Retrospectiva 2017 e perspectivas 2018: Tempo de mudanças
21/02/2018
Geral
POR: Revista Canavieiros
Por: Fernanda Clariano
Em 2017 as cotações do açúcar no mercado internacional caíram gerando um pior desempenho da commodity, em compensação o preço do etanol agradou os produtores e alguns segmentos deram os primeiros sinais de um início de recuperação após um período de recessão. Com a inflação em queda, o Comitê de Política Monetária do Banco Central reduziu a taxa básica de juros para 7%ao ano, o menor patamar da história. O ano de 2017 chegou ao fim com uma notícia boa para o setor, que foi a aprovação do programa RenovaBio, projeto lançado pelo Ministério de Minas e Energia com o objetivo de reduzir a emissão de carbono total dos combustíveis vendidos no Brasil e que deve trazer boas expectativas para o mercado de biocombustíveis.
O presidente da Copercana, Antonio Eduardo Tonielo e o presidente da Canaoeste e diretor da Copercana, Manoel Ortolan, concederam entrevista à Revista Canavieiros onde fizeram um balanço de 2017 e falaram das suas expectativas, o que esperam para o setor sucroenergético em 2018 e também sobre as eleições presidenciais. Confira!
Antonio Eduardo Tonielo
Revista Canavieiros: Quais as surpresas e as decepções de 2017 e qual seria a melhor notícia para o setor sucroenergético começar 2018 bem?
Tonielo: A surpresa do setor canavieiro foi o preço do açúcar no mercado internacional desabar como desabou, achávamos até que seria ruim, mas não o quanto foi. Isso foi uma surpresa muito desagradável que trouxe prejuízos para o setor. A boa notícia foi em relação ao etanol que deu uma melhorada no preço e agradou. Eu acredito que 2018 já começou bem com a queda nos juros. E a partir do segundo semestre, dia 1º de julho que provavelmente o Banco Central e a Fazenda ainda devem mudar esses juros. Eu nunca vi uma taxa Selic de 7% e um juro agrícola entre 8,5% e de 10,5%, isso deve ser mudado e quem estiver pensando em fazer um financiamento talvez precise ter um pouquinho mais de paciência para que consiga fazer algo melhor.
Revista Canavieiros: O ano de 2017 terminou com uma notícia importante para o setor sucroenergético, o RenovaBio virou lei. Quais as expectativas para que essa lei seja realmente implantada?
Tonielo: O RenovaBio é uma boa notícia não só para o setor sucroenergético, mas para todo o setor de renováveis, pois irá atender toda a cadeia, porém, uma notícia lenta porque iremos ter os efeitos disso em 2020, quem sabe 2021. Com certeza o RenovaBio será muito bom para o setor, só não pode ter pressa.
Revista Canavieiros: Apesar dos muitos desafios, o agronegócio é quem sustenta a economia brasileira. Como o senhor vê a questão econômica do país em relação ao agro?
Tonielo: O PIB do agronegócio brasileiro é o melhor dos últimos anos. O setor do agronegócio é quem carrega a economia brasileira, todos os economistas sabem disso que quem tem garantido o PIB e uma melhora do país é a produção agrícola. Eu acredito que isso deve continuar, vamos ter produção boa tanto no setor canavieiro quanto na área de grãos e acho que o país nessa parte está bem equilibrado.
Revista Canavieiros: De onde virá o novo salto da agricultura brasileira?
Tonielo: Temos que melhorar a produtividade, mas isso já está acontecendo, prova é que no ano passado o Brasil extrapolou em produção agrícola, e os preços estão ruins por causa disso. Pagamos por produzir bastante, mas o país está no rumo certo. A produção deve continuar crescendo a cada ano que passa e, apesar do clima ser um grande desafio para o produtor por hora chover muito e hora pela falta de chuva, o país está preparado para produzir e competir com o mundo.
Revista Canavieiros: Este é um ano de eleição presidencial. Será um ano que promete ou só de promessas? O que o senhor espera?
Tonielo: Ano de eleição é muito bom, ainda mais para um país que atravessou uma fase terrível nos últimos dez anos, com um Governo que só pensou em falcatrua. É muito importante que consigamos eleger alguém que tenha comprometimento com o país, só assim teremos uma virada, uma retomada. Eu tenho a certeza de que se o povo souber votar, iremos ter um 2019 muito melhor porque o Brasil começa a ter credibilidade e a atrair mais investidores e compradores, isso melhora para todo mundo.
