Produtores improvisam para armazenar a colheita

27/07/2015 Agricultura POR: Valor Econômico
Embora respondam em conjunto por 34% da safra brasileira de grãos, Mato Grosso e a região do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) abrigam em torno de 26,5% da capacidade estática de armazenagem do país, com déficits persistentes nesta área e perdas no momento de negociar e escoar a produção. Para tentar driblar as deficiências na infraestrutura de armazenagem, os produtores improvisam, com o uso de silos bag (ou silos bolsa) e, nos casos extremos, estocando a produção a céu aberto, correndo riscos mais sérios de perdas, afirmam Nelson Piccoli, diretor financeiro e administrativo da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso (Famato), e Ivanir Maia, diretor de Relações Institucionais da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba).
No Cerrado mato­grossense, reforça Piccoli, "muitos (produtores) estão usando os silos bag provisoriamente até conseguir espaço em algum armazém para fazer a limpeza dos grãos, o que significa mais custos para o setor".
Quando nem os silos bolsa estão disponíveis, completa Piccoli, "a estocagem é feita no tempo mesmo". No oeste baiano, acrescenta Maia, embora os silos bolsa sejam a alternativa mais usada, alguns produtores optam por retardar a colheita, o que vale especificamente para o milho, "mantendo a espiga no campo, o que reduz a qualidade do grão".
A forte presença de grandes tradings na região, continua Maia, acaba amenizando os problemas gerados para os produtores pelo déficit de armazenagem, já que aquelas companhias oferecem melhor infraestrutura para guardar e escoar a safra e trabalham mais agressivamente no mercado, com a compra antecipada da produção.
O crédito mais barato e a prazos mais longos das linhas de financiamento para construção e ampliação de armazéns não chegou a produzir os resultados esperados, observam Piccoli e Maia. "Apesar de ser o maior produtor de grãos do país e ter o maior déficit, Mato Grosso ocupou apenas a terceira posição na contratação de crédito para armazenagem", aponta o diretor da Famato. A burocracia e as exigências de garantias, diz Piccoli, dificultam o acesso aos recursos. "Mesmo com recursos do plano safra disponíveis há alguns anos, a custos competitivos, a região pouco avançou em termos de ampliação da capacidade de armazenagem de grãos", diz Maia.
Dados do Instituto Mato­grossense de Economia Agropecuária (Imea) mostram que Mato Grosso colheu, na safra 2014/15, 49,6 milhões de toneladas entre milho, soja e caroço de algodão, para uma capacidade estática total inferior a 31,9 milhões de toneladas. O déficit estimado pela Famato, que considera a metodologia recomendada pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), cresceu 14% entre 2014 e este ano, saindo de 22,7 milhões para quase 26,0 milhões de toneladas. A safra cresceu em praticamente 4,0 milhões de toneladas, mas a capacidade dos armazéns avançou modestamente, num acréscimo de 776 mil toneladas, ressalta Piccoli.
Na sua avaliação, o cenário não tende a ser melhor na safra que começa agora. "Com o corte no volume de crédito e, principalmente, com o aumento da taxa de juros, a tendência é que tanto os produtores quanto os bancos que disponibilizam esses recursos diminuam as operações, uma vez que o risco dessa mudou consideravelmente da safra passada para essa", aponta Piccoli. A programação do crédito rural para a safra 2015/16 manteve prazos de 15 anos para o setor de armazenagem, incluindo três de carência, e elevou os juros para 7,5% a 9,0% ao ano, reduzindo em 47% o volume de recursos orçados, de R$ 4,5 bilhões alocados para o ciclo encerrado em junho deste ano para R$ 2,4 bilhões.
Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produção de grão no Matopiba aumentou 47% entre 2010 e o ano passado, saindo de 12,3 milhões para 18,1 milhões de toneladas (5,8 milhões a mais), enquanto a capacidade da rede de armazéns na região avançou 9,5%, para 8,65 milhões de toneladas, num acréscimo de apenas 750,6 mil toneladas no mesmo intervalo.
Segundo Maia, como os produtores do oeste baiano registram baixa contratação dos recursos disponibilizados para armazenagem, "o atual corte não resultará em grande interferência, até mesmo porque o momento não está favorável para novos investimentos, independente da origem dos recursos".
A indústria também já registra o impacto da demanda mais retraída. "Percebemos certa redução no mercado de bens e equipamentos de armazenagem, com queda entre 20% e 30%. Todo o setor está revendo suas posições", afirma Anastácio Fernandes Filho, presidente da Kepler Weber, líder do setor, com market share ao redor de 50%.
A carteira de pedidos da empresa, que tinha um giro entre quatro e cinco meses, passou a rodar com cinco a sete meses.
Embora respondam em conjunto por 34% da safra brasileira de grãos, Mato Grosso e a região do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) abrigam em torno de 26,5% da capacidade estática de armazenagem do país, com déficits persistentes nesta área e perdas no momento de negociar e escoar a produção.


