Segurança Jurídica é vital para o campo

15/02/2016 Agronegócio POR: Andréia Vital – Revista Canavieiros – edição 115
Análise sobre os principais entraves jurídicos, legais e ideológicos que impedem o pleno avanço do agronegócio no Brasil foram os principais assuntos debatidos durante a realização do 4º Fórum Nacional de Agronegócio, evento promovido pelo Lide (Grupo de Líderes Empresariais), presidido por João Doria, e LIDE Agronegócio, liderado pelo ex-ministro Roberto Rodrigues, recentemente, em Campinas-SP. Com o tema “O Campo e a Legalidade: Jurídica, Trabalhista, Ambiental, Agrária e Biotecnológica”, o fórum reuniu diversas autoridades e lideranças do setor.
Moderador do fórum, Roberto Rodrigues explicou que o evento, nas outras edições, tratou das questões da economia que envolviam o agro, mas infelizmente as “Cartas de Campinas’, geradas após os debates sobre os problemas que envolvem o setor e que são enviadas ao Governo Federal, não têm obtido resultado. "Dado o momento econômico debatemos desta vez sobre a questão institucional do agro. Questões que perturbam o setor e que influenciam diretamente na renda", explicou ele, ressaltando a necessidade de garantir a segurança jurídica para o campo, questão muito evidenciada durante o encontro.
“Foi ressaltada no encontro a falta de contato dos Tribunais com a realidade do campo, até mesmo em função de regras e legislações inconsistentes com tal realidade”, afirmou o ex-ministro, dizendo que temas críticos para o bom andamento do agronegócio foram tratados com rigor na ocasião. “Entre eles, um destaque foi dado à falta de conhecimento realista sobre os resultados efetivos da reforma agrária frente aos custos desse programa bancado pela sociedade brasileira”, afirmou, dizendo ainda que a necessidade de avanços da biotecnologia e os resultados do Código Florestal e suas consequências na importante necessidade de sustentabilidade da produção rural também foram assuntos no encontro.  “Temas agudos foram tratados com rigor, tais como, a falta de conhecimento realista dos resultados efetivos da reforma agrária frente aos custos desse programa bancado pela sociedade brasileira”, pontou Rodrigues.
Durante sua participação no evento, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, destacou a importância do agronegócio para o Brasil e ressaltou que o Governo Estadual tem se empenhado em fazer ações em prol do agronegócio, como melhorar a infraestrutura para escoamento da safra com destino ao Porto de Santos-SP. Citou os investimentos feitos em relação a defesa sanitária, no rodoanel e ferroanel e a volta das atividades da hidrovia Tietê-Paraná, entre outras iniciativas.
Visão jurídica
Na palestra do ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal), que teve como tema “Como o Judiciário vê o Agro no Brasil”, pontos que geram distorções e insegurança jurídica no campo mereceram destaque. 
Questões como as demarcações de terras para indígenas, as regras sobre trabalho análogo, a condição de escravo e áreas destinadas à comunidades de quilombolas acabam aumentando o que se passou a se chamar de “judicialização” do sistema judiciário brasileiro. “Temos de trabalhar fortemente no sentido de desjudicializar a Justiça”, disse o ministro do STF, completando “Estamos hoje com cerca de 100 milhões de processos em análise nas várias instâncias. Se nada for feito, vamos chegar fácil a 200 milhões de processos e isso, apesar de anualmente, julgarmos algo na casa de 25 milhões processos”, informou. Mendes ressaltou ainda a importância das entidades ligadas ao agronegócio acompanhar de perto as indicações e nomeações de juízes, tanto do STF quando do TST (Tribunal Superior do Trabalho).
“Especialmente nesse último, entendo que há graves problemas no âmbito da
Justiça do Trabalho. A meu ver, temos de analisar as demandas trabalhistas pensando na empregabilidade, pois se tornarmos essa questão onerosa, teremos problemas no futuro”, comentou.
Ao encerrar sua participação, o ministro disse que estar em um Estado de Direito é ter certeza de que quem bate à porta bem cedinho é o leiteiro e não a polícia. Participaram deste painel também Márcio de Freitas, presidente da OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras); Gustavo Diniz Junqueira, presidente da SRB (Sociedade Rural Brasileira) e Antonio Alvarenga, presidente da SNA (Sociedade Nacional de Agricultura).
Legislação trabalhista ultrapassada
