Para repensar a adubação em cana soca

Cana-de-Açúcar POR: Marino Guerra

Live com prof.dr. Rafael Otto quebra diversos paradigmas do manejo

Dentro da completa programação de lives sobre adubação realizadas ao longo da 16ª edição do Agronegócios Copercana, a Mosaic Fertilizantes trouxe o professor de adubos e adubação da Esalq, prof.dr. Rafael Otto para dar sua visão a respeito de diversos assuntos que envolvem o manejo em cana-soca.

Num formato onde o convidado era direcionado conforme a mediação do agrônomo sênior da Mosaic Fertilizantes, Thiago Sylvestre, o principal destaque da conversa ficou com a proposta de uma nova visão sobre práticas e conceitos disseminados no campo e que não podem mais ser encarados como verdades absolutas.

Para começar, foi abordada de forma breve a história da diferença de uso do NPK (nitrogênio, fósforo e potássio) na virada da cana queimada para a crua. O professor contou que a adubação da soqueira na era do fogo era feita usando um quilo de N, 1,4 quilo de potássio e muito pouco de fósforo por hectare, o que dava fórmulas próximas de 18-00-27 e 20-00-30.

No princípio da colheita mecanizada, vendo os grandes colchões de palha sobre o solo, aumentou-se em 20% a dose de nitrogênio e reduziu-se quase que pela metade o potássio, chegando a 0,8 quilos por hectare.

Diante da mudança de conduta, a academia começou a estudar o caso, e depois de um tempo a opinião foi de que a resposta da cana-soca ao aumento da dose de nitrogênio, pensando que a palhada iria imobilizar o nutriente, poderia ser precipitada.

O professor Otto também participou desse movimento montando uma rede de ensaios e concluiu que a palha, ao invés de roubar o nutriente, acabava servindo de fonte. Assim, hoje a sua recomendação voltou a ser igual aos tempos do corte manual: um quilo de nitrogênio por hectare.

Sobre o potássio, ele também recomenda a volta da mesma dosagem do passado. O destaque vem com o fósforo, sendo necessária a aplicação de 50 quilos por hectare.

Diante disso, Sylvestre disse que a Mosaic disponibiliza a fórmula 19-10-21 com ureia estabilizada, o que está de acordo com a visão relatada pelo acadêmico.

Mais ATR

A primeira pergunta foi sobre quais nutrientes não podem faltar para quem busca evoluir o ATR no canavial. De pronto, Otto respondeu que o boro tem que ter a atenção principal, isso porque ele é importante para a parte estrutural da planta que faz o transporte do açúcar da folha ao colmo.

O segundo nutriente elencado é o magnésio, por literalmente fazer o carreto do açúcar na estrada construída pelo boro.

Adubar logo após o corte ou esperar

Para responder, o professor se baseou numa tese com foco na época de adubação das canas-socas, que concluiu que para os meses iniciais da safra (abril, maio e junho), a melhor hora para o manejo é logo após o corte, pois a planta usará os nutrientes junto com a água para rebrotar e crescer.

Para a cana de meio de safra (julho, agosto e setembro), os resultados levaram à conclusão de que a melhor estratégia é esperar, podendo ser até três meses, pois na comparação com a nutrição logo após o corte a produtividade foi bem superior.

Parcelamento de N

A visão do professor sobre o assunto é baseada num estudo do PCEM (Programa Cooperativo de Experimentação e Manejo) que acabou se transformando numa tese e mostra que os canaviais de início de safra são os que têm maior potencial para responder ao parcelamento de N.

De cinco experimentos, em três houve resposta com ganhos de produtividade que variaram entre cinco e nove toneladas por hectare. O método de aplicação adotado foi metade da dose logo após o corte e a outra em novembro, antes do verão.

Como a aplicação é acompanhada do fósforo e potássio, o professor também não vê problemas em parcelar suas respectivas doses.

Nas áreas colhidas no meio da safra, o resultado não apresentou ganhos de produtividade, e no de final não foram feitos experimentos, pois não há sentido algum em se parcelar a adubação na véspera do verão.

