Ponto de vista: RenovaBio - uma renovação de governança
29/03/2018
Agronegócio
POR: Revista Canavieiros
O ministro Alysson Paolinelli me disse, em um encontro em Janaúba, Minas Gerais, no final do ano passado: “eu não acredito em Governo”. Conversando com Alysson, me acrescentava, sim, ser a democracia o melhor sistema de Governo, mas sem a sociedade civil organizada não haveria possibilidades de progresso.
Concordo totalmente com nosso extraordinário ex-ministro, pois sem uma sociedade organizada a democracia emperra, empaca e frustra os avanços fundamentais para a nação. Por isso considero o exemplo RenovaBio não só importantíssimo para o setor sucroalcooleiro, não só importantíssimo para os compromissos do Brasil com o meio ambiente global, mas considero o RenovaBio uma vitória exemplar de uma competente ação da sociedade civil organizada do setor, ao lado de segmentos evoluídos do Governo.
Os objetivos são ótimos, como até 2030 poder substituir 55% da gasolina por etanol e 20% do diesel fóssil por biodiesel. Sucesso é o resultado de um processo. Sucesso é o que acontece na resultante de estratégias e, acima de tudo, numa competente liderança de encadeamento, alianças e cooperação.
Analisar como o RenovaBio terminou numa aprovação formal, na forma de lei no final de 2017, será de uma imensa utilidade para que possamos aprender como doravante efetivar projetos fundamentais para o país.
A proposta do RenovaBio foi feita pelo CNPE (Conselho Nacional da Política Energética). E, nesse conselho, temos um brilhante especialista, o Plínio Nastari da Datagro, representando a sociedade civil. Os números apresentados eram empolgantes para o país, como investimentos de R$ 500 bilhões, geração de 1 milhão de empregos e uma energização imensa em cerca de 1.600 municípios que cultivam cana-de-açúcar.
A lógica do raciocínio em um alinhamento entre os agentes público e privado envolvidos ainda revela uma potencial economia de US$ 45 bilhões em importações e, no tópico do meio ambiente, o RenovaBio poderá reduzir de 166gr para 45gr de CO2 equivalente por quilômetro. O RenovaBio, doravante, precisará da vigilância e da liderança entrosada e permanente da sociedade civil organizada ao lado do Governo.
Os Governos são mutantes, pois em uma democracia seguem a preferência dos votos. E os votos são determinados por meio de uma autêntica guerra por corações e mentes, onde realidade se conduz através dos reinos nebulosos das percepções humanas. Por isso, não pode haver fraqueza ou tibieza nas organizações que representam a sociedade civil organizada. São essas instituições, desde que sérias e orientadas pela ética de suas decisões a longo prazo, que com este ou aquele Governo irão zelar por políticas de negócios, que bem efetivadas serão as maiores responsáveis pela qualidade de vida, sucesso econômico e a condução saudável do país, numa ética de longo prazo.
RenovaBio significa um sucesso na condução dos seus passos, até ter sido transformada em lei. Parabéns aos membros do setor público e privado que unidos e reunidos assim concluíram até aqui. Daqui para a frente? Nada resistirá à ausência de liderança. E não podemos permitir que ideologias fósseis e dinossáuricas causem danos tão veementes como o setor sofreu há poucos anos.
O ministro Alysson disse não acreditar mais em Governo. Com certeza ele diria não acreditar mais somente em Governo. Não haverá futuro na democracia sem o protagonismo e a inteligência da sociedade civil organizada. Uma sociedade que tem plano, projeto, raciocínio estratégico, compromisso com o país e pensa em longo prazo.
Essa sociedade ao lado do Governo, seja quem for esse Governo, aumenta consideravelmente a possibilidade de o país crescer em altíssima velocidade, transformar fatores incontroláveis em controláveis à arte da boa governança. O RenovaBio renova a esperança realista de governar o país, sem esquerda, direita ou centro. Liderar para o único caminho possível: para frente. A boa governança.
*José Luiz Tejon, prof. dr. em Educação. Jornalista, comentarista de “A Hora do Agronegócio da Jovem Pan. Membro do CCAS (Conselho Consultivo do Agro Sustentável)