Planejamento e gestão para superar o medo

10/11/2020 Cana-de-Açúcar POR: Marino Guerra

Uso racional de dados convence produtor de Batatais

Dominar a técnica da meiosi, como na foto que retrata uma área com a desdobra caminhando para o seu primeiro corte, e a linha-mãe em processo de formação no talhão ao lado, vai além do conhecimento agronômico, sendo primordial a implantação de uma gestão eficiente

Pode-se dizer que a história de implementação da meiosi na Fazenda Bom Destino, localizada em Batatais, só foi possível depois do encontro entre o vasto conhecimento técnico do engenheiro-agrônomo e proprietário, Antônio Josino Meirelles, com a visão de planejamento e gestão da filha, a administradora, Lucila Meirelles, e do também administrador e colaborador, Gabriel Antônio Marani de Almeida.

A vontade agronômica de diminuir os problemas sanitários (carvão, raquitismo, mosaicos, podridão, entre outros) ganhou impulso nos cálculos de redução de custo simulados, dando-lhes a coragem para superar o maior receio, a falta de capacidade de irrigação.

Meirelles conta que antes de tomar conhecimento da meiosi, tentou adotar o plantio mecanizado, mas a grande quantidade de muda demandada tornou a técnica inviável, não tendo outra escolha senão retornar ao plantio convencional.

Quando a prática da meiosi se consolidou, através da marcação via GPS das linhas, despertou o seu interesse, que se transformou num estudo de três anos antes da formação da primeira linha-mãe, em 2019.

Na ocasião, foram adquiridas MPBs que formaram as linhas (simples) para complementar uma área de 52 hectares através de uma taxa de replicação de 1:12. O medo da falta de água o fez irrigar com dez litros por metro linear ao longo dos 15 primeiros dias, diminuindo a quantidade para oito litros até que a chuva "firmasse".

A junção do conhecimento técnico do engenheiro-agrônomo Antônio Josino Meirelles, somada ao suporte tecnológico da Copercana e a assistência da Canaoeste, através do atendimento do também agrônomo André Bosch Volpe, com o conhecimento em gestão dos administradores Lucila Meirelles e Gabriel Antônio Marani de Almeida, traduz o sucesso no manejo

Outro ponto problemático identificado no primeiro ano de operação foi a complexidade de manuseio pensando no plantio da muda. Em decorrência da falta de maquinário e mão-de-obra qualificada, a quantidade de profissionais para o plantio de um hectare por dia com o método é de 12 caindo pra 4 na cantosi.

Para corrigir estes dois pontos, a decisão para a segunda temporada de formação da linha-mãe foi a criação da cantosi de MPB e plantio das linhas-mães com os toletes advindos de seu crescimento.

Sempre pautados em dados, eles concluíram que a segunda técnica foi 13% mais barata que a linha-mãe feita com MPB. O relatório de números levou ao óbvio, como no caso da aquisição muito menor de mudas (investimento de R$ 11.110,00 no primeiro ano, enquanto que no segundo caiu para R$ 1.388,00).

Ao observar o custo de plantio, o uso dos toletes ficou R$ 45,00 por hectare mais barato (R$ 805,00 contra R$ 850,00). Nos herbicidas, a forma utilizada no segundo ano também leva vantagem, o que é explicado pelos produtos utilizados serem convencionais, como a calda feita com a mistura de Clomazona (Reator) e Sulfentrazona (Boral), fechando a conta em torno de R$ 290,00/ha.

No caso das mudinhas, por não ser possível o uso de ferramentas em pré-emergência, o leque se fecha para a bandeja dos defensivos seletivos. Para se ter ideia, num cenário simulado pela fazenda, que farinha uso do Metribuzim (Sencor) com Mesotriona (Lumica), podendo ser trocado pelo Tebuthiuron (Fortaleza), o orçamento mais barato apresentou o valor de R$ 510,00/ha.

Plantio das linhas-mães através da cana retirada da cantosi, que, por sua vez, foi plantada com MPB, formando o modo mais eficiente, sob o aspecto financeiro, da prática da meiosi

Para encerrar os argumentos a favor da cantosi, foi identificada uma queda no custo de irrigação em 30%, considerando o ano em que foram utilizadas as MPBs (2019), quando choveu mais que o corrente período (2020) pelas precipitações estavam sendo comprometidas pela manifestação acima do previsto do fenômeno La Niña, fator explicado pela rusticidade muito superior da cana inteira no sulco se comparado com a frágil e mimada raiz criada no tubete.

