Pé na tábua

04/06/2021 Noticias do Sistema POR: MARINO GUERRA

Augusto Cesar Strini Paixão - diretor comercial agrícola da Copercana

 

Como é mágico ver a prosperidade do agro brasileiro. Não há pandemia ou seca, nem os dois juntos, capaz de parar a evolução desse setor que é a grande vocação e salvação do país.

Na conversa com o diretor comercial agrícola da Copercana, Augusto Cesar Strini Paixão, fica evidente esse momento “pé na tábua” da agropecuária. Na entrevista percebemos os detalhes da indústria de processamento de amendoim que está em construção. O leitor também terá conhecimento sobre os novos investimentos em estocagem de soja e milho, da ampliação na oferta e aplicação de corretivos, na nova modalidade de análise de solo e o serviço de assessoria de implementação de ferramentas da agricultura 4G no campo.

Além disso, o executivo falou da sua visão sobre a atual safra de cana, do movimento de crescimento de confinamentos na região de abrangência da cooperativa e de suas expectativas sobre o Agronegócios Copercana 2021.

Embora o crescimento do agro esteja acelerado, o produtor deve ler de forma bem lenta e atenta, parando a cada resposta para refletir sobre as diversas oportunidades de negócios contidas nelas.

Revista Canavieiros: Qual a leitura do senhor perante a última safra de amendoim?

Augusto Cesar Strini Paixão: O início do plantio foi o momento de maior dificuldade para o produtor. Seu atraso em decorrência da falta de chuvas postergou todo o ciclo e, como o amendoim é uma cultura muito exigente na questão do fotoperiodismo (duração do dia luz em 24 horas), a colheita entrou outono a dentro, quando os dias são bem menores, prejudicando assim o seu desempenho.

Além disso, as chuvas ao longo de toda temporada foram abaixo da média, contudo podemos afirmar que o resultado, perante do que poderia ter acontecido, foi bom. A quebra, comparando com nossa expectativa, depois do plantio, foi de apenas 4% aproximadamente.

A estimativa era de receber 2,7 milhões de sacas e conseguimos colher algo perto de 2,6 milhões.

Revista Canavieiros: Quais os fatores que levaram a essa baixa quebra?

Augusto: Nós tivemos chuvas de manga (isoladas) e, como o perfil do produtor de amendoim é formar suas lavouras em diversas áreas espalhadas, acabou por ter locais bons de chuvas enquanto outros ficaram a desejar.

Houve produtores extremamente prejudicados, que conseguiram entregar no geral 120 sacas por hectare e outros que produziram até 250 sacas. No projeto, que envolve 14.775 mil hectares, tivemos uma produção média de 176 sacas por hectares, considerando os polos de Herculândia e Sertãozinho.

Revista Canavieiros: O fato do participante do projeto ter acesso à tecnologia de insumos e também das sementes serem produzidas na própria cooperativa também influenciou para a quebra menor?

Augusto: Esse não é um fato pontual dessa safra, observamos no decorrer do tempo, desde o começo do projeto há 14 anos, mas em especial após o início da realização de trabalhos de adubação, controle de pragas, doenças, variedades, produção de sementes e outros, sempre com o apoio importantíssimo das universidades, que a média de produtividade do projeto tem uma trajetória ascendente constante.

Por exemplo, no ano passado tivemos 186 sacas por hectare, a média do projeto no começo era de 135, o que mostra a evolução vinda da adoção cada vez maior de tecnologia, mas também a orientação técnica constante aos integrantes.

Revista Canavieiros: Foi somente a seca que prejudicou a lavoura dessa safra?

Augusto: Relacionada à falta de chuvas na época de plantio, identificamos algumas áreas com a presença de resíduos de herbicidas no solo usado para cana que não haviam sido degradados (pela falta de umidade), fato que atrapalhou o desenvolvimento das plantas.

Cito esse exemplo para que os produtores se atentem nas safras futuras quanto a esse detalhe.

Revista Canavieiros: E quanto à qualidade?

