Protagonismo e valorização: o adubo do agronegócio brasileiro

08/07/2014 Agronegócio POR: Assessoria ABAG
Clima favorável - Os contratos de milho negociados na bolsa de Chicago caíram pela quinta sessão consecutiva ontem, reflexo do clima favorável às lavouras nos Estados Unidos. Os papéis para setembro fecharam com queda de 9 centavos, a US$ 4,005 o bushel. Como a área plantada no país recuou para a safra 2014/15 - conforme indicou o Departamento de Agricultura do país (USDA) na semana passada -, o mercado olha apenas para as notícias meteorológicas, uma vez que a boa umidade neste momento pode favorecer as plantas, que estão em fase de polinização. As previsões indicam novas precipitações em nível suficiente para o desenvolvimento das lavouras do cereal. No mercado interno, o indicador Esalq/BM&FBovespa para o milho recuou 1,37%, para R$ 24,39 a saca.
Por Luiz Carlos Corrêa Carvalho
A visão sistêmica e ampla dos negócios ligados ao campo possibilita englobar atividades sofisticadas da área de biotecnologia, logística e tecnologia da informação, instrumentos de vanguarda das corporações empresariais. Essa é uma realidade bem distante daquela realidade vivida no passado. Com a emergência das cadeias produtivas, o agronegócio brasileiro teve de incorporar tecnologia e gestão para atender o seu grande mercado interno e externo. Agora é preciso lidar com a velocidade inusitada com que novos processos, produtos e serviços se renovam continuamente nesse complexo e enorme setor, de suma importância para a economia nacional.
Há 20 anos, Ney Bittencourt de Araújo criou, com companheiros progressistas, a ABAG, entidade do agronegócio que segue o conceito das cadeias produtivas, lançado em Harvard. Os elos da cadeia vão de bens de capital e insumos, passando pela produção agrícola e industrial, indo à distribuição, atacado e varejo, incluindo as exportações. Isso explica o peso e a importância da cadeia agroindustrial, hoje correspondente a 25% do PIB brasileiro.
Essa dinâmica impressionante do agronegócio no Brasil decorre da necessidade vital de ganhar competitividade. É um desafio que não se pode perder de vista no presente e no futuro, com a manutenção dos investimentos em pesquisa, desenvolvimento e inovação. Temos provas cabais e verdadeiros cases de sucesso para exaltar a capacidade empreendedora de pequenos, médios e grandes agricultores. Alçamos a posição de único celeiro do mundo em condições tropicais. Os outros países como os da União Europeia, os Estados Unidos, a Austrália e a Argentina são de clima temperado. Fizemos uma mudança monumental na forma de fazer e praticar a agropecuária em solos quimicamente mais pobres do cerrado, com o sistema de plantio direto na palha, a produção de biomassa para a produção de energia renovável e a mais recente integração lavoura, pecuária e floresta. Isso é fruto da mais pura criatividade brasileira.
Entre as discussões de cunho globais no Século 21 aparecem temas em torno das inseguranças alimentares, ambientais e energéticas. Trata-se de variáveis definidoras da paz ou da guerra. Até 2050, quando mais dois bilhões de consumidores engrossarão a demanda, os neomalthusianos ficam agitados. A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês) e a Organização Para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), duas entidades de credibilidade mundial, apontam o Brasil como responsável por 40% da oferta adicional de alimentos.
O forte vínculo da população urbana com o campo é o dado que coloca o agricultor entre as cinco profissões vitais para a vida nos grandes centros.
Com toda a potencialidade reconhecida plenamente pelo agronegócio brasileiro, um conjunto de preocupações paira no ar e ofusca o cenário de oportunidades aberto para os tempos vindouros. Interessante que a grande parte dessas apreensões não está afetas às dificuldades dentro da porteira das fazendas. Para o setor desenvolver com sustentabilidade é preciso renda. Não obstante, a política de seguro rural para o campo é ainda bem incipiente e não cobre mais de 10% da área plantada. Da mesma forma, o setor sucroenergético, de tanta esperança para o progresso tecnológico e econômico do país, fica de mãos atadas e sem rentabilidade com a política governamental de congelamento dos preços de combustíveis.
Em Brasília parece que não se respira absolutamente nada sobre agronegócio. Entre dezenas de ministérios e órgãos, apesar da produção agropecuária ter mais do que duplicado nos últimos dez anos, a expansão da infraestrutura e logística esteve praticamente represada. As deficiências crônicas em transporte e armazenagem, por exemplo, retiram a competitividade e encarecem as atividades do setor. Também falta pró-atividade no fechamento de acordos e alianças comerciais estratégicas de alcance global. Com marcos regulatórios defasados para acompanhar o progresso tecnológico e científico que acontece em outras partes do mundo, corre-se o risco de cair no isolamento.
