Ponto de Vista - Dejair Minotti

03/08/2022 Noticias POR: Dejair Minotti

Neste artigo procurei analisar o comportamento produtivo e de preços do amendoim no mercado interno e externo, considerando 2017 a abril/2022.

Observando os dados do gráfico, detectamos que não houve um grande aumento da produção mundial entre os anos de 2017 a 2022, portanto, quando técnicos dos setores mencionam que o amendoim brasileiro cresce em altas taxas, a assertiva não é correta.

Nesta análise demonstrativa por região vemos que a América do Sul, subentendida por Argentina e Brasil, é a região que apresenta menor produção mundial.
A Índia, região Sul da Ásia e países da África são grandes produtores e seus excedentes abastecem o mercado chinês, com amendoim para óleo e, com isso, a China, como o maior produtor mundial, libera seu amendoim de qualidade para grãos no seu mercado interno.

A ideia de crescermos a produção para exportar para China é um equívoco, pois compram “amendoim casca” com um preço menor do que o praticado no mercado interno brasileiro.
No ano passado, os chineses compraram do estoque americano por volta de US$ 500/ton. do “amendoim casca”, colocado no porto chinês por US$ 12,5/saco, o que não satisfaz o valor pedido pelo produtor brasileiro para dispor de sua produção.

Países da África exportam para China num valor menor de US$ 1.000/ton., neste ano de 2022, os chineses, com a quebra da safra de milho da Ucrânia e perdas por secas internas, estão fazendo (maio/22) protocolo sanitário para o milho brasileiro e adicionou-se o amendoim para acompanhar este protocolo. Porém, os chineses compram a um preço menor disponível no mercado internacional.



Nos gráficos por países, podemos ver em uma série de 5 anos a estabilidade das produções, portanto, não existe nenhum contraste significativo de saltos de produção, o que denota que os mercados estão sem problemas de ofertas e demandas em nível mundial.

A tabela demonstra a participação do Brasil entre 2012/2021 nas vendas para a Comunidade Europeia. Poderíamos dissertar sobre a participação de cada país, por exemplo, a Nicarágua que produz ao redor de 120.000 toneladas, consegue vender percentualmente o mesmo que o Brasil com suas 600.000 toneladas.

Vemos que os Estados Unidos diminuíram a exportação entre 2020 e 2021 devido à sobretaxa imposta pela Comunidade Europeia, no percentual de 25% sobre a importação de amendoim americano e que agora foi retirada após firmarem um acordo tarifário.

No universo dos países exportadores, poucos têm condição de exportar para Comunidade Europeia devido às exigências de qualidade.

A produção mundial é localizada, e tem suas características específicas. Os maiores produtores são os maiores consumidores. No caso do Brasil, embora pertença ao Brics e com isso possa ter um tratamento de mercado diferenciado ou opcional, não podemos ter grande parte da nossa exportação em um único país, ou dois, isto porque o cenário mundial atual está mostrando que fatos imponderáveis podem ocorrer e causar sérios danos ao nosso sistema produtivo.

O crescimento do amendoim brasileiro está aliado ao preço e a qualidade e um dia precisará ter uma inversão destes fatores e não pode demorar, pois alimento subentende-se por qualidade e, quando analisamos o termômetro de venda sob o prisma do fator qualidade, que é o mercado da Comunidade Europeia, (tabela no corpo deste artigo) vemos que não crescemos a nossa participação, pela falha de qualidade, pois os europeus pagam o melhor preço de mercado mundial.

No quadro verificamos que os mercados (interno e externo), em grande parte do ano, situam-se de 10 a 14 dólares preços que oscilam quando comparados em anos normais de mercado e, este índice de preços é que os produtores deveriam balizar para determinar suas margens líquidas por saco casca 25 quilos. Os preços que ficaram fora deste intervalo ocorreram no mercado interno entre 2020 e 2021, sob efeito da Covid. Os dados do mercado externo salientam-se que tem base os preços/tonelada de grãos crus 40/50 C&F Rotterdam, preços fora da Comunidade Europeia caem por tonelada de 200 a 300 dólares.

No ano de 2020, vínhamos de uma produção menor que em 2019. Naquele ano, a Covid obrigou a formação de estoques pela mudança de hábitos, houve um melhor preço no mercado externo, chegando à Comunidade Europeia em 1.920 US$ por tonelada peliculadoC&F Rotterdam, em maio/2022 caiu para 1.450 com qualidade e 1.400 US$/ton sem certificação. A maior parte do ano 2020, os mercados (externos) variaram de 12-14 dólares a saca casca, porém chegou a valer no mercado interno R$122,00/saca, mais de 20 dólares em dezembro 2020.

As produções na Argentina e nos Estados Unidos foram normais ou boas, com isso o mercado externo ficou a maior parte dos meses estável entre 12 – 14 dólares, possíveis de pagar a matéria prima casca e, experimentamos no mercado interno uma queda de R$ 30,00 a saca de janeiro a dezembro naquele ano de 2021. Neste ano de 2022, vemos um comportamento equivalente dos mercados, com o mercado externo apresentando preços da tonelagem em dólares estáticos em mais de seis meses, não permite maiores valores na referência casca 25 quilos, o mercado interno com alto estoque de passagem e problemas de consumo não consegue ainda o desejável pelo produtor. Vivemos neste ano a anormalidade da guerra entre nossos compradores 2021, das 256.485 toneladas exportadas 125.835 toneladas foram para Rússia e Ucrânia, 2022 será uma incógnita.

Como observamos no gráfico acima, o Brasil tem sua maior exportação para mercados com nível de exigência qualitativa menor, continuamos a produzir sem controle ideal para níveis de af latoxinas e, agora, mais dificultado com resíduos de praguicidas proibidos pela autoridades sanitárias vegetais dos países que exigem qualidade.

CONCLUSÕES FINAIS

Temos que ser realistas, amendoim é uma cultura de reforma da cultura principal da região produtora, e o agricultor vai optar pela cultura com melhor preço de mercado em relação a seus custos. Portanto, como o amendoim não é uma commoditie, tem que haver um rígido controle dos custos e o preço de venda não ser especulado. Uma vez atingida a meta de preços que propicie a receita líquida desejada, deve se dar início à comercialização fracionada, ou total. O produtor deve se aliar a uma empresa que lhe garanta a qualidade no pós-colheita, pois o pay back de investimentos individuais do pós-colheita é dificil, e a taxa de atratividade não é conseguida facilmente.