“O poder judiciário tornou-se uma fonte de insegurança jurídica porque passou a adotar o populismo judiciário, sobretudo na esfera do Direito do Trabalho, o que fez explodir as demandas trabalhistas”, disse o ex-ministro do Trabalho e do TST, Almir Pazzianotto Pinto, durante sua participação no segundo painel do evento, que teve como tema “Visão trabalhista, biotecnologia, ambiental e agrária”. Segundo ele, nos últimos quatro anos as Varas do trabalho pagaram mais de R$ 70 bilhões a reclamantes em ações trabalhistas. Além disso, há um volume de R$ 18 bilhões em precatórios em fase final de julgamento e 2,5 bilhões de sentenças pendentes. Isso não pode continuar”, alertou Pazzianotto.
A legislação ultrapassada e desapegada da realidade atual também foi destacada pelo ex-ministro, afirmando que o clima no Brasil é de insegurança. “O Brasil não tem vontade de progredir, nos acomodamos no subdesenvolvimento porque não resolvemos as questões mais prioritárias para permitir uma atividade econômica sadia, vigorosa, segura e é a insegurança que impede investimentos e destrói empregos”, constatou ele, citando a morosidade em definir alguns pleitos, dando como exemplo a terceirização, que aguarda uma legislação desde 1986.
“A solução vem pela via política. 2018 está aí, mais perto do que os senhores imaginam. Então nos preparamos para 2018 ou o PT ou algum aventureiro protelará mais uma vez o problema”, finalizou. 
O segundo painel contou também com a participação da advogada Samanta Pineda, consultora jurídica da Frente Parlamentar da Agropecuária no Congresso Nacional, que iniciou sua palestra lembrando que a atual legislação brasileira aplicada ao campo é a mais rigorosa do mundo e que APP (Área de Proteção Permanente) e Reserva Legal são instrumentos que só existem aqui.
“Mesmo com todas essas medidas restritivas, o produtor brasileiro conseguiu, entre 1960 e 2010, ampliar a produção de grãos em 830%, com um crescimento de apenas 127% na área plantada.
Na pecuária o estoque de gado cresceu 251%, enquanto que a área ocupada por este gado cresceu só 39%. Isso foi obtido graças a muita tecnologia e empenho do homem do campo. É óbvio que um desempenho espetacular como esse despertou atenção dos demais produtores de alimentos, fibra e energia do mundo”, observou Samanta.
A consultora jurídica destacou ainda que a legislação brasileira está descolada da realidade. “Entendo que o atual Governo tem um discurso ambientalista hipócrita, na medida em que deixa quebrar usinas que produzem o etanol, um combustível comprovadamente menos poluidor, negligencia com os programas de vistoria em veículos, que poderia reduzir as emissões e que deixa sucatear as estruturas de fiscalização de órgãos ambientais”, comentou a palestrante.
Damares Monte, pesquisadora da Embrapa e especialista em engenharia genética, falou sobre a potencialidade da biotecnologia no Brasil e destacou que existe uma percepção pública negativa sobre os organismos geneticamente modificados. “As pessoas, sobretudo nos centros urbanos, têm dificuldades em entender os benefícios dos avanços.
Talvez por não compreenderem direito as enormes dificuldades de se conseguir produzir alimentos, elas fazem um julgamento equivocado da questão. Entendo que, nesse caso, um empenho maior em esclarecer, via educação, seria uma forma de contornar esse conceito equivocado”, disse a palestrante.
Fechando o painel, o ex-secretário do Meio Ambiente de São Paulo, Xico Graziano, tratou da questão agrária e fez um apanhado dos assentamentos de reforma agrária promovidos pelo Governo brasileiro nos últimos anos. “O Brasil já fez a maior reforma agrária jamais executada no mundo”, garantiu Graziano, informando que já foram assentadas 962 mil famílias. “O ponto obscuro desse processo, é que não se sabe o resultado dele. Não se medem os resultados em termos de produção e de produtividade desses assentamentos, nem a qualidade de vida dessas pessoas e nem quanto custaram todos esses assentamentos”, comentou.
Outro ponto questionado por Graziano é em relação a notícias sobre negociações que são feitas com essas terras. “Mas o mais grave é que o Ministério do Desenvolvimento Agrário firmou, de 2003 a 2014, nada menos que 1.424 convênios com ONGs, que implicaram no repasse de R$ 2,7 bilhões para realização de ações sociais que não são fiscalizadas ou auditadas. Essa é uma das grandes deformações do processo de reforma agrária. São recursos públicos que não são investigados se estão realmente sendo aplicados onde devia”, finalizou Graziano.
Visão parlamentar
O senador Ronaldo Caiado abriu os debates do terceiro painel do dia e enfatizou as preocupações em relação ao acirramento da disputa por terras entre produtores rurais e índios. “O Governo Federal, por meio de órgãos como Incra e Funai, está organizando uma verdadeira máquina de invasões, utilizando como instrumentos ONGs e o MST”, afirmou o senador.
