Presidente da Siamig apresenta dados e expectativas na produção de cana safra 21/22

12/04/2021 Cana-de-Açúcar POR: Eddie Nascimento

Mário Campos faz um balanço de oportunidades do setor sucroenergético e destaca a importância dos biocombustíveis

 

Nunca deixaremos de destacar que o setor que mais fortalece o Brasil é o sucroenergético. É através da cana que o país se destaca como maior produtor e exportador de açúcar no mundo.

O Brasil ocupa a primeira colocação e é responsável por 20% de tudo que é produzido de açúcar no mundo, sendo também o maior exportador do produto (43%). Em segundo nesse ranking vem a Índia (17%) e em terceiro a União Europeia (10%).

Já entre os maiores exportadores, em segundo lugar, fica a Tailândia (14%) e, em terceiro, a Índia (7%). Os maiores importadores de açúcar são Indonésia (9%), seguido de China (8%) e  Estados Unidos (6%).

A maior parte do que é exportado pelo Brasil tem como destino a China. O país asiático é abastecido com pouco mais de 15% do açúcar brasileiro. O segundo maior comprador de açúcar é a Argélia. O país africano recebe 7,6% do açúcar tupiniquim, parte do produto é enviado de maneira semiprocessada, o chamado ‘Açúcar Vhp’ — Very High Polarization.

Já o mercado de biocombustíveis é o oposto do de açúcar. Ao contrário do líder açúcar, o etanol brasileiro tem como principal direcionamento o mercado interno. Ao nível mundial, o combustível que se é obtido tanto através da cana-de-açúcar, do milho ou de outros tipos de grãos, tem como líder no mercado internacional os Estados Unidos. Os americanos são responsáveis por 54% da produção mundial.

“Recentemente tivemos no Brasil o crescimento do etanol produzido a partir do milho. É o mesmo etanol, é o mesmo produto no final, mas com origem diferente. Temos no etanol de milho usinas dedicadas somente a esse produto e que estão localizadas principalmente lá no estado de Mato Grosso. E usinas que produzem os dois, usinas flex produzindo tanto a partir da cana-de-açúcar quanto a partir do milho” explicou o presidente da Siamig – Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais — Mário Campos.

Campos destaca que a produção de etanol para o mercado interno brasileiro também favoreceu a produção de outros subprodutos, como, por exemplo, a geração de energia através do biogás e a sua substância biometano que pode ser obtida a partir da vinhaça.

“Quem trabalha com esse segmento de biogás, de biometano, diz que temos no setor sucroenergético praticamente um 'pré-sal caipira' com oportunidade de oferta desse produto”, cita.

Safra brasileira e sua flexibilidade

A facilidade da safra brasileira em se adaptar para atender à demanda do mercado é algo impressionante, destaca Campos.

É através da flexibilidade em mudar da produção de açúcar, para etanol, ou vice-versa, que a indústria brasileira se mantém de maneira atuante ao longo da safra.

“Isso demonstra uma das coisas mais interessantes desse segmento aqui no Brasil que você não vai ver em outros  ao redor do mundo. Essa nossa flexibilidade de fábrica em produzir açúcar, etanol, um pouco mais de açúcar, um pouco mais de etanol, dependendo do que ocorre no mercado”, frisa.

“Essa mudança de mix é interessante. Observamos que algumas safras são um pouco mais pra etanol, um pouco mais pra açúcar, este percentual muda ao longo da safra. Essa é uma capacidade muito importante da nossa indústria sucroenergética nacional e propicia um melhor resultado para todo o complexo agroindustrial canavieiro do Brasil”, comenta Mário Campos.

De acordo com dados divulgados pela Unica — União da Indústria de Cana-de-Açúcar —, a moagem de cana-de-açúcar pelas usinas do Centro-Sul do Brasil alcançou 600,47 milhões de toneladas no acumulado desde o início da safra 2020/21 (abril de 2020) até 16 de março passado. O desempenho representa aumento de 3,02% em comparação com igual período da safra anterior 2019/20 (582,89 milhões de t).

Conforme a Unica, a produção de açúcar no período foi de 38,28 milhões de t, aumento de 44,29% ante o período anterior (26,54 milhões de t). Já a fabricação de etanol alcançou 29,99 bilhões de litros, queda de 8,56% ante 2019/20 (32,8 bilhões de litros).

