Renovação de canaviais volta a crescer

16/02/2017 Cana-de-Açúcar POR: Valor Econômico
Os benefícios dos recentes investimentos de empresas no Brasil para o aumento da capacidade de produção das usinas de cana-de-açúcar não devem ser sentidos no curto prazo, disse Marcelo de Andrade, presidente global Cofco Agri, estatal chinesa do setor agro. A própria Cofco investiu para aprimorar o processo de cristalização em uma de suas usinas no Brasil, projeto que acabou sendo entregue com dois meses de atraso, segundo disse Andrade, durante conferência do setor em Dubai.
Ele explicou que os altos preços do açúcar incentivaram investimentos por parte de grandes empresas, deixando os fornecedores relativamente despreparados para atender a tanta demanda. Andrade defendeu que todos esses projetos não devem ser convertidos em potencial de produção pelo menos até a safra de 2018/19.
Ainda sobre o mercado de açúcar nacional, Jeremy Austin, diretor da filial da trading Sucden no Brasil, disse que uma grande colheita neste ano vai testar a infraestrutura de transporte do Brasil. O maior gargalo vai ser no fim do ano, quando o alimento deve disputar espaço nos caminhos e trens com outras commodities. "Os custos de se transportar o açúcar até os navios vão variar um pouco", disse Austin. Tanto Austin quanto Andrade esperam que o sistema ferroviário passe por uma sobrecarga neste ano. 
 
A renovação dos canaviais, fundamental para impedir o envelhecimento das plantas e, consequentemente, a deterioração dos índices de produtividade em campo, tem começado a se recuperar no Centro-Sul. Além de as usinas terem começado a investir um pouco mais em atualizações em sua área industrial, também estão aumentando seus aportes na área agrícola estimuladas pelos preços sustentados de açúcar e etanol e do clima mais favorável.
No ano passado, 13,7% da área canavieira da região foi replantada, consumindo investimentos acima de R$ 1 bilhão, afirmou Antonio de Pádua Rodrigues, diretor técnico da União das Indústrias de Cana-de-Açúcar (Unica). Em 2015, apenas 10% da extensão de cana do Centro-Sul havia sido renovada, um dos piores índices da história, que ainda refletia a baixa capacidade de investimento do setor.
O nível de renovação das lavouras ainda está distante do patamar considerado adequado para evitar o envelhecimento dos canaviais, de 18%, mas deve se aproximar desse nível neste ano, quando se espera que 17% dos canaviais sejam reformados, segundo Pádua.
Os investimentos do ano passado vão se refletir na safra 2017/18, que começa oficialmente em abril, mas apenas essa recuperação não é garantia de que a produtividade vá melhorar. No ano passado, a produtividade média ganhou impulso com a moagem de cana remanescentes da safra anterior ("bisada"), mas a próxima safra não terá essa oferta de cana.
Além disso, muitas empresas tiveram problemas com o plantio por causa de questões climáticas, como as geadas que ocorreram no último inverno, e acabaram mudando o calendário de colheita e semeadura. Como consequência, cresceu o plantio de variedades menos produtivas, que têm ciclo de maturação de um ano e rendem menos que as variedades que ficam maduras em um ano e meio.

 
Esses pés de cana mais produtivos, plantados entre novembro e março, chegam a ter índice de produtividade acima de 120 toneladas por hectare em seu primeiro corte, enquanto a cana plantada entre maio e junho ("cana de inverno") e a semeada entre agosto e setembro, que amadurece em um ano, tem produtividade em torno de 90 toneladas por hectare no primeiro corte.
Em geral, as usinas renovam 10% de seus canaviais com as variedades mais produtivas, enquanto os outros 8% reservados para a renovação das lavouras são divididos entre as variedades menos produtivas. Contudo, as geadas do ano passado levaram ao replantio de algumas áreas antes do tempo previsto e uso maior das variedades menos produtivas, que representaram metade da extensão renovada, segundo Pádua.
O diretor da Unica observou, porém, que no ano passado as geadas atingiram cerca de 40% do canavial do Centro-Sul, derrubando o teor de sacarose na cana (ATR) e a produtividade por hectare, já que as usinas tiveram que realizar a colheita antecipadamente.
Willian Hernandes, sócio da consultoria FG/A, afirma que o aumento do plantio de variedades de ciclo mais curto, que já ficarão prontas para colheita na próxima safra, também é reflexo da perspectiva otimista para os preços de açúcar e etanol neste ano. "Isso foi feito tanto pelas usinas com mais restrições de caixa como com menos. O fato é que o caixa melhorou em geral", afirmou Hernandes.

 
Em recente apresentação à imprensa, Plínio Nastari, presidente da Datagro, disse que os índices de produtividade do início da safra 2017/18 não serão tão altos quanto o usual, refletindo a falta de chuvas em março do ano passado e as geadas no inverno. Já do meio para o fim da safra, o rendimento deve se recuperar. Na média da temporada, a colheita deve ficar em 79 toneladas por hectare, ligeiramente abaixo do que na safra atual, estimou Nastari.
Neste verão, as usinas têm retomado o plantio das variedades de cana de um ano e meio de maturação, o que deve se refletir apenas na temporada 2018/19. Se esse plantio avançar até março, pode haver uma área menor disponível para ser colhida na próxima temporada, que já deve ser menor por causa da falta de cana bisada.