Preços do petróleo alteram a conjuntura

01/04/2022 Marcos Fava Neves POR: Marcos Fava Neves* Vítor Nardini Marques** Vinícius Cambaúva***

Reflexões dos fatos e números do agro em fevereiro/março e o que acompanhar em abril

 

Na economia mundial e brasileira
• No cenário nacional, taxa de juros e inflação seguem sendo os antagonistas da economia. Segundo o Boletim Focus do Banco Central (Bacen) de 14 de março, a Selic deve atingir 12,75% no final de 2022 e 8,75% em 2023, enquanto que o IPCA chegará a 6,64% e 3,70%, respectivamente. O país deve apresentar uma singela melhoria em seu PIB (Produto Interno Bruto), com crescimento de 0,49% neste ano e 1,43% no próximo. Por sua vez, o câmbio deve ficar em R$ 5,30 ao fim de 2022 e R$ 5,21 no término de 2023.
Outras instituições financeiras são menos otimistas com o cenário de inflação. A XP acredita que o IPCA deva fechar este ano em 6,2%, resultante do choque de custos advindo dos conflitos no Leste Europeu. Com reflexos também em 2023, a taxa básica de juros está projetada em 3,8%, superior àquela esperada pelo Bacen.
• A Comissão Europeia anunciou projeto que visa à independência energética do bloco nos próximos anos, consequência dos desdobramentos da guerra entre Rússia e Ucrânia e dos possíveis impactos que as restrições no fornecimento de gás natural podem trazer à Europa. O plano prevê a substituição do gás natural pelo biometano, com a meta de dobrar para 35 bilhões de metros cúbicos a produção da fonte bioenergética até 2030.