Fechando a contabilidade, o relatório da fazenda mostra que o custo para a formação de um hectare no modo convencional fica em R$ 6,6 mil, enquanto que a meiosi com a linha-mãe plantada com MPB exige um desembolso de R$ 4,77 mil, e a meiosi com a MPB na cantosi e cana no sulco da linha-mãe custa R$ 4,13 mil.

Informações mais que suficientes para os produtores ficarem com a certeza de que estão trilhando o caminho certo, mesmo sem ter feito o primeiro corte do talhão plantado com a nova técnica.

Do lado agronômico, alguns aprendizados também foram assimilados como o uso de uma linha para conseguir maior desempenho na desdobra pelo fato da planta receber sol ao longo de todo o dia e a exigência, via contrato, de que o arrendatário que cultivar a cultura de rotação (este ano será a soja) não usará o glifosato, além da previsão de uma distância mínima, permitindo a entrada de um trator após a semeadura do grão.

Outra ação importante é o desenho sistematizado da área antes mesmo do arranquio da soqueira no local onde será feita a cantosi, para garantir que as ruas de cana tenham paralelismo e, até mesmo, no caso da fazenda, o processo de colheita tenha um tiro reto entre dois talhões, evitando o pisoteio. Um segundo ponto que precisa ser planejado na formação da cantosi é quanto a logística de irrigação (perguntas como onde obter água e qual o percurso do caminhão tanque precisam ser respondidas) e a proteção da área quanto ao fogo.

Em áreas com relevo mais acidentado, mesmo não abrindo mão dos terraços, a matação das curvas foi eliminada alargando as curvas, sendo possível o plantio em tiro reto)

Ainda no campo da formação de linhas, a decisão da melhor forma de sulcação é feita de forma criteriosa. Em áreas onde mostra-se possível, mesmo em relevo ondulado, o uso de terraços de base larga favorece a operação, eliminando as matacões, sem abrir mão de uma boa conservação do solo.

Um aprendizado assimilado recentemente é quanto ao preparo do solo onde serão instaladas as linhas-mãe. Num talhão, a cana acabou sendo tirada muito tarde, entrando com o arado no início de agosto, o que, aliada com a severidade da estiagem do último inverno, acarretou na permanência de muita palha e também na formação de torrão nas linhas de plantio.

A consequência é que ao tapar o sulco foram criados muitos bolsões de ar, o que gera atraso na brotação das mudas. Comparando com uma segunda área, formada na mesma época, mas com o preparo de um mês a mais, a diferença de tamanho é visual.

Porém, é válido destacar que nesse caso específico também há a influência da variedade. No talhão em que a brotação está menor, foi plantada a RB015935 (que por natureza nasce de maneira mais lenta), enquanto que a mais bonita é a RB966928 (mais apressada para soltar as primeiras folhas).

Como nutrição, a estratégia é a aplicação de 500 kg/ha de NPK na fórmula 07-35-10 no sulco e 200 quilos da formulação 20-00-20, 60 dias após a cobertura, além do uso de enraizador e complexo de micros.

Na defesa e no atual plantio, ele avalia o uso do Clorantraniliprole (Altacor) pensando não somente na broca da cana, mas pelo fato de ter roça de milho próxima, sendo necessário estar atento ao ataque da lagarta-do-cartucho, que pode migrar para as folhas verdes da linha-mãe justamente na mesma época em que o milho safrinha seca e, posteriormente, é colhido.

Quanto ao ataque de fungos e nematoides, a escolha desde o primeiro ano é por ferramentas biológicas, que estão satisfazendo a expectativa do produtor.

Assim, conhecendo os segredos da terra, da planta e dos números, a Fazenda Bom Destino caminha a passos largos para plantios através da meiosi cada vez mais eficientes.

Linha-mãe plantada com a RB015935 teve a brotação mais lenta em relação ao plantio com a RB966928 devido, em primeiro lugar, pela característica das variedades, mas também pelo preparo de solo da primeira ter sido feito às pressas