Prejuízos do fogo

Cana-de-Açúcar POR: Marino Guerra

Incêndios nos canaviais geram consequências diversas e prolongadas ao produtor

Canavial queimado devasta a produtividade

A história de um incêndio em cana vai muito além do seu difícil combate. Ao ter uma área atingida pelo fogo, o produtor precisará percorrer um longo caminho para tentar reverter os prejuízos que podem até mesmo antecipar a decisão de reforma, e isso observando apenas questões técnicas, sem contar o risco de sofrer alguma penalidade administrativa dos órgãos ambientais.

O primeiro transtorno é quanto à logística de corte. Todos sabem que a partir do momento que o canavial começa a queimar, a planta perde sacarose e esse processo continua mesmo depois que o fogo é cessado. Então, se demorar muito, a lavoura pode perder sua viabilidade econômica.

Ao ter que deslocar uma frente para colher a área que não estava prevista, outra terá que ter seu corte atrasado, o que ocasiona não somente o fato da lavoura perder o seu pico de maturação, mas também em problemas futuros, como atraso na rebrota em épocas mais secas. Além disso, com o passar do tempo, a planta substitui sua massa verde por palhada, elevando consideravelmente o risco de ser atingida ou pegar fogo.

Cana queimada há mais de dez dias no campo, provavelmente com sua viabilidade econômica já comprometida

Numa fazenda localizada na região de Morro Agudo-SP, que teve 200 hectares de cana atingidos pelo fogo, o fator citado acima ficou evidente porque a colheita estava atrasada em mais de dois meses e a cana acabou sendo afetada por um incêndio vindo de áreas vizinhas. Pelos dois fatores, o agrônomo da Canaoeste na região, João Fernando de Freitas, calcula uma quebra, em TCH (toneladas de cana por hectare), da ordem de 12%.

Diante disso e pensando na próxima safra, o produtor precisa tomar cuidado com alguns problemas que surgirão, como o elasmo e a brotação de plantas invasoras, por exemplo.

Especialmente para este ano, observando o regime climático com poucas chuvas no começo da primavera, o produtor deve se atentar para a infestação do elasmo, pois a praga, cujo mercado não oferece nenhum defensivo para combatê-la, inicia seus ataques com o surgimento das chuvas, sendo exterminado quando o solo atinge o nível de umidade plena, o que depende de um volume significativo de precipitação.

Colheita tardia e ainda no auge da seca atrapalha a rebrota e afeta a produtividade da safra seguinte

O agrônomo da Canaoeste na região de Morro Agudo, João Fernando de Freitas, prevê para a fazenda uma quebra de 20% em duas safras

No caso das ervas daninhas, a questão está na falta de barreira física, fazendo com que as sementes que estavam inativas, com a presença mais forte de calor e umidade, tenham as condições ideais para se desenvolverem.

Para a propriedade de Morro Agudo, pensando em inibir o surgimento das invasoras, foi realizada, dias depois da retirada da cana, a aplicação em pré-emergência (inclusive da cultura) de Clomazona (Reator) com Flumyzin, e ainda será executada mais uma aplicação (conforme o tipo de mato que perdurar), provavelmente no mês de dezembro.

Colocando tudo isso na ponta do lápis e considerando que haveria, no máximo, uma aplicação em condições normais, o produtor terá que absorver os custos do produto para a aplicação mais a prestação do serviço do autopropelido, essencial em decorrência do caráter de urgência na utilização em pré-emergência.

A falta da palhada ainda poderá atrapalhar o desenvolvimento do canavial na ocorrência de algum veranico, isso porque sem ela, a evaporação da umidade do solo é bem maior, e períodos quentes e sem chuva podem afetar diretamente o desenvolvimento da planta.

Todos esses fatores irão retirar pelo menos, na conta de Freitas, mais de 10% da produtividade da fazenda para a temporada 21/22, ultrapassando os 20% de prejuízo.

Por fim, o agrônomo conta que no dia do incêndio havia ventos por volta dos 10 km/h e que a estrutura de combate da fazenda, mais seis caminhões-tanque (que fazem parte do PAM, Plano de Auxílio Mútuo de Prevenção e Combate a Incêndios) e a presença de aceiros largos e limpos não seriam suficientes para deter as chamas no sentido de defesa da APP (Área de Preservação Permanente) da propriedade.

A salvação veio através da utilização da técnica do “fogo de encontro”, assunto polêmico entre as autoridades, mas que, se feito por profissionais experientes é um dos métodos mais eficientes para conter o avanço das chamas.

Depois do fogo, o produtor precisa se preocupar com o elasmo, a vinda das plantas daninhas e a falta de umidade no solo em caso de veranico

Mesmo com aceiros largos e limpos e uma equipe com mais de seis veículos combatendo o fogo, a mata foi salva em decorrência da utilização do "fogo de encontro"