Produtores de commodities provam rota da reforma

11/10/2016 Economia POR: The Wall Street Journal
Uma queda duradoura nos preços das commodities está forçando exportadores de matérias-primas no mundo todo a reformar suas economias. Para alguns países da América Latina, o ajuste à nova realidade significa voltar ao básico.
As principais autoridades econômicas da região estão tentando centrar a atenção em reformas de base através de mudanças em infraestrutura, educação, política fiscal e nas leis para facilitar os negócios.
"Crescer por meio da alta dos preços das commodities é bom, mas não é permanente", disse Ilan Goldfajn, presidente do Banco Central do Brasil. "Então, é preciso fazer reformas que elevem a produtividade."
As tentativas desses países estão servindo de campo de testes para outros, algo que ficou visível nas reuniões semestrais do Fundo Monetário Internacional realizadas recentemente em Washington, onde ministros da Fazenda e autoridades de bancos centrais compartilharam suas dificuldades em navegar as turbulências da economia global.
As altas nos preços do petróleo, minérios e produtos agrícolas de exportação ocorridas durante o boom econômico da China adiaram por anos as reformas de base em grande parte da América Latina. Agora, as autoridades de muitos desses países disseram, em entrevistas ao The Wall Street Journal, que não apostam mais numa salvadora recuperação dos preços.
O Brasil, que está saindo de uma crise política turbulenta, está agora tentando limitar os gastos públicos e privatizar ativos do governo, ao mesmo tempo em que investe em infraestrutura. "Vamos aproveitar que as coisas estão relativamente calmas e fazer as reformas, porque precisamos delas", disse Goldfajn. "Vamos fazê-las em períodos mais calmos e não quando os mercados estão mais nervosos."
No Peru, o recém-eleito governo do presidente Pedro Pablo Kuczynski está trabalhando na reforma das leis fiscais para ampliar a base e trazer mais trabalhadores para o setor formal. Em 2013, cerca de 64% da força de trabalho do país atuava no mercado informal. O governo também quer investir mais em infraestrutura e expandir o acesso ao crédito através de bancos locais.
A ideia, disse o ministro da Fazenda, Alfredo Thorne, é afastar a economia de sua dependência das exportações de cobre e dos gastos do governo. "O que precisa mudar, em nossa opinião, são os motores do crescimento", disse.
As economias latino-americanas desaceleraram consideravelmente em 2014 e se contraíram em 2015, segundo o FMI. O fundo estima que a produção da região encolha 0,6% em 2016, em grande parte devido a um recuo no Brasil e Argentina, dois países que estão atravessando grandes transformações políticas. O colapso das commodities também desvalorizou as moedas dos países exportadores, o que tornou as importações mais caras, reduziu a renda real e elevou a inflação.
Idealmente, uma moeda mais fraca beneficiaria setores exportadores, aliviando o impacto econômico da queda nos preços das commodities. Mas os mercados emergentes, principalmente na América Latina, ficaram tão dependentes da exportação de commodities — combustíveis, por exemplo, representam quase 70% das exportações da Colômbia — que sobrou pouco para reduzir o impacto.
"O câmbio também não funciona bem, pelo menos no curto prazo, para absorver o choque", disse Joaquin Cottani, economista-chefe da S&P Global Ratings para a América Latina.
Isso criou um dilema para os bancos centrais, que têm que decidir se usam a política monetária para impulsionar o crescimento ou controlar a inflação. Eles têm escolhido, na maioria das vezes, combater a inflação elevando os juros, medida que tem o efeito colateral de estrangular as economias.
Agora que os preços das commodities se estabilizaram, os bancos centrais acreditam que logo será possível cortar os juros. Goldfajn, por exemplo, sugeriu que a limitação dos gastos do governo poderia dar a ele confiança para cortar os juros.
A América Latina deve começar a se recuperar em 2017 e atingir um crescimento regional de 1,6% e queda na inflação, uma vez que os países estão encontrando maneiras de lidar com o recuo dos preços das commodities, segundo projeções do FMI.
Carlos Fernández Valdovinos, presidente do banco central do Paraguai, disse que o governo tem tentado melhorar sua infraestrutura para atrair novos investimentos. O Paraguai também está procurando aumentar as exportações de valor agregado, em vez de depender unicamente de commodities como a soja.
"Não estaria na hora de parar de falar em políticas anticíclicas e começar a priorizar mais as políticas estruturais?", disse ele.
Eles terão que se apressar. O Federal Reserve, banco central americano, tem afirmado que quer começar a elevar os juros nos Estados Unidos ainda este ano, o que pode debilitar as moedas de países emergentes ante o dólar. Mas mesmo se o Fed adiar a alta dos juros mais uma vez, o dólar ainda pode subir se investidores nervosos começarem a se preocupar com a desaceleração da China ou com o divórcio entre o Reino Unido e a União Europeia.
Um recuo nas moedas dos mercados emergentes podem elevar os preços das importações, derrubar a renda ajustada pela inflação e fazer com que a inflação dispare mais uma vez.
Ed Al-Hussainy, analista da gestora Columbia Threadneedle Investments, diz que ele vê um risco de o dólar registrar outra forte alta semelhante à iniciada dois anos atrás. "Se de fato nós virmos outra alta daquela magnitude, o que vai acontecer? O que vai quebrar?", disse ele.
