Reflexões dos fatos e números do agro em agosto/setembro e o que acompanhar em outubro

10/10/2022 Marcos Fava Neves POR: Marcos Fava Neves* Vítor Nardini Marques** Vinícius Cambaúva***


Na economia mundial e brasileira

• Agosto marcou o segundo mês consecutivo de “deflação” na economia, criando uma tendência positiva para recuperação do país. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) recuou 0,36% no mês, sendo que em julho o indicador já havia apresentado baixa de 0,68%; é o segundo mês de deflação. Entre as categorias avaliadas, transportes foi a que apresentou o maior impacto, com redução de 3,37%, graças às quedas nos preços dos combustíveis, principalmente gasolina (-11,64%), etanol (-8,67%) e diesel (-3,76%); comunicações também evidenciou queda de 1,10%, com redução nos preços de planos de telefonia. Já em alimentos e bebidas tivemos incremento de 0,24% devido aos aumentos no frango (+2,87%), queijo (+2,58%) e frutas (+1,35%), mas as quedas no tomate (-11,25%), batata (-10,07%) e óleo de soja (-5,56%) ajudaram no equilíbrio do indicador.
• Temos observado uma contínua melhoria nos indicadores econômicos dos últimos meses. Segundo o boletim Focus do Banco Central, divulgado em 19 de setembro, a inflação, medida IPCA deve fechar 2022 em 6,00% e em 5,01% no ano seguinte; enquanto que para a taxa Selic a expectativa do mercado se mantém em 13,75% e 11,25% para os respectivos anos. O crescimento econômico está em tendência favorável de alta, com Produto Interno Bruto (PIB) devendo alcançar 2,65% neste ano e 0,50% em 2023. Por sua vez, a projeção do câmbio é estável para fechamento de ambos os anos, avaliado em R$ 5,20.