No agro mundial e brasileiro

Em fevereiro, o índice de preços de alimentos da Agência das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) alcançou 140,7 pontos, crescimento de 3,9% em relação a janeiro e de 24,1% em relação ao mesmo mês de 2021. O valor é também o maior já registrado, superando a máxima de fevereiro de 2011. Óleos vegetais (201,7 pontos) e produtos lácteos (141,1 pontos) seguem sendo os que lideram a alta.
• No imbróglio da invasão no Leste Europeu, o governo ucraniano decidiu proibir às exportações de diversos produtos agrícolas até o final de 2022, dentre os quais estão cereais como o trigo, centeio e cevada, além de açúcar, sal, carne e mel. O objetivo do governo é evitar uma catástrofe humanitária no país e garantir a estabilidade na oferta desses alimentos.
• Ainda tratando das consequências da invasão, o preço do trigo tem alcançado patamares recordes na Bolsa de Chicago desde o início do conflito. As cotações estão próximas a US$ 1,30 por bushel, tendo aumentado 67,13% desde o início do ano, segundo dados do Valor Data. O fluxo de comercialização do cereal segue interrompido nos portos do Mar Negro e Mar de Azov, gerando preocupação por parte dos importadores com o cenário de oferta limitada. O quanto vai perdurar este problema será decisivo nas cotações do produto.
• Para contribuir com todo este cenário turbulento, preparamos uma análise especial acerca do mercado  de fertilizantes, a qual está disponível em forma de anexo, ao final deste texto. O quadro tem como objetivo apontar os fatos e impactos que têm relação com o  fornecimento destes insumos, bem como quais podem ser as medidas (atos) utilizadas a fim de reduzir riscos e gerar melhores resultados.
• No 6° levantamento da safra brasileira de grãos em 2021/22, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) revisou a oferta total de grãos de 268,2 (fevereiro) para 265,7 milhões de t (março), queda de 0,9% em um mês, e mais um reflexo dos impactos do clima no campo. Em mais um mês, a soja foi a principal impulsionadora desta queda, com produção agora estimada em 122,8 milhões de t; 2,2% menor que o apontado em fevereiro e 11,1% a menos do que a produção de 2020/21. Na cultura do milho, a oferta foi mantida nos mesmos níveis, em 112,3 milhões de t; volume que é 29% superior ao do ciclo passado, a depender de como será nosso desempenho produtivo na safrinha. A primeira safra de milho deve entregar 24,3 milhões de, e a segunda, algo em torno de 86,2  milhões de t. Por fim, no algodão em pluma, a estimativa  está agora em 2,824 milhões de t, salto de 4,2%  em um mês e 19,7% maior que a produção do ciclo  passado. Aparentemente, o clima está favorecendo as lavouras da fibrosa, as quais se encontram em pleno desenvolvimento pelo Brasil.
• No campo, a colheita da soja havia alcançado 52,2% de progresso até o ultimo dia 5 de março; dados também da Conab. Há um ano, as operações estavam em 37,6%, ou seja, seguimos em ritmo acelerado. Já o plantio do milho 2ª safra alcançou 74,8%, contra 54,1% na mesma data de 2021. No Mato Grosso, principal estado produtor, o plantio está em reta final, com 94,0% das áreas já semeadas. Já a colheita do milho 1ª safra segue um pouco mais lenta, com progresso de 26,1% até 5 de março; há um ano era de 25,3%. Por fim, o plantio do algodão foi concluído em todas as regiões produtoras e a colheita deve ser iniciada nos próximos dias.
• No estado do MT, o plantio do algodão fechou com área de 1,125 milhão de ha, valor 17% superior ao do ciclo passado e próximo aos patamares de 2019/20, de acordo com dados da Ampa (Associação Matogrossense dos Produtores de Algodão). Apesar do ligeiro atraso no plantio pelo excesso de umidade, a associação projeta uma produção de 2,2 milhões de t de pluma. Além disso, grande parte do volume já foi negociado a preços entre US$ 0,80 e US$ 0,85/libra-peso, faixa que garante boa rentabilidade.
• No cenário global, o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) aponta novas estimativas para a produção de grãos em relatório divulgado no início de março. No milho, o órgão reviu a oferta global para 1.206,1 milhões de t; alta de 0,6% em relação  ao relatório de fevereiro e de 7,3% em relação à produção de 2020/21. Entre os principais países produtores, a oferta foi mantida nos EUA, China e Brasil em 383,9, 272,5 e 114,0 milhões de t, respectivamente. Na comparação com a safra passada, estes três países devem entregar 7,1%, 4,5% e 31,0% a mais do cereal. Na Argentina, a produção foi reduzida de 54,0 para 53,0 milhões de t, 1,8% menor. Apesar do maior volume de produção global, o USDA estima estoques menores este mês - em 1,3 milhões de t - apontados agora em 300,9 milhões de t. Ainda assim, o volume armazenado do grão deve ser 3,2% superior ao registrado em 2020/21.
• Na soja, o USDA segue jogando para baixo as estimativas. Neste mês, o departamento apontou a oferta em 353,8 milhões de t; em fevereiro estava em 363,9 milhões de t, ou seja, 2,8% menor este mês. Com isso, a produção da leguminosa será 3,4% menor que 2020/21. A redução é reflexo da baixa na oferta do Brasil, principal produtor, que tem produção estimada agora em 127,0 milhões de t, contra 134,0 de fevereiro e 138,0 de 2020/21; nosso país deve entregar 8,0% a menos nesta safra. Nos demais países, segue o cenário: EUA tiveram valores mantidos em 120,7 milhões de t; Argentina teve a produção reduzida de 45,0 para 43,5 milhões de t; e China segue com 16,4 milhões de t. Como consequência das baixas, os estoques da leguminosa devem ficar em torno de 89,9 milhões de t, 11,9 milhões de t a menos em relação a 2020/21, quando os estoques foram apontados em 101,8 milhões de t.
• Em relação às exportações, o agronegócio brasileiro segue com desempenho impressionante! Em fevereiro, o setor vendeu US$ 10,51 bilhões, 65,8% a mais que o mesmo mês de 2021 e valor nunca alcançado neste mês; ou seja, mais um recorde para nossa lista! O desempenho é resultado do crescimento tanto dos preços (+24,0%) como dos volumes embarcados (+33,7%). Na lista dos cinco principais produtos vendidos, temos na liderança o complexo soja, que arrecadou US$ 4,00 bilhões, alta de 151,7%, sendo que a modalidade grãos embarcou US$ 3,14 bilhões (+ 203,4%). Na segunda posição aparecem as carnes, com receitas em US$ 1,80 bilhão (+ 40,5%). A carne bovina entregou US$ 965,0 milhões (+ 75,1%); a de frango vendeu US$ 643,1 milhões (+ 26,0%); e a suína 145,0 milhões (- 21,2%). Em seguida aparecem os produtos florestais com US$ 1,17 bilhões, crescimento de 38,4% no comparativo com fevereiro passado. Em quarto lugar ficou o café, com US$ 880,7 milhões (+ 94,1%) e, por fim, na quinta colocação, temos o complexo sucroalcooleiro com vendas em US$ 705,2 milhões, alta de 7,0%.
• Outros destaques importantes em relação ao desempenho exportador em fevereiro: considerando todos os setores da economia, o agro exportou quase metade da receita, cerca de 46,0%; em termos de volume, exportamos 6,2 milhões de t de soja, sendo que 4,3 milhões (quase 70%) teve a China como destino; os embarques de farelo de soja cresceram 50,0% no mês, alcançando US$ 700 milhões; e a China aumentou as compras de carne bovina em 109,0%, em torno de US$ 546 milhões.
• Do outro lado da balança comercial, o setor importou US$ 1,246 bilhão, valor que é 2,0% maior que as importações de fevereiro de 2021; ou seja, o ritmo de crescimento das vendas é bem maior do que o das compras. Com isso, a balança comercial do setor fechou o mês com saldo positivo de US$ 9,2 bilhões. No acumulado de 2022, as exportações do agro brasileiro já somam US$ 19,3 bilhões, alta de 62,2%! 
• As exportações brasileiras de soja devem alcançar volume de 80,5 milhões de t no ano 2022, configurando queda de 7% frente ao ano passado, quando foram embarcadas 86,1 milhões de t, de acordo com o Safras & Mercados. Isso é explicado por uma queda na oferta da oleaginosa de 6%, estando projetada em 133,97 milhões de t. A consultoria ainda vê uma redução drástica nos estoques de quase 60%, de 5,8 milhões para 2,23 milhões de t. Os reflexos já podem ser vistos nos preços.
• O Governo Federal lançou o Plano Nacional de Fertilizantes (PNF), o qual contempla a estratégia para redução da dependência brasileira de importações desse insumo de 85% para 45%, considerando os próximos 28 anos. O plano aposta no desenvolvimento de tecnologias apropriadas ao ambiente tropical, com oportunidades para produtos emergentes, como é o caso dos fertilizantes orgânicos e organominerais, bioinsumos e biomoléculas, remineralizadores, entre outros. Além disso, o PNF deve facilitar o ambiente de negócios, com política fiscal favorável, linhas de financiamento, incentivo a ações privadas e melhoria na infraestrutura e logística nacional. Devemos colher um impacto dessa inciativa a longo prazo.
• Do total de cargas movimentadas pelo agronegócio em 2021, 40% foi realizado através do modal ferroviário, segundo dados apurados pelo Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística Agroindustrial da Esalq/USP (Esalq-Log). 33 milhões de t de soja foram transportados pelas malhas ferroviárias, 8 milhões de t de farelo, 12 milhões de t de milho, 15 milhões de açúcar e 6 milhões de fertilizantes. A utilização das ferrovias no escoamento dos produtos deve crescer nos próximos 10 anos, com aportes em projetos de longo prazo, em casos como a Ferrovia de Integração do Centro-Oeste (Fico) e a Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol).
• Para concluir a nossa análise geral do agro, os preços dos principais produtos no fechamento desta coluna eram: a soja para entrega em cooperativa de São Paulo estava em R$ 196/sc e R$ 201/sc para junho e R$ 174 para março de 2023, um sensível aumento. No milho, a cotação atual está em R$ 102,00/sc e a entrega em agosto de 2022 fechou em R$ 88/sc. O algodão fechou em R$ 233/arroba e o boi gordo em R$ 335/arroba.

