Protagonistas da história de um livro chamado agronegócio

Agronegócio POR: Fernanda Clariano

Evento realizado on-line destacou a relevância feminina no agro brasileiro

Tereza Cristina: “Mesmo durante a pandemia o agro não parou, conseguimos manter essa indústria a céu aberto trabalhando de forma eficiente”

A ascensão feminina no agro vem se consolidando cada vez mais onde as mulheres se fazem presentes, seja como empreendedoras rurais, pecuaristas, pesquisadoras ou executivas de empresas do setor. Em 2020, a pandemia da Covid-19 fez o mundo praticamente parar, mas o agronegócio brasileiro seguiu firme com a tarefa de garantir o abastecimento alimentar no país e grande parte deste esforço veio da participação feminina.

Com o tema “Mulher Brasileira: A Voz Global” foi realizado no final do mês de outubro, em formato on-line, a 5ª edição do CNMA – Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio. Por mais um ano, o evento reuniu várias profissionais para trocar ideias e experiências e valorizar a gestão feminina para um avanço inovador, rentável, sustentável e ético. 

No primeiro dia do evento, a ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil, Tereza Cristina, participou da mesa-redonda “Ambiente Econômico e Político”, onde falou sobre a importância da agropecuária na retomada da economia brasileira no pós-pandemia e o acordo da União Europeia – Mercosul. “O acordo, como um todo, tem vantagens para os dois lados, não só no agro, mas em diversos outros setores. Porém, para isso temos que colocar na mesa esse debate e discutir o que for preciso de maneira responsável, mostrando o que temos de bom e onde avançar e melhorar. Colocando na balança, no entanto, temos mais exemplos bons do que ruins. Os produtores europeus que combatem a nossa agricultura são fruto de desinformação”.

Sobre o setor, a ministra destacou que a agropecuária brasileira tem e terá um papel cada vez maior na recuperação da economia do país pós-pandemia e também elogiou o desempenho das produtoras rurais frente aos desafios enfrentados por elas.

A voz feminina no agro

Adriana Rosso: “O fruto de um trabalho feito com amor atinge sua plenitude na colheita e a colheita sempre vem na hora certa”

O painel “Minha Voz No Agro” aproximou, mesmo que on-line, algumas mulheres protagonistas do setor que superaram obstáculos e vêm se destacando e, dentre as várias participantes, a proprietária da Frutto Della Terra,  Adriana Rosso. A empresária que sempre morou na cidade se casou aos 16 anos e foi viver no campo, onde passou a cuidar dos negócios burocráticos da família do esposo - produtor de banana em Criciúma-SC, mas não se assumia agricultora. Com o tempo, Adriana começou a buscar alternativas e agregar valor à cultura com a produção de chips de banana, alavancando os negócios e, em 2017, foi eleita por unanimidade por um grupo de 17 homens à presidência da Abacri – Associação de Bananicultores de Criciúma.

“Busquei agregar valor à cultura, me edifiquei depois de passar por várias dificuldades e estou colhendo os frutos das sementes que plantei. Muitas mulheres não têm a consciência do espaço que lhe cabem e só percebi que eu tinha o meu quando fui eleita por um grupo de homens. A mensagem que carrego para a vida é que o fruto de um trabalho feito com amor atinge sua plenitude na colheita e a colheita sempre vem na hora certa. Hoje consigo levar para várias mulheres a mensagem de que elas não precisam estar no campo para serem agricultoras e conquistarem seus espaços”.

Fabiana Villa Alves, Ieda de Carvalho Mendes e Rosa Lia Barbieri

Ciência, inovação e tecnologia

É comum vermos em filmes e quadrinhos que a figura do pesquisador no laboratório é sempre de um homem, mas as mulheres estão cada vez mais quebrando esses estereótipos e mostrando os trabalhos de ponta que vêm realizando. No 5º CNMA, pesquisadoras da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) debateram em torno de projetos desenvolvidos ao longo de anos e as recentes descobertas para a pecuária e agricultura.