No agro mundial e brasileiro

• O índice de preços dos alimentos da Agência das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) caiu pelo quinto mês consecutivo, segundo dados divulgados para mês de agosto. O indicador apresentou queda de 2,7 pontos (1,9%) em comparação a julho, chegando a 138,0 pontos, mas ainda é 10,1 pontos (ou 7,9%) superior ao valor constatado no mesmo período de 2021. Todos os subíndices apresentaram queda durante o mês: cereais (-1,4%), principalmente com a redução no preço no trigo com boas perspectivas para safra de Canadá, EUA e Rússia, além da retomada das exportações nos portos do Mar Negro; óleos vegetais (-3,3%), carnes (-1,5%), laticínios (-2,0%) e açúcar (-2,1%).
• Em nível nacional, a 12ª e última estimativa da Companha Nacional de Abastecimento (Conab), relativa à safra brasileira de grãos em 2021/22, indicou que a produção fica em 271,2 milhões de t; 200 mil t a menos na comparação com a projeção de agosto. Ainda assim, fechamos a safra atual  com oferta 5,6% maior do que o ciclo 2020/21. Entre as principais cadeias, no milho, a produção foi de 113,3 milhões de t (1,4 milhão de t a menos na comparação com agosto), crescimento de 30,1%, sendo que 86,1 milhões de t (ou 76%) corresponde à 2ª safra; 42% maior que 20/21. Já a produção de soja ficou em 125,5 milhões de t, 9,9% inferior à passada, em virtude dos problemas com o clima durante o cultivo de verão, especialmente nos estados da região sul. Por fim, no  algodão, a oferta de pluma cresceu 8,3%, com 2,6 milhões de t registradas; era de 2,7 milhões de t em agosto e foi de 2,36 na última safra.
• Já a análise do progresso de safra, divulgada também pela Conab, mostra que até o último dia 10 de setembro, a colheita do milho 2ª safra alcançou 98,7% das áreas totais do país (era de 97,0% há um ano), ou seja, está praticamente concluída. As operações no algodão também foram finalizadas com 99,1% de progresso, avanço relevante frente aos 94,0% registrados na mesma data de 2021. O relatório ainda indica que a colheita do trigo foi iniciada no Brasil: até 10/09, 11,8% das áreas haviam sido colhidas, contra 4,7% no mesmo período do ciclo passado. Em geral, o ritmo operacional segue superior ao da última safra, o que traz boas janelas para planejamento e semeadura do ciclo seguinte.
• A Conab também divulgou as “Perspectivas para a Agropecuária em 2022/23”, com números tanto para grãos como para as cadeias da pecuária de corte. Nos grãos, a produção total deve alcançar 308,3 milhões de t, 37 milhões de t a mais na comparação com 2021/22 ou crescimento de 14%. Já a área total deve ficar em 75,6 milhões de ha, aumento de 2,5% ou 1,8 milhão de ha adicionais. O crescimento percentual superior na produção é resultado da alta na produtividade média nacional que passa de 3,68 para 4,08 t por ha, 11% maior.
• Em relação à área das principais culturas em 2022/23, temos: a soja em 42,4 milhões de ha (+ 3,5%); no milho serão semeados 22,1 milhões de ha (+ 2,5%), sendo que 16,9 milhões de ha serão cultivados em 2ª safra (+ 3,5%); e no algodão, a projeção é de que sejam plantados 1,6 milhão de ha (+ 1,6%). Já em termos de produção, o cenário é o seguinte: a soja deve entregar 150,4 milhões de t (+ 21,2%); o milho, outros 125,5 milhões de t (+ 9,4%), dos quais 94,5 milhões de t serão produzidos na safrinha (+ 8,2%); e o algodão deverá ofertar 2,9 milhões de t de pluma (+ 6,8%).
• Nas cadeias da pecuária de corte, a Conab estima que em 2023 a produção de carne de frango será de 15,55 milhões de t (+ 2,5%), com exportações em 4,48 milhões de t (- 1,7%) e disponibilidade interna de 11,07 milhões de t (+ 4,2%). Como resultado da maior oferta interna, a disponibilidade deve passar de 49,4 (2022) para 51,2 kg por habitante no ano (2023).
• Na carne bovina, a produção deve alcançar 8,67 milhões de t (+ 2,9%) em 2023, com exportações estimadas em 3,13 milhões de t de carcaça equivalente (+ 5,0%), enquanto que a disponibilidade interna será de 5,60 milhões de t (+ 1,8%). Já a consumo per capita nacional da proteína bovina deverá ser de 25,9 kg por habitante no ano, alta de 1,1%.
• Por fim, na carne suína, a Conab estima que serão produzidas 5,01 milhões de t equivalente de carcaça em 2023  (+ 5,3%), com exportações em 1,18 milhão de t (+ 8,9%)  e disponibilidade interna de 3,94 milhões de t (+ 4,3%), o que deve resultar em um crescimento de 18,2% na disponibilidade per capita, passando de 17,6 (2022) para 18,2 kg de  carne suína por habitante no ano (2023).
• Em âmbito internacional, neste início de setembro, o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) divulgou novas projeções para a safra global de grãos em 2022/23. No milho, a produção deve ficar em 1,172 bilhão de t; são 7,0 milhões de t a menos na comparação com o relatório de agosto e 3,9% inferior à produção  de 2021/22. O principal motivador desta baixa foi a piora do clima nos Estados Unidos, o que reduziu em 10 milhões de t a produção do cereal naquele país: serão 354,2 milhões de t neste ciclo (-7,7%). No Brasil, a projeção continua sendo de 126,0 milhões de t (+ 8,6%), uma vez que a safra ainda está sendo iniciada. Como resultado da menor oferta global, os estoques passaram de 307,0 (agosto) para 304,5 milhões de t (setembro), 2,4% menor do que 2021/22.