O parlamentar esclareceu que, apesar de haver atualmente no Brasil 113 milhões de hectares de terras demarcadas para uso de comunidades indígenas, a Funai, o Conselho Indígena Missionário e alguns integrantes do Ministério Público Federal reivindicam ainda outros 113 milhões de hectares e existem cerca de 600 processos demarcatórios em andamento. “Nesse caso, ocorre algo totalmente contrário à Constituição, uma vez que o Artigo 67 da Carta Magna determina que a demarcação de terras indígenas deveria ocorrer somente 5 anos após a promulgação da Constituição de 1988. No entanto, passados 12 anos após o término da determinação constitucional, ainda presenciamos expropriações de terras produtivas”, alegou Caiado.
Ao discursar, o secretário de Agricultura e Abastecimento de São Paulo, Arnaldo Jardim, reforçou a iniciativa do Governo Paulista na implantação de um plano de defesa sanitária, comentado durante a participação do governador Geraldo Alckmin. “A defesa sanitária dispõe novos desafios no momento em que o mundo precisa disso como questão fundamental até para mesmo no contexto da exportação”, afirmou. Além de Caiado e Jardim, participaram desse painel final os deputados federais Marcos Montes (PSD-MG) e Carlos Melles (DEM-MG) e o presidente da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, Fernando Capez.
Todos foram unânimes em salientar os aspectos apontados pelos demais participantes do Fórum sobre a insegurança jurídica que afeta o agronegócio. Capez instigou o LIDE a organizar um grupo de notáveis para discutir saídas para a atual crise brasileira. “No caso do LIDE Agronegócios, nós já fazemos isso com regularidade, quando reunimos grupos de 60 a 80 pessoas, em pequenos seminários, nos quais os graves problemas do setor são analisados em detalhe”, comentou João Doria.
Ao finalizar o fórum, o ex-ministro Roberto Rodrigues apresentou o Legado do Fórum, no qual o ponto principal mostra que é essencial para o avanço do Brasil que se tenham legislações e regras que garantam a segurança jurídica à Nação. “Até mesmo a possibilidade da revisão da Constituição de 1988 deve ser revisitada no interesse de toda a sociedade. Aqui entram a preservação do Estado de Direito, garantido o direito de propriedade, a desideologização dos Tribunais do Trabalho, uma nova Legislação com uma Agenda Político Partidária com ampla participação da sociedade civil organizada, cuidando até mesmo de eventuais abusos de autoridade”, disse Rodrigues, afirmando ainda que ficou clara a necessidade de legislar sobre a sustentabilidade produtiva em temas como o Pagamento por Serviços Ambientais e avanços na biotecnologia alinhados com os interesses da sociedade toda.
Empresas e entidades são premiadas
No final do evento, diversas empresas e entidades setoriais da cadeia do agronegócio foram homenageadas pela sua atuação no mercado. Na área de defensivos, foram premiadas a ANDEF (Associação Nacional de Defesa Vegetal); a ANDAV (Associação Nacional dos Distribuidores de Insumos Agrícolas e Veterinários); e o INPEV (Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias). No segmento de fertilizantes, as empresas premiadas foram a Mosaic e Yara, na de implementos agrícolas, a Jacto, Jumil e Marchesan. No setor de sementes, recebem o prêmio a Monsanto, Du Pont Pioneer e Syngenta; e no de tratores as montadorasAGCO, CHN e SANY do Brasil.
Pesquisa mostra Insatisfação
Durante o fórum foi feita pesquisa com os participantes que constatou pessimismo no setor. Conduzida pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), a sondagem, denominada “Índice LIDE–FGV de Clima do Agronegócio”, e que levou em conta componentes relacionadas a Governo, negócios e lucro, variando de zero a 10, ficou em 2,8. Em relação ao tema que mais preocupa o agronegócio atualmente, 47% dos empresários consideraram que é a legislação trabalhista, 20% afirmaram ser a legislação ambiental, 17% o avanço tecnológico e 16% a questão fundiária.
Análise sobre os principais entraves jurídicos, legais e ideológicos que impedem o pleno avanço do agronegócio no Brasil foram os principais assuntos debatidos durante a realização do 4º Fórum Nacional de Agronegócio, evento promovido pelo Lide (Grupo de Líderes Empresariais), presidido por João Doria, e LIDE Agronegócio, liderado pelo ex-ministro Roberto Rodrigues, recentemente, em Campinas-SP. Com o tema “O Campo e a Legalidade: Jurídica, Trabalhista, Ambiental, Agrária e Biotecnológica”, o fórum reuniu diversas autoridades e lideranças do setor.

