Que situação complexa na cana!

01/12/2021 Marcos Fava Neves POR: * MARCOS FAVA NEVES ** VÍTOR NARDINI MARQUES *** VINÍCIUS CAMBAÚVA

* Marcos Fava Neves é professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP, em Ribeirão Preto, e da FGV, em São Paulo, especialista em Planejamento Estratégico do Agronegócio. Confira textos, vídeos e outros materiais no site doutoragro.com e veja os vídeos no canal do Youtube (Marcos Fava Neves).

** Vítor Nardini Marques é mestrando em Administração de Organizações pela FEA-RP/USP.

*** Vinícius Cambaúva é associado na Markestrat Group e mestrando pela FEA-RP/USP.

 

Reflexões dos fatos e números do agro em outubro/novembro e o que acompanhar em dezembro

Na economia mundial e brasileira

• No Brasil, seguimos com deterioração do cenário econômico, considerando os principais indicadores. O relatório Focus do Banco Central do Brasil (Bacen) de 16 de novembro trouxe expectativas para o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) de 2021 em 9,77%, e de 2022 em 4,79%. Já para o PIB (Produto Interno Bruto), espera-se um crescimento de 4,88% neste ano e de 0,93% em 2022. Para taxa Selic, o mercado espera 9,25% e 11,0%, respectivamente, e no câmbio, R$ 5,50 no final de 2021 e no final do próximo ano. Inflação de volta, juros altos, câmbio excessivamente desvalorizado e crescimento econômico bem mais fraco.

• Segundo a OMC (Organização Mundial do Comércio), o comércio global de mercadorias está desacelerando neste final de ano. Os cálculos do barômetro (mecanismo que mostra em tempo real a trajetória do comércio mundial) apontam valores de 99,5, contra 110,4 em agosto; lembrando que quando o valor está acima de 100, temos um crescimento acima da tendência esperada. Na conjuntura atual, o índice de componentes eletrônicos está em 99,6; o de transporte em contêineres em 100,3; o de matérias-primas em 100,00; e o de frete aéreo em 106,1 (único que permaneceu de forma relevante acima da tendência). Mas as perspectivas para a economia mundial no ano que vem se mantêm ao redor de 4,7%, o que é um bom número.

• Foi um mês de piora nos indicadores. No agro mundial e brasileiro é o estado com maiores avanços até aqui, com 96,0% do plantio já concluído. No milho verão, o progresso era de 54,4%, pouco acima dos 53,1% registrados na mesma data de 2020/21. O Paraná lidera os avanços, com 98,0% das áreas já plantadas com o cereal.

• Em outubro, as exportações do agronegócio brasileiro alcançaram US$ 8,84 bilhões, valor recorde para o mês (mais uma vez!), crescimento 10,0% em relação ao mesmo mês de 2020. Segundo o Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), a elevação nas receitas foi resultado de alta de 25,8% nos preços dos produtos, já que que os volumes caíram 12,5% no comparativo mensal. No top 5 dos produtos que mais arrecadaram, temos: na liderança, o complexo soja com US$ 2,47 bilhões (+75,7%), dos quais a soja em grão representou 70% (US$ 1,51 bilhão); na segunda posição estão as carnes, que exportaram US$ 1,51 bilhão (+3,6%), sendo que a carne de frango foi a fonte com maior participação, de 46,2% (a bovina, por sua vez, registrou queda de 31,6%, impacto das restrições nas importações da China); em terceiro, ficaram os produtos florestais, com US$ 1,20 bilhão (+17,3%); na quarta colocação aparece o complexo sucroalcooleiro, com vendas em US$ 910,9 milhões (-30,0%), setor que apresentou redução significativa nos embarques, especialmente pela queda de 28,6% nas vendas do açúcar; e fechando o top 5, em quinto, temos o café, que exportou US$ 606,7 milhões (+18,9%).