Para tentar driblar as deficiências na infraestrutura de armazenagem, os produtores improvisam, com o uso de silos bag (ou silos bolsa) e, nos casos extremos, estocando a produção a céu aberto, correndo riscos mais sérios de perdas, afirmam Nelson Piccoli, diretor financeiro e administrativo da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso (Famato), e Ivanir Maia, diretor de Relações Institucionais da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba).

No Cerrado mato­grossense, reforça Piccoli, "muitos (produtores) estão usando os silos bag provisoriamente até conseguir espaço em algum armazém para fazer a limpeza dos grãos, o que significa mais custos para o setor".
Quando nem os silos bolsa estão disponíveis, completa Piccoli, "a estocagem é feita no tempo mesmo". No oeste baiano, acrescenta Maia, embora os silos bolsa sejam a alternativa mais usada, alguns produtores optam por retardar a colheita, o que vale especificamente para o milho, "mantendo a espiga no campo, o que reduz a qualidade do grão".
A forte presença de grandes tradings na região, continua Maia, acaba amenizando os problemas gerados para os produtores pelo déficit de armazenagem, já que aquelas companhias oferecem melhor infraestrutura para guardar e escoar a safra e trabalham mais agressivamente no mercado, com a compra antecipada da produção.

O crédito mais barato e a prazos mais longos das linhas de financiamento para construção e ampliação de armazéns não chegou a produzir os resultados esperados, observam Piccoli e Maia. "Apesar de ser o maior produtor de grãos do país e ter o maior déficit, Mato Grosso ocupou apenas a terceira posição na contratação de crédito para armazenagem", aponta o diretor da Famato. A burocracia e as exigências de garantias, diz Piccoli, dificultam o acesso aos recursos. "Mesmo com recursos do plano safra disponíveis há alguns anos, a custos competitivos, a região pouco avançou em termos de ampliação da capacidade de armazenagem de grãos", diz Maia.
Dados do Instituto Mato­grossense de Economia Agropecuária (Imea) mostram que Mato Grosso colheu, na safra 2014/15, 49,6 milhões de toneladas entre milho, soja e caroço de algodão, para uma capacidade estática total inferior a 31,9 milhões de toneladas. O déficit estimado pela Famato, que considera a metodologia recomendada pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), cresceu 14% entre 2014 e este ano, saindo de 22,7 milhões para quase 26,0 milhões de toneladas. A safra cresceu em praticamente 4,0 milhões de toneladas, mas a capacidade dos armazéns avançou modestamente, num acréscimo de 776 mil toneladas, ressalta Piccoli.
Na sua avaliação, o cenário não tende a ser melhor na safra que começa agora. "Com o corte no volume de crédito e, principalmente, com o aumento da taxa de juros, a tendência é que tanto os produtores quanto os bancos que disponibilizam esses recursos diminuam as operações, uma vez que o risco dessa mudou consideravelmente da safra passada para essa", aponta Piccoli. A programação do crédito rural para a safra 2015/16 manteve prazos de 15 anos para o setor de armazenagem, incluindo três de carência, e elevou os juros para 7,5% a 9,0% ao ano, reduzindo em 47% o volume de recursos orçados, de R$ 4,5 bilhões alocados para o ciclo encerrado em junho deste ano para R$ 2,4 bilhões.
Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produção de grão no Matopiba aumentou 47% entre 2010 e o ano passado, saindo de 12,3 milhões para 18,1 milhões de toneladas (5,8 milhões a mais), enquanto a capacidade da rede de armazéns na região avançou 9,5%, para 8,65 milhões de toneladas, num acréscimo de apenas 750,6 mil toneladas no mesmo intervalo.
Segundo Maia, como os produtores do oeste baiano registram baixa contratação dos recursos disponibilizados para armazenagem, "o atual corte não resultará em grande interferência, até mesmo porque o momento não está favorável para novos investimentos, independente da origem dos recursos".
A indústria também já registra o impacto da demanda mais retraída. "Percebemos certa redução no mercado de bens e equipamentos de armazenagem, com queda entre 20% e 30%. Todo o setor está revendo suas posições", afirma Anastácio Fernandes Filho, presidente da Kepler Weber, líder do setor, com market share ao redor de 50%.

A carteira de pedidos da empresa, que tinha um giro entre quatro e cinco meses, passou a rodar com cinco a sete meses.