Retrato de uma nova gigante

11/10/2019 Cana-de-Açúcar POR: Revista Canavieiros
RETRATO DE UMA NOVA GIGANTE

Por: Marino Guerra
 
A aquisição da Arysta, no ano passado, fez com que a UPL OpenAG se tornasse uma das maiores empresas de proteção vegetal do mundo. Contudo, como todo grande processo de mudança, demanda tempo para que a empresa consiga definir qual será o seu novo DNA.
 
Neste ano, alguns traços de sua personalidade já puderam ser compreendidos, sendo os dois principais o nome da companhia - acrescido da expressão OpenAG, termo que se refere a uma agricultura aberta e sem barreiras, o que só uma companhia mundial pode ser -  e o novo portfólio de produtos.
 
Na entrevista abaixo com um dos principais executivos da companhia no Brasil, será possível entender mais um pouco sobre as pretensões da gigante, principalmente no que tange aos assuntos de interesse do público canavieiro. No entanto, o seu retrato ainda estará um pouco desfocado, pois para alguns detalhes somente o tempo é capaz de finalizar a pintura.
 
Revista Canavieiros: Como o senhor vê o nível de tecnificação do produtor de cana-de-açúcar brasileiro em relação aos agricultores especialistas em outras culturas?
 
Marcelo Gardel: A cana-de-açúcar é um dos cultivos mais importantes do Brasil, e o principal dentro da nossa estruturação, a qual definimos como especialidades.
 
É onde a tecnologia é absorvida de modo bastante intenso. A UPL enxerga que o pessoal ligado à cana-de-açúcar é extremamente técnico e sempre busca maneiras, produtos e soluções diferenciadas, visando à evolução do seu cultivo.
 
Revista Canavieiros: O senhor percebe ainda que não terminou a revolução de manejo causada pelo fim da colheita da cana queimada?
 
Gardel: Antigamente a demanda do setor por proteção era basicamente voltada aos herbicidas. Contudo, em decorrência da virada de chave para o corte mecanizado e cru, a demanda por defensivos cresceu mais ou menos nos mesmos níveis da necessidade das máquinas.
 
Acredito que hoje estamos entrando num segundo momento dessa fase, que é a introdução das biossoluções, o que vem surgindo com bastante velocidade. Perante este cenário, não tenho dúvidas da manutenção do setor como sendo uma das pioneiras na adoção de novas soluções na agricultura brasileira.
 
Revista Canavieiros: Perante isso, o que pensa a nova UPL OpenAG em termos de oferta ao agricultor?
 
Gardel: A nossa preocupação não é com a venda de produtos de maneira isolada, o que pretendemos é levar soluções para o campo. Ou seja, hoje podemos contar com um portfólio gigantesco em termos de herbicidas, temos uma linha interessante de inseticidas, também há em nossa prateleira fisioativadores, fertilizantes e até mesmo um polímero para a retenção de água.
 
Assim, trabalhamos um conceito que denominamos de pronutriva, que se trata do uso, de maneira integrada, tanto de ferramentas de proteção como nutrição. Porém, com o surgimento de fisioativadores e também da hidratação dinâmica, o termo já ganhou uma atualização para biossoluções.
 
Então, um dos diferenciais da nova companhia é exatamente levar até o agricultor o que ele precisa, resolver problemas reais que surgem no dia a dia, sempre pensando em entregar soluções quase que sob medida para ele.
 
Revista Canavieiros: O que a fusão mudou em termos de pesquisa e desenvolvimento?
 
Gardel: Conseguimos uma complementariedade muito grande. Nós temos um centro de pesquisas onde desenvolvemos todas as tecnologias antes de ofertar ao mercado. Sendo assim, tentamos ver o que é realmente uma demanda, fazemos os investimentos e assim conseguimos ter soluções mais assertivas, inclusive algumas que deverão ganhar o mercado em breve.
 
Revista Canavieiros: E quanto às novas aquisições, a empresa manterá as compras?
 
Gardel: A UPL continua crescendo, e também na parte de aquisição de moléculas ou de purezas, com o radar ligado nos principais mercados agrícolas do mundo.
 