Augusto: Foi um ano um pouco pior em relação ao passado também em relação à qualidade, a contaminação por aflatoxina (índice importante na qualidade do amendoim) se dá principalmente no campo por stress hídrico.

Porém, o preço do óleo do amendoim, que demanda uma qualidade menor, está com preços muito parecidos ao produto de alta qualidade (tipo exportação), um fato raro, mas que acaba compensando o preço à ser pago ao produtor.

Revista Canavieiros: Sobre as vendas, como estão sendo neste ano?

Augusto: Hoje nós já temos cerca de 70% do amendoim vendido, sendo que conforme os anos anteriores metade deverá ser destinada à exportação e a outra ao mercado interno. Então vendemos antes e entregamos ao longo do ano, pois ele tem que ser industrializado, separado, classificado, para somente depois ser comercializado.

Revista Canavieiros: A Copercana está dando um importante passo no sentido de ampliação de sua capacidade de recebimento e industrialização, gostaria que fizesse um resumo do que está acontecendo?

Augusto: Há um ano nós começamos a construção de uma indústria nova de amendoim, na área da antiga Fazenda São Miguel (Usina Albertina), adquirida pela Copercana. A previsão inicial de entrega era para 18 meses, mas por conta da pandemia e consequente problemas de matéria-prima (como aço por exemplo) a entrega do maquinário atrasou, fazendo que tivéssemos que estender nossa previsão para 2022.

No mesmo local também haverá uma nova linha de recebimento, secagem e armazenagem do amendoim e uma estrutura para blancheamento (retirada da pele) do grão.

Ao todo, tudo representará um investimento de quase R$ 100 milhões, sendo que nossa capacidade de debulha e armazenagem vai dobrar já na safra 22-23, se suportamos 2,5 milhões de sacas, vamos poder receber, futuramente, cinco milhões.

Temos consciência que hoje há problemas de fila de entrega, mas eu peço paciência aos nossos produtores aguentarem mais uma temporada, pois teremos que trabalhar a próxima safra ainda com essa estrutura.

Revista Canavieiros: Qual a estratégia para aumentar a produção no campo?

Augusto: Primeiro vamos dar oportunidade aos nossos produtores já participantes do projeto, mas com certeza vamos abrir para quem tiver o interesse de se qualificar para entrar.

Outro campo de crescimento será na produtividade, com as variedades e tecnologias hoje temos capacidade para produzir quase 300 sacas por hectare em anos de clima bom e estamos em torno das 180, o que serve de termômetro do quanto podemos crescer.

Revista Canavieiros: E quanto às áreas, como vê a oferta de terras disponíveis em rotação com cana no futuro?

Augusto: Vamos ter que crescer em área também e não enxergo problemas de oferta, isso porque está cada vez mais consolidado o conceito de rotação de cultura na reforma do canavial, tanto por fatores econômicos, por gerar uma segunda renda em épocas diferentes do ano, mas sobretudo do lado agronômico, pois o manejo é fundamental para a redução da infestação de pragas e doenças, especialmente as de solo, para a cultura da cana-de-açúcar.

Um ponto que confirma esse cenário é o de que as usinas estão investindo em estrutura própria para cultivar soja ou amendoim no verão, tanto que já temos duas no Projeto Amendoim e nessa temporada tivemos a parceria de uma com a soja.

Revista Canavieiros: Sobre a soja, como está a estrutura da Copercana?

Augusto: Nas últimas duas temporadas aumentamos o recebimento em 20 mil toneladas, passando de 64 mil para 84 mil. E não vamos parar por aí, já está aprovada a construção de mais dois silos, um em Sertãozinho com capacidade para 10 mil toneladas e outro em Guaíra para 20 mil.

Com o término da obra também vamos aumentar a capacidade de estocagem de milho, principalmente na unidade de Guaíra, onde há muito plantio de safrinha.

Revista Canavieiros: É notório o movimento de crescimento de confinamentos na área de abrangência da Copercana. Como o senhor enxerga a participação da cooperativa no sentido de atender a essa demanda?