“Todos sabem que com a pandemia tivemos uma redução muito forte dentro do consumo de combustíveis no início da safra passada, lá pelos meses de abril, maio, junho, e dessa forma o produtor pode destinar essa produção um pouco mais para o açúcar. Podemos observar que essa diferença ou essa destinação para o açúcar veio em um momento em que o mundo precisava mais do produto brasileiro” ressalta Mário Campos.

Já na Safra 2021/22 é esperada uma queda na produção de cana-de-açúcar em função do período longo de estiagem que perdurou em boa parte do ano passado. Essa queda na moagem deve impactar também  numa diminuição na produção de açúcar e etanol. Por outro lado, é esperado no mercado um aumento de produção do etanol de milho que, de acordo com Campos, já chegou a 2 bilhões de litros produzidos.

Apesar de uma possível queda na produção, a safra 21/22 deve ser mais açucareira, muito em consideração dos preços do produto no mercado internacional. “Quando observamos a precificação de açúcar em taxas e valores nominais, hoje alcançamos o maior valor da história. Então, estamos falando de uma tonelada no mercado internacional em torno de 2 mil reais a tonelada de açúcar. Realmente é um preço extremamente interessante”, continua.

Os números, de acordo com o presidente da Siamig, demonstram uma receita favorável ao produtor, considerando, é claro, o custo de produção por tonelada de cana. “Estamos falando hoje de um custo de ‘Produção Brasil’ que gira em torno de mil a mil e cem reais a tonelada, então, quem está conseguindo ter essa receita de 2 mil, é claro que isso é uma dinâmica de mercado futuro, está sendo muito beneficiado”, destaca Campos.

“As empresas fazem uma gestão de risco muito efetiva e muito eficiente. Elas costumam antecipar essas variações. Por exemplo,  iniciaremos a safra 21/22 já com estimativa que 85% de todo o açúcar que vamos cortar este ano, já foi precificado pelas usinas. Às vezes a empresa se antecipou um pouco e não pegou esse preço de 2 mil reias, mas hoje a empresa que for ao mercado precificar vai ver preços próximos a isso. Esses valores de mercado são uma notícia muito boa para o país que é o maior exportador do produto no mudo”, acrescenta.

Com relação ao etanol combustível, a visão de Mário Campos é otimista. O presidente enxerga no produto uma oportunidade futura para o Brasil ao nível mundial.

“O etanol é um ‘booster’, ele melhora a qualidade da gasolina e  a questão das emissões da própria gasolina. Ele pode ser produzido ao redor do mundo e não necessariamente só no Brasil. É claro que quanto mais países produzirem esse produto, maior mercado nós vamos ter e, dessa forma, o Brasil poderá ser lá no futuro uma plataforma de exportação de biocombustível”, frisa.

Atualmente o etanol no Brasil tem como foco o mercado interno. Apenas 5% do que é produzido em terras brasileiras é exportado. Ao contrário de outros países, como é o caso dos Estados Unidos, o etanol brasileiro pode ser abastecido em qualquer um dos 40 mil postos de combustíveis do país, o que segundo Mário Campos é uma vantagem.

“O Brasil é único país  em que o consumidor tem a possibilidade de escolher para seu veículo entre o biocombustível e o combustível fóssil, no caso, o etanol hidratado e a gasolina. Mesmo a gasolina aqui no Brasil tem uma mistura de 27% de etanol anidro, ou seja, tem uma condição de protagonismo nesse mercado extremamente interessante e importante”, destaca.

No mundo, cada vez mais países têm investido na produção de etanol, seja ele da cana-de-açúcar, do milho, da beterraba ou grãos e a mistura de biocombustível no combustível fóssil também não é algo somente de Brasil e EUA — outros 66 países também viram a necessidade de difundir essa condição. A Índia, por exemplo, anunciou recentemente um aumento na mistura podendo chegar a 20% no ano de 2030 — atualmente a porcentagem de mistura é de 10%.

“A Índia é um grande produtor de açúcar e se ela passar a ser grande produtor de etanol vai destinar uma parcela daquela produção de açúcar para a de  de etanol e, de certa forma,  evitará o que gente teve nos últimos anos, que foi uma inundação de açúcar indiano no mundo em função de subsídios a produção de cana-de-açúcar naquele país”, lembra Campos.

Mobilidade Sustentável

A pauta sustentabilidade tem sido cada vez mais discutida em todas as cadeias produtivas mundiais. A preocupação em alinhar a forma de produção com práticas que não agridam o meio ambiente se tornaram os ideais de alguns países. A redução de gases poluentes, a adoção de práticas sustentáveis, além da geração de energia limpa, ao mesmo tempo em que se buscam tecnologias para estas finalidades, têm sido amplamente discutidas,  e o Brasil sai na frente tendo o setor sucroenergético como grande aliado.

