Perspectivas para o setor sucroenergético - Manoel Ortolan
05/05/2014
Agronegócio
POR: (Manoel Ortolan é Engenheiro Agrônomo formado pela Esalq/USP e presidente da Canaoeste – Associação dos Plantadores de Cana da Região Oeste do Estado de São Paulo e da Oprlana – Organização dos Plantadores de Cana da Região Centro-Sul; Revista Opiniões, a
Sob qualquer ótica, os fundamentos do futuro do setor sucroenergético são positivos. E esta não é uma visão ufanista. Ao contrário, é realista e bastante crítica como nos é permitido mostrar neste artigo escrito no momento em que tudo nos indica estarmos saindo da curva em “U” no qual a crise nos colocou.
Se é verdade que a partir de 2007, quando se esgotaram os pedidos de usinas “greenfield” junto à nossa indústria de base e o crédito até então farto simplesmente sumiu do mercado, levou a cadeia produtiva sucroenergética a viver um dos piores ciclos da sua história, também é verdade que a demanda para os subprodutos da cana-de-açúcar cresceram de forma consistente e significativa.
Vale lembrar que entre 2005 e 2010, o Centro-Sul recebeu US$ 50 bilhões de investimentos na construção de cerca de 100 usinas e a capacidade de moagem dobrou para 600 milhões de toneladas/ano. Projeções indicam que até 2020, teremos que construir número semelhante de usinas e dobrar a moagem para 1,2 bilhão de toneladas/ano.
Os incentivos de crédito oferecidos para a compra de veículos, além de provocar problemas caóticos de congestionamento nas cidades e nas estradas, ampliaram significativamente o mercado para os combustíveis. Projeções de consumo até 2020 indicam aumento de cerca de 20 bilhões de litros de gasolina pura, que terão que ser importados.
O que é melhor para o Brasil: transformar recursos acumulados principalmente com a exportação do agronegócio em combustível para movimentar a nossa frota de automóveis ou estimular a produção de biocombustível através da construção de novas usinas reativando os negócios da nossa indústria de base, criando pelo menos 600 mil novos empregos e gerando renda para os brasileiros?
Isto nos remete a conclusão, lógica de que, ou a Petrobras continuará importando gasolina, com todas as implicações provocadas pelo acúmulo de prejuízos a partir dos subsídios, ou o combustível para movimentar esta frota de veículos, que não para de crescer, deverá ser produzido pelas nossas usinas.
Diferentemente o que ocorreu em outras crises, formadores de opinião e representantes da academia têm defendido publicamente a correção na política de preços imposta à Petrobras com o objetivo de segurar os níveis de inflação. Isto denota que conseguimos conquistar importantes defensores do nosso biocombustível junto ao governo e também na mídia.
Outra pressão, também muito forte, vem sendo exercida a partir do aumento de poluição em nossos centros urbanos o que provoca sérios problemas de saúde pública. Neste contexto, opiniões de especialistas como a do Dr.Paulo Saldiva, médico especialista em poluição atmosférica e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) são conclusivas:
“Aproximadamente 12% das internações respiratórias em São Paulo são atribuíveis à poluição do ar. Um em cada dez infartos do miocárdio são o produto da associação entre tráfego e poluição. Os níveis atuais de poluição do ar respondem por 4 mil mortes prematuras ao ano na cidade de São Paulo. Trata-se, portanto, de um tema de saúde pública”.
Se os fundamentos são positivos, também é verdade que temos problemas pela frente que devem ser enfrentados e superados. O primeiro deles, é buscar maior eficiência e produtividade. Ao mesmo tempo em que usinas estão deixando de moer, há importantes investimentos sendo feitos em logística com a construção de etanoldutos, modais de transporte e melhoria nos portos.
Nossos centros de pesquisa e desenvolvimento buscam a viabilização, em um curto espaço de tempo – 2014 a 2015 – para a produção em escala comercial do E2G (Etanol de Segunda Geração) e da química verde (alcoolquímica). A transgenia e as novas variedades de cana têm sido priorizados e apontam para importantes ganhos de produtividade agrícola.
Também precisamos reconhecer que o setor sucroenergético precisa se organizar melhor e atuar como cadeia produtiva, conceito que viabilizou culturas como as da soja e do milho ainda na década de 50 nos Estados Unidos. Movimentos como o da formação da “Frente Parlamentar Em Defesa do Setor Sucroenergético”, mostram o compromisso que estamos assumindo levando às câmaras municipais, assembleias legislativas e Congresso Nacional nossas demandas.
Estamos construindo mecanismos de pressão, todos absolutamente legítimos e democráticos, para sensibilizar governos e a opinião pública. A ociosidade da nossa indústria de base, que já ultrapassa os 50%, a brutal queda na arrecadação dos nossos municípios canavieiros, não podem ficar limitados aos nossos fóruns setoriais de discussão.
É preciso que os problemas que já têm merecido destaque na mídia nacional, sejam discutidos com a sociedade e, neste contexto, a inserção desta crise na agenda dos nossos prefeitos, governadores e parlamentares é vital para sensibilizar nossos governantes.