Petrobras pesa em banco público

09/06/2016 Geral POR: Valor Econômico
Se o tamanho da dívida da Petrobras é um problema para ela, é também para os grandes bancos públicos do país, que têm R$ 92 bilhões a receber da estatal de petróleo. O caso mais emblemático é o do BNDES: o volume de empréstimos que a instituição tem concedido ao "sistema Petrobras" pode ser estimado em R$ 55 bilhões, o que equivale a mais de 50% do patrimônio de referência do banco, o dobro do limite prudencial que o Banco Central (BC) aplica como regra geral para a relação de bancos com clientes. 
É uma exceção regulatória criada em 2008, exclusivamente para a relação entre BNDES e Petrobras, que permite que o limite de exposição de 25% do patrimônio de referência seja superado.
E não deixa de ser curioso que quem tenha que lidar com essa situação, em um momento em que se pretende enxugar o BNDES, seja o novo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Foi durante a gestão dele à frente do Banco Central que o Conselho Monetário Nacional (CMN) relaxou as regras de concessão de crédito bancário para a Petrobras. Até setembro de 2008, a petrolífera só podia dever R$ 15 bilhões aos bancos locais. 
A estatal tinha que se financiar com bancos internacionais e com a emissão de dívida no mercado de capitais externo. 
Por causa da crise financeira de 2008, que teve seu pico em setembro daquele ano, com a quebra do Lehman Brothers, os limites foram retirados e foi criada essa regra excepcional para BNDES e Petrobras.
 A norma específica estabelece que o teto de 25% de exposição do BNDES seja calculado separadamente por controlada ou subsidiária da Petrobras.
 Nos outros bancos públicos, que seguem a regra geral, o limite prudencial não é ultrapassado, mas a exposição não é baixa. O BB tem créditos de R$ 25,1 bilhões contra a Petrobras, o que representa 20% de seu patrimônio de referência, conforme dados de março. Tudo indica que é a maior cliente. Na Caixa, a exposição equivale a 15% ou a R$ 11,5 bilhões ¬ declarada a maior concentração de risco. 
O valor de exposição de cada um desses bancos à Petrobras não é mais fornecido pela estatal em seu balanço ¬ como era até 2012. Agora, a Petrobras divulga apenas a soma que deve a bancos federais. Mas é possível alcançar o saldo individual com o cruzamento entre as informações do balanço da Petrobras e dos bancos BB e Caixa. 
Os financiamentos entre a Petrobras e os bancos públicos são os chamados contratos entre partes relacionadas, pois todas as sociedades têm o mesmo dono: a União. Nessas operações é preciso cuidar ainda mais da qualidade da decisão, para evitar transferência de riqueza de uma companhia para outra. Para listar outras curiosidades, Luciano Coutinho era presidente do BNDES e membro do conselho da Petrobras durante esse período. E Aldemir Bendine foi presidente do BB e, depois, da Petrobras.
 Ainda que o banco de fomento esteja dentro da regulação, o limite prudencial do qual foi liberado existe para proteger o banco ¬ e não o tomador do crédito ¬ e evitar uma exposição excessiva num único cliente. Trata¬se de gestão de risco. Ao BNDES foi permitido se afastar desse parâmetro. Consultado, o banco limitou¬se a responder que está dentro das regras a que está submetido. 
A resolução que limitava a Petrobras de tomar empréstimos livremente no sistema financeiro nacional era de 2001 ¬ quando a estatal era uma companhia com produção de 1,5 milhão de barris diários de óleo e LGN e investimento anual da ordem de US$ 7 bilhões. Em 2008, quando as fronteiras foram eliminadas, a estatal produzia quase 2 milhões de barris ao dia e seu volume de investimento já alcançava US$ 30 bilhões ao ano ¬ e cresceu até bater US$ 45 bilhões num único ano.
Ao fim de 2007, a contratação de crédito junto aos bancos públicos pela Petrobras estava dentro dos limites estabelecidos pelo CMN: R$ 7,3 bilhões. Com a mudança nas regras, esse total subiu para R$ 17,5 bilhões ao fim de 2008 e seguiu em expansão, acompanhando os pesados investimentos realizados pela Petrobras, diante da euforia gerada com o pré¬sal. 
A partir de então, a estatal foi protagonista de um gigantesco programa de investimentos ¬ mais de R$ 500 bilhões entre 2008 e 2014. Muitos dos projetos fizeram parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), como a construção da Refinaria Abreu e Lima (Rnest) e do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), entre tantos. 
Além dos bancos públicos, os privados Itaú e Bradesco também possuem créditos contra a Petrobras ¬ R$ 2,7 bilhões e R$ 10,39 bilhões, respectivamente.
No total, os cinco bancos ¬ BNDES, BB, Caixa, Bradesco e Itaú Unibanco, tinham R$ 104,8 bilhões em empréstimos a receber da estatal no fim do primeiro trimestre. 
A despeito de a liberação do CMN de 2008 ser válida para todo sistema financeiro nacional, Bradesco e, especialmente, Itaú Unibanco não acompanharam seus pares estatais no financiamento aos mega¬projetos. 
O mercado acompanha atentamente a situação da estatal. Depois de anos fazendo pesados investimentos, o fluxo de caixa é afetado pelo preço do petróleo, além de falhas assumidas em alguns projetos que não oferecem retorno. Não bastasse isso, a Operação Lava¬Jato acertou em cheio a credibilidade da companhia. 
A Petrobras não se manifestou.