 
Moderador do fórum, Roberto Rodrigues explicou que o evento, nas outras edições, tratou das questões da economia que envolviam o agro, mas infelizmente as “Cartas de Campinas’, geradas após os debates sobre os problemas que envolvem o setor e que são enviadas ao Governo Federal, não têm obtido resultado. "Dado o momento econômico debatemos desta vez sobre a questão institucional do agro. Questões que perturbam o setor e que influenciam diretamente na renda", explicou ele, ressaltando a necessidade de garantir a segurança jurídica para o campo, questão muito evidenciada durante o encontro.

 
“Foi ressaltada no encontro a falta de contato dos Tribunais com a realidade do campo, até mesmo em função de regras e legislações inconsistentes com tal realidade”, afirmou o ex-ministro, dizendo que temas críticos para o bom andamento do agronegócio foram tratados com rigor na ocasião. “Entre eles, um destaque foi dado à falta de conhecimento realista sobre os resultados efetivos da reforma agrária frente aos custos desse programa bancado pela sociedade brasileira”, afirmou, dizendo ainda que a necessidade de avanços da biotecnologia e os resultados do Código Florestal e suas consequências na importante necessidade de sustentabilidade da produção rural também foram assuntos no encontro.  “Temas agudos foram tratados com rigor, tais como, a falta de conhecimento realista dos resultados efetivos da reforma agrária frente aos custos desse programa bancado pela sociedade brasileira”, pontou Rodrigues.

 
Durante sua participação no evento, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, destacou a importância do agronegócio para o Brasil e ressaltou que o Governo Estadual tem se empenhado em fazer ações em prol do agronegócio, como melhorar a infraestrutura para escoamento da safra com destino ao Porto de Santos-SP. Citou os investimentos feitos em relação a defesa sanitária, no rodoanel e ferroanel e a volta das atividades da hidrovia Tietê-Paraná, entre outras iniciativas.

 
Visão jurídica

 
Na palestra do ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal), que teve como tema “Como o Judiciário vê o Agro no Brasil”, pontos que geram distorções e insegurança jurídica no campo mereceram destaque. 

 
Questões como as demarcações de terras para indígenas, as regras sobre trabalho análogo, a condição de escravo e áreas destinadas à comunidades de quilombolas acabam aumentando o que se passou a se chamar de “judicialização” do sistema judiciário brasileiro. “Temos de trabalhar fortemente no sentido de desjudicializar a Justiça”, disse o ministro do STF, completando “Estamos hoje com cerca de 100 milhões de processos em análise nas várias instâncias. Se nada for feito, vamos chegar fácil a 200 milhões de processos e isso, apesar de anualmente, julgarmos algo na casa de 25 milhões processos”, informou. Mendes ressaltou ainda a importância das entidades ligadas ao agronegócio acompanhar de perto as indicações e nomeações de juízes, tanto do STF quando do TST (Tribunal Superior do Trabalho).

 
“Especialmente nesse último, entendo que há graves problemas no âmbito da
Justiça do Trabalho. A meu ver, temos de analisar as demandas trabalhistas pensando na empregabilidade, pois se tornarmos essa questão onerosa, teremos problemas no futuro”, comentou.

 
Ao encerrar sua participação, o ministro disse que estar em um Estado de Direito é ter certeza de que quem bate à porta bem cedinho é o leiteiro e não a polícia. Participaram deste painel também Márcio de Freitas, presidente da OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras); Gustavo Diniz Junqueira, presidente da SRB (Sociedade Rural Brasileira) e Antonio Alvarenga, presidente da SNA (Sociedade Nacional de Agricultura).

