Perigo à vista

30/07/2019 Agronegócio POR: Revista Canavieiros
Por: Diana Nascimento
 
A insegurança no campo e nas propriedades rurais tem sido uma constante, mas quais seriam os motivos para isso?

O primeiro deles é que o agronegócio brasileiro hoje equivale a um terço do PIB nacional. As cifras citadas pela mídia são elevadíssimas e esses números saltam aos olhos de todos, inclusive daqueles que estão envolvidos com o crime. E essa insegurança vem ajudar para que quadrilhas organizadas ajam livremente.

Ao compararmos a cidade com o campo é possível encontrar diferenças brutais quando falamos em segurança. Os bancos, vítimas contumazes dos criminosos, implantaram sistemas para proteger suas operações. As indústrias fizeram o mesmo e os municípios estão cada vez mais preparados para enfrentar o crime urbano. "Tudo isso faz com que os criminosos busquem a menor vulnerabilidade", explica o consultor em Segurança no Agronegócio, Carlos Zumerle.

Ele também diz que não há um estado ou região com maior incidência de crimes em propriedades rurais. "O problema é nacional. Você ouve sobre incidentes de roubo de gado no Rio Grande do Sul, roubo de café no sul de Minas, ataques em propriedades no Mato Grosso visando os insumos, ou uma ação extremamente ousada como o roubo de 400 mil litros de etanol de uma usina em São Paulo. Enfim, não existe aquela região ou aquele estado de maior incidência", argumenta.

Entre os principais crimes ocorridos nas propriedades rurais, levando em consideração os que lesam o patrimônio e afetam as operações do agro, estão os furtos e roubos. E destes, o que tira o sono e o sossego do produtor rural é o roubo, devido a sua natureza e a ação dos criminosos.

Vale lembrar que ambos os crimes constam no Código Penal. O furto (artigo 155) ocorre quando há a subtração do bem sem grave ameaça ou violência à vítima. Já no roubo (artigo 159), a vítima é subjugada diante da ameaça em deixar que o bem seja subtraído. Os dois são considerados crimes patrimoniais, ou seja, num primeiro momento não atentam contra a vida.
 
Organização
Zumerle lembra que geralmente são quadrilhas organizadas que praticam esse tipo de crime. "Precisamos saber como o ladrão pensa. Dentro de uma organização criminosa sempre tem alguém que cuida da logística e da informação, das pessoas (recursos humanos) que serão contratadas para realizar o serviço. Tem ainda a parte de comunicação, onde é feita uma análise de risco para saber qual o melhor dia, horário e como é a rotina da propriedade", aponta.

Diante disso, é preciso realizar um diagnóstico para analisar os riscos, o que é exposto e qual a oportunidade dada para os criminosos.
A partir daí deve-se criar e planejar um plano de ação, um projeto de segurança. Entre os pontos a ser trabalhados estão as áreas de informação, tecnologia, pessoas, e instalações.

A informação passiva, ou seja, aquela disponível em postagens no Facebook ou Instagram, por exemplo, podem passar dados importantes para pessoas mal-intencionadas.

Os funcionários também precisam ser treinados em como atender aos telefonemas, a serem instruídos em não postar nas redes sociais fotos ou informações que possam comprometer a rotina da propriedade. "É preciso trabalhar a contrainformação e desenvolver habilidades profissionais no funcionário. Ele tem que se sentir valorizado e ser envolvido em todo o processo", diz o consultor.
 
Prevenção
Indagado sobre até que ponto um roubo ou furto pode ser evitado, Zumerle responde que existe uma máxima entre os profissionais da área de segurança que diz não existir segurança 100%. "Isso significa que trabalhamos para diminuir a vulnerabilidade e assim baixar a probabilidade do risco e aumentar o seu gerenciamento", esclarece.

Ao avaliar o nível de segurança das propriedades rurais, o consultor define-as em três: aquelas que não têm nenhum investimento em segurança, ou seja, estão de portas abertas; aquelas que possuem sistemas e processos, mas que se testados não trarão os resultados esperados e, por último, aquelas que, devido ao comprometimento dos proprietários, estão com os riscos em níveis baixos, dando tranquilidade às operações.
Os produtos mais visados para roubos ou furtos em propriedades rurais, segundo o profissional, são maquinários, onde o carro-chefe são os tratores e implementos, que não possuem placa e nem Renavam; insumos como sementes, vacinas, fertilizantes e defensivos; e por último, o produto final das operações da agricultura e pecuária, ou seja, grãos e, de forma mais abrangente, os bovinos.

Além dos prejuízos materiais, existem outros danos quando uma propriedade rural é acometida por um crime. Todos os negócios do agro são firmados por contratos e por vezes o proprietário rural já recebeu certa quantia para entregar sua safra ou determinada quantidade de bovinos. "Diante de um incidente criminoso, o contrato não poderá ser cumprido. Como fica a imagem do produtor rural diante dessa situação? Imaginemos ainda a falta de um trator para tracionar uma plantadora na estação do plantio e o efeito psicológico sobre as pessoas que estiveram sob a mira de uma arma. São danos intangíveis", exemplifica Zumerle.

O consultor também enumera alguns fatores facilitadores para os crimes em propriedades rurais como a capacidade com que o ladrão obtém as informações das operações da propriedade, o controle sobre os estoques e a falta de proteção para silos, depósitos e galpões.

"O primeiro passo para evitar crimes seria a conscientização sobre o problema. Para isso, uma ajuda fundamental seria as cooperativas e sindicatos rurais fomentarem palestras e discussões sobre o tema e suas soluções. O segundo passo seria fazer um diagnóstico de segurança da propriedade, levando-se em conta os fatores de risco, vulnerabilidade, probabilidade e projetos de investimentos para a minimização", sugere Zumerle.

Ainda de acordo com o consultor, a prevenção é tudo quando se fala em segurança. "Depois que o evento ocorreu, dificilmente o ambiente de trabalho e a confiança serão os mesmos. Assim, existem várias medidas e processos que podem ser implementados e nada melhor do que o diagnóstico para ter uma visão geral. O treinamento das pessoas é de suma importância e o uso da tecnologia dentro do conceito custo-benefício, a comunicação e união da comunidade (cooperativa, sindicato rural, polícia, município e outros) no combate sistemático ao crime são formas assertivas na prevenção", sintetiza.

A tecnologia pode também ser uma importante aliada para a segurança em propriedades rurais, pois no passado o conceito básico de segurança era de que a reação seria feita de dentro da propriedade para fora. Mas hoje, com o avanço no campo tecnológico, é possível enviar alertas e monitorar áreas via sistemas de vídeo, fazendo com que seja feita a detecção e identificação "in loco" e a reação venha de fontes externas. Um detalhe importante a ser destacado na aplicação da tecnologia em segurança é o poder de inibir a pretensão delituosa.