Safra 2021/22 pode começar com excelentes preços

18/03/2021 Colunista POR: * MARCOS FAVA NEVES ** VÍTOR NARDINI MARQUES *** VINÍCIUS CAMBAÚVA

* Marcos Fava Neves é Professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração
da USP em Ribeirão Preto e da FGV em São Paulo, especialista em planejamento estratégico do
agronegócio. Confira textos, vídeos e outros materiais no site doutoragro.com e veja os
vídeos no canal do Youtube (Marcos Fava Neves). Seguem os agradecimentos ao apoio de Vitor
Nardini Marques e Vinícius Cambaúva.

** Vítor Nardini Marques é analista da Markestrat

*** Vinícius Cambaúva é consultor da Markestrat

 

Marcos Fava Neves

 

 

Reflexões dos fatos e números do agro em fevereiro e o que acompanhar em março

Na economia mundial e brasileira

  • Em pronunciamento feito pela diretora do Fundo Monetário Internacional (FMI), a organização pontuou que os países devem priorizar as políticas para vacinação contra a Covid-19 como a mais importante medida econômica da atual conjuntura. Há esperanças de retorno à normalidade, principalmente se observarmos o que vem acontecendo nos EUA.
  • Na economia brasileira, o relatório Focus (Bacen) de 1º de março trouxe expectativas para o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) de 2021 em 3,87%, e de 2022 em 3,50%. Já para o PIB (Produto Interno Bruto), espera-se um crescimento de 3,29% neste ano e de 2,50% em 2022. Para a taxa Selic, o mercado espera 4 % e 5 %, respectivamente, e no câmbio, R$ 5,10 no final de 2021 e R$ 5,03 no final do próximo ano. Fechamos 2020 com uma queda de 4,1% no PIB. Até que não foi tão mal perto do que se desenhou em um ano de pandemia. 