• Na soja, o USDA também jogou para baixo as estimativas: de 392,8 milhões de t no último mês para 389,8 milhões de t agora em setembro, também resultado da piora nas  condições das lavouras norte-americanas. Ainda assim, a oferta da oleaginosa deverá ser 10,4% superior em 2022/23. Nos principais países produtores, temos: Brasil  deverá produzir 149,0 milhões de t (+ 18,3%); e os Estados Unidos outros 119,2 milhões de t (- 1,2%). Já os estoques globais deverão ficar em 98,2 milhões de t (era de 101,3 em agosto), ainda 10,3% superior ao do ciclo passado.
• Importações de milho na Europa estão cerca de 80% maiores, devido à seca que pode fazer a produção ser a menor em 15 anos. China tem importado menos soja devido a uma menor produção no Brasil, pressão nas margens dos esmagadores, mas deve aumentar. Nos EUA, a situação das principais lavouras segue abaixo dos níveis registrados no mesmo período de 2021/22. No milho, 7% da safra dos USA havia sido colhida já em 20/09. O clima seco deve acelerar a colheita agora. Aproximadamente 53% das lavouras estão em condições excelentes e ótimas. Na soja, a lavoura nos EUA está um pouco atrasada devido ao plantio mais tardio, colocando um risco maior do clima ao final. Apenas 3% havia sido colhida, contra a média de 5% dos últimos anos. 56% das lavouras estão em condição excelente ou boa.
• No algodão, a situação segue bastante crítica: apenas 29% das lavouras apresentavam a condição “boa” até 11 de setembro, contra 50% há um ano. A colheita da pluma também foi iniciada e alcança 8% de progresso, quatro pontos percentuais acima do mesmo período de 2021.
• Em agosto, as receitas com exportações do agronegócio brasileiro alcançaram US$ 14,81 bilhões, incremento de 36,4% em comparação ao mesmo período de 2021. Os preços internacionais das commodities continuam sendo o principal elemento dentro da composição do valor, uma vez que estão 21,2% superiores aos de agosto de 2021, mas os volumes também cresceram 12,6%, motivados pela safra recorde de milho. O complexo soja segue liderando  as exportações, com receita mensal de US$ 5,07 bilhões, crescimento de 34,2%; impulsionado principalmente pela soja em grão, que representou de 62,1% destas receitas (US$ 3,79 bilhões). Na segunda posição aparecem as carnes, com arrecadação total de US$ 2,38 bilhões (+23,4%),  recorde para o mês, sendo que a bovina rendeu US$ 1,36 bilhão (+34,6%); a de frango US$ 902,28 milhões (+36,3%);  e a suína pouco mais de US$ 266 milhões (+28,9%). O milho foi um dos grandes protagonistas da pauta exportadora, atingindo pela primeira vez, considerando todos os meses da série histórica, um faturamento de US$ 2,03
bilhões, graças ao volume recorde embarcado de 7,49 milhões de t e preços 41,6% maiores que no mesmo mês do ano passado. Com isso, cereais farinhas e preparações conquistaram a terceira colocação, exportando US$ 2,20 bilhões (+138,8%). Na sequência do ranking, em quarto lugar, aparecem os produtos do complexo sucroalcooleiro, com US$ 1,44 bilhão (+57,3%) de receitas em agosto. Por fim, na quinta posição, temos os produtos florestais, arrecadando US$ 1,41 bilhão (+13,2%).
• Do lado das importações, o setor dispendeu US$ 1,68 bilhão para adquirir produtos do exterior, configurando recorde para o mês dada a série histórica iniciada em 1997, e valor 34,5% superior ao obtido em agosto do ano passado. O trigo foi o produto mais comprado pelo Brasil, com valor de US$ 236,63 milhões (+44,1%). Com isso, o saldo da balança comercial do setor apresentou superávit de US$ 13,12 bilhões, 37% maior que o obtido no ano passado neste mês.
• Em nova revisão para Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP), o Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa) reduziu mais uma vez o faturamento previsto para o ano de 2022, de R$ 1,220 trilhão, no mês passado, para R$ 1,207 trilhão em setembro. Dessa forma, o montante deve ser ligeiramente inferior àquele constatado no ciclo passado, variando 0,3% negativamente. Para as lavouras, a previsão de faturamento é de R$ 824,19 bilhões, incremento de 1,7%; enquanto que a atividade pecuária deve somar R$ 369,15 bilhões, baixa de 4,4%. Algodão, café, milho e trigo devem apresentar recordes em seus respectivos valores, considerando-se uma série histórica de 33 anos. Impressionante o que a agricultura deverá entregar em 2022!
• Também em setembro, o Fundecitrus (Fundo de Defesa da Citricultura) divulgou a primeira reestimativa da safra 2022/23 de laranja no cinturão citrícola São Paulo e Triângulo/Sudoeste Mineiro, indicando uma redução de 0,9% com redução a produção estimada inicialmente; ou 2,86 milhões de caixas a menos. A safra atual está agora projetada em 314,09 milhões de caixas (40,8 kg).
• No 2° trimestre de 2022 (abril a junho), o agronegócio brasileiro empregou cerca de 19 milhões de pessoas, segundo dados divulgados pelo Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada). O montante é 4,6% superior ao mesmo período de 2021; são 839 mil empregos a mais.
• Já o PIB (Produto Interno Bruto) do setor deve fechar o ano de 2022 com crescimento de 2,8%, segundo a previsão mais recente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Com o estabelecimento