Os cinco fatos do agro para acompanhar em abril são:
1. A evolução da situação entre Rússia e Ucrânia, as negociações para um acordo e os inesperados resultados dos embargos em andamento sobre preços, fertilizantes e outras preocupações.
2. Início do plantio da safra nos Estados Unidos e também na Ucrânia; vale lembrar que a Ucrânia é o quarto maior exportador global de milho, com 15% de participação. Problemas relacionados ao cultivo do cereal (e também do trigo) podem estressar ainda mais a cadeia de suprimento e os preços dos alimentos nos próximos meses.s preços do açúcar em Nova York. Ao fechar esta coluna estavam em 18,31 cents/libra peso.
3. O progresso das exportações brasileiras do agronegócio. Em fevereiro, batemos novo recorde e a China segue com a escalada de importações de soja e carnes do Brasil. O contexto geopolítico global também tem alterado as dinâmicas do comércio global, e esta pode ser uma oportunidade para abertura de novos mercados.
4. Rendimentos da colheita de soja no Brasil e do plantio do milho safrinha. Aparentemente, o cultivo de milho está com bom desenvolvimento, graças à antecipação do plantio neste ano.
5. A evolução do quadro político e econômico no Brasil, especialmente observando as medidas tomadas para amenizar impactos na economia (política de preços de combustíveis e outros).
Reflexões dos fatos e números da cana em fevereiro/março e o que acompanhar em abril