No agro mundial e brasileiro

  • De acordo com o relatório do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) de fevereiro, a produção global de soja para o ciclo 2020/21 deve totalizar 361,08 milhões de toneladas, com estoques finais de 83,36 milhões de toneladas. A projeção para a produção brasileira da oleaginosa é de 133 milhões de toneladas, enquanto que nos EUA e na Argentina devem ser produzidas, respectivamente, 112,54 e 48 milhões de toneladas. Já no milho, a produção mundial está projetada em 1.134,05 bilhão de toneladas e estoques finais de 286,53 milhões. Assim, para o cereal, os EUA devem produzir 360,24 milhões de toneladas; o Brasil, 109 milhões, e a Argentina, 47,5 milhões de toneladas. A oferta está bem apertada, e devemos consumir estoques, levando os preços das principais commodities para cima.
  • No mercado de commodities, de acordo com estatísticas do Valor Data, os preços da soja e do milho na Bolsa de Chicago fecharam o mês de fevereiro de 2021 com altas na ordem de 50% e 40%, respectivamente, em comparação aos valores do mesmo mês no ano passado. Outras commodities negociadas na bolsa de Nova York também tiveram crescimento significativos, como o açúcar (+10%), o suco de laranja (+15%), o café (+20%) e o algodão (+30%). Esse comportamento se sustenta pela expectativa de recuperação econômica mundial, políticas monetárias e fiscais, enfraquecimento do dólar e aumento da inflação.
  • A Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) estima que a produção brasileira de grãos da safra 2020/21 irá atingir 268,3 milhões de toneladas, com crescimento de 4,4% frente à passada, em uma área plantada de 67,7 milhões de hectares (+2,7%). Na cultura da soja, a produção deve totalizar 133,8 milhões de toneladas (+7,2%), em uma área cultivada de 38,3 milhões de hectares (+3,6%). Já no milho, a primeira safra está estimada em 23,6 milhões de toneladas (-8,0%) com uma área 0,8% inferior. No entanto, no acumulado das três safras, projeta-se um crescimento de 2,9% no volume colhido, chegando a 105,5 milhões de toneladas. No algodão, espera-se uma produção de pluma 16% inferior, somando 2,52 milhões de toneladas, em consequência da redução na área de plantio em 13,1%, que ficou em 1,45 milhão de hectares. Por fim, no trigo, a produção deve ser de 6,4 milhões de toneladas (+3,3%) graças ao crescimento na área plantada de 2,1%, alcançando 2,39 milhões de hectares.
  • As exportações do agronegócio do mês de janeiro de 2021 totalizaram US$ 5,67 bilhões, refletindo queda de 1,3% frente ao mesmo período de 2020, de acordo com estatísticas do Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento). As carnes ocuparam a primeira posição com US$ 1,15 bilhão (-14,0%), sendo US$ 547,80 milhões da carne bovina (-11,3%),
    US$ 423,90 milhões da carne de frango (-18,8%) e US$ 145,21 milhões da suína (-11%). Na segunda posição aparecem os produtos florestais, com exportações de US$ 824,20 milhões (-10,5%); o complexo sucroenergético aparece na terceira colocação, com aumento em sua comercialização em 39,3%, chegando a US$ 717,41 milhões. Em seguida, encontra-se o setor de cereais, farinhas e preparações, que exportou US$ 622,16 milhões (+46,3%), com o milho representando 80% deste montante. Finalmente, o café aparece na quinta colocação, com exportações de US$ 509,54 milhões (+26,7%). O complexo soja não apareceu entre os cinco principais segmentos (evento raro na pauta de exportações), pois apresentou queda de 44,6% em seu valor exportado, somando apenas US$ 484,07 milhões, devido, principalmente, às quedas nas vendas de grãos por conta dos preços elevados e baixos estoques globais. Por sua vez, o agronegócio comprou US$ 1,30 bilhão, um crescimento de 6,5% nas importações, mas deixa um saldo superavitário na balança comercial de US$ 4,37 milhões (-3,42%).
  • A CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) estima um VBP (Valor Bruto da Produção Agropecuária) de R$ 1,142 trilhão em 2021; aumento de 15,8% em relação a 2020. No total, as cadeias da agricultura devem registrar R$ 759,25 bilhões (+19%) e as da pecuária R$ 383,45 bilhões (+9,8%). Já o Mapa estima que o VPB deve crescer 11,8% em 2021, chegando à marca de R$ 1,0 trilhão, com as lavouras somando R$ 688,4 bilhões e a pecuária R$ 314,5 bilhões. Preços favoráveis e boa previsão de safra são os fatores que impulsionam esse resultado.