Ignacy Sachs, cientista internacional que conhece profundamente o Brasil, comentou na Revista Estudos Avançados da USP, que "o País possui a maior biodiversidade do mundo, uma reserva confortável de solos agrícolas (mesmo que não se toque em uma só árvore da floresta amazônica), climas amenos, vantagens naturais do trópico na produção de biomassa, etc. Ao juntar todas essas coisas pode-se partir para a construção de uma nova civilização do trópico, baseada no trinômio biodiversidade, biomassas e biotecnologias".
O sucesso do agronegócio norte-americano ou europeu nos séculos passados, já é o do Brasil neste e assim será nos séculos vindouros. E este é o grande diferencial que este século reserva ao Brasil: ser a flor da geopolítica de alimentos e de energia, pelo potencial de oferta; pelos extraordinários e positivos impactos na cadeia produtiva, estímulo às indústrias e agriculturas; pelos resultados da balança comercial; pela descentralização das ofertas e dos investimentos no interior do País; pelo processo contínuo de inovações tecnológicas, que gera competitividade de forma crescente e sustentável.
As oportunidades ao Brasil no campo da agroindústria de alimentos são motivos de convocação das entidades globais. No da energia renovável somos liderança apreciada. Afinal, na lei norte-americana de energia, o etanol brasileiro da cana-de-açúcar é considerado avançado e apto para importação. Trata-se de um dos mais importantes convites que o Brasil já recebeu.
O agronegócio exibe contrastes: é valorizado pela população urbana, mas distante e desconhecido dos brasileiros que vivem nos grandes centros
A nova fase do mundo, no Século 21, mostrará as conquistas da ciência, em particular da biologia e da biotecnologia. Dessa forma, é cada vez mais difícil, mesmo para aqueles com a visão das cercanias das cidades, esconder o sucesso e o futuro do agronegócio brasileiro como um eixo dinâmico, competitivo e gerador de empregos e renda para um país de dimensões continentais.
Desconhecimento e valorização
Um dos resultados revelados pela pesquisa "A Percepção da População dos Grandes Centros Urbanos sobre o Agronegócio Brasileiro" e que confirma o forte vínculo da população urbana com o campo é o dado que coloca o agricultor entre as cinco profissões consideradas vitais para a vida dos moradores dos grandes centros. O levantamento verificou que nada menos que 83,8% dos entrevistados consideram a profissão de agricultor muito importante para quem mora nas cidades. O ranking das profissões com melhor avaliação foi liderado pelos médicos, com (97,1%), seguidos por professores (95,8%), bombeiros (94,3%) e policiais (83,9%).
A pesquisa revelou também que, na comparação com outros setores da economia, o agronegócio ficou em quinto colocado no quesito "orgulho nacional", mas que nas Regiões Centro-Oeste e Nordeste ele apareceu em segundo lugar nesse conceito. O Centro-Oeste representa hoje a região brasileira que mais consciência tem sobre o agronegócio, enquanto o Sudeste é o menos informado sobre o tema, levando à conclusão de que o agronegócio exibe contrastes: é respeitado e valorizado pela população urbana, mas distante e desconhecido.
Grande parte das organizações ainda não percebeu o poder da agrossociedade. O link direto campo-cidade e agricultor-consumidor é a mágica.
Entre os jovens urbanos, na faixa etária de 16 e 24 anos, 48,7% afirmam não conhecer a atividade do agronegócio. No que diz respeito a classes sociais, os entrevistados das classes A e B, além de apresentarem maior conhecimento sobre o setor, também fazem associações mais diversificadas com o tema, relacionando o tema com agricultura (40,5%), atividades como comércio (16%) e produção e indústria (9,2%).
As profissões relacionadas com agronegócio também foram avaliadas. Na pesquisa, engenheiro agrônomo foi a profissão mais lembrada, com 75,5% das citações. Em seguida, apareceram: engenheiro ambiental (51,5%), peão (45,5%), médico veterinário (37,5%), administrador (27,4%), nutricionista (25,2%), químico (22,6%) e economista (21,9%).
A partir desse levantamento foi possível avaliar que o consumidor espera a qualidade de vida, a paz do campo e o contato com a natureza, mas sem perder as facilidades que uma cidade oferece. Culinária e música são os dois elos mais fortes conectando cidade e campo no país.
