O mês: O clima vem ajudando e devemos ter uma super safra. Quase 83 milhões de toneladas de soja e 76 milhões de milho, e um total de 184 milhões de toneladas em grãos, incríveis 16% a mais que em 2012. Janeiro também surpreendeu com compras chinesas de açúcar, estimadas em mais de 250 mil toneladas. Analistas de mercado já preveem que a China possa importar mais de 1,5 milhão de toneladas neste ano. Também em janeiro o Brasil teve excelente desempenho exportador, quase 2,3 milhões de toneladas, o que é recorde para este mês. Começa-se bem o ano.
Empresas: A BM&F Bovespa também colocou a partir de janeiro dois contratos futuros importantes para o setor, o do açúcar cristal e do anidro. É mais um importante movimento, e se estes contratos ganharem musculatura, serão importante fonte de referência e planejamento no setor. E o BNDES anunciou desembolsar mais de R$ 5 bilhões em 2013 ao setor. Além de crescer fortemente o programa Pro-Renova, com regras mais ajustadas às necessidades do setor, destacam-se os apoios do Banco junto com a FINEP para o desenvolvimento do etanol celulósico, bioquímicos e gaseificação. Portanto, a bola está na quadra do setor privado para fazer bons projetos, captar estes recursos e fazer o Brasil liderar na inovação, criando e capturando valor.
Vale ainda ressaltar a importante contribuição que o bagaço de cana deu nas Usinas listadas em bolsa no terceiro trimestre do ano. As margens operacionais das Usinas estão bem melhores, o que mostra que o cenário está mudando.
Pessoas Canavieiras (homenagem do mês): neste mês queria fazer uma homenagem especial a Embrapa, na sua unidade de agroenergia, que vem sendo liderada pelo Manoel Souza Jr. A Embrapa, verdadeiro patrimônio brasileiro, vem atuando em diversas frentes para promover a inovação na cana, desde variedades, aspectos agrícolas e industriais. Também compartilho com o leitor que perdemos o grande cientista Caetano Ripoli. Segue a minha postagem no facebook “hoje perdi meu professor da Esalq e um amigo de admiração mútua, um cara com quem aprendi sobre cana, sobre mecanização e principalmente, sobre vida. Crítico, falava sempre o que pensava, de maneira simples e direta. Um cara de muita luta, como a que travou com a doença que o tirou de nós ainda muito jovem. Tenho seus livros autografados, lí, aprendi e ri com eles todos. Descansa em paz nosso guerreiro Caetano Ripoli, obrigado pelos quase 30 anos em que te conheci, ganhei muito com isto.” Fico feliz que fizemos nesta coluna uma homenagem a ele em vida, e tenho guardado comigo o telefonema emocionado que recebi dele quando viu a revista Canavieiros.
Aprendizado de Viagem: Passei sete dias na África do Sul. O assunto biocombustível está efervescendo. Devem entrar com a mistura de etanol na gasolina e biodiesel no diesel ainda neste ano, com grande plano de investimentos. Eles também acreditam muito no desenvolvimento da cana nos países vizinhos, destacando principalmente o Moçambique e o Zimbabue. Agora escrevo este texto dos EUA, vim para uma imersão de 15 dias na Universidade de Purdue, é meu ano sabático, e devo vir a cada 15 dias, e passar o segundo semestre aqui. Eu tenho muita admiração pelos EUA na forma como os negócios funcionam. Cheguei em Chicago e em 15 minutos um ônibus me deixou na locadora. Lá havia um painel com os diversos sobrenomes de pessoas que tinham alugado carros pela internet. Um rapaz se aproximou, perguntou meu nome, olhou no I-Pad e mostrou uma sequência de 15 carros na categoria que havia escolhido, estacionados de ré, com o porta-malas aberto. Escolhi um e fui embora. Minha carteira de motorista foi conferida pela pessoa que fica na guarita de saída. Um processo de três a cinco minutos, no total, ate estar com o carro na rua.
Cana: Muitas usinas já devem iniciar a moagem no final de março, diferentemente do ano passado, onde se atrasou o início. A Datagro estimou a renovação de cana em 20%, e continuam as expectativas que a produtividade será de até 10% maior, voltando a casa das 80 toneladas/ha. O problema agora passa a ser novamente a capacidade de processamento. Estima-se uma capacidade instalada máxima de 700 milhões de toneladas no Brasil, e o processamento pode chegar a mais de 600 milhões. Já em 2014 podemos ter usinas operando a capacidade máxima, o que também pode gerar ineficiências e aumento de custos, principalmente devido a desperdícios.
Haja limão: Apesar de sequenciais alertas feitos por mim e por muitos outros estudiosos do setor, o desastre da importação de gasolina se verificou. Fechados os números em 2012, gastamos US$ 3 bilhões para comprar 3,8 bilhões de litros. E o mais incrível é ver a evolução... Em 2009 importou-se US$ 70 mil, em 2010 US$ 285 milhões, em 2011 US$ 1,6 bilhão para finalizar com os US$ 3 bilhões em 2012. Quanto será em 2013? Não será nada bom se observarmos como está a balança comercial neste início de ano. Considero este um dos erros, se não o principal erro do atual Governo brasileiro, mais injustificável ainda pelo fato da Presidente ser uma pessoa que tem um passado na área de energia.
MARCOS FAVA NEVES é professor titular de planejamento e estratégia na FEA/USP Campus Ribeirão Preto e coordenador científico do Markestrat.