• As importações, por sua vez, somaram US$ 1,4 bilhão em outubro, crescimento de 16,7% em comparação com o mesmo mês de 2020. Como resultado, o agro brasileiro entregou um saldo positivo de US$ 7,44 bilhões (+8,8%). No acumulado de 2021 (janeiro – outubro), as exportações do agro brasileiro somam US$ 102,36 bilhões, crescimento de 19,5% no comparativo com o mesmo período do ano passado.

• O Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) também reestimou o Valor Bruto da Produção Agropecuária em 2021, com dados do mês de outubro. Agora, o órgão estima um VBP total de R$ 1,119 trilhão; 1,45% maior que a estimativa de setembro e 9,9% superior ao de 2020. As lavouras devem entregar R$ 757,23 bilhões (67,6%), com crescimento anual de 11,8%; e as cadeias da pecuária apresentarão VBP de R$ 362,72 bilhões (32,4%), alta de 6,2% no comparativo com o ano passado.

• De acordo com o estudo “Perspectivas para o Agronegócio 2022” divulgado pelo Rabobank, teremos mais um ano de preços atrativos para as principais commodities agrícolas, visto a retomada econômica global e oferta/estoques ainda limitados. A principal preocupação recai sobre o cenário fiscal brasileiro, visto a aproximação do ano de eleições, o que deve manter o real desvalorizado frente ao dólar. O banco holandês projeta a moeda americana em R$ 5,61 na média de 2022, beneficiando as exportações, mas gerando apreensão no que se refere aos custos de produção.

• Com a colheita recorde de soja esperada para 2021/22 no Brasil e os EUA consolidando a 2ª melhor safra, os preços da oleaginosa não devem se sustentar nos patamares atuais, mesmo com o aumento de importações da China em 3 milhões de t, totalizando volume de 101 milhões ao longo de 2021/22. Dessa forma, as cotações da soja devem ficar entre US$ 12,55 e US$ 12,70/bushel na média em 2022, longe dos US$ 16/bushel evidenciados em 2021.

• Já no milho, com uma reposição de estoques mais lenta e forte posição comprada da China sobre o cereal americano, os preços tendem a se manter entre US$ 5,35 e US$ 5,50/bushel. Esse cenário deve manter as cadeias de proteína animal com margens apertadas.

• No entanto, apesar das boas expectativas de produção neste ciclo, agricultores já relatam dificuldade em encontrar fertilizantes e defensivos no mercado, em decorrência da crise energética que assola China, Índia e Rússia, somada aos problemas logísticos marítimos globais com a escassez de contêineres e navios. O grande impacto disso deve ser evidenciado na temporada 2022/23, visto que para o atual ciclo grande parte dos insumos utilizadas já foram comprados e armazenados. Além do aumento de preços, há também alguns riscos de desabastecimento, visto que, com o a menor oferta, os países fornecedores devem priorizar o abastecimento doméstico ao invés das exportações. Vale lembrar que cerca de 60% dos ingredientes de defensivos e 70% dos de fertilizantes são adquiridos de fora, gerando grande dependência das importações. Sinal de alerta ligado!

• Nesse contexto, um estudo divulgado pela CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), apontou as culturas com maior variação no custo operacional efetivo na safra 2020/21, quando comparadas com a safra 2019/20. O arroz liderou a lista, com custos 34,0% maiores no ciclo passado; seguido do café conilon, com 31,3%; e da soja, que teve custos 16,4% maiores no último ciclo.

• O mês de novembro também foi marcado pela realização da COP-26, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, em Glasgow, na Escócia. Diversos acordos e compromissos foram firmados por lideranças globais durante o evento, como: a redução do desmatamento ilegal; acordos de neutralidade nas emissões e avanços na área de créditos e financiamento verde.

• Durante o evento, a OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras) lançou o “Manifesto de Cooperação Ambiental”, um posicionamento das cooperativas diante da agenda sustentável, e que descreve os princípios do setor para contribuir na redução do aquecimento global. O manifesto também aponta algumas demandas, como a regulamentação do mercado de carbono mundial, a criação de leis para pagamento por serviços ambientais e os incentivos para produção renovável no ramo agropecuário.