  • A indústria de alimentos e bebidas no Brasil registrou faturamento de R$ 789,2 bilhões em 2020, alta de 12,8% frente a 2019. Tal resultado representa 10,5% do PIB brasileiro, segundo pesquisa da Abia (Associação Brasileira da Indústria de Alimentos). Foram responsáveis por 20 mil novos empregos no ano passado, o que reflete um crescimento de 1,2%.
  • O IC Agro (Índice de Confiança do Agronegócio) fechou o quarto trimestre de 2020 em 121,4 pontos, recuando 5,6 pontos frente ao trimestre anterior. Apesar da queda, o indicador é o terceiro melhor resultado da série histórica, evidenciando o otimismo com relação ao setor.
  • Segundo levantamento realizado pela StoneX, a colheita de milho verão encontra-se atrasada no Brasil quando comparada ao mesmo período do ano passado. Apenas 7% das lavouras haviam sido colhidas até a semana do dia 05 de fevereiro de 2021, enquanto que em 2020 esse valor atingia 20%. A previsão da consultoria é de que sejam produzidas 26 milhões de toneladas do cereal na primeira safra e 82 milhões de toneladas na segunda.
  • A estimativa da Conab para a produção brasileira de café na safra 2021 está entre 43,8 a 49,5 milhões de sacas de 60 kg, refletindo uma redução entre 21,4% a 30,5% em relação ao volume obtido em 2020. A área plantada e em produção é a menor da série histórica dos últimos 20 anos, somando apenas 1,76 milhão de hectares e contando com outros 431,9 mil hectares em formação. A participação do café arábica na produção deve ser de 66%, enquanto o conilon representa 33%.
  • De acordo com a reestimativa de safra do Fundecitrus, a produção de laranja do ciclo 2020/21 para o cinturão citrícola de São Paulo e Triângulo/Sudoeste Mineiro deve ser de 269,01 milhões de caixas, valor 30,45% inferior ao da safra passada. O comportamento bianual da cultura, agravado pelas condições climáticas, pode levar à pior quebra de safra dos últimos 33 anos para a região.
  • O mapeamento da ANA (Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico) apontou que a área equipada com irrigação no Brasil é de 8,2 milhões de hectares, sendo 64,5% com águas de mananciais e outros 35,5% com água de reuso. De acordo com a organização, a área irrigada pode crescer mais 4,2 milhões de hectares até 2040.
  • O agronegócio deverá ganhar mais competitividade pela criação de FIAgro (Fundos de Investimento do Setor Agropecuário), medida possibilitada pelo novo projeto de lei aprovado pelo Senado. A proposta visa criar um instrumento, nos mesmos moldes de fundos imobiliários, para financiar a atividade agropecuária no país, permitindo que pessoas físicas e instituições adquiram cotas de fundos, democratizando os investimentos no setor. Destaca-se aqui a participação fundamental do deputado Arnaldo Jardim.
  • Na pecuária, a arroba bovina bateu novos recordes em fevereiro de 2021, atingindo valor superior a R$ 300, de acordo com o indicador do Cepea/B3. Tal nível de preço é acarretado pela baixa oferta de animais para abate, consequência de períodos anteriores com elevado abate de fêmeas e reduzida produção de bezerros, além do incremento de exportações, principalmente para China, e alta nos custos de produção com o dólar valorizado.
  • Nos Estados Unidos, o clima frio que atingiu o sul do país nos últimos dias - com temperaturas de até -20°C - pode ter cancelado o abate de até 125 mil cabeças, segundo o Rabobank. Esse impacto já pode ser visto no acompanhamento do USDA, que apontou queda de 17% na produção de carne bovina no país; apenas na semana do dia 14 de fevereiro foram abatidos 56 mil animais a menos. As baixas temperaturas também prejudicaram algumas áreas de milho na região, o que deve elevar os custos de produção aos produtores locais.
  • Nas empresas de alimentos, destaque para a Minerva Foods que anunciou seus resultados de 2020, com recordes no lucro líquido – fechados em R$ 697,1 milhões. A receita líquida da companhia cresceu 13,3%, fechando em R$ 19,4 bilhões; e o Ebitda em R$ 2,14 bilhões, aumento de 22,4% em comparação ao registrado em 2019. Com os resultados, a companhia distribuiu dividendos adicionais aos seus acionistas: R$ 384,3 milhões, ou R$ 0,73 por ação. Outro destaque veio da JBS, incluir 200 pecuaristas de pequeno porte, de Rondônia, no selo Biocombustível Social, do Mapa. A empresa já investiu mais de R$ 5 milhões em assistência técnica gratuita desde que iniciou o programa, tendo adquirido mais de 110 mil animais por meio desta iniciativa. Com a inclusão dos novos produtores, a JBS espera uma oferta adicional de 40 mil cabeças de gado, produzidas com base nos parâmetros socioambientais do programa. É a sustentabilidade cada vez mais presente na indústria de alimentos.
