São Martinho compra canavial da Dreyfus
18/12/2012
Cana-de-Açúcar
POR: Valor Econômico
Após negociações que duraram três meses, o grupo sucroalcooleiro São Martinho acertou a compra, por R$ 199,6 milhões, dos ativos agrícolas da Usina São Carlos, localizada em Jaboticabal (SP) e controlada pela Biosev, braço sucroalcooleiro da francesa Louis Dreyfus Commodities. Esses ativos foram repassados a uma nova empresa, batizada de Newco, e somam uma oferta de 1,85 milhão de toneladas de cana-de-açúcar.
Essa matéria-prima passará a ser processada na Usina São Martinho, localizada em Pradópolis (SP) e distante, em média, 30 quilômetros desses canaviais. É a maior unidade sucroalcooleira do grupo - e do mundo -, com capacidade para processar até 8,8 milhões de toneladas de cana por safra, mas que vem trabalhando, em média, com 7 milhões de toneladas por escassez de matéria-prima, conforme explica o presidente do grupo São Martinho, Fábio Venturelli. "Alcançar a moagem de 8,8 milhões de toneladas nessa unidade significará geração de caixa na veia para o grupo".
O pagamento pelos ativos será realizado à vista, com recursos do caixa, afirma o executivo. Ao fim de setembro passado, a empresa informava caixa de R$ 711,3 milhões. "Vínhamos reforçando nossas reservas de olho nesse tipo de oportunidade", diz. Além dos ativos agrícolas, a transação também envolve um armazém de açúcar com capacidade estática para 40 mil toneladas.
Essa é a terceira "operação estratégica" feita pela São Martinho desde 2010. Naquele ano, a empresa fez uma aliança com a Petrobras Biocombustível para criar um nova companhia (Nova Fronteira Bioenergia) para investir em etanol no Centro-Oeste. Na época, a companhia repassou uma grande parte de seu endividamento para a joint venture com a PBio e recuperou sua capacidade de investir.
Assim, em novembro de 2011 comprou uma participação minoritária (32,18%) na usina Santa Cruz, considerada uma das joias operacionais do mercado sucroalcooleiro. Desde então negocia a compra do controle do ativo com o acionista majoritário, o Luiz Ometto Participações, que detém 55,31% da unidade.
Venturelli menciona que a transação com o canavial da usina São Carlos sairá por um múltiplo equivalente a US$ 50 por tonelada de cana. A aquisição das ações da Santa Cruz, há um ano, completa o executivo, custou o equivalente a US$ 80 por tonelada, quando a cotação do dólar estava na casa dos R$ 1,70. "Tudo isso em um mercado que há pouco tempo pagava mais de US$ 120 por tonelada".
Metade do canavial adquirido pela São Martinho é oriundo de contratos de fornecimento de cana, com tempos de vigência diversos, de dois a seis anos. Os outros 50% serão de cana própria.
A São Martinho também acordou com a Biosev que, apenas na safra 2013/14, vai fornecer 1 milhão de toneladas da Newco para ser processada em outras unidades da multinacional francesa. Somente a partir de 2014/15 é que a totalidade de 1,850 milhão de toneladas da Newco será toda direcionada para a unidade de Pradópolis. "A usina São Martinho terá em 2013/14 muita cana em pé herdada da atual safra para moer. Portanto, não precisaremos de muito mais matéria-prima no ano que vem", explica.
A conclusão do negócio ainda depende de auditoria confirmatória, que será feita pela São Martinho e também de aprovação do negócio pelos acionistas preferencialistas da Biosev S.A.
A operação industrial da usina São Carlos será descontinuada pela Biosev, conforme comunicado enviado ao mercado. O CEO da Biosev, Christophe Akli, explicou que, depois da fusão com a Santaelisa Vale, em 2009, havia sobreposição das áreas de cana de açúcar entre as usinas Santa Elisa e São Carlos. "O recurso resultante da venda será usado para acelerar o processo de preenchimento da capacidade total de moagem em outras grandes usinas da Biosev no interior paulista", afirmou Akli.
Fabiana Batista