Uma queda duradoura nos preços das commodities está forçando exportadores de matérias-primas no mundo todo a reformar suas economias. Para alguns países da América Latina, o ajuste à nova realidade significa voltar ao básico.
As principais autoridades econômicas da região estão tentando centrar a atenção em reformas de base através de mudanças em infraestrutura, educação, política fiscal e nas leis para facilitar os negócios.
"Crescer por meio da alta dos preços das commodities é bom, mas não é permanente", disse Ilan Goldfajn, presidente do Banco Central do Brasil. "Então, é preciso fazer reformas que elevem a produtividade."
As tentativas desses países estão servindo de campo de testes para outros, algo que ficou visível nas reuniões semestrais do Fundo Monetário Internacional realizadas recentemente em Washington, onde ministros da Fazenda e autoridades de bancos centrais compartilharam suas dificuldades em navegar as turbulências da economia global.
As altas nos preços do petróleo, minérios e produtos agrícolas de exportação ocorridas durante o boom econômico da China adiaram por anos as reformas de base em grande parte da América Latina. Agora, as autoridades de muitos desses países disseram, em entrevistas ao The Wall Street Journal, que não apostam mais numa salvadora recuperação dos preços.
O Brasil, que está saindo de uma crise política turbulenta, está agora tentando limitar os gastos públicos e privatizar ativos do governo, ao mesmo tempo em que investe em infraestrutura. "Vamos aproveitar que as coisas estão relativamente calmas e fazer as reformas, porque precisamos delas", disse Goldfajn. "Vamos fazê-las em períodos mais calmos e não quando os mercados estão mais nervosos."
No Peru, o recém-eleito governo do presidente Pedro Pablo Kuczynski está trabalhando na reforma das leis fiscais para ampliar a base e trazer mais trabalhadores para o setor formal. Em 2013, cerca de 64% da força de trabalho do país atuava no mercado informal. O governo também quer investir mais em infraestrutura e expandir o acesso ao crédito através de bancos locais.
A ideia, disse o ministro da Fazenda, Alfredo Thorne, é afastar a economia de sua dependência das exportações de cobre e dos gastos do governo. "O que precisa mudar, em nossa opinião, são os motores do crescimento", disse.
As economias latino-americanas desaceleraram consideravelmente em 2014 e se contraíram em 2015, segundo o FMI. O fundo estima que a produção da região encolha 0,6% em 2016, em grande parte devido a um recuo no Brasil e Argentina, dois países que estão atravessando grandes transformações políticas. O colapso das commodities também desvalorizou as moedas dos países exportadores, o que tornou as importações mais caras, reduziu a renda real e elevou a inflação.
Idealmente, uma moeda mais fraca beneficiaria setores exportadores, aliviando o impacto econômico da queda nos preços das commodities. Mas os mercados emergentes, principalmente na América Latina, ficaram tão dependentes da exportação de commodities — combustíveis, por exemplo, representam quase 70% das exportações da Colômbia — que sobrou pouco para reduzir o impacto.
"O câmbio também não funciona bem, pelo menos no curto prazo, para absorver o choque", disse Joaquin Cottani, economista-chefe da S&P Global Ratings para a América Latina.
Isso criou um dilema para os bancos centrais, que têm que decidir se usam a política monetária para impulsionar o crescimento ou controlar a inflação. Eles têm escolhido, na maioria das vezes, combater a inflação elevando os juros, medida que tem o efeito colateral de estrangular as economias.
Agora que os preços das commodities se estabilizaram, os bancos centrais acreditam que logo será possível cortar os juros. Goldfajn, por exemplo, sugeriu que a limitação dos gastos do governo poderia dar a ele confiança para cortar os juros.
A América Latina deve começar a se recuperar em 2017 e atingir um crescimento regional de 1,6% e queda na inflação, uma vez que os países estão encontrando maneiras de lidar com o recuo dos preços das commodities, segundo projeções do FMI.
Carlos Fernández Valdovinos, presidente do banco central do Paraguai, disse que o governo tem tentado melhorar sua infraestrutura para atrair novos investimentos. O Paraguai também está procurando aumentar as exportações de valor agregado, em vez de depender unicamente de commodities como a soja.
"Não estaria na hora de parar de falar em políticas anticíclicas e começar a priorizar mais as políticas estruturais?", disse ele.
Eles terão que se apressar. O Federal Reserve, banco central americano, tem afirmado que quer começar a elevar os juros nos Estados Unidos ainda este ano, o que pode debilitar as moedas de países emergentes ante o dólar. Mas mesmo se o Fed adiar a alta dos juros mais uma vez, o dólar ainda pode subir se investidores nervosos começarem a se preocupar com a desaceleração da China ou com o divórcio entre o Reino Unido e a União Europeia.
Um recuo nas moedas dos mercados emergentes podem elevar os preços das importações, derrubar a renda ajustada pela inflação e fazer com que a inflação dispare mais uma vez.
Ed Al-Hussainy, analista da gestora Columbia Threadneedle Investments, diz que ele vê um risco de o dólar registrar outra forte alta semelhante à iniciada dois anos atrás. "Se de fato nós virmos outra alta daquela magnitude, o que vai acontecer? O que vai quebrar?", disse ele.