de medidas de estímulo a renda e programas sociais, além da recuperação econômica, o consumo das famílias deve ser maior neste 2° semestre, o que deve favorecer o setor. No 2° trimestre de 2022, o PIB do agro cresceu 0,5%, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
• Em agosto, as importações de fertilizantes pelo Brasil caíram 19,8% com volume de 3,48 milhões de t importadas; em julho, as compras somaram 4,34 milhões de t. Ainda assim, no acumulado do ano seguimos com
recorde nas importações: de janeiro a agosto, somamos 27 milhões de t, 10% maior do que o mesmo período de 2021. Nesse mercado, um aspecto que chama atenção é que o preço da ureia cresceu 15% nas últimas duas semanas, estando em torno de US$ 100 por t. Já o fosfato monoamômico (MAP) caiu 11,0% e o cloreto de potássio (KCl) está com preços 9,0% menores.
• Em julho, a venda de máquinas agrícolas (tratores e colheitadeiras) e de construção ou rodoviárias (retroescavadeiras, pás-carregadeiras, motoniveladoras e outras) somaram 9,1 mil unidades no país, 16,4% maior do que o mesmo mês de 2021. Ainda assim, houve uma leve queda nas vendas, de 3,4%, entre junho e julho de 2022. Nos sete primeiros meses deste ano, 59 mil unidades foram comercializadas em todo o país, crescimento de 26,5% no comparativo com o mesmo período do ano passado; dados são da Associação Nacional de Veículos Automotores (Anfavea).
• Em pesquisa feita pela Brasil Panels com 4.215 pessoas de diversas regiões, faixas etárias e classes sociais no país, mostrou que 65% das pessoas veem a atuação do agronegócio de forma positiva, enquanto 22,0% declararam que boicotariam o setor. Outro dado relevante mostra que quem já trabalhou com o agronegócio (1) ou quem tem parentes atuando no setor (2) tendem a avaliar de forma mais positiva: 84% e 80% de aprovação, respectivamente. A população entre 30 e 59 anos de idade tendeu a ser maiscrítica do que o restante em relação a aspectos ambientais.
• A McKinsey divulgou recentemente o seu estudo relativo ao comportamento do agricultor em relação à digitalização. Neste ano, pela primeira vez, a pesquisa foi realizada em âmbito global a fim de comparar as práticas do agricultor brasileiro com os de outras regiões do mundo. No total, foram entrevistados 5.600 produtores em nove países, sendo que 2.000 foram brasileiros, das regiões Sul, Centro-Sul, Cerrado e do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia). Entre os principais destaques do estudo estão: 1°) no Brasil, cerca de 80% dos agricultores utilizam plantio direto e 61% utilizam alguma forma de controle biológico. Nos EUA, apenas 30% dos produtores utilizam o controle biológico; 2°) Os agricultores brasileiros são mais digitalizados que os americanos e europeus, com média em torno de 40%; 3°) Houve uma queda na utilização de modos tradicionais de financiamento (como o barter) por produtores brasileiros, de 39% (último relatório) para 32%, especialmente pelo fato de estarem mais capitalizados. Por outro lado, os agricultores estão mais interessados em operações sofisticadas como hedging e seguro; 4°) Apenas 6% dos produtores brasileiros monetizam algum tipo de crédito de carbono, embora 90% dos agricultores tenham interesse. Nos EUA, 12% dos agricultores monetizam.
• Na cadeia do café, no início de setembro, o Brasil alcançou 98% de progresso na colheita, segundo Safras & Mercado. Em relação à comercialização, a consultoria indica que 45% do estimulante a ser produzido na safra 2022/23 já havia sido vendido, oito pontos percentuais abaixo do mesmo período de 2021, embora esteja acima da média histórica do período, que é de 43%. Com uma estimativa de produção em 61,1 milhões de scs (60 kg) em 2022/23, 54 milhões já foram colhidas e 28 milhões comercializadas.
• Outro aspecto interessante em relação ao café são os preços. Nos últimos 12 meses, entre setembro de 2021 e agosto de 2022, os preços do indicador “Arábica Cepea/Esalq” saltaram de R$ 1.088/sc para R$ 1302/sc na média mensal, 19,7% maior e atingindo pico de R$ 1.485/sc em fevereiro deste ano. Embora tenham sido registradas diversas altas em 2022, os preços do café têm oscilado com tendências de baixa nos últimos meses, especialmente com o avanço da colheita no país. Nas parciais de setembro, até o dia 16, a média mensal é de R$ 1.301/sc e em 14 de setembro fechou o dia cotado em R$ 1.265/sc.
• Fechamos aqui a nossa seção de análise do agronegócio com as principais cotações na data de fechamento da nossa coluna. A soja, considerando entrega em cooperativa do estado de São Paulo, estava em R$ 178,50/sc para entrega em setembro/22; R$ 179,80/sc para outubro/22; R$ 168,80 para fevereiro/23; e R$ 168,00/sc para março/23. No milho, o preço físico ficou em R$ 84,00/sce para entregas em setembro, outubro e novembro de 2022, fechou em R$ 79,80/sc, R$ 80,80/sc e R$ 81,10/sc, respectivamente.
No algodão, o preço estava em R$ 207,84 por arroba (Base Esalq). Demais preços do agro nos indicadores do Cepea/Esalq em 16/09 estavam: boi gordo em R$ 294,55/@, 4,7% menor no comparativo mensal; bezerro no Mato Grosso do Sul em R$ 2.730,10/cb, alta de 6,8% no mês; e laranja para indústria em R$ 31,64/cx, 1,3% maior do que a mesma data de agosto.

