Produção de cana-de-açúcar é fortemente afetada em Pernambuco

22/03/2017 Cana-de-Açúcar POR: Assessoria de Comunicação, 21/3/17
O cinza invadiu os canaviais de Pernambuco em pelo menos 10 municípios da Zona da Mata castigados por mais uma estiagem. É um cenário tão seco e devastado que chega a lembrar o Sertão. "Se o inverno começar hoje, vou ter uma redução da safra de 40%. Há locais em que morreu tudo", diz o fornecedor de cana¬ de açúcar, Felipe Neri, que tem propriedades em Lagoa de Itaenga e Carpina, ambas na Mata Norte. E o impacto será grande. A moagem que está se encerrando será uma das menores dos últimos 30 anos no Estado com a colheita estimada em 11,7 milhões de toneladas. E a próxima (que começa em setembro) pode chegar a 12 milhões de toneladas, numa estimativa feita pelo Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool de Pernambuco (Sindaçúcar¬PE). A média da safra é de 17 milhões de toneladas no Estado e 13 milhões era a produção no começo dos anos 70.
As estiagens muito severas sempre chegam, principalmente, à Mata Norte, o que ocorre ciclicamente em função do fenômeno climático El Niño, que provoca seca no Semiárido nordestino. Este já é o 5º ano consecutivo de chuvas abaixo da média na Zona da Mata. A situação piorou depois de junho/julho do ano passado. "Planto cana em julho e agosto há 30 anos. Foi a primeira vez que perdi a socaria plantada nessa época. A chuva quase sumiu depois do fim de julho", afirma Neri. A socaria é a parte da cana que, após ser cortada, rebrota por cinco anos consecutivos. Em 2015/2016, ele colheu 10 mil toneladas da planta, na atual safra (2016/2017) foram 6 mil toneladas e na próxima (2017/2018), a expectativa é 3 mil toneladas. Atualmente, ele está com 5 pessoas trabalhando na sua propriedade. Antes da seca, eram 8 durante a entressafra. Na propriedade do cultivador, o registro médio da chuva é de 160 milímetros (mm) em junho e 165 mm em julho. Em 2016, foram registrados, respectivamente, 64 mm e 51 mm. O engenho dele não tem qualquer reserva de água.
A escassez da chuva também trouxe outro cenário à Zona da Mata. São extensões enormes de um canavial formado por uma palha seca com cerca de 70 cm de altura. "Essa planta era para estar com um metro e meio de altura. Só cresceu a palha por falta de água. A parte da cana só tem 10 centímetros", diz o fornecedor, Luiz Otávio Coutinho, cuja família já foi uma das maiores produtoras de cana¬de¬açúcar em Tracunhaém, na Mata Norte. Se chover, ele vai transformar a cana que não cresceu em semente para plantar de novo.
Há quatro anos, Luiz Otávio decidiu destinar uma parte maior da sua propriedade à criação de gado. "O preço da cana caiu, diminuíram as usinas, foi tudo ficando mais complicado. As secas constantes mostraram que é preciso diversificar. A cana precisa de mais água do que o boi. Só vou plantar cana¬de¬açúcar onde posso fazer irrigação de salvação. Hoje, 40% da área estão ocupadas com gado nelore", afirma. Ele trabalha com a expectativa de ter uma redução de 25% comparando com a última safra, quando colheu 30 mil toneladas. Este ano, ele arrendou uma propriedade na qual esperava colher 1,8 mil toneladas por dois anos. A morte da socaria provocou a perda total do canavial desse terreno.
O Rio Tracunhaém, que passa próximo à propriedade de Luiz Otávio, secou. "A nossa intenção agora é implantar 700 hectares de irrigação de salvação, sendo 200 hectares por cada safra", conta Luiz Otávio. O investimento total previsto é R$ 600 mil e o objetivo desse tipo de iniciativa, como o nome diz, é colocar água suficiente para não deixar a planta morrer.
Outro fato inusitado dessa estiagem: chegou a região que apresenta maior índice pluviométrico do Estado, a Mata Sul. "O regime de chuvas está mudando e menor. De repente, chove muito apenas num local só, enquanto na propriedade vizinha não cai uma gota de água. Os mananciais estão mais baixos", diz o fornecedor de cana¬de¬açúcar, Frederico Pessoa de Queiroz, que faz parte da terceira geração da sua família no setor sucroalcooleiro. Ele tem uma propriedade em Xexéu, na Mata Sul. "Em média, a precipitação pluviométrica é de 1.700 mm por ano na propriedade. No ano passado, ficou em 1.063 mm. Se chover a partir de agora, vamos ter uma perda de 10% da safra", afirma.