• A consultoria especializada em sustentabilidade WayCarbon, sob encomenda da ICC Brasil (International Chamber of Commerce Brasil), realizou um estudo recente onde mostrou que o Brasil tem capacidade de gerar até R$ 100 bilhões em créditos de carbono apenas no setor do agronegócio, floresta e energia até 2030. O montante seria o equivalente a 1 bilhão de toneladas de CO2 equivalente.

• A Geo Energética, maior empresa brasileira de biogás produzido a partir de resíduos do setor sucroenergético, anunciou que pretende investir entre R$ 300 e R$ 450 milhões em 2022. De acordo com a companhia, três novos projetos já estão confirmados: a construção de novas unidades produtoras do biogás no Mato Grosso, uma em São Paulo e outra em estado do Sul (ainda não revelado). Representantes da empresa afirmam que pode haver um quarto projeto, mas que ainda está em negociação.

• A política brasileira de biodiesel tem sido alvo de discussões recentes entre entidades do setor. Neste ano, houve redução na mistura de biodiesel ao diesel convencional de 13% para 10%, justificada pela forte demanda e altos preços de comercialização da principal matéria-prima para o biocombustível, a soja. Por outro lado, muitos especialistas consideraram tal medida com um retrocesso e uma fragilização da política nacional do biodiesel, visto que no atual cenário, as importações estão sendo favorecidas em detrimento à indústria de biodiesel. Além disso, há preocupações de como essa mudança pode ferir a reputação do país, que vinha se consolidando com um dos principais países da pauta das energias renováveis.

• Ainda dentro da temática do biodiesel, a partir de 1º de janeiro de 2022 os leilões para o produto deixarão de existir, ficando vigente apenas a negociação direta entre produtores e distribuidores. A Ubrabio (União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene) sinalizou preocupações quanto à medida, alegando que as grandes distribuidoras devem concentrar as aquisições, reduzindo os estoques disponíveis e pressionando os preços.

• Para concluir a nossa análise geral do agro, os preços dos principais produtos no fechamento desta coluna eram: a soja Dezembro para entrega em cooperativa de São Paulo estava em R$ 158/ sc e R$ 150/sc para fevereiro de 2022. No milho, a cotação atual está em R$ 82,00/sc e a entrega em maio de 2022 fechou em R$ 83/sc (B3). O algodão fechou em R$ 199/arroba e para junho de 2022 em 186/arroba; e o boi gordo em R$ 303 / arroba, sensivelmente acima do mês passado.

• Nossa leitura de preços pelos fatos disponíveis hoje: preços de soja, milho e algodão: tendências de manutenção com viés de baixa. Preços de cana, laranja e café, tendências de manutenção. Preços das carnes: tendência de manutenção e ligeiro viés de alta.

Os cinco fatos do agro para acompanhar em dezembro são:

1. A conclusão dos plantios da primeira safra e a qualidade das lavouras;

2. O comportamento de compra, de preços e da oferta de defensivos e fertilizantes;

3. O fechamento da safra americana, com a consolidação dos números finais. Devem variar muito pouco em relação ao que já conhecemos;

4. Uma possível volta da China às compras de carne bovina;

5. A situação mundial de crise energética (escassez de carvão, preços do petróleo, do gás natural e outros), aumento da incidência do coronavírus na Europa e Ásia, acompanhar dia a dia o que acontece na China, Índia e em outros produtores de químicos e fertilizantes para entendermos o que serão os próximos meses.

Reflexões dos fatos e números da cana em outubro / novembro e o que acompanhar em dezembro

Na cana

• Até o dia 01 de novembro de 2021, a moagem acumulada de cana-de-açúcar da safra 2021/22 na região Centro-Sul havia alcançado 504,41 milhões de t, valor 10,85% inferior àquele constatado no mesmo período do ciclo passado, de acordo com a União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica). 138 unidades processadoras já encerram a safra, e outras 87 devem fechar o ciclo até 15 de novembro. Estima-se que 97% da safra já esteja colhida, ou seja, 7,35 milhões de hectares.