O mês: O clima vem ajudando e devemos ter uma super safra. Quase 83 milhões de toneladas de soja e 76 milhões de milho, e um total de 184 milhões de toneladas em grãos, incríveis 16% a mais que em 2012. Janeiro também surpreendeu com compras chinesas de açúcar, estimadas em mais de 250 mil toneladas. Analistas de mercado já preveem que a China possa importar mais de 1,5 milhão de toneladas neste ano. Também em janeiro o Brasil teve excelente desempenho exportador, quase 2,3 milhões de toneladas, o que é recorde para este mês. Começa-se bem o ano.
Empresas: A BM&F Bovespa também colocou a partir de janeiro dois contratos futuros importantes para o setor, o do açúcar cristal e do anidro. É mais um importante movimento, e se estes contratos ganharem musculatura, serão importante fonte de referência e planejamento no setor. E o BNDES anunciou desembolsar mais de R$ 5 bilhões em 2013 ao setor. Além de crescer fortemente o programa Pro-Renova, com regras mais ajustadas às necessidades do setor, destacam-se os apoios do Banco junto com a FINEP para o desenvolvimento do etanol celulósico, bioquímicos e gaseificação. Portanto, a bola está na quadra do setor privado para fazer bons projetos, captar estes recursos e fazer o Brasil liderar na inovação, criando e capturando valor.
Vale ainda ressaltar a importante contribuição que o bagaço de cana deu nas Usinas listadas em bolsa no terceiro trimestre do ano. As margens operacionais das Usinas estão bem melhores, o que mostra que o cenário está mudando.
Pessoas Canavieiras (homenagem do mês): neste mês queria fazer uma homenagem especial a Embrapa, na sua unidade de agroenergia, que vem sendo liderada pelo Manoel Souza Jr. A Embrapa, verdadeiro patrimônio brasileiro, vem atuando em diversas frentes para promover a inovação na cana, desde variedades, aspectos agrícolas e industriais. Também compartilho com o leitor que perdemos o grande cientista Caetano Ripoli. Segue a minha postagem no facebook “hoje perdi meu professor da Esalq e um amigo de admiração mútua, um cara com quem aprendi sobre cana, sobre mecanização e principalmente, sobre vida. Crítico, falava sempre o que pensava, de maneira simples e direta. Um cara de muita luta, como a que travou com a doença que o tirou de nós ainda muito jovem. Tenho seus livros autografados, lí, aprendi e ri com eles todos. Descansa em paz nosso guerreiro Caetano Ripoli, obrigado pelos quase 30 anos em que te conheci, ganhei muito com isto.” Fico feliz que fizemos nesta coluna uma homenagem a ele em vida, e tenho guardado comigo o telefonema emocionado que recebi dele quando viu a revista Canavieiros.
Aprendizado de Viagem: Passei sete dias na África do Sul. O assunto biocombustível está efervescendo. Devem entrar com a mistura de etanol na gasolina e biodiesel no diesel ainda neste ano, com grande plano de investimentos. Eles também acreditam muito no desenvolvimento da cana nos países vizinhos, destacando principalmente o Moçambique e o Zimbabue. Agora escrevo este texto dos EUA, vim para uma imersão de 15 dias na Universidade de Purdue, é meu ano sabático, e devo vir a cada 15 dias, e passar o segundo semestre aqui. Eu tenho muita admiração pelos EUA na forma como os negócios funcionam. Cheguei em Chicago e em 15 minutos um ônibus me deixou na locadora. Lá havia um painel com os diversos sobrenomes de pessoas que tinham alugado carros pela internet. Um rapaz se aproximou, perguntou meu nome, olhou no I-Pad e mostrou uma sequência de 15 carros na categoria que havia escolhido, estacionados de ré, com o porta-malas aberto. Escolhi um e fui embora. Minha carteira de motorista foi conferida pela pessoa que fica na guarita de saída. Um processo de três a cinco minutos, no total, ate estar com o carro na rua.
Cana: Muitas usinas já devem iniciar a moagem no final de março, diferentemente do ano passado, onde se atrasou o início. A Datagro estimou a renovação de cana em 20%, e continuam as expectativas que a produtividade será de até 10% maior, voltando a casa das 80 toneladas/ha. O problema agora passa a ser novamente a capacidade de processamento. Estima-se uma capacidade instalada máxima de 700 milhões de toneladas no Brasil, e o processamento pode chegar a mais de 600 milhões. Já em 2014 podemos ter usinas operando a capacidade máxima, o que também pode gerar ineficiências e aumento de custos, principalmente devido a desperdícios.
Haja limão: Apesar de sequenciais alertas feitos por mim e por muitos outros estudiosos do setor, o desastre da importação de gasolina se verificou. Fechados os números em 2012, gastamos US$ 3 bilhões para comprar 3,8 bilhões de litros. E o mais incrível é ver a evolução... Em 2009 importou-se US$ 70 mil, em 2010 US$ 285 milhões, em 2011 US$ 1,6 bilhão para finalizar com os US$ 3 bilhões em 2012. Quanto será em 2013? Não será nada bom se observarmos como está a balança comercial neste início de ano. Considero este um dos erros, se não o principal erro do atual Governo brasileiro, mais injustificável ainda pelo fato da Presidente ser uma pessoa que tem um passado na área de energia.
MARCOS FAVA NEVES é professor titular de planejamento e estratégia na FEA/USP Campus Ribeirão Preto e coordenador científico do Markestrat.