Revista Canavieiros: O senhor tem alguma mensagem para os cooperados?
Tonielo: Eu gostaria de cumprimentar todos os cooperados e desejar que 2018 seja um ano promissor e que possamos ter melhores ganhos dentro da agricultura que felizmente é a salvação da nossa pátria.
Manoel Ortolan
Revista Canavieiros: Quais foram as surpresas e as decepções de 2017 e o que o senhor espera para 2018?
Manoel Ortolan: Eu acredito que, o que mais nos marcou enquanto produtores de cana foi o fato de não termos conseguido a remuneração com relação ao Consecana. Um sistema que foi instituído entre a Orplana (Organização de Plantadores de Cana da Região Centro-Sul do Brasil) e a Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar) com previsão de atualização a cada cinco anos. Neste sentido, houve um posicionamento das entidades de continuar conversando e tentando mudar o modelo de uma forma em que satisfizesse de alguma forma ambas as partes, mas acho que este foi o principal fato para nós.
O que também marcou foi o período de seca na safra 17/18 que provocou na maioria das regiões uma queda na produtividade, uma vez que o período de seca favorece o desenvolvimento de pragas de solo, consequentemente a brotação, teve também muito fogo nos canaviais, o que acabou de certa forma comprometendo a produção da safra 17/18e certamente vai comprometer a próxima onde devemos ter uma safra um pouco menor.
De positivo, a seca faz com que a cana armazene mais açúcar, então o ATR (Açúcar Total Recuperável) aumentou e, desta forma, o que se perdeu na produtividade se ganhou no conteúdo de ATR e o resultado quase que ficou em zero a zero. O bom seria ter tido um ano com distribuição de chuva melhor sem comprometer também o ATR, mas infelizmente não foi o que aconteceu. Foi uma safra mais uma vez atípica e vamos ter um pouco de consequência disso para a safra 2018/19.
Para o ano de 2018, eu espero que a gente consiga resolver o problema do Consecana, que traz mais tranquilidade para produzirmos e investirmos e, com relação à produção, estamos esperando uma safra um pouco menor do que foi essa. O canavial está mais velho, as reformas não têm sido de acordo com as necessidades, uma vez que faltam recursos para investimentos. Tivemos o problema de excesso de queima nas soqueiras e isso praticamente nivelou o canavial, ele está saindo quase que todo a partir de outubro/novembro e possivelmente teremos uma produtividade menor. Isso sinaliza que o produtor precisa ter os pés no chão, cuidar bem da sua lavoura, mas acima de tudo manter um controle rígido sobre os preços e, principalmente, custo de produção.
Revista Canavieiros: O ano de 2017 terminou com uma notícia importante para o setor sucroenergético, o RenovaBio virou lei. Quais as perspectivas para que essa lei seja realmente implantada?
Manoel Ortolan: As perspectivas para a implantação da lei são boas. O RenovaBio é um programa sério, não é um programa para o setor, é um programa para o Brasil. Hoje está todo mundo preocupado com as mudanças climáticas, estamos vendo agora o que está acontecendo nos EUA, regiões que há 30 anos não nevava está nevando. Não vamos atribuir isso só a anormalidade do clima, mas são anormalidades que preocupam. A mudança climática vem acontecendo principalmente em função do aumento da emissão de gases do efeito estufa, principalmente o CO2 e trabalhar no sentido de amenizar essa situação é o que muitos países estão se propondo, inclusive o Brasil, que na COP21 se comprometeu a reduzir a emissão de gases e para isso precisa ter uma diretriz, um programa que leve a esse resultado e o RenovaBio vem nessa direção, trazendo benefícios para o meio ambiente, com isso trazendo benefícios para toda a população, com vantagens competitivas para o Brasil porque vai colocá-lo como modelo diante do mundo e aqui se tem condições de fazer essa transformação. Temos um clima favorável, solo, água e, o principal, que é o domínio da tecnologia na produção do etanol. Podemos ter aqui o biogás, o biodiesel, o etanol, a bioeletricidade e com isso melhorar muito a participação dos biocombustíveis na matriz energética brasileira. Eu acredito que não tem como o Governo não abraçar este programa com muito entusiasmo.
Revista Canavieiros: O etanol terá pela primeira vez em mais de 30 anos de existência uma norma regulatória que envolve produtores, distribuidoras e outros players da cadeia produtiva. Como o senhor vê isso?