Os cinco fatos do agro para acompanhar em outubro são:

1. Início e evolução no plantio da mega safra brasileira de grãos em 2022/23. Entre setembro e outubro, as principais regiões produtoras iniciam a semeadura e precisamos acompanhar como será o avanço, especialmente torcendo para condições favoráveis de clima (que as chuvas cheguem mais cedo). Vale lembrar que quanto antes avançarmos no plantio, melhores serão as condições para nossa 2ª safra.
2. Finalização e balanço das safras de milho (safrinha), algodão e culturas de inverno (especialmente o trigo). Como vimos no nosso resumo, as duas primeiras estão com a colheita quase finalizada, e o trigo segue em estágio inicial, mas com bons avanços. Vamos ficar de olho nos números finais agora, a fim de confirmar o que as estimativas vinham apontando nos meses anteriores.
3. Seguir de olho na safra de grãos nos Estados Unidos, que  entra agora na reta final. Algumas culturas, como o milho  e o algodão, já registram início das colheitas. Vale lembrar  que grande parte das culturas foi semeada mais tarde neste ano, o que deve atrasar a operação final, submetendo os campos aos riscos trazidos pelo início do inverno e chegada da neve. A produção, que já vem sendo afetada pelo clima seco, pode ainda vir abaixo neste final de ciclo. Vamos torcer para que isto não aconteça, contribuindo para amenizar os altos custos globais de alimentos e outros.
4. Continuar acompanhando também o contexto geopolítico global e fatos como a alta na inflação nos Estados Unidos; a grave crise energética na Europa, que também tem afetado os custos e preços nos países do bloco e da região; e o triste conflito entre Rússia e Ucrânia, que infelizmente parece estar distante do fim, inclusive com novas graves ameaças por parte da Rússia. É relevante olhar para estes fatos e avaliar como eles estão interferindo em indicadores como o câmbio, petróleo, preços de insumos, transporte e outros.
5. Inevitavelmente, acompanhar o cenário político-econômico  no Brasil. Em outubro acontecem nossas eleições  e, a depender de qual será o resultado, teremos diferentes  reações nos mercados. Acompanhar estes movimentos para saber como se planejar, antecipar possíveis riscos e até mesmo mapear oportunidades é essencial neste momento!

