Produzir mais com menos: sistema ILPF é tema de congresso internacional

02/07/2021 Noticias POR: Eddie Nascimento

É possível variar a produção em uma mesma área com o sistema de integração - crédito foto: Gabriel Faria/Embrapa

 

O ILPF — Integração Lavoura-Pecuária-Floresta é uma tendência mais presente na agricultura brasileira. Com ele é possível o produtor trabalhar de maneira eficaz com diferentes sistemas produtivos em uma mesma área. A ideia surgiu como uma alternativa para aumentar a produção alimentar, utilizando um mesmo espaço agrícola, evitando assim ter que expandir novas áreas produtivas dentro do território nacional.

O uso de novas formas agrícolas vem ao encontro com as novas medidas adotadas que visam unir produção com sustentabilidade. De acordo com um estudo feito pela Sire — Secretária de Inteligência e Relações Estratégicas da Embrapa, o Brasil é responsável por alimentar 800 milhões de pessoas no mundo. Por conta disso, o país vem investindo no desenvolvimento de novas formas de produção para garantir a segurança alimentar das próximas gerações e entra como destaque nesse quesito o sistema ILPF.

O uso do ILPF traz ao produtor, vantagens que vão além dos ganhos com cada produção. Ele ganha com o uso mais eficiente de seus recursos com a terra, mão de obra e insumos, além de ter uma melhoria da qualidade do solo, do uso da água e até a redução do uso de defensivos agrícolas.

Durante um congresso realizado em maio foram discutidas as novidades dessa ideia que vem crescendo, não somente no Brasil, mas vem ganhando espaço em outras produções mundiais. O assunto foi tema do 2º Congresso Mundial de ILPF 2021, realizado na cidade de Campo Grande no Mato Grosso do Sul.

Devido à pandemia da Covid-19, o encontro foi realizado em formato 100% digital e reuniu diversas autoridades e estudiosos do sistema de produção. Entre elas, o presidente da comissão organizadora do Congresso e diretor do Departamento de Apoio à Inovação para Agropecuária, da Secretaria de Inovação, Desenvolvimento Rural e Irrigação do Mapa — Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Cleber Soares; o representante do IICA — Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura no Brasil, Gabriel Delgado; o representante da Fao — Organização para a Alimentação e Agricultura no Brasil, Eduardo Mansur; o presidente da Associação Rede ILPF e presidente da John Deere do Brasil, Paulo Herrmann; o presidente da Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, Celso Moretti; e, Fernando Silveira Camargo, secretário de Inovação, Desenvolvimento Rural e Irrigação, no ato representando a ministra do Mapa, Tereza Cristina.

Autoridades cometam sobre o ILPF

Durante a cerimônia de abertura, as autoridades ressaltaram a importância do ILPF na produção brasileira. O presidente da Embrapa, Celso Luiz Moretti apresentou dados importantes sobre os benefícios da implantação do sistema. Em seu discurso, Moretti destacou a satisfação em promover o segundo congresso mundial e fez uma análise de outros projetos desenvolvidos nesse momento pela Embrapa. O presidente apontou também que a ILPF é um dos pilares do plano ABC+ para a redução dos gases do efeito estuda no setor agropecuário.

Já o diretor Cleber Soares destacou que é importante discutir novas formas contemporâneas de produzir. “A ILPF são sistemas contemporâneos para uma agropecuária eficiente, sustentável e resiliente. São tecnologias e inovações que dialogam com os anseios da sociedade”, comenta. “Vivemos um momento ímpar no mundo, onde todos clamam por resiliência em todas as cadeias produtivas”, acrescenta.

Soares comentou ainda sobre a sustentabilidade que o sistema traz, e vê a segurança alimentar como grande desafio para futuro. Em sua análise, ele vê o congresso como ponto essencial para as reflexões sobre esse processo. “Nada como superar os desafios por meio da inovação. Estamos provando para o mundo que é possível fazer uma agricultura alinhada com os anseios da sociedade”, destaca.

