A primeira reunião do ano da Canaplan Consultoria, realizada no dia 25 de abril, em Ribeirão Preto, reuniu representantes dos diferentes segmentos da cadeia de produção da cana-de-açúcar, como produtores de cana dos maiores grupos da região Centro-Sul, usinas, tradings, agentes financeiros, empresas químicas, empresas de bens de capital, consultores, entre outros, para discutir variáveis climáticas, questões geopolíticas e regulatórias, além de resultados de reuniões ministeriais da Organização Mundial do Comércio (OMC) sobre subsídios e políticas internas, como o projeto de lei Combustível do Futuro, que visa aumentar a proporção de etanol anidro na gasolina.
A abertura da reunião focou em temas cruciais como o impacto da irrigação na produção de cana-de-açúcar e como ela pode permitir uma expansão horizontal da plantação, entrando em áreas com déficit hídrico, e também uma redução da área plantada através de ganhos verticais. Os palestrantes destacaram a importância da água e os desafios impostos pela volatilidade climática no setor.
Luiz Carlos Corrêa Carvalho (Caio Carvalho), diretor da Canaplan
Para a safra 2024/25, as expectativas são cautelosas. Veranicos e secas afetaram o início do plantio, causando incertezas sobre o desenvolvimento da safra. O diretor da Canaplan, Luiz Carlos Corrêa Carvalho (Caio Carvalho), revelou que a projeção é de uma moagem de 611,04 milhões de toneladas, uma quebra de 9% em relação à safra recorde de 2023/24. Este número pode cair ainda mais, para 597,61 milhões de toneladas, caso as condições climáticas sejam mais adversas.
Independente do cenário climático, o mix de produção deve favorecer ligeiramente o açúcar, com 50,5% destinado ao produto e 49,5% ao etanol. A produção de açúcar é estimada entre 40,5 e 41,5 milhões de toneladas, enquanto a de etanol deve atingir cerca de 32 bilhões de litros, incluindo 7,5 bilhões de litros de etanol de milho.
Caio Carvalho chamou atenção para o aumento da participação do milho na produção de etanol, destacando que dois dos cinco maiores produtores de etanol no Brasil utilizam o milho como matéria-prima.
Na oportunidade, o analista da Canaplan, Ciro Sitta, apresentou indicadores do Centro-Sul e ressaltou a importância do investimento no setor para a safra 2023/24, que resultou em uma produtividade agrícola elevada. A idade média dos canaviais foi de 3,38 anos, contribuindo para um ATR (Açúcar Total Recuperável) de 136,0 kg/ton e um ATR/há de 11,9 toneladas. Para 2024/25, a expectativa é de uma redução de 7% na área plantada e um envelhecimento dos canaviais, projetando uma quebra de TCH (Toneladas de Cana por Hectare) de 9,5% em relação à safra anterior.
Tarcilo Rodrigues (Bioagência)
No painel “Macroeconomia, Finanças e Mercado Sucroenergético”, Tarcilo Rodrigues da Bioagência fez algumas projeções.
De acordo com ele, a safra 23/24 beneficiou-se de um clima ideal, permitindo não apenas o aumento dos índices de produtividade, mas também a colheita quase total da cana produzida. Com isso, a produção de açúcar alcançou 42,4 milhões de toneladas, das quais 33,6 milhões de toneladas foram destinadas à exportação.
Essa elevada produção de açúcar foi acompanhada por preços atrativos no mercado, apesar do volume significativo. Além disso, a produção de etanol também foi incrementada, mesmo com a maximização da produção de açúcar. No entanto, diferentemente do açúcar, os preços do etanol seguiram uma tendência de queda ao longo da safra, com a paridade frente à gasolina chegando a menos de 60% em algumas regiões. O consumo do ciclo Otto, por sua vez, cresceu 4,2% ao ano.
Segundo Rodrigues, para a safra 24/25, o cenário climático apresenta novos desafios. A escassez de chuvas de novembro a março deverá resultar em uma queda na produtividade. Em decorrência dessa quebra, espera-se que toda a cana a ser produzida seja processada.
Os investimentos em capacidade de cristalização e na construção de novas fábricas de açúcar deverão sustentar níveis elevados de produção de açúcar. Contudo, o clima dentro da normalidade pode trazer dificuldades para o escoamento das exportações de açúcar. Desde o início do ano, os preços do açúcar estão em queda, embora ainda se mantenham atrativos.
A redução na produção de cana e a maximização da produção de açúcar devem impactar negativamente a produção de etanol de cana. Apesar do aumento da oferta de etanol de milho, a produção líquida de etanol deverá apresentar uma redução.
Para Rodrigues, com esses desafios e investimentos, o mercado sucroenergético brasileiro se prepara para ajustar suas estratégias e manter a competitividade, mesmo diante das adversidades climáticas previstas para a próxima safra.
João Rosa (Botão), do Pecege
Presente no evento, João Rosa (Botão), do Pecege, destacou a convergência entre as abordagens do Pecege e da Canaplan, ressaltando a importância dessas reuniões para alinhar expectativas e estratégias. Rosa destacou também a diferenciação na visão de mercado, apontando que enquanto algumas consultorias podem adotar uma postura mais otimista, tanto o Pecege quanto a Canaplan estão mais conservadoras em suas previsões, buscando um retorno ao “velho normal”.
Além disso, valorizou a diversidade das perspectivas apresentadas no evento, mencionando a contribuição de outras entidades como o Rabobank e a Bioagência. A ênfase na visão geopolítica de Caio Carvalho também foi ressaltada por Botão como um ponto de destaque, enriquecendo o debate ao conectar o panorama internacional com as dinâmicas de mercado.