• Com relação à qualidade da matéria-prima, o teor acumulado de ATR também é inferior ao da safra anterior, 142,82 kg/t (-8,13%).

• Já no monitoramento da produtividade dos canaviais, divulgado pelo CTC (Centro de Tecnologia Canavieira), constatou-se uma redução de 11,2% no rendimento da produção em outubro, atingindo 55,4 t por hectare, contra 62,4 t por hectare do mesmo mês de 2020.

• Segundo dados da consultoria Czarnikow, os custos médios de produção da cana-de-açúcar cresceram 20% nas últimas duas safras, especialmente por conta da elevação nos preços de insumos, os quais representam 50% dos custos totais da cultura. Por conta disso, muitos produtores têm reduzido a aplicação de fertilizantes e buscando alternativas, como a torta de filtro para as lavouras. Os principais fatores que impulsionaram essa elevação nos custos foram: o câmbio (desvalorização do real); custos elevados para o transporte (especialmente marítimo; contexto da falta de contêineres); e a escassez de matérias-primas (crise energética na China e outros).

• As estimativas mais recentes da Czarnikow apontam que a safra de cana-de-açúcar no Centro-Sul, no ciclo 2021/22, deve mesmo fechar em torno de 520 milhões de toneladas moídas. Para a próxima, a consultoria estima uma moagem total de 540 milhões de toneladas.

• Já a Datagro estima uma moagem entre 530 e 565 milhões de toneladas na safra 2022/23, sendo que devem ser produzidos 33,7 milhões de toneladas de açúcar. Segundo a consultoria, a moagem só deve ultrapassar novamente a marca de 600 milhões de toneladas na safra 2023/24. Para o ciclo atual, a Datagro estima um fechamento em 518,6 milhões de toneladas.

• O clima desfavorável é o grande vilão do setor nesta temporada. Os canaviais da região Centro-Sul e principalmente do estado de São Paulo sofreram com o forte período de estiagem, geadas, além de incêndios registrados acima da média. Assim, a produção despencou quase 15% em relação a estimativa inicial de 605 milhões de t, agora avaliada em 520 milhões de t. Apenas em São Paulo, a queda de produção foi avaliada em 55 milhões de t, o que equivale a produção total de Minas Gerais ou de toda a região Nordeste.

• Apesar das adversidades com geadas e incêndios acima da média, a São Martinho apresentou resultados positivos no segundo semestre da safra 2021/22, com lucro de R$ 368,4 milhões, 11% maior em comparação ao ciclo passado. Os preços mais atrativos do etanol (+68,2%) e do açúcar e energia cogerada (+40%) permitiram a geração de uma receita líquida de R$ 1,4 bilhão (+54%) e um Ebitda de R$ 790 milhões (+65,9%).

• Em outubro, a produção nacional de CBIOs (Créditos de Descarbonização) totalizou 2,54 milhões de títulos, gerando um valor acumulado de 25,77 milhões nos dez primeiros meses do ano, de acordo com ItaúBBA. Dessa forma, a oferta de CBIOs já é superior à meta de aquisição por parte das distribuidoras, de 24,9 milhões.

No açúcar

• Na segunda quinzena de outubro, a produção de açúcar na região Centro-Sul brasileira apresentou retração de 50% em comparação ao mesmo período da safra anterior, somando 858,2 mil t, de acordo com levantamento da Unica. Por sua vez, no acumulado desde o início do ciclo até 01 de novembro, o volume do adoçante alcançou 31,22 milhões de t, refletindo uma redução de 14,27% no período.

• Segundo levantamento da Archer Consulting, as usinas brasileiras fixaram os preços de 1,2 milhão de t de açúcar para a temporada 2022/23 no mês de outubro, a um valor médio de R$ 2,488/t. Dessa forma, 11 milhões de t já estão com posições fechadas para o próximo ciclo, representando 43,25% do volume estimado. Na temporada anterior, esse índice era de 45%, apenas dois pontos percentuais acima.