Reflexões dos fatos e números da cana em agosto/setembro e o que acompanhar em outubro

 

Na cana

• Em relação a moagem de cana-de-açúcar na região  Centro-Sul, relativa à safra 2022/23, entre 1 de abril e 15 de setembro, 366,3 milhões de t foram processadas, queda de 6,9% na comparação com o mesmo período do ciclo passado, de acordo com  relatório divulgado pela União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica). Nos primeiros quinze  dias de setembro, no entanto, a moagem registrou alta de 1,8% com 43,25 milhões de t, indicando uma recuperação no ritmo do setor, especialmente  por conta do clima mais seco que possibilitou o avanço da colheita.
• Em relação à qualidade da cana-de-açúcar, o teor de ATR (Açúcar Total Recuperável) atingiu 138,01 kg por t no acumulado da safra 22/23, 1,65% menor em relação ao último ciclo (estava em 140,33 em 21/22).
• Já a eficiência industrial do setor até 1° de setembro estava em: 44,37 litros de etanol produzidos por t de cana (+ 0,3%); e 59,43 kg de açúcar produzidos por t de cana (- 3,9%). O mix de produção estava em 45,20% para o açúcar (46,25% ha um ano) e em 54,80% para o etanol (53,75% na mesma data de 2021/22).
• No mercado de CBios, 20,81 milhões de créditos de descarbonização foram emitidos no acumulado do ano, segundo dados da Unica. Já em relação ao volume negociado e a posse de créditos, 26 milhões de CBios foram registrados por parte das organizações obrigadas no programa, o que representa 71% da meta estabelecida para este ano.
• E uma das grandes inovações no setor em décadas foi anunciada recentemente pelo CTC, o Centro de Tecnologia Canavieira, em Piracicaba, SP: o lançamento das sementes sintéticas de cana-de-açúcar que virão para substituir as tradicionais mudas do setor. Segundo os pesquisadores, os primeiros testes com plantio em larga escala deverão ocorrer já na próxima safra (2023/24) e poderão trazer benefícios de até R$ 17 mil por ha. Com a capacidade de reduzir falhas dos canaviais em 2,0%, enquanto propicia ganhos de sanidade de 7,0%, as sementes devem elevar a produtividade do canavial em até 9,0%, trazendo ganhos diretos de R$ 7 mil por ha. Além disso, como o agricultor não mais precisará reservar á reas para a produção de mudas (em média, 15%), outros R$ 3 mil por ha poderão vir destes ganhos. Por outro lado, a tecnologia permite o cultivo da cana por pelo menos mais cinco anos, entregando outros R$ 4 mil por ha; e a ampliação da janela de cultivo poderá agregar mais R$ 1 mil por ha. Os ganhos devem ser expressivos no setor, vamos acompanhar a i mplementação!
• CTC comentou que os custos com pesquisa e desenvolvimento na instituição cresceram 15% no primeiro trimestre da safra 2022/23 (abril a junho), com gastos que giram em torno de R$ 40,5 milhões. No mesmo período, a empresa registrou receita líquida de R$ 78 milhões e lucro líquido de R$ 21,6 milhões.