Por Graziella Valenti e Fernando Torres
Se o tamanho da dívida da Petrobras é um problema para ela, é também para os grandes bancos públicos do país, que têm R$ 92 bilhões a receber da estatal de petróleo. O caso mais emblemático é o do BNDES: o volume de empréstimos que a instituição tem concedido ao "sistema Petrobras" pode ser estimado em R$ 55 bilhões, o que equivale a mais de 50% do patrimônio de referência do banco, o dobro do limite prudencial que o Banco Central (BC) aplica como regra geral para a relação de bancos com clientes. 
É uma exceção regulatória criada em 2008, exclusivamente para a relação entre BNDES e Petrobras, que permite que o limite de exposição de 25% do patrimônio de referência seja superado.
E não deixa de ser curioso que quem tenha que lidar com essa situação, em um momento em que se pretende enxugar o BNDES, seja o novo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Foi durante a gestão dele à frente do Banco Central que o Conselho Monetário Nacional (CMN) relaxou as regras de concessão de crédito bancário para a Petrobras. Até setembro de 2008, a petrolífera só podia dever R$ 15 bilhões aos bancos locais. 
A estatal tinha que se financiar com bancos internacionais e com a emissão de dívida no mercado de capitais externo. 
Por causa da crise financeira de 2008, que teve seu pico em setembro daquele ano, com a quebra do Lehman Brothers, os limites foram retirados e foi criada essa regra excepcional para BNDES e Petrobras.
 A norma específica estabelece que o teto de 25% de exposição do BNDES seja calculado separadamente por controlada ou subsidiária da Petrobras.
 Nos outros bancos públicos, que seguem a regra geral, o limite prudencial não é ultrapassado, mas a exposição não é baixa. O BB tem créditos de R$ 25,1 bilhões contra a Petrobras, o que representa 20% de seu patrimônio de referência, conforme dados de março. Tudo indica que é a maior cliente. Na Caixa, a exposição equivale a 15% ou a R$ 11,5 bilhões ¬ declarada a maior concentração de risco. 
O valor de exposição de cada um desses bancos à Petrobras não é mais fornecido pela estatal em seu balanço ¬ como era até 2012. Agora, a Petrobras divulga apenas a soma que deve a bancos federais. Mas é possível alcançar o saldo individual com o cruzamento entre as informações do balanço da Petrobras e dos bancos BB e Caixa. 
Os financiamentos entre a Petrobras e os bancos públicos são os chamados contratos entre partes relacionadas, pois todas as sociedades têm o mesmo dono: a União. Nessas operações é preciso cuidar ainda mais da qualidade da decisão, para evitar transferência de riqueza de uma companhia para outra. Para listar outras curiosidades, Luciano Coutinho era presidente do BNDES e membro do conselho da Petrobras durante esse período. E Aldemir Bendine foi presidente do BB e, depois, da Petrobras.
 Ainda que o banco de fomento esteja dentro da regulação, o limite prudencial do qual foi liberado existe para proteger o banco ¬ e não o tomador do crédito ¬ e evitar uma exposição excessiva num único cliente. Trata¬se de gestão de risco. Ao BNDES foi permitido se afastar desse parâmetro. Consultado, o banco limitou¬se a responder que está dentro das regras a que está submetido. 
A resolução que limitava a Petrobras de tomar empréstimos livremente no sistema financeiro nacional era de 2001 ¬ quando a estatal era uma companhia com produção de 1,5 milhão de barris diários de óleo e LGN e investimento anual da ordem de US$ 7 bilhões. Em 2008, quando as fronteiras foram eliminadas, a estatal produzia quase 2 milhões de barris ao dia e seu volume de investimento já alcançava US$ 30 bilhões ao ano ¬ e cresceu até bater US$ 45 bilhões num único ano.
Ao fim de 2007, a contratação de crédito junto aos bancos públicos pela Petrobras estava dentro dos limites estabelecidos pelo CMN: R$ 7,3 bilhões. Com a mudança nas regras, esse total subiu para R$ 17,5 bilhões ao fim de 2008 e seguiu em expansão, acompanhando os pesados investimentos realizados pela Petrobras, diante da euforia gerada com o pré¬sal. 
A partir de então, a estatal foi protagonista de um gigantesco programa de investimentos ¬ mais de R$ 500 bilhões entre 2008 e 2014. Muitos dos projetos fizeram parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), como a construção da Refinaria Abreu e Lima (Rnest) e do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), entre tantos. 
Além dos bancos públicos, os privados Itaú e Bradesco também possuem créditos contra a Petrobras ¬ R$ 2,7 bilhões e R$ 10,39 bilhões, respectivamente.
No total, os cinco bancos ¬ BNDES, BB, Caixa, Bradesco e Itaú Unibanco, tinham R$ 104,8 bilhões em empréstimos a receber da estatal no fim do primeiro trimestre. 
A despeito de a liberação do CMN de 2008 ser válida para todo sistema financeiro nacional, Bradesco e, especialmente, Itaú Unibanco não acompanharam seus pares estatais no financiamento aos mega¬projetos. 
O mercado acompanha atentamente a situação da estatal. Depois de anos fazendo pesados investimentos, o fluxo de caixa é afetado pelo preço do petróleo, além de falhas assumidas em alguns projetos que não oferecem retorno. Não bastasse isso, a Operação Lava¬Jato acertou em cheio a credibilidade da companhia. 
A Petrobras não se manifestou.
Por Graziella Valenti e Fernando Torres