 
Legislação trabalhista ultrapassada

 
“O poder judiciário tornou-se uma fonte de insegurança jurídica porque passou a adotar o populismo judiciário, sobretudo na esfera do Direito do Trabalho, o que fez explodir as demandas trabalhistas”, disse o ex-ministro do Trabalho e do TST, Almir Pazzianotto Pinto, durante sua participação no segundo painel do evento, que teve como tema “Visão trabalhista, biotecnologia, ambiental e agrária”. Segundo ele, nos últimos quatro anos as Varas do trabalho pagaram mais de R$ 70 bilhões a reclamantes em ações trabalhistas. Além disso, há um volume de R$ 18 bilhões em precatórios em fase final de julgamento e 2,5 bilhões de sentenças pendentes. Isso não pode continuar”, alertou Pazzianotto.

 
A legislação ultrapassada e desapegada da realidade atual também foi destacada pelo ex-ministro, afirmando que o clima no Brasil é de insegurança. “O Brasil não tem vontade de progredir, nos acomodamos no subdesenvolvimento porque não resolvemos as questões mais prioritárias para permitir uma atividade econômica sadia, vigorosa, segura e é a insegurança que impede investimentos e destrói empregos”, constatou ele, citando a morosidade em definir alguns pleitos, dando como exemplo a terceirização, que aguarda uma legislação desde 1986.

 
“A solução vem pela via política. 2018 está aí, mais perto do que os senhores imaginam. Então nos preparamos para 2018 ou o PT ou algum aventureiro protelará mais uma vez o problema”, finalizou. 

 
O segundo painel contou também com a participação da advogada Samanta Pineda, consultora jurídica da Frente Parlamentar da Agropecuária no Congresso Nacional, que iniciou sua palestra lembrando que a atual legislação brasileira aplicada ao campo é a mais rigorosa do mundo e que APP (Área de Proteção Permanente) e Reserva Legal são instrumentos que só existem aqui.

 
“Mesmo com todas essas medidas restritivas, o produtor brasileiro conseguiu, entre 1960 e 2010, ampliar a produção de grãos em 830%, com um crescimento de apenas 127% na área plantada.

 
Na pecuária o estoque de gado cresceu 251%, enquanto que a área ocupada por este gado cresceu só 39%. Isso foi obtido graças a muita tecnologia e empenho do homem do campo. É óbvio que um desempenho espetacular como esse despertou atenção dos demais produtores de alimentos, fibra e energia do mundo”, observou Samanta.

 
A consultora jurídica destacou ainda que a legislação brasileira está descolada da realidade. “Entendo que o atual Governo tem um discurso ambientalista hipócrita, na medida em que deixa quebrar usinas que produzem o etanol, um combustível comprovadamente menos poluidor, negligencia com os programas de vistoria em veículos, que poderia reduzir as emissões e que deixa sucatear as estruturas de fiscalização de órgãos ambientais”, comentou a palestrante.

 
Damares Monte, pesquisadora da Embrapa e especialista em engenharia genética, falou sobre a potencialidade da biotecnologia no Brasil e destacou que existe uma percepção pública negativa sobre os organismos geneticamente modificados. “As pessoas, sobretudo nos centros urbanos, têm dificuldades em entender os benefícios dos avanços.

 
Talvez por não compreenderem direito as enormes dificuldades de se conseguir produzir alimentos, elas fazem um julgamento equivocado da questão. Entendo que, nesse caso, um empenho maior em esclarecer, via educação, seria uma forma de contornar esse conceito equivocado”, disse a palestrante.

 
Fechando o painel, o ex-secretário do Meio Ambiente de São Paulo, Xico Graziano, tratou da questão agrária e fez um apanhado dos assentamentos de reforma agrária promovidos pelo Governo brasileiro nos últimos anos. “O Brasil já fez a maior reforma agrária jamais executada no mundo”, garantiu Graziano, informando que já foram assentadas 962 mil famílias. “O ponto obscuro desse processo, é que não se sabe o resultado dele. Não se medem os resultados em termos de produção e de produtividade desses assentamentos, nem a qualidade de vida dessas pessoas e nem quanto custaram todos esses assentamentos”, comentou.

 
Outro ponto questionado por Graziano é em relação a notícias sobre negociações que são feitas com essas terras. “Mas o mais grave é que o Ministério do Desenvolvimento Agrário firmou, de 2003 a 2014, nada menos que 1.424 convênios com ONGs, que implicaram no repasse de R$ 2,7 bilhões para realização de ações sociais que não são fiscalizadas ou auditadas. Essa é uma das grandes deformações do processo de reforma agrária. São recursos públicos que não são investigados se estão realmente sendo aplicados onde devia”, finalizou Graziano.