No açúcar

• Com o maior processamento de matéria-prima nos últimos quinze dias de agosto, a produção de açúcar cresceu 5,8% no período e somou 3,14 milhões de t, segundo a Unica. No acumulado de 2022/23, 21,77 milhões de t foram produzidas, redução de 10,5% no comparativo com o ciclo anterior.
• As exportações de açúcar do Brasil tiveram um incremento de 39,1% em agosto, saltando de US$ 870,27 milhões para US$ 1,21 bilhão. Além da China, que comprou mais de 20% do montante do adoçante brasileiro para o mês, houve destaque nas vendas para outros países asiáticos com Irã, Indonésia e Í ndia.
• Segundo levantamento realizado pela Archer Consulting, até 31 de agosto, o volume do adoçante com preço já fixado para a próxima safra (2023/24) atingiu 31% do total, com preços médios em R$ 2.240/t, posto no Porto de Santos, SP. Ao todo, 827 mil t de açúcar foram fixadas em a gosto, t otalizando 1,46 m ilhão d e c ontratos, 23% a menos do que os 1,9 milhão de contratos registrados em julho de 2022.
• No mercado futuro, os preços de contratos futuros do açúcar voltaram a cair após ter atingido a maior cotação da década em Londres (ICE Futures Europe). Em 16 de setembro, os contratos de  dezembro/22, março/23 e maio/24 ficaram com  preços em US$ 527,80/t, US$ 496,80/t e US$ 472,00/t, respectivamente. Em Nova York, o vencimento de outubro/22 foi cotado em 17,88 centavos de dólar por libra-peso, e a tela de março ficou em 17,56 centavos por libra-peso. Por fim, no mercado doméstico, fechamos o dia 16 com a saca de 50 kg do açúcar cristal São Paulo cotada em R$ 123,90 pelo indicador Cepea/Esalq, queda de 1,0% no comparativo mensal.
• Segundo a StoneX, haverá um superávit de 3,9  milhões de t de açúcar na nova temporada global, a partir de outubro, graças a boa produção na Ásia e no Brasil. O relatório anterior previa um superávit de 3,3 milhões de t. Para os dois principais países produtores do adoçante, Brasil e Índia, a oferta deverá ficar em 37,2 e 36,5 milhões de t, respectivamente.
• A crise de energia que a Europa enfrenta pode reduzir a produção de açúcar pelo elevado custo de produção e estimular projetos de energias renováveis. A Cropenergies (Sudzucker) foi uma das que anunciou possível redução de atividades e produz anualmente 400 milhões de litros de etanol.
• E de acordo com informações do governo da Índia, o país deverá permitir a exportação de 5 milhões de t de açúcar nas próximas semanas, e outros 3 a 5 milhões de t a partir do início da próxima safra, em outubro. Os estoques de passagem nas usinas do país estão estimados em 6 milhões de t, 25% menor do que as 8 milhões de t do ciclo anterior. O consumo é estimado em 27,5 milhões de toneladas e cerca de 4,5 milhões de toneladas equivalentes serão usadas para a mistura de etanol em 2022/23.
• A China importou 680 mil t de açúcar em agosto, 35,8% a mais do que no mesmo mês de 2021. No acumulado do ano, o país asiático já comprou 2,73 milhões de t do adoçante. É um mercado para ficarmos de olho também pensando no açúcar!
• A Raízen já está com 50% de exportações diretas de seu açúcar, após o final da joint-venture com a Wilmar.

No etanol

• No acumulado da safra 2022/23, desde 1° de abril,  a produção do biocombustível soma 17,94 bilhões  de litros, retração de 4,3%, dos quais: 10,97 bilhões de litros correspondem ao etanol do tipo hidratado (- 5,3%) e 6,97 bilhões de litros do tipo anidro (- 2,71%). Do total produzido neste ciclo, 1,69 bilhão de litros (ou 15,4%) corresponde ao etanol de milho, crescimento de 26,3% no comparativo com 2021.
• A produção de etanol de milho no Brasil em agosto foi de 363 milhões de litros, um crescimento de 15,6% quando comparado com o mesmo mês do ano passado. Desde o início da safra, em abril, todos os meses registram volume de produção maior que o ano passado, o maior deles em junho/22, quando saltamos de 249 para 366 milhões de litros produzidos no mês, alta de 47%!
• Já as vendas totais de etanol pelas usinas do Centro-Sul somaram 2,69 bilhões litros em agosto,  alta de 7,5% em relação ao mesmo período de 2021/22. No mercado interno, foi 1,38 bilhão de litros vendidos do etanol hidratado (- 6,2%) e 1,08 bilhão de litros do anidro (+ 20,5%), que vem registrando forte alta movida pelo aumento no consumo da gasolina no mercado interno, números que tem refletido no resultado geral da safra. Até o momento, no acumulado de 2022/23, foram vendidos 6,89 bilhões de litros do hidratado (-6,7%) e 4,43 bilhões de litros do anidro (+ 5,7%).
• Já as vendas externas de etanol somaram 233,4 milhões de litros em agosto, alta de 69,7%. Em termos de receitas, foram US$ 226,62 milhões, com um incrível incremento de 420,2% frente ao mesmo mês do ano anterior. Os principais compradores do biocombustível brasileiro foram os Países Baixos, a Coreia do Sul, os EUA e o R eino Unido.
• As vendas globais de etanol (mercado doméstico + exportações) somam 12,20 bilhões de litros no acumulado de 2022/23, queda de 0,9%. 7,21 bilhões de litros correspondem ao hidratado (-7,9%) e 4,99 bilhões de litros ao anidro (+ 11,4%). • Desde o início da safra, os preços do etanol hidratado vêm registrando forte redução mensal: em abril, a média do Indicador Cepea/Esalq  – São Paulo ficou em R$ 3,63/l; em junho, caiu para R$ 3,06/l. No último mês de agosto, o preço do litro foi a R $ 2,67; e até o d ia 16 de setembro, as médias deste mês fecharam em R$ 2,30/l. As quedas sucessivas têm relação, principalmente, com o aumento da oferta do biocombustível pelas usinas com o avanço da safra de cana-de-açúcar. Seguimos acompanhando!
• Arnaldo Correa trouxe interessante análise do mercado de combustíveis e a Covid 19. Segundo ele, em fevereiro de 2020 nosso consumo do Ciclo Otto, nos 12 meses anteriores, havia sido de 54,2 bilhões de litros. O crescimento em um ano foi de 3,9%, e o da década de 3,8% ao ano. Se o ritmo de crescimento tivesse se mantido, o Ciclo Otto teria hoje cerca de 7 bilhões de litros a mais. Se o etanol mantivesse o share de 48,3% do consumo (fevereiro de 2020) a demanda adicional seria hoje de 3,4 bilhões de litros a mais. Com este raciocínio ele ressalta o problema de falta de cana que teremos em breve.

