Por que a safra 14/15 será semelhante à passada?

12/02/2014 Agronegócio POR: Celso Torquato Junqueira Franco | Diretor Presidente da UDOP
Os principais fatores que impactam a produção, indicam uma safra em 14/15 semelhante à safra 13/14, tanto em função da capacidade industrial, quanto em oferta de cana.
 
Com relação a capacidade industrial, na última safra, as usinas iniciaram a produção no início de abril, época considerada normal para safra alongada. O final de safra concentrou-se na 2a quinzena de novembro e primeira quinzena de dezembro, também considerada época normal para término de safra alongada, indicando que a capacidade de produção instalada nas indústrias foi praticamente preenchida na safra 13/14, uma vez as chuvas até final de outubro também foram normais, sendo menor que o normal para o período final de safra, novembro e dezembro, favorecendo o abastecimento e processamento industrial.
 
A baixa rentabilidade do setor, limitada pelos preços da gasolina e preços internacionais do açúcar, não estimula investimentos no parque industrial.
 
A falta de investimentos na capacidade de processamento na indústria e a inexistência de novas unidades entrando em operação na safra 14/15, limita a capacidade de moagem ao volume processado na safra 13/14.
 
As novas práticas de colheita pioram a qualidade da matéria prima, impactando em redução de capacidade de processamento das indústrias e queda no rendimento industrial. Capacidade de moagem reduzida em cerca de 10% (acréscimo de impurezas vegetais e minerais na cana).
 
A nova logística de colheita de cana mecanizada reduz a regularidade de abastecimento de cana para a indústria, resultando em uma queda de aproveitamento de tempo industrial em cerca de 5%.
 
Estes fatores reduziram a capacidade de produção efetiva, sendo parcialmente compensado pela entrada em operação de novas unidades nos últimos anos, mas já indicando uma capacidade efetiva de processamento, no Centro-sul do Brasil, próxima a 600 milhões de toneladas, com ATR médio de 128 kg por tonelada de cana.
 
O plantio de cana em 2013 (cana de primeiro corte na safra 14/15), representou aproximadamente 17% da área total da cana, indicando uma redução na volume em relação à 2012 (20%).
 
Os preços que remuneram os produtores de cana não são suficientes para cobrir os custos de produção, com impacto na qualidade dos tratos culturais, resultando em queda de produtividade, com efeito de redução de produtividade (canaviais mais velhos), aumento de custos e possível redução de oferta para as próximas safras.
 
Com relação ao clima, tivemos um clima normal até final de outubro, favorecendo o desenvolvimento da cana planta e brotação das soqueiras da primeira metade da safra. Porém, em algumas regiões produtoras, novembro e dezembro foram muito secos, comprometendo a brotação das soqueiras de final de safra, com atraso no crescimento de todo canavial, podendo ser um fator de redução de produtividade para a próxima safra.
 
Podemos concluir que o volume de ATR processado na safra 14/15 será muito próximo da safra 13/14 (salvo adversidades climáticas), em relação à capacidade de produção, esmagamento de cana e qualidade da cana. Deve ser mantida a tendência de redução de produção e oferta de etanol hidratado (apesar do crescimento de demanda de combustíveis), com aumento da produção e oferta de etanol anidro, atendendo todo o crescimento de mercado. Com relação à produção de açúcar, não deverá haver grandes alterações de produção no Brasil, uma vez que estamos no pico de estoques mundiais.
 
*Texto originalmente publicado no Canal-Jornal da Bioenergia na edição de fevereiro de 2014.