$ 180 bilhões neste ano. Por isso, o agro é visto como o setor mais competitivo da economia verde-amarela, aonde quer que se vá, no mundo. Aqui nos EUA, onde vivo neste ano, causa grande respeito e também incômodo.
Até a presente data de 2013, a balança comercial brasileira apresenta o seu pior desempenho em décadas. Com exceção do agro, quase todas as demais exportações caíram, devido à deterioração da capacidade competitiva das empresas, fruto de pouquíssimas reformas estruturantes feitas pelo Governo Federal.
Já o segundo capítulo do conto provoca tristeza, ao contrário da alegria proporcionada pelo primeiro. Ele começa com a publicação “Instalada a Comissão da PEC Anti-Indígena”, divulgada pela respeitável organização não governamental Greenpeace, dona de batalha incessante pela preservação ambiental do planeta. A PEC visa disciplinar e ampliar o debate, além de determinar quais são os responsáveis na questão da demarcação de terras indígenas no país. Para começar, causa estranheza esse tema na seara do Greenpeace. Ou seria Indianpeace? Da referida publicação, duas frases se destacam para esse capítulo: “...se os representantes do agronegócio saírem vencedores nessa batalha, como saíram no Código Florestal, não serão apenas os indígenas que perderão, mas toda a sociedade brasileira...” A outra diz ser o agronegócio “o setor mais atrasado da economia brasileira”.
Com dois capítulos, nosso conto entrou... em curto-circuito. De um lado, vemos fatos: o desempenho econômico medido por geração de renda, exportações competitivas, ganhos de mercado do agro e os outros setores... caindo nas exportações. De outro lado, vem a opinião do Greenpeace que é o setor mais atrasado da economia, e seu crescimento leva à perda da sociedade brasileira. Quem estaria com problema de visão?
Estariam os setores ditos “modernos da economia”, gerando empregos, exportando por fora, por baixo do pano, em contrabando noturno? No conto acionamos a Policia Federal, que criativamente bolou a Operação J. Dalton. Depois de ampla investigação temos a triste notícia que a operação nada encontrou de crescimento e de exportações dos outros setores.
Porque a P.F. deu este nome à operação? O inglês John Dalton nasceu em 1766 e viveu até 1844. Cientista com diversas contribuições, principalmente na teoria atômica. Dalton tinha um problema na visão, que intensamente investigado, deu origem ao termo daltonismo. O portador tem dificuldade de ver, principalmente de confundir cores, como o verde e o vermelho. Tanto no semáforo quanto no desenvolvimento econômico, esta confusão de cores não é boa. Em ambos, o verde significa avançar e o vermelho, parar ou até retroceder.
Nosso conto deixa duas mensagens: o agro precisa agir coletivamente e com mais rigor com as organizações que são, injustificada e levianamente, ofensivas ao seu difícil trabalho diário. E como o crescimento do agro leva ao desenvolvimento econômico, social e ambiental, a sociedade brasileira precisa enxergar melhor e também reagir, pois enquanto o agro produz e gera renda, uma turma do contra fica todo o tempo criando contos sem fundamento.
Homenageado do Mês: antes de concluir, para não perdermos a característica da coluna, o homenageado do mês é o deputado Duarte Nogueira, que tal como o Thame, homenageado na coluna anterior, já recebeu diversos votos meus. Tem feito um belo trabalho em prol do agronegócio.
Haja Limão: continua o nosso Governo paralisado na questão do etanol. Que pena. E no leilão do pré-sal... apenas um candidato. Vamos torcer.
MARCOS FAVA NEVES é professor titular de planejamento e estratégia na FEA/USP Campus Ribeirão Preto e coordenador científico do Markestrat. Em 2013 é Professor Visitante Internacional da Purdue University.