Grande parte das organizações do agronegócio ainda não percebeu o poder da agrossociedade. O link direto campo-cidade, agricultor-consumidor é a mágica.
Crise de Identidade
Há algum tempo, se identifica uma recorrente dificuldade da população dos grandes centros urbanos brasileiros de entender a importância do agronegócio para a sua vida, para o cotidiano da sua família e não apenas para atender suas necessidades básicas por alimentos, vestuário e transporte, mas o impacto positivo da força desse setor no custo de vida dos lares brasileiros.
Essa hipótese foi testada, em uma pesquisa feita pela ABAG, em parceria com a ESPM, para avaliar "a percepção da população dos grandes centros urbanos sobre o agronegócio Brasileiro" nas doze maiores capitais do país. Os resultados mostraram que em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, o conceito predominante e muito bem-aceito é o da agricultura e o da pecuária, enquanto, que em Goiânia e Porto Alegre, com influências fortemente rurais, predominou a visão das cadeias produtivas do agronegócio - que não separa a indústria da produção.
A leitura dos documentos nos livros de História sobre o Brasil, desde as capitanias hereditárias, o escravagismo de índios e negros e os movimentos econômicos complexos, são comumente explicados como ciclos de exuberância e declínio. Isso talvez esclareça a motivação para o forte dogma de resistência contra o agronegócio. Seria um fenômeno no mínimo interessante, pois as contas brasileiras dependem totalmente desse setor.
Nos Estados Unidos, a história também mostra o passado de escravagismo e o massacre de povos indígenas. A Europa conquistou e explorou à força as suas colônias. A mácula desses registros cabe à toda sociedade. Hoje, o agronegócio, nesses países desenvolvidos, é protegido e estimulado por seus governos, independentemente do partido que estiver no poder.
Assistimos à recorrente falta de bom senso em ações como: a caça, pelo governo, ao boi no pasto; a discussão, impregnada de ideologia e sem embasamento técnico, do novo Código Florestal; o Movimento dos Sem Terra, em processo de evaporação, sendo recebido com festa pelo Governo. Em Davos, nossas lideranças comentavam sobre a falta de competitividade do etanol brasileiro à base de cana-de-açúcar em comparação ao etanol de milho dos EUA, sem recorrer aos especialistas no assunto. Ao contrário, criou-se um completo nonsense, com aulas de desconhecimento sobre o tema, em que o Brasil é liderança! Por quê?
Os países que competem com o Brasil nas commodities agrícolas festejam as nossas dificuldades, hoje chamadas de custo Brasil. Muitas empresas nacionais e multinacionais, geradoras de produção e empregos, sofrem com isso, tendo de enfrentar sérios problemas para explicar esse nó aos seus acionistas. Isso não só desarticula as cadeias de produção, como cria barreiras para novos investimentos de capital externo, fundamentais para o crescimento da oferta de alimentos e de energias renováveis, baseada na biomassa brasileira.
As mudanças geopolíticas no século 21 evidenciam-se por uma nova conjunção de informação, muito mais acessível no meio digital, por conta da massificação das redes sociais. Como os silos de informação tornaram-se mais permeáveis e o processo de formação de opinião migrou do monopólio dos grandes grupos de comunicação para ser uma ferramenta de uso do público, que hoje está no centro do processo.
E, assim, surgem questionamentos: onde nos colocamos como país protagonista nessa nova geopolítica do século 21? Como os alimentos e as energias da biomassa (etanol, biodiesel, energia elétrica cogerada) podem ser os destaques globais do Brasil sem que o agronegócio tenha um tratamento diferenciado e políticas públicas adequadas para produzir de forma sustentável?
Este é um ano bem especial para o Brasil, com a as realizações das eleições para a Presidência da República, governadores de estados e parlamentares do Congresso Nacional. A ABAG, por sua vez, promove em São Paulo, no próximo dia 04 de agosto, o 13º Congresso Brasileiro do Agronegócio, sob o tema "Agronegócio brasileiro: valorização e protagonismo". Debateremos as políticas públicas para os principais temas das cadeias produtivas: desenvolvimento sustentável, competitividade, orientação a mercados, segurança jurídica e governança institucional. Para tanto, serão apresentados vídeos com os posicionamentos e pronunciamentos dos candidatos melhores colocados nas pesquisas à Presidência da República. As principais entidades nacionais do agronegócio de âmbito nacional serão convidadas para participarem diretamente dos debates.
(Luiz Carlos Corrêa Carvalho é presidente da Associação Brasileira de Agribusiness – ABAG)