Na moagem passada 2016/2017, Frederico registrou uma perda de 22%, colhendo 32 mil toneladas da planta. "Nunca vi uma seca com tanta intensidade na Mata Sul", diz. Além dele, Felipe e Luiz também são a terceira geração da família que planta cana, o que é muito comum na Zona da Mata de Pernambuco. Os fornecedores são responsáveis por 35% da cana do Estado. Há 10 anos, respondiam por 50% e já chegaram a plantar 73% do total cultivado.
"A única saída para continuar plantando cana ¬de ¬açúcar na Mata Norte é a irrigação. Tem que ter água ou procurar outra atividade", diz o presidente da Associação dos Fornecedores de Cana ¬de ¬Açúcar de Pernambuco (AFCP), Alexandre Andrade Lima (Foto). A entidade estima que a próxima safra terá uma redução média de 30% se começar a chover a partir deste mês. Geralmente, os fornecedores de cana ¬de açúcar são mais atingidos pela estiagem do que as usinas, pois irrigam menos e não possuem reservas de água nas propriedades.
"Não existem mais chuvas como ocorriam em 2011, quando a média na Mata Norte era de 1,6 mil mm. Em 2015, essa média ficou em 825 mm em algumas regiões da Mata Norte", diz o presidente do Sindaçúcar, Renato Cunha. Segundo ele, para a próxima safra foram realizados investimentos que poderiam resultar numa moagem de cerca de 13 milhões de toneladas da planta, o que não deve ocorrer por causa da falta de chuvas.
A seca é mais um capítulo que está contribuindo para a agonia do setor sucroalcooleiro. Existem outros. "Os subsídios de preços à gasolina do governo Dilma e a importação de etanol sem controle nos últimos dois anos foram outros fatores que prejudicaram o setor", resume um dos maiores especialistas, o presidente da Datagro, Plínio Nastari. O que ele chama de subsídio foi a redução da tributação da gasolina para fazer o preço do etanol ficar num mesmo teto. "Espero que os governos estaduais e federal enxerguem a importância dessa atividade para o desenvolvimento econômico, porque a crise desse setor está agravando a situação de um trabalhador muito sofrido", conclui.
O cinza invadiu os canaviais de Pernambuco em pelo menos 10 municípios da Zona da Mata castigados por mais uma estiagem. É um cenário tão seco e devastado que chega a lembrar o Sertão. "Se o inverno começar hoje, vou ter uma redução da safra de 40%. Há locais em que morreu tudo", diz o fornecedor de cana¬ de açúcar, Felipe Neri, que tem propriedades em Lagoa de Itaenga e Carpina, ambas na Mata Norte. E o impacto será grande. A moagem que está se encerrando será uma das menores dos últimos 30 anos no Estado com a colheita estimada em 11,7 milhões de toneladas. E a próxima (que começa em setembro) pode chegar a 12 milhões de toneladas, numa estimativa feita pelo Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool de Pernambuco (Sindaçúcar¬PE). A média da safra é de 17 milhões de toneladas no Estado e 13 milhões era a produção no começo dos anos 70.
As estiagens muito severas sempre chegam, principalmente, à Mata Norte, o que ocorre ciclicamente em função do fenômeno climático El Niño, que provoca seca no Semiárido nordestino. Este já é o 5º ano consecutivo de chuvas abaixo da média na Zona da Mata. A situação piorou depois de junho/julho do ano passado. "Planto cana em julho e agosto há 30 anos. Foi a primeira vez que perdi a socaria plantada nessa época. A chuva quase sumiu depois do fim de julho", afirma Neri.

A socaria é a parte da cana que, após ser cortada, rebrota por cinco anos consecutivos. Em 2015/2016, ele colheu 10 mil toneladas da planta, na atual safra (2016/2017) foram 6 mil toneladas e na próxima (2017/2018), a expectativa é 3 mil toneladas. Atualmente, ele está com 5 pessoas trabalhando na sua propriedade. Antes da seca, eram 8 durante a entressafra. Na propriedade do cultivador, o registro médio da chuva é de 160 milímetros (mm) em junho e 165 mm em julho. Em 2016, foram registrados, respectivamente, 64 mm e 51 mm. O engenho dele não tem qualquer reserva de água.
