Redescobrindo o Brasil

24/04/2012 Geral POR: Sou Agro
Na semana do descobrimento, histórias de regiões que descobriram no agro uma chave para o desenvolvimento

Lívia Andrade

Mapitoba - Você faz ideia do que isso significa? A palavra nada mais é que as iniciais dos Estados considerados novas fronteiras agrícolas: Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia, mais especificamente o oeste baiano. Até o final dos anos 90, tais regiões não eram sequer consideradas pelos agricultores em função de suas características climáticas e de solo. Mas tudo passou a ser possível depois da revolução do cerrado dos anos 70.

Até aquele momento, o Centro-Oeste brasileiro era desprezado por conta dos solos ácidos, clima quente e chuva escassa. Havia até um jargão: “Cerrado só dado ou herdado”. Mas em 1971 foi criada a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a grande responsável pela propagação do conjunto de tecnologias (a correção dos solos com fertilizantes aliada a utilização de sementes adaptadas à região e à técnica conservacionista do plantio direito, que mantém a palhada no solo, preservando a matéria orgânica e impedindo a erosão), que permitiu a produção no cerrado.

Aquele foi o período histórico marcado pelos militares no poder, época do Plano de Integração Nacional cujo lema era “Integrar para não entregar”. Como forma de incentivar a colonização do Centro-Oeste, Nordeste e Norte do País, o governo federal, via Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam), deu incentivo a empresários interessados em investir nessas localidades.

“Ao invés da pessoa pagar o imposto de renda ao governo, ela podia direcionar o dinheiro para um projeto nessas regiões”, diz Frederico Krakauer, produtor de soja no Mato Grosso e neto de José Aparecido Ribeiro, empresário paulista do ramo imobiliário – falecido em 1994 – que apostou na agricultura e pecuária na região.

Ribeiro foi o grande responsável pela colonização de Nova Mutum, hoje um dos maiores polos produtores de grãos do Mato Grosso. “Meu avô fez diversas viagens ao Sul do Brasil para apresentar a região aos agricultores gaúchos e convencê-los a vir para cá”, diz Krakauer.

Aquela foi uma época de abertura de terras, um desmatamento incentivado pelos interesses do governo, que tornou o Centro-Oeste no grande celeiro de grãos do Brasil. Só para se ter uma ideia, a produtividade de soja na região saltou de 30 sacas por hectare na década de 70 para uma produtividade média de 55 sacas por hectare nos dias atuais.

Novas Fronteiras

No final da década de 90, os empresários rurais começaram um novo movimento de expansão, dessa vez em direção do oeste baiano. “De lá para cá, foram expandindo para o Mapito, mas isso só aconteceu porque o Brasil desenvolveu novas tecnologias que permitiram à incorporação de novas áreas”, diz José Vicente Ferraz, diretor-técnico da Informa Economics FNP.

Ferraz se refere às tecnologias de produção no cerrado, porque as novas fronteiras todas são em área de cerrado. “Infelizmente há um equívoco brutal quando se chama algumas dessas áreas de região amazônica. Existe cerrado na Amazônia”, explica. Movidos pelo aumento da demanda de alimentos, que puxou para cima o preço das commodities, e pelo baixo custo da terra, muitos produtores compraram fazendas nessas regiões e a produção está de vento em poupa.

“Em determinadas áreas, a produtividade da soja é de 60 sacas por hectare, maior que no Mato Grosso”, diz Ferraz. Para a população dessas cidades, a chegada do agro é sinal de desenvolvimento econômico e melhor qualidade de vida. Para os agricultores empreendedores, a infraestrutura é sempre um gargalho, mas é o preço do pioneirismo recompensado décadas depois quando o valor da terra sobe de patamar.