Para sair da crise, usina de Mato Grosso investe na produção de etanol com milho

26/08/2015 Etanol POR: Pablo Valler – Canal Rural
A melhora nos mercados em geral deu suporte aos futuros de açúcar demerara ontem na Bolsa de Nova York (ICE Futures US). Relatos de chuvas em áreas produtoras de São Paulo também contribuíram para o movimento, e as cotações voltaram a ter piso inicial em 10,50 cents por libra-peso, tendo por base o contrato com vencimento em outubro de 2015.
Ao contrário de segunda-feira, os negócios ontem começaram mais calmos em meio à notícia de que o Banco do Povo da China (PBoC) cortara o juro para empréstimos e depósitos, numa tentativa de aumentar a oferta de financiamento disponível na economia. Ainda assim, o dólar ficou em R$ 3,5920 (+0,93%) por aqui, maior nível desde 25 de fevereiro de 2003.
Quanto ao clima, a passagem de uma frente fria pelo Centro-Sul provoca chuvas em regiões canavieiras. Nesta terça-feira, por exemplo, foram relatadas precipitações moderadas na área de São Carlos e Araraquara (SP). Nada forte o suficiente para atrapalhar os trabalhos de colheita, mas significativas para um mercado que carecia de novidades nos fundamentos.
De acordo com a Climatempo, até sexta-feira deve chover entre 30 mm e 40 mm no sul e no leste de São Paulo e entre 10 mm e 30 mm no centro do Estado. Para Minas Gerais, a previsão é de precipitações perto de 40 mm, mesmo volume esperado para o Paraná.
Avalia-se, porém, que a sustentação no mercado de demerara é momentânea. Os ganhos de ontem não deixaram de ser uma correção técnica às perdas de segunda-feira, e a trajetória para o dólar ainda é de alta. Além disso, a Datagro revisou sua previsão para a moagem no Centro-Sul em 2,30%, de 591 milhões para 604,65 milhões de toneladas, com produção de 31,39 milhões de toneladas de açúcar, acima das 30,70 milhões de toneladas estipuladas inicialmente.
O suporte inicial está, portanto, nos 10,50 cents/lb, enquanto a resistência aparece nos 10,93 cents/lb, máxima de 18 de agosto.
Ontem, outubro subiu 21 pontos (2,02%) e fechou em 10,60 cents/lb, com máxima no dia de 10,74 cents/lb (mais 35 pontos) e mínima de 10,48 cents/lb (mais 9 pontos). Março avançou 20 pontos (1,74%) e terminou em 11,71 cents/lb. O spread outubro/março variou de 112 para 111 pontos de prêmio para o segundo contrato da tela.
Nos portos brasileiros, o total de navios que aguardam para embarcar açúcar diminuiu de 33 para 32 na semana encerrada na última quarta-feira, segundo levantamento da agência marítima Williams Brazil, que deve atualizar os dados ainda hoje. O relatório considera embarcações já ancoradas, aquelas que estão ao largo esperando atracação e também as que devem chegar até o dia 6 de setembro.
Foi agendado o carregamento de 1,17 milhão de toneladas de açúcar. A maior quantidade será embarcada no Porto de Santos, de onde sairão 1 milhão de t, ou 85% do total. Paranaguá responderá pelos 15% restantes (176,22 mil t).
O Indicador de Açúcar calculado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP) encerrou a terça-feira em R$ 46,85/saca, baixa de 0,45% ante a véspera. Em dólar, o índice ficou em US$ 13,04/saca (-1,36%).
A produção do etanol a partir da cana-de-açúcar dura apenas seis meses, que é o tempo da colheita. Por isso, uma usina na cidade de Campos de Júlio, em Mato Grosso, apostou no etanol através do milho, ganhando a possibilidade de produzir durante o ano inteiro. Enquanto uma tonelada de milho rende 400 litros do combustível, para uma tonelada de cana o rendimento é de apenas 85 litros. Até outubro, se produz com a cana e depois a produção passa a ser feita em uma instalação menor, com o milho.
De acordo com Vital Nogueira, gerente industrial da usina, o processo de produção de etanol com cana e com milho difere um pouco.
"Recebemos o milho nessas moegas, vai para os silos, depois vai pra moagem, dando início ao processo de transformar o milho, ou amido, o açúcar em fermentação. É mais rápido que a cana", afirma Vital.
A usina usa 20% de todo o milho produzido na cidade. O secretário de Agricultura de Campos de Júlio, Adenir Rostirolla, está buscando outros interessados em construir usinas no município, já que ainda há espaço para pelo menos três.

Usina Flex
Além de produzir etanol a partir do milho, a usina também inova na sustentabilidade. O bagaço de cana, que sobra da produção do etanol, é utilizado para aquecer caldeiras e gerar energia para as máquinas. A empresa investiu R$ 26 milhões em equipamentos para ser sustentável, e possui o título de primeira usina flex do Brasil.
"É um investimento de quatro, cinco anos, que já se pagou", disse o empresário Sérgio Barbieri, completando que pretende investir mais, principalmente em tecnologia.