“Hoje somos exportadores de ciência, conceitos, sistemas como a ILP – Integração Lavoura-Pecuária e a ILPF – Integração Lavoura-Pecuária-Floresta. Mostramos que a pecuária não é a vilã - na verdade, ela é uma das grandes soluções dentro do conceito e das mudanças climáticas devido às emissões de gases de efeito estufa”, disse a pesquisadora da Embrapa Gado de Corte, Fabiana Villa Alves, que é representante do governo brasileiro na Agenda Global para a Pecuária Sustentável, da FAO, desde 2007. A pesquisadora ainda evidenciou que o Brasil tem atualmente por volta de 12,5 milhões de hectares em sistemas de integração, de onde há muitos dados sobre os seus benefícios para o solo, para a diversificação de renda, para o bem-estar animal, o melhor uso da área e ainda de como os animais conseguem produzir mais.

A pesquisadora da Embrapa Cerrado, Ieda de Carvalho Mendes, que trabalha com solos, apresentou a BioAS, uma tecnologia que analisa a saúde do solo. “Por meio dessa tecnologia, o agricultor sabe exatamente se ele está fazendo um manejo que está adoecendo ou contribuindo para a saúde do seu solo. Um solo saudável é muito importante porque emite menos gás de efeito estufa, sequestra mais carbono, armazena mais água, gera plantas mais saudáveis, tem mais potencial no controle biológico de doenças e pragas. Essa é uma pesquisa pioneira, pois nenhum outro agricultor no mundo tem esses dados na sua análise”, garantiu a pesquisadora. Ieda ainda pontuou que, ao cuidar da saúde do solo, ele será mais produtivo e prestará ainda serviços ambientais. “Com essa tecnologia, esperamos que no futuro, assim como acontece com a Carne Carbono Neutro, o agricultor que realmente investe na saúde do solo possa receber por esse serviço ambiental, porque ele contribui para si, para a sociedade e para o planeta”.

Vale ressaltar também que nos próximos dois anos o Painel Consultivo Internacional (IAP, sigla em Inglês), na gestão do Banco Global de Sementes de Svalbard, na Noruega, irá contar com a participação de uma pesquisadora da Embrapa. Rosa Lia Barbieri é supervisora na Coordenação Técnica no Sistema de Curadorias de Germoplasma na instituição de pesquisa, que será a única da América Latina presente no Painel.

Prêmio Mulheres do Agro

O prêmio Mulheres do Agro foi idealizado pela Bayer e organizado pela Abag e está em sua terceira edição. O intuito é reconhecer, divulgar histórias e incentivar as agricultoras que estão dando um show no campo, além de valorizar as boas práticas agropecuárias e a gestão sustentável com foco nos pilares econômico, social e ambiental.

“É muito interessante chegarmos em 2020 e ver que 43% das propriedades são administradas por mulheres. Com esse prêmio celebramos não só a diversidade, mas o diálogo entre os diferentes, os divergentes na busca por um agro melhor. São nas dicotomias que construímos um agro melhor, através de um diálogo permanente e constante baseado numa comunicação concreta e real”, disse o presidente da Abag, Marcello Brito.

Este ano cerca de 200 mulheres se inscreveram, sendo nove delas premiadas nas categorias pequenas, médias e grandes propriedades.

  • Na categoria pequena propriedade as vencedoras foram:

1° lugar - Mara Motter (Três Arroios/RS) / 2° lugar - Simoni Tessaro Niehues (Serranópolis do Iguaçu/PR) / 3° lugar – Tatiele Dalfior Ferreira (Governador Lindenberg/ES)

  • A categoria média propriedade teve como vencedoras:

1° lugar - Clarisse Liana Weber Volski (Pitanga/PR) / 2° lugar - Michelle Rabelo (Patos de Minas/MG) / 3° lugar - Kamila Laida Guimaraes Aguiar (Rio Verde/GO)

  • Em grandes propriedades foram premiadas:

1° lugar - Luciana Dalmagro (Ribeirão Preto/SP) / 2° lugar - Simone Felisbino (Rio Verde/GO) / 3° lugar - Flávia Montans (Rio Verde/GO)