“No nosso caso temos os biocombustíveis, uma solução já implementada e pronta no mercado, com a opção de menor custo e a infraestrutura está toda estabelecida. Temos mais de 40 mil postos no Brasil ofertando etanol”, comenta Campos.

“Temos essa vantagem comparativa. Então se muitos falam ‘precisamos fazer uma transição energética com economia de baixo carbono’, o Brasil já fez isso de certa forma no passado. Hoje temos uma frota praticamente inteira com veículos flex, ou seja, quase 90% da nossa frota pode colocar um ou outro combustível, isso realmente é uma conquista que precisamos valorizar. Nós já temos o domínio tecnológico desse processo e utilizamos as potencialidades agrícolas do país”, acrescenta.

O mercado pode ainda alçar novos voos. Existem ao redor do planeta vários protótipos de veículos em construção, sendo um deles um modelo movido a hidrogênio. O etanol pode ser a solução para a propulsão elétrica desse veículo. Mário Campos acredita que dentro da discussão “carros elétricos ou carros movidos a biocombustíveis” quem sai ganhando é o carro movido a etanol. Entre os motivos, está a diferença no valor final de cada um dos veículos.

“Muito se fala sobre não termos no Brasil essa dicotomia entre eletrificação e carros com motores a  combustão, mas teremos um e outro. Vamos ter essas opções aqui no Brasil. A eletrificação, apesar de estar na moda tem uma série de obstáculos, é uma solução a longo prazo. Tem uma série de questões sobre a própria infraestrutura, disponibilidade de energia, desafios ambientais em relação à utilização de baterias, desafios tecnológicos e também o próprio preço do veículo”, frisa.

Ainda de acordo com Mário Campos é preciso valorizar esse mercado brasileiro dos biocombustíveis, seja através de incentivos e também da união com outros setores como é o caso do automobilístico que ele vê ameaçado por uma possível entrada no mercado nacional dos veículos eletrificados.

“Em minha opinião, a eletrificação dos carros também poderá representar o fim da indústria automobilística nacional em função das importações desse produto já pronto por parte de outros países. Não é à toa que China, União Europeia e os  Estados Unidos estão valorizando essa tecnologia porque eles vão exportar. Então, incentivar os biocombustíveis também é uma forma de garantir essa importante indústria para o  Brasil ser ? rever aqui , por favor geradora? Seria gerar de emprego, empregos de alta qualificação e que realmente fazem parte da nossa história”, destaca.

E falar de metas sustentáveis sem citar o RenovaBio é um ato falho. O programa que surgiu através de uma política de Estado tem o objetivo de reconhecer o papel estratégico de todos os tipos de biocombustíveis na matriz energética brasileira. O programa tem como principal meta a redução das emissões de gases causadores do efeito estufa na produção, comercialização e uso de biocombustíveis. A cada tonelada de CO2 evitada na atmosfera é emitido um Crédito de Descarbonização (CBio) — o título pode ser negociado na B3 (bolsa de valores brasileira). “O RenovaBio é muito interessante. Talvez uma das políticas mais interessantes em  nível de meio ambiente ‘linkada’ ao segmento energético. O produtor tem uma nota de eficiência onde vai ser analisado todo seu processo produtivo em termos de emissões. Esse processo vai gerar uma nota para esse produtor e, a partir da produção e comercialização, começa a emissão desse Cbios. Depois ele vende para o  mercado”, revela.

Ainda dentro do processo do RenovaBio, as distribuidoras também são analisadas pela Anp — Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis. Elas têm que seguir metas estabelecidas pela agência e adquirir créditos Cbios. Outro aspecto apontado como positivo por  Campos é que, ao estabelecer metas, cada produtor busca para si ser o melhor entre os produtores. “Dessa forma, começam a coloca-los  em comparação no sentido de fazerem ‘benchmarking’ para serem melhores a cada dia, e esse ‘ser melhor a cada dia’ significa ser mais eficiente, produzir com menor custo e pegada ambiental.  Consequentemente eu gero um produto que é uma receita adicional para as empresas do setor”.

“O Brasil tem esse potencial enorme com a utilização de biocombustíveis podendo ser no futuro não só exportador de biocombustíveis, mas principalmente exportador de créditos de descarbonização. Quem sabe a gente não vai ter um mercado onde vamos ver europeus e americanos comprando aqui certificados de descarbonização porque  nós auxiliamos e ajudamos o meio ambiente”, finaliza.