Reajuste esperado para a gasolina não torna o etanol competitivo

06/11/2014 Etanol POR: Portal Hoje em Dia
Os biocombustíveis representam hoje apenas 1% do uso de energia global. No entanto, as pressões relacionadas à mudança climática e à economia,em conjunto com o lançamento de uma segunda geração dessa tecnologia, definem a relevância cada vez maior desse setor, divulgou a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) nesta segunda-feira (03).
O documento sobre o estado do mercado global de biocombustíveis afirma que, apesar do seu crescimento expressivo, essas fontes de energia alternativa não devem substituir os combustíveis fósseis, mas desempenharão um papel complementário na satisfação da demanda global de energia.
"O Estado do Mercado de Biocombustíveis: Perspectivas de Regulação, Comércio e Desenvolvimento" foi lançado em 24 de setembro durante a Conferência Mercado Mundial Bio - Brasil, que aconteceu em São Paulo. O documento oferece um resumo abrangente desse mercado nos dias de hoje e contribui para incentivar o acesso às fontes de energiarenovável sustentáveis e melhorar os meios de vida das pessoas em países em desenvolvimento.
Modelo brasileiro
O documento inclui uma seção sobre o modelo brasileiro, destacando o país como o único no mundo que usa o etanol, sem misturas, como substituto direto da gasolina. Apesar de ter perdido a liderança de produção nos últimos anos para os Estados Unidos, o Brasil registrou um aumento de produção de 33% entre 2006 e 2012 e utiliza 50% do cultivo decana-de-açúcar para a produção de biocombustível.
O quadro regulatório de produção de biodiesel também recebe atenção do documento, que enfatiza o controle do governo brasileiro para garantir que esse produto seja competitivo com o diesel e proteja a agricultura familiar. Aqueles produtores industriais que comprem matéria-prima desses agricultores, e garantam assistência técnica e treinamento, podem conseguir benefícios em impostos e crédito por parte do governo.
Atualizado de um documento similar produzido pela UNCTAD em 2006, o relatório sublinha que diferente de sua primeira versão, quando o biocombustível começava a emergir no mundo, em 2014 o bioetanol e o biodiesel já são considerados parte integral da vida cotidiana em todos os continentes, graças a sua utilização no setor de transporte.
Além de oferecer uma análise do estado do mercado atual, o relatório também contém recomendações de políticas para que os países em desenvolvimento possam fazer o melhor uso dessa tecnologia. Estas incluem a criação de quadros regulatórios adaptadas para os recursos nacionais, que não antagonizem com os fornecimentos de alimentos eenergia, mas sim aumentem a produtividade agrícola, a renda rural e as habilidades dos trabalhadores.
O documento sublinha a introdução no mercado de uma segunda geração de biocombustíveis, que não utiliza produtos extraídos de culturas aráveis, como o açúcar ou óleo vegetal, mas se concentra no uso de culturas lenhosas, resíduos agrícolas ou lixo.
O tratamento desse material, no entanto, implica vários desafios para os países em desenvolvimento, afirma o relatório. Por isso, uma das recomendações é a implementação de estratégias internacionais que evitem o surgimento de uma brecha tecnológica entre a primeira geração -de uso intensivo de terras- e a segunda que requer um vasto investimento de capital.
04/11/14
Somente um reajuste de dois dígitos no preço da gasolina seria suficiente para garantir competitividade ao etanol nas bombas, segundo estimativas da Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais (Siamig).
Um aumento de preço neste patamar é pouco provável e o consumidor deverá permanecer optando pela gasolina ao abastecer. O etanol deve custar , no máximo, 70% do preço do derivado do petróleo para ser econômicamente viável, uma vez que rende, em média, 30% menos no motor do automóvel.
A Petrobras já recebeu do governo federal o aval para reajustar o preço da gasolina e especula-se uma alta em torno de 5%, mas que deverá ser executada apenas no final de novembro para minimizar seus impactos sobre a inflação anual.
"Um reajuste de 5% na refinaria fará o preço para o consumidor subir cerca de 3% porque existem outros componentes de preço. Esse percentual está longe de ser o suficiente (para tornar o álcool competitivo)", disse o presidente da Siamig, Mário Campos. 
De acordo com o último levantamento da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), realizado entre os dias 26 de outubro e 1º de novembro, o etanol, na média do Estado, tem preço de R$ 2,155 por litro, o equivalente a 73,1% do cobrado pela gasolina, de R$ 2,944 por litro. 
Em Belo Horizonte, o álcool tem preço médio de R$ 2,065 por litro, o que corresponde a 73,4% do valor da gasolina, de R$ 2,812.
Em Minas Gerais, de acordo com Campos, a paridade competitiva do etanol com a gasolina não ocorre desde 2010. Entre os fatores que influenciam a formação de preço e as condições de competição do etanol no mercado estão a alíquota praticada em Minas Gerais para o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS), de 19%, e a isenção da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) para a gasolina. 
Segundo Campos, não há risco de escassez de etanol em caso de aumento da demanda. O Estado produz atualmente 1,5 bilhão de litros ao ano e o consumo é de 700 milhões de litros anuais. "Além disso, os estoques estão com recorde histórico de 10 bilhões de litros no país, o suficiente para atravessar o período de entressafra com tranquilidade", disse.
Álcool de segunda geração
A Siamig estima que o chamado "etanol de 2ª geração", produzido a partir do bagaço e da palha da cana de açúcar tem potencial para duplicar a produção do combustível em cinco anos. 
Pelo menos duas usinas já operam com esse tipo de produção e o crescimento deste segmento depende da retomada da competitividade do derivado da cana nas bombas.
Em Minas Gerais atualmente 38 usinas são produtoras de etanol. Somadas, elas produzem 3 bilhões de litros ao ano, sendo 1,5 bilhão de álcool hidratado. Outras usinas estão com produção interrompida pelas condições adversas do mercado.
Bruno Porto