  • A Beyond Meat, empresa de substitutos da carne, registrou prejuízo líquido de US$ 52,8 milhões no ano de 2020. A empresa atribuiu esse resultado às despesas relacionadas à pandemia da Covid-19, com baixa de estoques e reservas de produtos e suprimentos. No ano de 2019, o prejuízo da companhia foi de US$ 12,4 milhões.
  • É crescente o interesse dos agricultores na utilização de bioinsumos para o controle de pragas e doenças, e para a nutrição de plantas. Muitos desses produtos biológicos podem ser produzidos nas propriedades, gerando assertividade no manejo e redução nos custos de produção. Diante disso, o Mapa tem trabalhado em seu Programa Nacional de Bioinsumos para desenvolver o setor e fomentar novos investimentos para a construção de biofábricas através de financiamento pelo Inovagro. Mais um ponto para a sustentabilidade.
  • Também no elo dos defensivos, as estimativas do Sindiveg (Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal) apontam que o setor deve aumentar a sua receita em mais de 10% no ano de 2021. Esse valor é consequência de um potencial incremento de área tratada com os produtos, principalmente de soja e milho. A indústria também repassará quase que integralmente os custos com a variação cambial, o que não aconteceu em 2020, e acabou deixando muitas empresas com margens apertadas ou prejuízo. No ano passado, o faturamento total do setor foi de US$ 12,1 bilhões, caindo 10,4% frente a 2019.
  • Nas cooperativas, a C.Vale atingiu um faturamento de R$ 12,26 bilhões em 2020, crescendo 37% frente ao ano anterior, gerando um resultado líquido de R$ 251 milhões. As sobras distribuídas aos cooperados devem totalizar R$ 93 milhões. Exemplo de ação coletiva.
  • No elo de produção agropecuária, intensificando sua tese de investimentos em terras estrangeiras, a Brasil Agro adquiriu 9,9 mil hectares em território boliviano por cerca de US$ 30 milhões. As áreas compradas já estão desenvolvidas e serão destinadas à produção de cana e grãos.
  • As tradings Bunge, Cargill, ADM, LDC e Glencore se uniram para desenvolver uma plataforma de gestão do fluxo de commodities. A Covantis – como ficou intitulada a joint venture – começou a ser idealizada há dois anos e terá o Brasil como primeiro campo de testes. O sistema possibilitará o contato entre os elos das cadeias de grãos com a entrega nos portos, integrando informações como datas de chegadas e partidas de navios, volumes de mercadorias, bandeiras e outras.
  • No âmbito dos biocombustíveis, o CNPE (Conselho Nacional de Política Energética) segue com as discussões acerca da inclusão do diesel renovável na matriz energética brasileira. O biocombustível, já utilizado em países da Europa, é produzido por meio de óleos vegetais, gorduras animais e até mesmo óleo de cozinha, e segundo a indústria produtora, tem potencial para a redução das emissões de gases em comparação ao biodiesel. A decisão da CNPE deve ser concluída ao longo de 2021.
  • Em relatório divulgado pelo CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável), O Brasil pode gerar mais de 2 milhões de empregos e movimentar US$ 17 bilhões até 2030 com soluções baseadas no meio-ambiente. Nesse contexto, as discussões envolvendo a precificação do carbono devem se tornar cada vez mais frequentes, especialmente pelo fato de que a pauta será tratada na COP-26 da ONU, em novembro deste ano. Os avanços na comercialização de carbono podem beneficiar diversas áreas no Brasil, como a de biocombustíveis, energias renováveis, agricultura de baixo carbono, bioeconomia e outras.
  • No fechamento desta coluna, a soja, para entregar em cooperativa de São Paulo, estava em R$ 165/saca para março de 2021 sendo negociada a R$ 155/saca e em março de 2022 a R$ 151/saca. Há um ano estava em R$ 83/saca. No caso do milho, hoje está em R$ 82/saca; R$ 66/saca para entregas em agosto de 2021, e R$ 64/saca para agosto de 2022. Há um ano, o milho estava em R$ 50/saca. O algodão em R$ 165/arroba, contra R$ 92 do ano passado. No boi, a arroba era negociada em mais de R$ 300. Foi um mês de incrível ganho de preços.