 
Visão parlamentar

 
O senador Ronaldo Caiado abriu os debates do terceiro painel do dia e enfatizou as preocupações em relação ao acirramento da disputa por terras entre produtores rurais e índios. “O Governo Federal, por meio de órgãos como Incra e Funai, está organizando uma verdadeira máquina de invasões, utilizando como instrumentos ONGs e o MST”, afirmou o senador.

 
O parlamentar esclareceu que, apesar de haver atualmente no Brasil 113 milhões de hectares de terras demarcadas para uso de comunidades indígenas, a Funai, o Conselho Indígena Missionário e alguns integrantes do Ministério Público Federal reivindicam ainda outros 113 milhões de hectares e existem cerca de 600 processos demarcatórios em andamento. “Nesse caso, ocorre algo totalmente contrário à Constituição, uma vez que o Artigo 67 da Carta Magna determina que a demarcação de terras indígenas deveria ocorrer somente 5 anos após a promulgação da Constituição de 1988. No entanto, passados 12 anos após o término da determinação constitucional, ainda presenciamos expropriações de terras produtivas”, alegou Caiado.

 
Ao discursar, o secretário de Agricultura e Abastecimento de São Paulo, Arnaldo Jardim, reforçou a iniciativa do Governo Paulista na implantação de um plano de defesa sanitária, comentado durante a participação do governador Geraldo Alckmin. “A defesa sanitária dispõe novos desafios no momento em que o mundo precisa disso como questão fundamental até para mesmo no contexto da exportação”, afirmou. Além de Caiado e Jardim, participaram desse painel final os deputados federais Marcos Montes (PSD-MG) e Carlos Melles (DEM-MG) e o presidente da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, Fernando Capez.

 
Todos foram unânimes em salientar os aspectos apontados pelos demais participantes do Fórum sobre a insegurança jurídica que afeta o agronegócio. Capez instigou o LIDE a organizar um grupo de notáveis para discutir saídas para a atual crise brasileira. “No caso do LIDE Agronegócios, nós já fazemos isso com regularidade, quando reunimos grupos de 60 a 80 pessoas, em pequenos seminários, nos quais os graves problemas do setor são analisados em detalhe”, comentou João Doria.

 
Ao finalizar o fórum, o ex-ministro Roberto Rodrigues apresentou o Legado do Fórum, no qual o ponto principal mostra que é essencial para o avanço do Brasil que se tenham legislações e regras que garantam a segurança jurídica à Nação. “Até mesmo a possibilidade da revisão da Constituição de 1988 deve ser revisitada no interesse de toda a sociedade. Aqui entram a preservação do Estado de Direito, garantido o direito de propriedade, a desideologização dos Tribunais do Trabalho, uma nova Legislação com uma Agenda Político Partidária com ampla participação da sociedade civil organizada, cuidando até mesmo de eventuais abusos de autoridade”, disse Rodrigues, afirmando ainda que ficou clara a necessidade de legislar sobre a sustentabilidade produtiva em temas como o Pagamento por Serviços Ambientais e avanços na biotecnologia alinhados com os interesses da sociedade toda.

 
Empresas e entidades são premiadas

 
No final do evento, diversas empresas e entidades setoriais da cadeia do agronegócio foram homenageadas pela sua atuação no mercado. Na área de defensivos, foram premiadas a ANDEF (Associação Nacional de Defesa Vegetal); a ANDAV (Associação Nacional dos Distribuidores de Insumos Agrícolas e Veterinários); e o INPEV (Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias). No segmento de fertilizantes, as empresas premiadas foram a Mosaic e Yara, na de implementos agrícolas, a Jacto, Jumil e Marchesan. No setor de sementes, recebem o prêmio a Monsanto, Du Pont Pioneer e Syngenta; e no de tratores as montadorasAGCO, CHN e SANY do Brasil.

 
Pesquisa mostra Insatisfação

 
Durante o fórum foi feita pesquisa com os participantes que constatou pessimismo no setor. Conduzida pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), a sondagem, denominada “Índice LIDE–FGV de Clima do Agronegócio”, e que levou em conta componentes relacionadas a Governo, negócios e lucro, variando de zero a 10, ficou em 2,8. Em relação ao tema que mais preocupa o agronegócio atualmente, 47% dos empresários consideraram que é a legislação trabalhista, 20% afirmaram ser a legislação ambiental, 17% o avanço tecnológico e 16% a questão fundiária.