A escassez da chuva também trouxe outro cenário à Zona da Mata. São extensões enormes de um canavial formado por uma palha seca com cerca de 70 cm de altura. "Essa planta era para estar com um metro e meio de altura. Só cresceu a palha por falta de água. A parte da cana só tem 10 centímetros", diz o fornecedor, Luiz Otávio Coutinho, cuja família já foi uma das maiores produtoras de cana¬de¬açúcar em Tracunhaém, na Mata Norte. Se chover, ele vai transformar a cana que não cresceu em semente para plantar de novo.
Há quatro anos, Luiz Otávio decidiu destinar uma parte maior da sua propriedade à criação de gado. "O preço da cana caiu, diminuíram as usinas, foi tudo ficando mais complicado. As secas constantes mostraram que é preciso diversificar. A cana precisa de mais água do que o boi. Só vou plantar cana¬de¬açúcar onde posso fazer irrigação de salvação. Hoje, 40% da área estão ocupadas com gado nelore", afirma. Ele trabalha com a expectativa de ter uma redução de 25% comparando com a última safra, quando colheu 30 mil toneladas. Este ano, ele arrendou uma propriedade na qual esperava colher 1,8 mil toneladas por dois anos. A morte da socaria provocou a perda total do canavial desse terreno.
O Rio Tracunhaém, que passa próximo à propriedade de Luiz Otávio, secou. "A nossa intenção agora é implantar 700 hectares de irrigação de salvação, sendo 200 hectares por cada safra", conta Luiz Otávio. O investimento total previsto é R$ 600 mil e o objetivo desse tipo de iniciativa, como o nome diz, é colocar água suficiente para não deixar a planta morrer.
Outro fato inusitado dessa estiagem: chegou a região que apresenta maior índice pluviométrico do Estado, a Mata Sul. "O regime de chuvas está mudando e menor. De repente, chove muito apenas num local só, enquanto na propriedade vizinha não cai uma gota de água. Os mananciais estão mais baixos", diz o fornecedor de cana¬de¬açúcar, Frederico Pessoa de Queiroz, que faz parte da terceira geração da sua família no setor sucroalcooleiro. Ele tem uma propriedade em Xexéu, na Mata Sul. "Em média, a precipitação pluviométrica é de 1.700 mm por ano na propriedade. No ano passado, ficou em 1.063 mm. Se chover a partir de agora, vamos ter uma perda de 10% da safra", afirma.
Na moagem passada 2016/2017, Frederico registrou uma perda de 22%, colhendo 32 mil toneladas da planta. "Nunca vi uma seca com tanta intensidade na Mata Sul", diz. Além dele, Felipe e Luiz também são a terceira geração da família que planta cana, o que é muito comum na Zona da Mata de Pernambuco. Os fornecedores são responsáveis por 35% da cana do Estado. Há 10 anos, respondiam por 50% e já chegaram a plantar 73% do total cultivado.
"A única saída para continuar plantando cana ¬de ¬açúcar na Mata Norte é a irrigação. Tem que ter água ou procurar outra atividade", diz o presidente da Associação dos Fornecedores de Cana ¬de ¬Açúcar de Pernambuco (AFCP), Alexandre Andrade Lima (Foto). A entidade estima que a próxima safra terá uma redução média de 30% se começar a chover a partir deste mês. Geralmente, os fornecedores de cana ¬de açúcar são mais atingidos pela estiagem do que as usinas, pois irrigam menos e não possuem reservas de água nas propriedades.
"Não existem mais chuvas como ocorriam em 2011, quando a média na Mata Norte era de 1,6 mil mm. Em 2015, essa média ficou em 825 mm em algumas regiões da Mata Norte", diz o presidente do Sindaçúcar, Renato Cunha. Segundo ele, para a próxima safra foram realizados investimentos que poderiam resultar numa moagem de cerca de 13 milhões de toneladas da planta, o que não deve ocorrer por causa da falta de chuvas.
A seca é mais um capítulo que está contribuindo para a agonia do setor sucroalcooleiro. Existem outros. "Os subsídios de preços à gasolina do governo Dilma e a importação de etanol sem controle nos últimos dois anos foram outros fatores que prejudicaram o setor", resume um dos maiores especialistas, o presidente da Datagro, Plínio Nastari. O que ele chama de subsídio foi a redução da tributação da gasolina para fazer o preço do etanol ficar num mesmo teto. "Espero que os governos estaduais e federal enxerguem a importância dessa atividade para o desenvolvimento econômico, porque a crise desse setor está agravando a situação de um trabalhador muito sofrido", conclui.