Outros manejos interessantes para o período de seca

Cana-de-Açúcar POR: Marino Guerra

Práticas se mostraram eficazes para amenizar os efeitos da época

Evitar uma situação como esta é o objetivo

O giro pela região de abrangência da Copercana proporcionou a oportunidade de conhecer diversas práticas adotadas pelos agricultores que demonstram eficiência ao amenizar os efeitos do estresse hídrico numa lavoura canavieira.

Abaixo, serão apresentadas as quatro que chamaram mais atenção. No entanto, antes de entrar no assunto é preciso deixar claro que na agricultura não existem verdades absolutas, e que o conteúdo apresentado ao longo de toda essa reportagem de capa são ações que dão certo em realidades específicas, podendo ou não funcionar em outras regiões.

Portanto, é importante sempre discutir com o corpo técnico, executar um planejamento e, se possível, realizar ensaios, antes de adotar qualquer mudança no manejo da fazenda.

Variedades

Ao conhecer o viveiro com mais de 100 novas variedades de cana que o produtor de Campo Florido, Daine Frangiosi, prepara com o intuito de mostrar o desempenho das cultivares no início de 2021, ele apontou, utilizando sua experiência de quatro anos realizando o trabalho, as espécies que se destacam observando a resistência ao período de estiagem.

A primeira foi a RB03-6152, uma cultivar filha da lendária RB86-7515, que tem como principal característica o fato de se adaptar a ambientes mais restritivos e ter sua época de corte no final de safra. O segundo destaque ainda se trata de um clone, a RB12-7825, que deve ser um dos principais lançamentos para 2021 devido à sua alta produtividade, podendo chegar, em anos mais amenos, às 200 toneladas de cana por hectare.

Frangiosi ainda chamou a atenção para um problema que aumentou muito nesse período de estiagem, o alto índice de surgimento do Colletotrichum falcatum, fungo causador da podridão-vermelha, em talhões da CTC 04 deixados para serem colhidos do meio para o final de safra.

Segundo o produtor, em ensaio realizado, a variedade perdeu até 20 quilos de ATR por tonelada de cana, isso porque a planta tem sua resistência comprometida com o estresse hídrico, facilitando a ação do fungo.

RB03-6152 e RB12-7825 - cultivares destacadas por Frangiosi e que possuem resistência ao estresse hídrico dentre as mais de 100 presentes em seu viveiro experimental

Quebra-lombo

Na região de Santa Cruz das Palmeiras, o RTV da Copercana, José Bortolo Zavaglia, orienta os produtores cooperados a não fazerem a operação de quebra-lombo nos plantios mais tardios.

Na sua visão, a prática desestrutura o solo, fazendo com que ele perca umidade em razão de uma evaporação maior.

Para evidenciar a sua teoria, ele mostrou à reportagem duas áreas, uma ao lado da outra, plantadas na mesma época (segunda quinzena de abril) e com todos os manejos iguais, inclusive a variedade CTC 4.

A diferença entre o talhão onde foi feito o quebra-lombo e o que não teve o manejo executado é visual (lembrando que a área foi visitada em setembro), principalmente ao observar a qualidade das folhas, tanto no tom de verde, mas também em seu vigor.

Talhões vizinhos com a mesma variedade onde a única diferença no manejo é que no primeiro não foi feita a operação de quebra-lombo, enquanto que no segundo sim

Mudas novas

Consenso entre todos os técnicos e produtores ouvidos ao longo do período de produção desta reportagem, fazer o plantio com mudas novas é primordial.

Pensando nisso, a prática mais usual dentre os produtores da Cana Campo é a execução da cantosi, pois cultivar o viveiro próximo da área de reforma dá agilidade ao momento do plantio. Frangiosi informa que na sua operação, o limite máximo são dez meses para uma muda, mas pode chegar até sete em algumas variedades sempre vindas de cana-planta.

Já em Casa Branca, Zavaglia mostrou uma área a qual na metade do talhão foi plantada uma RB96-6928 de onze meses, enquanto que na outra foram utilizadas mudas da mesma variedade com 14 meses.

O plantio aconteceu em maio, só que também houve um outro detalhe, na área que entrou com a muda mais velha, o produtor passou uma grade leve depois que colheu a soja, revolvendo a palhada e mexendo com a estrutura do solo.

Resultado: a diferença no tamanho da cana, falhas e o número de perfilhos brotados é gritante, tanto que na área com a muda velha e solo revolvido é certo que será necessário um trabalho de replantio.

Área em Casa Branca onde no mesmo talhão foi plantada com muda de 11 meses e 14 meses

Corte de soqueira tardio

A prática, recomendada por Zavaglia, nem tanto tem como objetivo dar resistência em relação a estiagem, mas proporcionar maior efetividade aos inseticidas aplicados.

Segundo o engenheiro-agronômico, na cana colhida até o meio de safra, as pragas presentes na soqueira diminuem drasticamente suas atividades em razão da falta de água e, assim, se contaminam menos com o defensivo presente, que por sua vez também terá sua ação prejudicada por não ter umidade.

Na sua tese, se a operação for feita próxima do início das águas, o produto estará presente quando a movimentação dos insetos se acelerar, com a vantagem de ter sua meia-vida completa.

Rebrota onde até setembro não havia sido realizado o corte de soqueira, sem prejuízos no tamanho da cana