Augusto: O crescimento de ração será muito grande e não apenas pelo aumento no número de confinamentos, mas pela mudança que está acontecendo na composição da alimentação dada ao rebanho, que está deixando de ser volumosa para grãos inteiros, fazendo com que se consolide um interessante mercado consumidor regionalizado.

Revista Canavieiros: Perante esse ganho na capacidade de armazenamento, como a Copercana deve atuar no mercado de soja, através de um projeto, em moldes parecidos com o amendoim, ou comprando de produtores, como é praxe do mercado?

Augusto: Nós devemos ter os dois tipos de modalidade, vamos ter um projeto de soja, parecido com o de amendoim para produtores que precisam de capital para rodar a safra, uma assistência técnica mais focada, mas também vamos comprar soja dos produtores que querem cultivar de maneira individual.

O foco é o crescimento em escala para conseguirmos nos sustentar cada vez mais no disputado mercado da soja.

Revista Canavieiros: A atual safra canavieira desse ano será complexa, qual cenário o senhor enxerga?

Augusto: Não temos muita certeza do que vai acontecer, se você vê as estimativas das empresas todo mundo fala de quebra de 10 a 30 por cento, e isso significa que ninguém tem certeza.

A cana é uma cultura muito difícil de se estimar, por exemplo, se chover 30 mm como está previsto para o final do mês (maio), não se sabe se a lavoura vai apresentar uma resposta expressiva ou não.

É certo que precisamos de alguma chuva, pois se mantiver o tempo seco, o canavial de final de safra do ano passado dificilmente dará corte. Assim, estamos na torcida para que a chuva pelo menos venha na média histórica a partir de junho e a quebra seja amenizada.

Por outro lado, vamos ter a compensação no preço, fazendo que a queda de produtividade seja recompensada.

Revista Canavieiros: Estamos às vésperas de mais uma edição do Agronegócios Copercana, quais são suas expectativas?

Augusto: Fechamos previamente os negócios para a feira, todos sabem que a atividade agrícola está num ritmo de crescimento forte, e por isso a oferta de insumos e implementos está bem apertada. Assim, eu acredito num volume expressivo de vendas, porque os produtores estão capitalizados e sabem que precisam investir nas suas áreas pensando em crescimento de produtividade.

Revista Canavieiros: Há outras novidades que o senhor deseja revelar aos cooperados?

Augusto: Sim, a primeira é a inscrição do Laboratório de Solos da cooperativa para começar a fazer a análise microbiológica do solo através de uma parceria com a Embrapa, que já desenvolveu um trabalho nessa área fantástico no Cerrado.

Nossos profissionais já estão fazendo treinamento e vamos iniciar um trabalho voltado para a cana, amendoim, soja e milho na região, pois ao aprender a metodologia que a Embrapa criou para os ambientes de estados como o Mato Grosso e Goiás e criaremos a referência para recomendação de adubação perante nossos ambientes.

Também quero destacar que já em junho será iniciada a oferta de calcário e gesso pela unidade de Guaíra, conseguimos todas as licenças ambientais para armazenar os corretivos, e em breve vamos iniciar a prestação de serviço de aplicação aos nossos cooperados daquela região. A capacidade a princípio será de 20 mil toneladas de calcário e 10 mil de gesso, mas se a demanda aumentar temos espaço suficiente para ampliarmos o volume. É válido ressaltar também que para este tipo de prestação de serviço estaremos com caminhões com equipamentos de aplicação a taxa variável.

E, por fim, iniciamos uma operação relacionada com a agricultura 4.0. O objetivo da Copercana não é o de prestar serviços ou vender equipamentos dessa área.

Contratamos um profissional com a experiência do Gustavo Nogueira e estamos investindo na consultoria de especialistas para montar uma assessoria que oriente nossos cooperados, não importa o tamanho mas, no que, perante sua realidade, é possível investir para inserir ferramentas tecnológicas de modo objetivo, que lhe dê retorno.