• No mercado futuro, a Archer Consulting indica que as cotações do açúcar para a safra 2022/23 estão em R$ 2,386 por tonelada; e as do ciclo 2023/24 em R$ 2,154 por tonelada - valores de contratos a termo de dólar com liquidação financeira (NDF) e descontada a taxa de juros básica da economia (7.75% ao ano).

No etanol

• Considerando a segunda quinzena de outubro, foram produzidos 527,4 milhões de litros de etanol hidratado na região Centro-Sul, o que equivale a uma queda de 39,71% frente a mesma quinzena de 2020; já para o anidro a produção foi de 526,3 milhões de litros (-17,46%) – os dados são do boletim quinzenal da Unica. No acumulado, desde 1° de abril, já foram produzidos 25,09 bilhões de litros de etanol, sendo que 10,01 bilhões do tipo anidro (40,3%) e 15,08 bilhões do tipo hidratado (60,1%). Do total produzido até o momento, 1,94 bilhões de litros (7,7%) tiveram o milho como matéria-prima.

• As vendas de etanol pelas unidades da região Centro-Sul em outubro totalizaram 2,14 bilhões de litros, queda de quase 35% em comparação aos dados no mesmo mês no ciclo passado. O saldo acumulado de comercialização desde o início da safra é de 16,9 bilhões de litros (-5,07%), sendo 993,47 milhões litros (-44,87%) destinados à exportação e os outros 15,91 bilhões de litros (-0,59%) para atender à demanda doméstica. Do volume vendido internamente, 5,99 bilhões de litros (+21,88%) são referentes a etanol anidro e 9,91 bilhões de litros (-10,56%) ao hidratado.

• Em setembro, segundo a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) as vendas de combustíveis do ciclo Otto (veículos leves) somaram 4,38 bilhões de litros, 1,5% maior que o registrado no mesmo mês de 2020. No total, foram vendidos 1,27 bilhão de litros do etanol hidratado, queda de 25,0% em relação a setembro do ano passado. No acumulado do ano (janeiro a setembro), as vendas de combustíveis cresceram 6,6%, sendo que foram comercializados 13,16 bilhões de litros do etanol hidratado (-4,3%) e 28,23 bilhões de litros de gasolina (+10,7%).

• Um fator que tem preocupado é a possibilidade de problemas com a distribuição de combustíveis. Segundo a Petrobras, em novembro, a demanda por diesel cresceu 20% em relação a novembro passado (período pré-pandemia); e para a gasolina cresceu 10,0%. A Brasilcom, associação nacional de distribuidores, afirma que as empresas nacionais não têm condição de comprar combustível do exterior por conta dos preços bastante elevados. A Petrobras opera com 90,0% da sua capacidade; no primeiro semestre, a média foi de 79,0%.

• Por outro lado, segundo a Tereos, o estoque brasileiro de etanol deve ser suficiente para atender toda a demanda interna durante o período de entressafra da cana-de-açúcar, até abril do próximo ano. Isso porque, apesar da forte recuperação no consumo do biocombustível nos últimos meses, estamos com a menor participação do etanol no Ciclo Otto dos últimos 5 anos; assim, os níveis de demanda serão atendidos pela nossa capacidade de estoque.

• A Raízen afirmou que tem conseguido vender o etanol de segunda geração (E2G) e/ou etanol celulósico com prêmios de 70% em relação ao preço do convencional. Esses valores foram conquistados pela companhia por meio de vendas ao mercado americano, que recompensa o produto de acordo com o tipo de tecnologia de produção (são os RINs do biocombustível); quanto mais limpo, maior o prêmio. A Raízen já investiu R$ 500 milhões com este tipo de tecnologia e tem planos para novos investimentos. Atualmente, a companhia possui uma unidade produtora do etanol de segunda geração em Piracicaba – SP, e está construindo uma segunda em Araraquara, também no estado de São Paulo.

