Região Centro-Sul deve produzir volume recorde de açúcar em 2020/21

29/07/2020 Açúcar POR: Fernanda Clariano, com informações da assessoria

O cinturão canavieiro do Brasil tem a expectativa de atingir o maior volume de açúcar já registrado, de 37,4 milhões de toneladas no ciclo 2020/21, segundo revisão divulgada no início do mês de junho pela INTL FCStone, o que representa um avanço anual de 39,8%, enquanto o mercado de etanol sofre com o impacto das medidas de combate ao coronavírus.

A produção de etanol de cana é calculada em 25,8 milhões de m³, com uma retração anual de 18,3%. Especificamente, espera-se que sejam destilados cerca de 17,4 milhões de m³ de hidratado (-21,5%) e 8,5 milhões de m³ de anidro (-10,8%).

Inicialmente, as medidas restritivas à circulação de pessoas e veículos têm limitado significativamente o consumo de combustíveis no Brasil. Em meio à menor procura nas bombas e ao início da safra no Centro-Sul, os preços do etanol despencaram e chegaram a atingir R$ 1,60/l PVU (Posto-Veículo-Usina) com base em Ribeirão Preto no fim de abril.

Mix de açúcar

A estimativa para o mix açucareiro de 2020/21 foi elevada para 47,2%, um aumento de 5,1 pontos percentuais em relação à projeção realizada em março, e aumento de 13,1 pontos percentuais no comparativo com 2019/20.

“Algumas empresas não somente devem ampliar, mas maximizar o direcionamento de cana para a produção de açúcar”, afirmou o analista de açúcar e etanol da INTL FCStone, Matheus Costa, em relatório.

Apesar disso, o maior apetite pela fabricação de açúcar por usinas do cinturão canavieiro não está relacionado somente ao ambiente negativo para o etanol, mas também à própria dinâmica de mercado da primeira commodity.

ATR

A estimativa para o ATR médio foi elevada em relação à publicação de março, em cerca de 1,2 kg/t, chegando em 139,2 kg/t, valor que é 0,4% superior à temporada anterior e se posiciona como o maior dos últimos nove anos.

O processo de maturação dos canaviais deve ser beneficiado pelas chuvas mais escassas no Centro-Sul. O início da safra atual já reforçou essa tendência, com a concentração de açúcares atingindo 121,8 kg/t na segunda quinzena de abril e superando em 9,1% o valor registrado na mesma época de 2019/20.

A conjunção dos dois indicadores apresentados anteriormente fez com que a projeção para o ATR total – ou a quantidade de matéria-prima que, de fato, será transformada pela indústria – crescesse para 83,2 milhões de toneladas, superando a última estimativa em 0,8 milhão de toneladas e avançando 1,7% no comparativo safra-a-safra.

Etanol de milho

As perspectivas para a produção de etanol de milho foram reduzidas em relação à estimativa de março, em cerca de 0,2 milhão de m³ para 2,3 milhões de m³. Além da retração na demanda geral por combustíveis esperada para 2020/21 (abril-março), a revisão do grupo considera que, apesar da crescente capacidade de produção nos últimos anos, a implementação de novos projetos deverá ser postergada em meio à crise atual.

Matheus Costa, analista de açúcar e etanol da INTL FCStone

Ainda assim, a estimativa de produção representa crescimento de 39,1% em relação à safra 2019/20.

“Algumas empresas originaram o milho utilizado como matéria-prima de forma antecipada às valorizações recentes do cereal, observadas entre o último trimestre de 2019 e o primeiro trimestre de 2020. Com isso, as margens brutas de produção foram preservadas, ainda que parcialmente, em meio às quedas das cotações do biocombustível”, explica Costa.