Os cinco fatos do agro para acompanhar diariamente em março são:

a) Com as chuvas praticamente consolidadas na primeira safra, agora é na segunda que reside a preocupação principal, com ênfase no milho e em suas produtividades e produções. Fora isso, observar os atrasos de colheita da primeira safra devido às chuvas, aumentando ainda mais o risco da segunda. O clima também está perturbando a Argentina;

b) Demanda mundial: as importações na Ásia e outros países em carnes, grãos e outros produtos, além de um possível novo surto de peste suína africana na China a ser observado;

c) A recente instabilidade política com a situação da Petrobras e sua influência sobre o otimismo, crescimento e principalmente taxa de câmbio;

d) A segunda onda da Covid-19, o processo de vacinação, os mecanismos de apoio e a garantia de renda e a performance do mercado consumidor;

e) As expectativas de plantios, áreas e produtividades da mega safra norte-americana. Qualquer problema climático será grave aos preços.

Reflexões dos fatos e números da cana em fevereiro e o que acompanhar em março

Na cana

  • Na primeira quinzena de fevereiro, a moagem de cana-de-açúcar foi de apenas 486,9 mil toneladas. No acumulado da safra, a moagem chegou a 598,12 milhões de toneladas, 3,22% maior que o volume registrado no mesmo período da safra anterior. Até o dia 16 de fevereiro ainda estavam em operação três usinas de cana-de-açúcar, cinco usinas full de milho e duas do modelo flex. Falta apenas este mês de março para fecharmos oficialmente a safra.
  • No terceiro levantamento da Conab para a cana-de-açúcar, a organização indica, no comparativo com a safra passada, um aumento de 3,5% na produção total da cultura (642,7 milhões de toneladas), em uma área 1,9% maior (8,6 milhões de hectares) e uma produtividade 1,5% superior para os canaviais (77,29 toneladas por hectare). Para os produtos do setor, a Conab estima, no açúcar, uma produção recorde de 41,84 milhões de toneladas, volume 40% maior que o registrado na safra 2019/20; e no etanol, um volume de 32,85 milhões de litros produzidos até o final da safra atual (68,4% do hidratado e 31,6% do anidro). Lembrando sempre que a Conab considera o dado de todo o Brasil.
  • Já o levantamento da Archer Consulting, para o Centro-Sul estima uma produção de 578 milhões de toneladas de cana-de-açúcar no ciclo 2021/22, o que deve representar queda de 4% frente à safra anterior. Para o açúcar são esperadas 35,3 milhões de toneladas, 3 milhões a menos que em 2019/20; enquanto que no etanol, a produção deve ser de 27,4 bilhões de litros, 2 bilhões de litros a menos.
  • Na linha dos créditos verdes, a Socicana (Associação dos Fornecedores de Cana de Guariba, SP), conseguiu R$ 4,6 milhões para oferecer a taxas 20% menores aos produtores integrados, desde que estes tenham certificações de sustentabilidade ambiental. Valem os programas Bonsucro, RSB e o Top Cana, da própria associação. A operacionalização se dá pela cooperativa de crédito Coopecredi. Mais uma nota em direção à sustentabilidade.
  • Foi aprovada pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) a operação da Raízen e Biosev. Teremos um gigante com 35 usinas e mais de 100 milhões de toneladas, totalizando 1,3 milhão de hectares. A BP Bunge Bioenergia espera capturar, já no primeiro ano safra de operações após a fusão, cerca de R$ 1 bilhão face as sinergias geradas pela joint venture. Um dos grandes pontos de destaque está na comercialização do açúcar: a empresa já fixou 80% de todas as suas vendas para a safra 2021/22, e 40% para 2022/23. Com o fortalecimento também da Copersucar, estamos vendo um setor cada vez mais aglutinado e eficiente.