Revista Canavieiros: Qual é a opinião do senhor sobre a Lei dos Agroquímicos, que visa flexibilizar a aprovação de novos produtos?
 
Gardel: A lei, como está hoje, não permite trazermos produtos mais avançados, então, às vezes têm-se moléculas ou formulações que são muito mais eficientes e amigáveis ao meio ambiente, às pessoas e à saúde animal, mas são travadas num enorme processo burocrático.
 
Esse fato gera um sério atraso em termos de inovação, principalmente perante os concorrentes mundiais que possuem processos mais ágeis e inteligentes de adoção de tecnologia de proteção.
 
Acredito que a indústria como um todo está fazendo o seu trabalho, tentando inovar e espero que esse ambiente melhore para ofertarmos produtos mais avançados e que representarão menos embalagens, doses menores e menor agressividade ao meio ambiente, dentre outros benefícios.
 
Revista Canavieiros: Como a crise dos princípios ativos, que teve início no ano passado e perdura até hoje na China, atingiu a UPL OpenAG?
 
Gardel: A crise está longe de passar e há uma quantidade de moléculas que não está sendo produzida, esses produtos não estão no mercado, o que é extremamente preocupante.
 
O problema se agravou mais especificamente para a cana-de-açúcar, pois além do movimento da China de redução do seu parque industrial depois do surgimento de uma regulamentação muito pesada e intensa, houve a explosão de um parque industrial muito importante naquele país, o que atingiu em cheio a produção de moléculas utilizadas em diversos herbicidas.
 
A UPL OpenAG vem há várias décadas investindo pesado em fábricas, tanto para síntese como para formulação e assim nós conseguimos montar uma estrutura, o que nos permite depender menos da produção chinesa. Por isso somos menos afetados em relação às outras empresas.
 
Revista Canavieiros: Partindo do pressuposto de que o Brasil é referência mundial em produção de cana, como o senhor enxerga o desenvolvimento da cultura em outras partes do mundo?
 
Gardel: Realmente o Brasil é referência mundial em cana-de-açúcar, tudo que é desenvolvido na cultura passa por aqui. A UPL OpenAG, através do tamanho da empresa que se formou, desenvolveu um pensamento que nós chamamos hoje de Open AG, e significa cultura aberta, a qual atende à filosofia de não criar limites e adotar a ideologia de que nada é impossível.
 
Assim, como estamos presentes em mais de 130 países, há uma troca de tecnologia, ou seja, temos um sistema de intercâmbio onde trazemos as soluções de diversos países e exportamos as nossas melhores práticas.
 
Obviamente que é sempre necessário fazer algumas adaptações locais, então, quando a pergunta é sobre se será possível levar essa tecnologia desenvolvida para a cana brasileira em outros países, eu não tenho dúvidas que sim.
 
Revista Canavieiros: Então, o que a empresa está fazendo aqui poderá ser usado, por exemplo, na Índia, sede da empresa?
 
Gardel: A Índia tem um grande problema social, tem mais de 1,3 bilhão de habitantes e as áreas de cultivo são extremamente pequenas. Isso não tem como ser revertido e, se pensarmos nas famílias que estão crescendo, as próximas gerações terão produtores ainda menores.
 
Diante desse cenário é logicamente difícil a adoção de novas tecnologias, mas nós, como empresa, conseguimos levar soluções para melhorar a produtividade deles. Acredito que os indianos irão produzir mais cana, mas o Brasil sempre continuará sendo a referência mundial da cultura.
 
Revista Canavieiros: Qual a sua projeção para o grau de desenvolvimento da cana-de-açúcar daqui a cinco anos?
 
Gardel: Apostamos que o nível de produtividade deve ser elevado, isso porque observamos que as tecnologias novas são rapidamente absorvidas. Esperamos um futuro muito promissor, o que acabará refletindo em remunerações melhores e, com certeza, na formação de um círculo virtuoso de desenvolvimento.

 
 

Fonte: Revista Canavieiros