Na cana
• Com a nova safra se aproximando e as operações no ciclo atual praticamente finalizadas, a União da Indústria da Cana-de-açúcar (Unica) aponta que a moagem acumulada alcançou 521,78 milhões de t até 1º de março, queda de 12,9% em comparação com o mesmo período do ciclo passado. Até a segunda quinzena de fevereiro, nove unidades produtoras estavam em operação, segundo a Unica, sendo uma usina de cana-de-açúcar, seis usinas “full” de etanol de milho e outras duas unidades “flex”.
• Já o teor de Açúcares Totais Recuperáveis (ATR), que indica a qualidade da matéria-prima, alcançou 142,9 kg/t, valor que é 1,5% menor que o registrado no ciclo passado. Já o mix de produção segue em 45,08% para o açúcar e 54,92% para o etanol. A eficiência produtiva do etanol cresceu 0,2% neste ciclo, e está em 46,0 litros de etanol por t de cana; enquanto que a do açúcar caiu 3,9%, com valores em 61,4 kg de açúcar por t de cana.
• Com um cenário de boa pluviosidade entre outubro de 2021 e fevereiro deste ano, a StoneX estima que a moagem de cana para o ciclo 2022/23 deva totalizar 565,3 milhões de t, 7,6% superior ao valor do último ciclo. Assim, a produção de açúcar deve crescer no mesmo patamar, chegando a 34,5 milhões de t; enquanto que no etanol devemos produzir 25,5 bilhões de litros (+5,6%). O mix está estimado em 45,5% para o adoçante e 54,5% para o biocombustível.
• Já a consultoria Datagro estima uma moagem total de 562 milhões de t e cana em 2022/23, com viés de baixa, devido à possibilidade de baixa na pluviosidade nos próximos meses.
• O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) apontou que diversas regiões produtoras do Centro-Sul, incluindo os estados de São Paulo, Paraná, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais, devem ter chuvas em menores níveis nos próximos meses, o que deve prejudicar a produtividade da cana-de-açúcar. Segundo o órgão, mesmo em meses em que a pluviosidade já é menor, como junho e julho, a tendência é que os níveis fiquem abaixo da média histórica. E novamente às atenções voltadas ao clima!
• A cana-de-açúcar foi responsável por quase 80% da bioeletricidade ofertada à rede de energia em 2021, de acordo com a Unica. Além da cana, destacam-se outras fontes como o licor negro (subproduto da indústria de papel e celulose) com 11,9% e o biogás com 4,5%. A geração total de bioeletricidade somou 25,4 GWh em 2021 e representou 4% da matriz brasileira.
Grande protagonismo da cana em um ano de pouca água nos reservatórios de hidroelétricas.