• Um novo pacote de mudanças no varejo de combustíveis foi aprovado pela ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis). Dentre as medidas, estão a liberação da venda de etanol e gasolina via delivery, além da remoção da terceira casa decimal dos preços, visando beneficiar o consumidor final, facilitando seu entendimento. Se trata de mais uma alteração que é somada ao setor neste ano, que já teve a venda direta das usinas para os postos liberada pela MP do governo federal.

• Olhando para as projeções do mercado de biocombustíveis em território nacional, a oferta de etanol deve chegar a 46 bilhões de litros em 2031 - é o que estima a EPE (Empresa de Pesquisa Energética) em seu mais recente Plano Decenal de Expansão de Energia. Além disso, a produção de eletricidade a partir do bagaço da cana está estimada em 6,2 GW para o final do período; enquanto o biogás pode alcançar um potencial de 6,5 bilhões de Nm³.

• No fechamento do nosso texto uma alegria vinda do etanol de milho. O anúncio de investimento de R$ 2,3 bilhões pela FS Bioenergia (grupo Summit) em sua terceira indústria de etanol. Esta será em Primavera do Leste (MT). Deve ser inaugurada em junho de 2023. A unidade foi projetada para moer cerca de 1,3 milhão de toneladas de milho gerando quase 600 milhões de litros de etanol.

Para concluir, os cinco principais fatos para acompanhar em dezembro na cadeia da cana:

1. Safra 2022/23: terminando a safra com cerca de 520 toneladas moídas, e com o consumo semelhante ao de 2020, esta entressafra trará emoções e os estoques devem ficar baixos. As chuvas voltaram, e se pelo menos não trarão efeitos agora já que a colheita se aproxima do final, ajudarão na cana de 2022. Mas esta apresenta atrasado estágio de desenvolvimento, e dependerá muito do que vai ocorrer até abril. Mas é fato que será uma safra menor, provavelmente ao redor de 500 milhões de toneladas e com preços altos.

2. O consumo de combustíveis agora que começam as férias no Brasil. Qual o efeito do grande aumento de preços no consumo? A gasolina subiu novamente e o etanol hidratado, ao fechar esta coluna, pelos dados da SCA, estava em R$ 4,52/l com impostos nas usinas, e o anidro em R$ 4,55/l, aumento considerável em relação ao mês passado. Existe grande tendência de se fazer mais anidro para a mistura ao crescente consumo de gasolina.

3. O barril do petróleo tipo Brent estava em US$ 81. Segue trazendo impacto na inflação. Qual será seu comportamento neste final de ano? Será que com possibilidades de novos isolamentos pode cair um pouco, mas tem a demanda de energia no inverno do hemisfério norte, enfim...

4. Ao fechar esta coluna, o açúcar estava em 20 cents/libra peso na tela de março de 2022. Observar o caminhar dos preços em dezembro, mas acredito em estabilidade.

5. Os problemas de preços e abastecimento de insumos e as necessidades da cana para boa performance na safra 2022/23. Os investimentos em renovação e nas soqueiras devem ser maiores devido aos bons preços.

Valor do ATR: no início do ciclo 2021/22, os valores de ATR registrados nos três primeiros meses (abril, maio e junho) foram de R$ 1,0141/kg, R$ 1,0564/kg e 1,0630/kg, respectivamente. Em julho, o indicador seguiu a tendência de alta, fechando em R$ 1,0878/kg. Em agosto, o mesmo comportamento, com preços em R$ 1,1425/kg. Setembro fechou com R$ 1,209/kg. E o novo dado, que se refere a outubro, indica mais um aumento, com preços agora em R$ 1,2938/kg. No acumulado da safra 2021/22, temos o valor de ATR em R$ 1,1341/kg. Acreditamos que os preços devem ficar entre R$ 1,16 a R$ 1,18 até o final deste ciclo.

HOMENAGEADO DO MÊS

Neste mês nossa singela homenagem vai para o Francisco César Urenha, o Chico Urenha, por sua histórica contribuição à Copercana e por vir conduzindo bem como diretor-presidente, a cooperativa em tempos turbulentos no Brasil e com isto contribuindo fortemente ao setor sucroenergético. Nosso forte abraço!