Não existe ralo maior de recursos que a tecnologia. A infinidade de equipamentos que propõem solucionar problemas que muitas vezes o produtor nem sabia que tinha, demanda muita resistência mental para não sair comprando um arsenal de parafernálias caras que por muitos motivos tem uma grande chance de ficar esquecido no canto do barracão.
Como é ligada ao avanço tecnológico, o conceito da agricultura de precisão muitas vezes acaba ficando no mesmo canto, o que é uma postura totalmente errada e ainda mais cara que uma compra equivocada, isso porque, em pleno funcionamento, sua sistemática de manejo interfere diretamente na planilha de custos da operação o que a coloca a vários degraus acima do simples uso de um aplicativo ou equipamento.
É fato que ela demanda planejamento, estudo, conhecimento, mudança de processos, estabelecimento de novas rotinas e investimento (nem sempre exorbitantes) para cumprir sua função de assertividade e então melhorar a eficiência.
Um exemplo que evidencia esse conceito é algo trivial na rotina de uma fazenda, a aplicação de corretivos, manejo que muitas vezes é feito com baixo rigor (são extraídas poucas amostras de solo, gerando um único resultado mediano, o que desconsidera a variabilidade espacial e considera que as propriedades do solo são semelhantes em toda a área), prática que pode acarretar, se colocado fora da real necessidade, além de perdas financeiras pelo excesso ou falta do insumo, problemas na produtividade ao longo do ciclo do canavial.
Devido a essa importância, a Copercana já trabalha há alguns anos na aquisição de equipamentos e aprimoramento constante em seu Laboratório de Solo, visando à evolução na prestação do serviço de fornecimento de corretivos (calcário e gesso), o que culminou neste ano na configuração de uma prestação de serviço que envolve todos os processos do manejo obedecendo metodologias ligadas a modernos conceitos da Agricultura de Precisão.
Dessa maneira, nasceu a Copercana Agricultura de Precisão, que oferta aos seus cooperados os serviços de mapeamento e coleta georreferenciada de amostras do solo, análise laboratorial, elaboração do mapa de aplicação e distribuição do corretivo em taxa variável.
É um primeiro, mas firme, passo da cooperativa para proporcionar aos cooperados o que há de novo em termos de precisão, sem a necessidade de grandes investimentos.
Conhecimento do estado químico do solo é o primeiro passo
Quadriciclo equipado com perfurador faz a retirada das amostras de solo
Em decorrência da valorização e dificuldade cada vez maior em se conseguir insumos relacionados ao manejo da fertilidade do solo, torna urgente a mudança de postura em relação ao método convencional de trabalho, o qual se baseia nos teores médios dos nutrientes, com retiradas de poucas amostras do solo, e com isso a aplicação de uma quantidade única em todo talhão para práticas mais precisas.
Ciente dessa demanda, a Copercana passou a ofertar, através da grade de serviços de AP (Agricultura de Precisão) a amostragem de solo em grid.
“A técnica, mais utilizada, tem como base uma grade regular virtual sobre o talhão por meio de um sistema de informação geográfica (SIG), dividindo o campo em polígonos regulares (quadrados ou retângulos). Dentro de cada área é gerado um ponto amostral que pode estar localizado no centro. As coordenadas dos pontos são transferidas para um receptor GNSS de navegação que guiará a equipe de coleta até cada local de amostragem”, explicou o pesquisador, professor e parceiro da Copercana no projeto, Murilo Voltareli.
Para a execução do serviço, foi comprado um quadriciclo Honda Fourtrax 4x4 TRX 420, equipado com perfurador SACI com regulagem na altura das brocas de coleta, onde o operador trabalha com um GPS acrescido de um software de campo que serve como guia para levantamento e conferência das coordenadas georreferenciadas.
As retiradas das amostras são feitas a partir de coordenadas georreferenciadas
Após a definição do grid amostral, que pode variar de um ponto no espaçamento de um até cinco hectares, em áreas de reforma, são retiradas amostras em duas profundidades, de 0-25 e a outra em 25-50 centímetros, formada pelo material extraído de oito a dez subamostras, o que compõem uma amostra para cada profundidade, coletadas de pontos que obedeçam um raio médio de 12 metros.
Com o serviço, produtores estão tendo a oportunidade de realizar a análise de solo de áreas que tinham muita dificuldade, como é o caso de uma fazenda em Pitangueiras, onde pela proximidade com a unidade industrial e receber vinhaça logo após a colheita, era muito complexo retirara as amostragens em decorrência da curta janela de tempo.
No entanto, em 2022, com o uso do quadriciclo, foi possível retirar as amostras que gerarão informações importantes para o produtor definir qual a melhor estratégia de reforma e realizar um planejamento assertivo de suas compras de insumos na quantidade ideal que o solo necessita.
O agrônomo da Copercana, Gustavo Nogueira, ao lado do produtor, Marcos Consoli. Demanda pelo serviço de retirada de amostras do solo, que faz parte do pacote de Agricultura de Precisão, é alta
A digitalização do talhão
Mapa de recomendação para calagem (acima) e gessagem em taxa variável
Após coletadas, as amostras são direcionadas para o Laboratório de Solos da Copercana, o qual através de sua estrutura de última geração, colaboradores experientes e capacitados, utilização do método do IAC e acreditado com a ISO 17025 (que atesta a alta qualidade), entrega os resultados dos ensaios de fertilidade.