No açúcar

  • Segundo a Unica (União da Indústria de Cana-de-açúcar), a produção de açúcar na safra 2020/21 chegou ao acumulado de 38,21 milhões de toneladas; um crescimento de 44,25% frente aos 26,49 milhões de toneladas fabricadas no mesmo período do ciclo anterior. Incrível!
  • As vendas externas de açúcar no mês de janeiro totalizaram US$ 625,11 milhões, crescendo 31,2% em volume e alcançando 2,1 milhões de toneladas. No total acumulado da safra, para as exportações, o levantamento da Conab aponta que entre abril de 2020 e janeiro de 2021, 28,43 milhões de toneladas de açúcar foram exportados pelo Brasil, um aumento de 50% em comparação à safra 2019/20. Uma verdadeira invasão de açúcar brasileiro.
  • No mercado global, a OIA (Organização Mundial do Açúcar) ampliou suas projeções para o déficit de açúcar no mercado global na safra 2020/21. Na comparação com a projeção anterior, a produção global foi estimada em 169 milhões de toneladas (-1,3%) e o consumo em 173,8 milhões de toneladas (-0,4%). A redução se deu especialmente pela baixa na safra de alguns países como Irã (-29,7%), Paquistão (-8,3%) e Tailândia (-4,8%). Os três países devem produzir 1,3, 5,5 e 7,8 milhões de toneladas, respectivamente. Bom para os preços.
  • Na Índia, as exportações de açúcar devem totalizar 4,3 milhões de toneladas no ciclo atual, recuando 24% frente aos 5,7 milhões de toneladas da temporada 2019/20. A queda nas exportações é consequência de problemas logísticos enfrentados nos portos do país asiático, com congestionamento e ausência de contêineres para embarcação. Por outro lado, a produção indiana deve totalizar 29,9 milhões de toneladas em 2020/21, crescendo 9,12% frente ao ciclo anterior.
  • O aumento no déficit global de açúcar, a falta de chuva nas principais regiões produtoras, o atraso na safra e até mesmo a escassez na disponibilidade de contêineres; são alguns dos fatores que contribuíram para a elevação dos preços. Na bolsa de Nova York, os vencimentos de março/21 fecharam em 17,89 centavos de dólar por libra-peso depois de quase baterem os 18,00 centavos. O valor surpreende e não era esperado nem mesmo pelo mais otimista dos analistas e traders do mercado, mas já recuou para 16 centavos. Se permanecer aí, com o atual câmbio, será bom ao setor.
  • Porém, segundo a Archer, praticamente 80% do açúcar da safra 2021/22 estão vendidos e fixados a 13.13 centavos de dólar por libra-peso. A São Martinho já fixou os preços de 703 mil toneladas de açúcar, o que representa 61% de sua cana própria, a um preço médio de R$ 1.530/tonelada para a safra 2021/22. Além disso, 100 mil toneladas (ou 9% de sua cana própria) também já foram fixadas a um preço médio de R$ 1.745/tonelada para o ciclo 2022/2023. Os preços do açúcar no mercado doméstico bateram patamares recordes nos últimos meses devido a cotação do dólar e quebra de safra na Tailândia.