O tema ABC+ também fez parte da discussão. Gabriel Delgado do aproveitou para falar de outras ações do Mapa, como o programa de “Agricultura de Baixo Carbono”, lançado em abril. Delgado vê como primordial a união de todos os países, principalmente os da América do Sul em busca das novas tecnologias de produção. Ele também destacou os trabalhos desenvolvidos pela Embrapa. “É fundamental a manutenção da produção dos alimentos, em particular para todos os países da América do Sul. A tecnologia é muito importante para cumprir essa agenda e sempre trabalhamos por uma agricultura forte e sustentável”, ressalta.

A discussão em torno da parte positiva é importante, mas também os desafios devem ser comentados. Essa é a visão do diretor da Fao, Eduardo Mansur. Em sua fala ele destacou a contribuição do setor agrário brasileiro e comentou sobre os três pilares da sustentabilidade, o social, o econômico e o ambiental. “Penso que o mais importante não é só discutir a parte boa, mas os desafios, porque temos que transformar isso em oportunidades. O maior deles é a pandemia da Covid-19 na economia mundial, sabemos da tragédia que ela representa”, lembra.

Mansur fez questão de pontuar as políticas que precisam ser adotadas para que a ILPF aconteça. O diretor também ressaltou que a vinculação da ILPF com a mudança climática, aliada à agricultura de baixo carbono é importante para a que o setor agrícola brasileiro passe a ser visto como um mecanismo de contribuição para a baixa emissão de carbono. “Sistemas integrados com políticas definidas são opções muito válidas para aumenta a produtividade”, frisa.

Durante o congresso, o presidente Paulo Herrmann, projetou que em 2031, um terço da produção brasileira virá de hectares integrados. Para Herrmann, o momento é de acelerar a difundir ainda mais os conhecimentos adquiridos em torno da ILPF. “Esse congresso ocorre no momento mais adequado para discurtirmos essa digitalização no campo”, disse o presidente que prevê um salto de 1 milhão para 17 milhões de hectares no sistema ILPF.

Representando a ministra Tereza Cristina, o secretário Fernando Silveira Camargo, em sua participação apontou os pontos positivos do programa ABC+ e destacou outras ações que serão lançadas pelo Governo Federal. Ele vê como de extrema importância o sistema ILPF e destaca que a inovação e a sustentabilidade devem sempre caminhar juntas nesse processo. “A inovação e a sustentabilidade são os grandes 'drives'. Os sistemas de integração vêm sendo adotados no Brasil em todos os biomas e é um dos pilares do plano de agricultura de baixo carbono. Aqui o binômio produzir alimentos e conversar é levado muito a sério e tenho certeza que seremos o grande exemplo para o mundo com relação à produção com baixa geração de carbono”, destaca Camargo.

Presidente da Embrapa destaca aumento do ILPF no Brasil

Celso Moretti foi o primeiro a apresentar seu trabalho durante o 2.º Congresso Mundial de ILPF. O presidente da Embrapa abordou o tema “Desafios para o futuro da ILPF no Brasil”.

O estudo apresentou um panorama de como era o Brasil nos anos 70, onde o país dependia da importação de alimentos e não tinha nenhuma segurança alimentar. Em sua apresentação, Moretti citou a transformação vivida pelo agro brasileiro que fez com que país evoluísse na produção de alimentos e mostrou as contribuições recentes da ILPF no sistema de produção ao longo dos últimos anos. “Eu não tenho dúvida de que a chave realmente é a ILPF, integrando as culturas com a pecuária e com a floresta, podendo ser adotada por produtores rurais de pequenos, médios e de grande porte aumentando a produtividade”, disse.

De acordo com dados apresentados pelo presidente da Embrapa, a ILPF no Brasil que em 2005 registrava 2,3 milhões de hectares, passou em 2016 para 11 milhões. A estimativa é que neste ano de 2021 avance a 17 milhões de hectares podendo chegar, em 2030, a 30 milhões de hectares no sistema.

Entre os principais desafios, Moretti pontua a recuperação e a incorporação de áreas de pastagens degradadas; o fortalecimento e a pesquisa nas áreas de ILPF, considerando o conforto térmico animal, a conservação de solo, de água e de sequestro de carbono; a possibilidade de semeadura simultânea de culturas agrícolas e pastagem no sistema; e a necessidade de estabelecer, de maneira específica, o manejo em cada bioma brasileiro. “Temos que avançar e fortalecer a pesquisa e agregar valor nos sistemas de ILPF” finaliza.


Credito foto: Gabriel Faria/Embrapa