A relação do resultado das amostras com as informações georreferenciadas, cria o mapa de recomendação, expressão digital da necessidade de correção do solo, o que faz parte do escopo dos serviços de Agricultura de Precisão executados pela Copercana. “Assim, os mapas de variabilidade espacial representam a digitalização das características do solo em pequena escala, apresentando precisão na quantidade dos atributos analisados e em sua localização, ou seja, indica a quantidade que realmente o solo necessita, no local adequado”, disse o professor Voltareli.
Tanto na calagem como na gessagem, as doses são discriminadas por cores diferentes e encontradas através do intervalo de dose máxima e mínima com o V% desejado. Com o cálculo, o produtor sabe a quantidade total que vai precisar, o percentual e o tamanho de cada intervalo de dose.
“Ao imputar o mapa no receptor dos caminhões que aplicam os corretivos em taxa variável, ele alterará a dose automaticamente cada vez que mudar a área de recomendação”, disse o engenheiro agrônomo da Copercana, Gustavo Nogueira, que ainda ressaltou a importância da consultoria técnica para o fechamento do ciclo e o sucesso na operação, o que foi confirmado pelo diretor comercial agrícola da Copercana, Augusto Cesar Strini Paixão.
“Todo ciclo se fecha com o trabalho agronômico especializado, que não fica apenas no âmbito da assessoria dos manejos, mas principalmente em apresentar os resultados e orientar o produtor cooperado na tomada das melhores decisões”.
O Diretor Comercial Agrícola da Copercana, Augusto Cesar Strini Paixão, ao lado do professor e parceiro no projeto de Agricultura de Precisão, Murilo Voltareli
Aprimoramento contínuo faz parte da rotina de quem adota a Agricultura de Precisão
Mapa embarcado no veículo que faz a aplicação em taxa variável, mostra as informações necessárias para o operador saber se a aplicação ocorre da maneira correta
A certeza de que o projeto estava maduro o suficiente para ser ofertado aos cooperados aconteceu após a realização de ensaios em duas lavouras, uma de amendoim e outra de soja, na temporada 21/22 das culturas de rotação. “Nosso objetivo foi, através do experimento de aplicação em taxa variável de calcário, criar uma metodologia capaz de se adaptar à realidade individual de cada propriedade, tanto nas lavouras de verão bem como na cana planta e soqueira”, explicou Voltareli.
O experimento do amendoim aconteceu em Ibitiúva (distrito de Pitangueiras-SP), numa área próxima de 24 hectares e mostrou uma redução de mais de 40% no investimento de compra do corretivo.
“Nesse caso ficou evidente que o produtor conseguiu reduzir o seu custo ao diminuir a dosagem média do calcário, porém devemos ressaltar que se tivesse ocorrido a aplicação tradicional, em alguns pontos aconteceria excesso do corretivo, o que traz reflexos na interação entre diversos nutrientes, dentre eles o Potássio, Ferro, Cobre, Zinco, Manganês e Boro, podendo afetar na absorção da planta, e resulta no aproveitamento do manejo de adubação e consequentemente no rendimento do próximo ciclo da cana”, disse Nogueira.
A dose planejada pelo produtor, antes do experimento, era de três toneladas por hectare, para a configuração do mapa de aplicação foram retiradas amostras na proporção de uma para cada hectare em duas profundidades diferentes (0-25 cm e 25-50 cm). No caso da soja, o manejo aconteceu em Viradouro-SP numa área de 14 hectares com a lavoura formada em meiosi para a geração de mudas de cana. Uma curiosidade da área é que o seu solo era dividido entre os ambientes C e D.
Em seu planejamento, o produtor iria aplicar uma dose entre 2,5 a três toneladas por hectare. O método de amostragem foi igual ao da área do amendoim e com a elaboração do mapa percebeu-se que seria necessário aplicar cerca de 10% a mais em relação ao planejado.
“O caso da soja mostrou um outro problema que a agricultura de precisão corrige, o de aplicação em doses menores, o que acarreta na queda de produção da cultura de rotação, problemas na brotação, produtividade e longevidade do novo canavial”, concluiu Nogueira.
Alerta: “Uma fase importante do processo evidenciada nos ensaios é quanto a calibração dos caminhões que distribuirão os corretivos, além de todas as observações e testes que precisam serem feitos antes do serviço, os técnicos indicam que após a aplicação o produtor pegue o relatório do que foi executado e compare com o que foi indicado no mapa, assim ele conseguirá visualizar com maior acurácia seu percentual de acerto”, explicou Carla Voltarelli, diretora da CMV – Soluções Agrícolas, empresa de Consultoria Agrícola, parceira do Projeto Copercana Agricultura de Precisão.
“A calibração é um fator de extrema importância no processo, em ensaios que realizamos na frota da Copercana foi possível saber a largura de trabalho ideal de produtos de marcas diferentes”, disse Nogueira ao se referir ao ensaio que aconteceu em Sertãozinho envolvendo quatro produtos diferentes que passaram por quatro repetições e analisou a relação quantidade e distância através do método de distribuição em faixa de bandejas, amplamente utilizado pelos pesquisadores da área.