No etanol

  • Segundo a Unica, a produção acumulada alcançou 29,68 bilhões de litros até a primeira quinzena de fevereiro; volume 8,54% menor que os 32,45 bilhões de litros fabricados no mesmo período da safra 2019/20. Do total produzido até aqui, 19,97 bilhões são de hidratado (61,5%) e 9,71 bilhões de litros de anidro (38,5%). As vendas de etanol chegaram a 27,21 bilhões de litros até o fechamento desta coluna; redução de 8,64%. As exportações do biocombustível somam 2,38 bilhões de litros, uma alta de 43,0% em comparação ao ciclo anterior. Segundo o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), mesmo com estes preços atuais do etanol, as médias ainda são menores que as da safra passada, em cerca de 1,5%.
  • De acordo com dados fechados da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) de 2020, o consumo de combustíveis leves foi de 49,3 bilhões de litros de gasolina equivalente, queda de 8,6% em comparação a 2019. No etanol hidratado, foram consumidos 19,26 bilhões de litros, o que equivale a uma redução de 14,58%, enquanto que na gasolina a redução na demanda foi de 6,13%. Por outro lado, o diesel fechou em alta de 0,30% frente a 2019, com 57,47 bilhões de litros consumidos.
  • As exportações de etanol atingiram US$ 90,86 milhões em janeiro, crescimento de 110,9% frente ao mesmo mês de 2020. Os Estados Unidos e a Coreia do Sul foram os principais destinos do etanol brasileiro, respondendo por 32,8% e 27,4% do montante exportado, respectivamente.
  • Apesar das quedas de consumo de hidratado, o setor sucroenergético mantém as apostas elevadas no mercado do biocombustível. Segundo a ANP, há 17 usinas em construção, o que deve adicionar um volume na oferta diária de até 6,77 milhões de litros; além de outras 23 em processo de expansão (20 de cana, 2 de milho e 1 de palha da cana), sendo que estas devem incorporar outros 8,6 milhões de litros por dia.
  • Para o preço do etanol na safra 2021/22, a Archer Consulting espera uma média de R$ 2,7 por litro, podendo chegar a picos de R$ 3.
  • De acordo com a Unem (União Nacional do Etanol de Milho), a produção de etanol de milho na safra atual está estimada em 2,65 bilhões de litros, enquanto para 2021/22 são esperados 3,3 bilhões de litros. No ciclo atual, com os dados compilados até a primeira quinzena de fevereiro, a Unica aponta para uma produção acumulada de 2,20 bilhões de litros no ciclo atual. Os investimentos vêm sendo anunciados e isto será muito bom ao Brasil.
  • Para concluir com outra boa notícia, o Reino Unido anunciou que irá aumentar a mistura de etanol à gasolina de 5% para 10% a partir de setembro de 2021. Com isso, os britânicos buscam cumprir com suas metas de redução de emissões de gás carbônico em 68% até 2030. Com a medida, o governo estima reduzir as emissões em 750 mil toneladas por ano. Pode ser boa oportunidade de exportação ao Brasil.

Para concluir, os cinco principais fatos para acompanhar em março na cadeia da cana:

a) Observar o consumo de etanol hidratado com estes novos preços. Ao fechar esta coluna, pelos dados da SCA, o litro do hidratado estava em R$ 3,57/l com impostos nas usinas e o anidro a R$ 3,12/l. O barril do petróleo tipo Brent estava em US$ 65, um incrível aumento nos últimos 30 dias;

b) O déficit de açúcar: ao fechar a coluna, o açúcar estava em 16 cents/libra peso na tela de maio de 2021. O consumo mundial deve aumentar com a vacinação e o crescimento econômico mundial;

c) Os efeitos do clima sobre o canavial 2021/22, que vem se recuperando após um início difícil nos meses de setembro a novembro. Porém, o mês de fevereiro já foi mais seco;

d) As exportações de açúcar do Brasil e os preços para o mercado interno;

e) Se existirá alteração na política de preços da Petrobrás e observar o que deve acontecer com o câmbio nesta recente crise política.

Valor ATR

No início da safra tivemos algumas quedas no valor acumulado do ATR: abril com R$0,70/kg; maio com R$0,69/kg; junho em R$0,68/kg; e julho em R$0,676/kg. No entanto, de agosto para cá, temos observado um aumento do indicador: agosto em R$0,679/kg; setembro em R$0,687/kg; outubro com R$0,70/kg; novembro com R$0,71/kg e dezembro fechando com R$0,729/kg. Em janeiro de 2021 tivemos o ATR valendo R$0,86/kg e. em fevereiro, incríveis R$0,93/kg. Com isso, chegamos a um acumulado de R$0,76/kg.

Homenageado do mês

Desta vez, nossa singela homenagem vai para o Prof. Dr. Eduardo Eugênio Spers, Titular da ESALQ/USP. Prof. Eduardo, quem conheço há 30 anos, é um dos grandes educadores do Brasil, formando administradores e engenheiros-agrônomos tanto em graduação, mestrado e doutorado. Uma carreira brilhante na formação de talentos ao agronegócio.