Manoel Ortolan: O que está no bojo do RenovaBio é isso, ele contempla todos os participantes da cadeia produtiva não só do etanol, mas da bioeletricidade, também do biogás, biodiesel e por isso que é um programa que acreditamos muito. Não é novo imposto, não traz renúncia fiscal e não é política de subsídio. Dentre os benefícios citamos o maior uso de energias renováveis, atribui valor à redução de emissões, trará mais sustentabilidade ao planeta, maior segurança energética e incentivo à inovação tecnológica. O RenovaBio, com certeza, tem tudo para ser um grande sucesso no país.
Revista Canavieiros: Este é um ano de eleição. O que o senhor espera para o setor sucroenergético?
Manoel Ortolan: Não só o setor, mas o país como um todo - todos os segmentos da economia irão viver um grande suspense, uma grande apreensão neste ano porque não tem muita luz no fim do túnel. O Governo que aí está só vem decepcionando. Tem o lado da parte econômica que parece separada da parte política e tem conseguido algum avanço, mas na parte política, que é a que deve mudar na próxima eleição, a gente não vê muita luz no fim do túnel. Este Governo está decepcionando com as medidas que vem tomando, com essa mudança contínua de ministros, colocando pessoas que não têm nada a ver com o ministério. Basta ver o que aconteceu com o Ministério do Trabalho, quando estamos precisando de pessoas competentes para ajudar a resolver problemas, criar um novo modelo, fica esse ‘clientelismo’ para atender a interesses partidários. O que estamos assistindo é um favorecimento de partidos para conseguir votos. Eu penso que o presidente teria ganho muito mais se ele fosse um pouco mais rígido nas ações e, se a Câmara e o Senado não estão ajudando nas reformas, ele tinha que colocar isso muito claro para a população e não é ele que não está conseguindo, mas o pessoal não quer ajudar. Em vez disso o Governo chegou falando uma coisa e, a meu ver, está fazendo outra. É difícil, pois não conseguimos ver nos outros candidatos uma grande liderança despontando. Precisaríamos ter uma pessoa que entusiasmasse a população, um estadista na concepção da palavra que pudesse bem representar o país em todos os níveis e, acima de tudo, que tivesse essa condição de liderança, de liderar um processo de transformação, estando à frente do processo. Temos um bom candidato no caminho, mas para mim falta um pouco de liderança para ele. Enfim, temos que estar atentos e fazer a nossa parte, sair da zona de conforto e partir mais para a briga, precisamos conscientizar as pessoas e trabalhar com aqueles que estão próximos a nós para ver se a gente consegue mudar esse quadro.
Revista Canavieiros: Como foi o ano de 2017 para a Canaoeste?
Manoel Ortolan: Eu entendo que foi um bom ano porque fizemos em 2015 um projeto novo para a Canaoeste que teve como base a contratação de um gestor e um programa a ser desenvolvido para a reestruturação da Canaoeste. Esse programa foi bem consolidado no ano de 2017, cumprimos a maior parte das etapas, implementamos várias mudanças que se faziam necessárias. Atualmente temos um corpo técnico bem distribuído e bem atuante na região de cobertura da Canaoeste, com um volume grande de informações e conhecimentos para melhor atender os produtores e os associados.
Revista Canavieiros: O senhor gostaria de deixar uma mensagem para os associados?
Manoel Ortolan: Estamos passando em termos de setor por um momento não muito bom. De um lado a questão do açúcar com excedente de produções maiores na União Europeia, na Tailândia, na Índia, China, todo mundo produzindo mais. Os preços caíram consideravelmente e a expectativa para os próximos dois anos com esse excedente não é de haver uma recuperação de preço muito boa. O RenovaBio é um programa que embora trouxe um alento na medida em que a lei foi assinada pelo presidente, ainda deve levar mais uns dois anos para sua implementação. Acredito que não vai dar tempo de ele provocar uma mudança significativa no setor em curto prazo. É válido ressaltar que, em tempos difíceis e para nós de uma organização como Canaoeste, o importante é estarmos juntos, somarmos esforços, buscarmos dialogar com o Governo, produtores e indústrias para conseguirmos vencer as dificuldades da melhor maneira possível. Já passamos por vários momentos difíceis e estamos de pé como uma associação forte, bem organizada e com o nosso quadro de associados também amplo. Nossa área de atuação cresceu nos últimos anos e o que precisamos neste momento é continuarmos juntos para nos mantermos fortes, vencermos as dificuldades e poder prosseguir.