Para concluir, os cinco principais fatos para acompanhar em outubro na cadeia da cana:

1. Seguir acompanhando o progresso na moagem de cana-de-açúcar na região Centro-Sul. Como vimos, ainda estamos quase 7% abaixo do ritmo registrado no último ciclo, segundo a Unica. Fica mais difícil a r ecuperação.
2. Comportamento de preços do etanol hidratado no mercado interno. Na data de fechamento da nossa coluna (16/09), o preço do litro em São Paulo estava em R$ 2,3819, 27% menor do que os R$ 3,2635/l registrado na mesma data de 2021 e 30% inferior ao preço de 1° de abril deste ano, quando estávamos em R$ 3,4135/l, segundo dados do Cepea/Esalq.
3. Como resultado da baixa nos preços, acompanharcomo será o comportamento de consumo do etanol no mercado interno. Em agosto, o volume comercializado do hidratado foi 6,2% menor, enquanto que o anidro registrou 20,5% de alta no mês, com mais de 1 bilhão de litros vendidos. Ao que parece, a baixa também no preço da gasolina tem movimentado os consumidores a optar por esta fonte vis a vis o etanol hidratado. Importante seguir de olho nesse comportamento do consumidor.
4. No açúcar, acompanhar o movimento de venda do adoçante e os preços fixados para o próximo ciclo. Após altas histórias nas negociações do açúcar, o mercado viu uma leve baixa e segue aguardando as estimativas para a próxima safra global, que começa agora em outubro. A tendência é de alta no superávit global, o que deve interferir de forma direta nas negociações e preços. Vamos acompanhar!
5. Discussões envolvendo as propostas de alteração no programa RenovaBio, o que pode trazer prejuízos para as organizações do setor. Entre os tópicos propostos está o fim da responsabilidade das distribuidoras de combustíveis em adquirir os CBios (créditos de descarbonização). Ao que parece, esta pauta deve ser adiada por hora, ao menos até o t érmino das eleições.

Valor do ATR – Ao contrário do que aconteceu em julho, quando vimos a alta do ATR (Açúcar Total Recuperável),  em agosto, registramos nova queda nos preços do indicador, fechando com média mensal de R$ 1,139/kg. O histórico da safra atual em relação aos preços mensais é de: em abril, R$ 1,245/kg; maio com R$ 1,221/kg; junho foi a R$ 1,186/kg; em julho, subimos para R$ 1,203/kg; e agosto, como vimos, R$ 1,139/kg. No acumulado de 2022/23, o preço está agora em R$ 1,200/kg. Nossa previsão é de que fique ao redor de R$ 1,13/kg até o final do ciclo atual.

 

*Marcos Fava Neves é professor Titular (em tempo parcial) das  Faculdades de Administração da USP, em Ribeirão Preto, e da FGV, em São Paulo, especialista em Planejamento Estratégico do Agronegócio. Confira textos, vídeos e outros materiais no site doutoragro.com e veja os vídeos no canal do Youtube (Marcos Fava Neves).
**Vítor Nardini Marques é mestrando em Administração de Organizações pela FEA-RP/USP.
***Vinícius Cambaúva é associado na Markestrat Group e mestrando em Administração de Organizações pela FEA-RP/USP.