Ureia estabilizada

Partindo do princípio de que o setor utiliza muito nitrato de amônio como fonte de N e que esse representa apenas 13% do total de fertilizante consumido no Brasil, sendo os adubos à base de ureia os grandes dominadores do mercado, representando 70%.

Acrescido a isso, há a questão dos diversos cuidados necessários no manuseio do nitrato, material que pode ser usado até na composição de bombas e ainda a questão da ureia ser composta por 45% de nitrogênio, enquanto o predileto pelo público canavieiro carrega 32%.

Além dos argumentos, o professor citou um trabalho comparativo realizado por sua equipe, mostrando a produtividade em cana-soca igual nos adubos das duas fontes.

Perante a diversidade de fatos, Otto se expressa favorável à quebra de uma visão consolidada no setor de que a ureia não pode ser aplicada nos canaviais por sua volatilização maior, de 15% a 30%, em decorrência da influência da palha nas aplicações superficiais.

Contudo, ele reconhece que mesmo o nitrato sendo mais caro, migrar é um tema complexo, principalmente para quem tem lavouras grandes.

Para tirar de vez a dúvida, ele fala que há a ureia estabilizada como alternativa, exigindo um valor de investimento intermediário entre a ureia branca e o nitrato, reduzindo as perdas de volatilidade, no pior cenário, pela metade.

Otto conclui que a tendência é o setor começar a utilizar mais nitrogênio à base de ureia e numa recomendação de manejo levando em conta a questão do custo, ele entraria com a estabilizada na época mais propícia para a volatilização (começo e final de safra pela umidade), e no meio aplicaria a branca.

Magnésio

Talvez o ponto mais importante da conversa foi quando a utilização do magnésio entrou em pauta.

O primeiro ponto é que, para o professor, sua aplicação precisa ser feita em solo, não vendo resultado no modo foliar, pois a necessidade de recomposição é de doses altas e com efeito rápido, o que elimina um segundo conceito equivocado, de que só com o calcário, que tem o nutriente, mas com solubilidade baixa, resolve o problema.

Otto explica que o magnésio na composição do calcário está nas partículas mais duras, por isso seu efeito lento, enquanto que as partes mais finas são dominadas pelo cálcio.

Outra questão primordial está nas áreas de vinhaça, pois com a saturação de potássio, que inibe a planta em absorver o magnésio, estão os menores desempenhos em termos de ATR. Lembrando que se a raiz tiver potássio e magnésio disponíveis na mesma proporção, irá incorporar o nutriente rico na vinhaça e ignorará o outro micronutriente, que como dito no início do texto, é a transportadora que leva o açúcar da folha para o colmo.

Assim, ele recomenda uma revisão que consiste em interromper a aplicação de vinhaça em solos que apresentarem níveis altos de potássio e principalmente entrar com magnésio, lembrando que só o calcário de nada irá adiantar, sendo preciso buscar uma fonte mais solúvel.

Outro detalhe do micronutriente é em relação à capacidade da raiz encontrar o fósforo fixado no solo, isso porque quando ela está bem nutrida de magnésio, seu desempenho é bem superior.

Aplicação de adubo incorporado em soqueira

Para fechar a conversa, mais um assunto que, dependendo da situação, tem sua orientação diferente.

Tendo como referência trabalhos acadêmicos, Otto acredita em resultados de produtividade na adubação incorporada através do corte lateral na linha da soqueira.

Todavia, quando se coloca na balança a questão operacional, e nesse sentido o tempo que se leva para fazer em áreas grandes como de usina, por exemplo, o método superficial, em cima da linha, através do uso de um autopropelido, capaz de adubar 20 hectares por hora, faz com que o rendimento seja mais interessante que o ganho de produtividade.

Isso porque o implemento que faz o manejo carrega, no máximo, três linhas, ou seja, para o fornecedor de cana que cultiva em áreas menores, a incorporação se torna viável.

O uso de fertilizantes à base de ureia é outra vantagem elencada pelo professor para os produtores que optarem pela adubação incorporada.

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