No açúcar
• Desde o início da safra (1° de abril) até o dia 1º de março, a produção acumulada de açúcar alcançou 32,03 milhões de t, uma queda de 16,2% frente ao mesmo período do ciclo passado, quando entregamos 38,2 milhões de t. Este valor deve se manter até o início do próximo ciclo, já que, segundo a Unica, não foi registrada a produção do adoçante na segunda quinzena de fevereiro, o que indica que não há unidades produtoras de açúcar em operação.
• Para o próximo ciclo, que se inicia em abril, a consultoria Datagro estima uma produção de açúcar em torno de 33 milhões de t, 2,8% maior que a do ciclo atual. A expectativa inicial era maior, mas as novas preocupações com o clima na região Centro-Sul fizeram com que a oferta fosse revista. Segundo a consultoria, o mix de produção deve ficar em 44,7% para o açúcar, contra 44,9% de 2021/22.
• Em âmbito global, a Datagro prevê a oferta de açúcar da Índia em 33 milhões de t no ciclo 2021/22, com exportações em níveis elevados, em torno de 8 milhões de t. Graças a oferta elevada do adoçante no país asiático e também no Brasil – os dois principais produtores – a consultoria prevê um superávit de 1,15 milhão de t no ciclo 2022/23, ante um déficit de 1,2 milhão de t em 2021/22.
• Segundo a Associação de Usinas de Açúcar da Índia (ISMA), a produção do adoçante no país atingiu 22,09 milhões de t entre 01 de outubro e 15 de fevereiro (safra 2021/22), contra 20,09 do ciclo passado; ou seja, alta de 5,64%. 516 usinas estavam em operação com a moagem de cana-de-açúcar no país asiático, até a segunda quinzena de fevereiro. Até o final do ciclo, a estimativa do ISMA é de oferta total de 31,45 milhões de t de açúcar na Índia, alta de 0,9%.
• Em relação às negociações, as usinas brasileiras negociaram quase 3 milhões de t de açúcar em janeiro, do volume que será produzido no ciclo 2022/23; dados da Archer Consulting. O preço médio ficou em R$ 2.336 por t (FOB Santos). Com isso, 16,3 milhões de t do adoçante já foram negociados para o ciclo que se inicia em abril.
• Com o anúncio do projeto energético na Europa, o setor de açúcar no bloco vê boas perspectivas para a cultura. Isto porque grande parte da energia utilizada para produção do adoçante vem do gás natural, e novas fontes independentes – como o biometano – podem reduzir os custos de produção e estimular o setor; esta é a visão do Comitê Europeu de Fabricantes de Açúcar (CEFS).

No etanol
• No acumulado da safra 2021/22, desde abril, a produção de etanol alcançou 27,2 bilhões de litros, crescimento de 8,9% em comparação com o mesmo período do ciclo passado. Deste total, 10,9 bilhões de litros foram do etanol anidro (+12,4%) e outros 16,26 bilhões de litros do hidratado (-19,08%). O milho contribuiu como matéria-prima para a produção de 3,2 bilhões de litros do biocombustível até aqui, crescimento de 37,2% e representando 11,8% de toda a oferta em 2021/22.
• Em relação às vendas, em fevereiro, 1,11 bilhão de litros do etanol hidratado foi comercializado no mercado interno, queda de 28,8% na comparação com o mesmo mês de 2021. Ainda assim, os volumes são 26,2% maiores que os de janeiro, o que indica uma recuperação no consumo do biocombustível. Já as vendas do anidro cresceram 14,6% em fevereiro deste ano, com 842,0 milhões de litros comercializados. No acumulado da safra, já foram vendidos 24,9 bilhões de litros de etanol (- 12,1%), sendo 9,92 bilhões de litros do anidro (+7,1%) e 15,04 bilhões do hidratado (- 21,4%).
• Do total vendido de etanol até aqui, as vendas para o mercado externo somam 1.424,0 mil litros, queda de 43,8% no comparativo com o mesmo período da safra passada; resultado da menor oferta total do biocombustível, graças às dificuldades com a produção no campo (clima e outros). O restante, 23,53 bilhões de litros, foi comercializado com o mercado interno;
redução de 8,9%.
• Para o etanol, a consultoria Datagro prevê uma produção de 29,8 bilhões de litros em 2022/23, alta de 7,6% frente aos 27,7 bilhões de litros do ciclo anterior;
já incluindo o etanol de milho. Entretanto, um fator determinante para este cenário é a incerteza sobre a política de preços de combustíveis no Brasil, o que pode afetar diretamente o consumo dos combustíveis e alterar a dinâmica de produção nas usinas.
Para concluir, os cinco principais fatos para acompanhar em abril na cadeia da cana:

1. Observar as previsões para o clima nos próximos meses, torcendo para que tenhamos um bom regime de chuvas sobre as lavouras na região Centro-Sul.
2. Os impactos da guerra entre Rússia e Ucrânia nos preços globais do petróleo (Brent chegou a US$ 123/barril em 8 de março, mas voltaram a ficar abaixo de US$ 100/barril no fechamento desta coluna) e como consequência nos preços e consumo de combustíveis no Brasil. Aparentemente a demanda por etanol deve ser favorecida, especialmente com o início da safra e aumento da oferta, que deve sustentar bons preços.
3. As políticas públicas para redução nos preços dos combustíveis e como estas medidas podem afetar o consumo do etanol e de outras fontes energéticas.
4. A evolução dos preços e da negociação do açúcar em Nova York. Neste ano, as vendas do adoçante estão mais lentas, uma vez que as usinas estão observando toda a situação dos combustíveis e as possibilidades de boas margens no etanol; o mix de produção pode ser alterado, nesse contexto. No fechamento desta coluna, os preços do açúcar em NY estavam em 18,66 cents/libra peso.
5. As incertezas em relação à disponibilidade e custos dos insumos. Levando em conta todo o cenário de baixa nas chuvas, a nutrição dos canaviais é um ponto-chave para uma boa performance produtiva em 2022/23. É essencial calcular as relações de troca e até mesmo buscar alternativas para o manejo.

Valor do ATR: fechando nossa coluna com a análise do ATR (Açúcar Total Recuperável). Durante o ciclo 2021/22, que está quase finalizado, vimos o seguinte cenário: em abril iniciamos a safra com preços em R$ 1,0141/kg; um mês depois fomos para R$ 1,0564/kg; em junho alcançamos R$ 1,0630/kg; julho em R$ 1,0878/kg; agosto fechou com média de R$ 1,1425/kg; setembro em R$ 1,2090/kg; outubro com R$ 1,2938/kg; novembro, R$ 1,3727; dezembro ficamos em R$ 1,3264; janeiro fechamos em R$ 1,3058/kg; e nos dados recém-divulgados, referentes ao mês de fevereiro, os preços ficaram em R$ 1,1746/kg. Com isso, o acumulado da safra ficou em R$ 1,1931/kg. A tendência é ficarmos próximos de R$ 1,20/ kg com o comportamento dos últimos dois meses do ciclo atual. Vamos seguir acompanhando.

HOMENAGEADA DO MÊS


Neste mês, nossa singela homenagem vai para a Letícia Jacintho. E com ela homenagear um grupo que vem fazendo um trabalho fundamental na iniciativa “De Olho no Material Escolar”, que recomendo que sigam nas mídias sociais. Visa com isto tirar muitas distorções em nossos livros do ensino fundamental e médio, que denigrem de forma injusta a imagem do melhor setor da economia brasileira.

 

*Marcos Fava Neves é professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP, em Ribeirão Preto, e da FGV, em São Paulo, especialista em Planejamento Estratégico do Agronegócio. Confira textos, vídeos e outros materiais no site doutoragro.com e veja os vídeos no canal do Youtube (Marcos Fava Neves).
**Vítor Nardini Marques é mestrando em Administração de Organizações pela FEA-RP/USP.
***Vinícius Cambaúva é associado na Markestrat Group e mestrando em Administração de Organizações pela FEA-RP/USP.