Ampliar o conhecimento da cadeia sucroenergética, debater seus principais problemas, levantar o pensamento de lideranças e expor tendências para o setor sucroenergético são lemas do projeto “Caminhos da Cana”, uma iniciativa que tem como objetivo transmitir a opinião pública, os benefícios da produção e do uso de etanol como energia limpa, renovável e sustentável de origem agrícola.
A primeira fase do projeto, executada em 2014, percorreu cerca de 10 mil quilômetros com a realização de eventos em 25 cidades do interior de São Paulo, como também, ultrapassou fronteiras, com a participação em congressos e seminários em outros Estados. A necessidade de modernizar a Orplana foi ponto de partida para o início desta ação, esclarece o presidente da organização, Manoel Ortolan, que também é presidente da Canaoeste. “Era essencial, para o fortalecimento da Orplana, traçar um plano estratégico para os próximos anos, pois as coisas mudaram muito, o país está mudando e o setor canavieiro também, pois passa por um processo de concentração atualmente, por isso a necessidade da modernização”, explicou.
Ortolan frisou ainda que, pelo mesmo motivo, era importante a reformulação da Canaoeste. “Novas estratégicas são essenciais para garantir o futuro da associação, fato que impulsionou a realização do trabalho para a Canaoeste”, afirmou, dizendo que o momento é o ideal para executar novas estratégias, já que 2015 é um ano significativo para a Canaoeste, que completou 70 anos no dia 22 de julho.
Ao apresentar o resultado da primeira etapa, no final de 2014, que culminou com um plano estratégico com 19 projetos de melhoria para a Orplana, o professor titular da FEA/USP, Marcos Fava Neves, comandante da expedição Caminhos da Cana e criador do Markestrat (Centro de Pesquisas e Projetos em Marketing e Estratégia da USP), que organizou as iniciativas do projeto, explicou que o estudo apontou que a associação tem condições de exercer um papel muito mais preponderante do que exercia, podendo absorver muitas das ações que são feitas por associações integrantes de maneira isolada, compartilhar essas informações, práticas de gestão, de certificação e de relacionamento com usinas. “Dentro de casa tem um conhecimento muito grande, que melhor compartilhado vai levar a um desempenho muito superior. É esse o nosso objetivo aqui, porque nós ouvimos todas elas e temos esse inventário de boas práticas que precisam ser compartilhadas”, disse o professor, na ocasião.
Segundo Fava Neves, as expectativas e metas continuaram arrojadas na segunda fase. “Diferentemente do mote de 2014, a campanha deste ano teve como temática turbinar o etanol, inspirado por um carro turbo, movido a etanol, que usamos durante a campanha. É o caminho para o setor sair mais rapidamente da crise, através da valorização e do consumo do hidratado e do anidro como puxadores”, explicou, afirmando que “é uma excelente oportunidade para rever amigos, discutir tendências e formular ações privadas e públicas para a competitividade da agroindústria canavieira”, disse o professor, ressaltando que o apoio das multinacionais foi essencial para a concretização do “Caminhos da Cana”.
O projeto tem como metodologia a realização de reuniões com líderes regionais e representantes dos diversos elos da cadeia para um profundo debate sobre as questões e necessidades do setor sucroenergético. Essas reuniões são realizadas na parte da manhã. Já na parte da tarde, é feito a coleta de informações junto aos associados e ministrada a palestra de Fava Neves, contando com a presença de produtores e lideranças. Durante este momento, são debatidos a atual situação do agronegócio brasileiro e os desafios do setor de cana-de-açúcar, como também, estudo feito pela Markestrat, que mapeou e quantificou o setor sucroenergético na safra 2013/14 e revelou números impressionantes do segmento, tais como o PIB Setorial estimado em US$ 107,72 bi, a geração de 613 mil empregos diretos e a arrecadação de US$ 8,52 bi em impostos agregados.
O livro Caminhos da Cana, de autoria do próprio palestrante, foi distribuído gratuitamente, durante os encontros, quando é feita também a aplicação de uma pesquisa realizada pela Universidade de São Paulo, apoiada pela FAPESP, com os produtores de cana de açúcar para identificação de demandas e encontrar um arcabouço teórico para melhoria do setor.
Durante sua apresentação, Fava Neves explica que num primeiro momento, a iniciativa tinha como objetivo fortalecer as associações setoriais, possibilitando que fossem mais competitivas. “Agora temos que dar um passo além, e a equipe está pensando em um plano estratégico para o setor de cana, expectativa de crescimento, consumo, qualquer dimensão que precisa ter para ajudar o Brasil a sair do buraco”, afirma.
De acordo com o pesquisador, é necessário buscar alternativas para que a produtividade da cana alcance os três dígitos, porque os custos de produção explodiram e os índices agrícolas só caem, se considerados os últimos 10 anos. “Tem um conjunto grande de iniciativas que precisam ser feitas”, alega o professor, pontuando que o lado do Governo se resume à agenda tradicional, de valorização do combustível renovável em detrimento do fóssil, ter um tratamento tributário mais privilegiado e valorizar a cogeração de energia. “A situação em que o Brasil se encontra ficou tão ruim agora que é praticamente inevitável que o Governo não olhe para o setor de cana”, diz ele.
Sobre a segunda fase do projeto, o professor ressalta que foi muito produtivo. “Em 6 meses foram alcançados quase 11 mil quilômetros em 24 cidades de todo o Brasil. A aposta para alavancar o setor sucroenergético é o etanol.
Por isso, nós o turbinamos com a união de forças entre associações, produtores e empresas. Tudo isso para que juntos pudéssemos alcançar os objetivos traçados”, explicou ele. No total, a segunda fase do projeto esteve em seis estados Alagoas, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraíba e São Paulo, rodando 10.931 km, sendo 5.649 km com o carro do Caminhos da Cana, e gastos 570 litros de etanol. A temporada atingiu cerca de duas mil pessoas e 800 produtores foram ouvidos.
Para o presidente do Sindicato de Ituverava-SP, Gustavo Ribeiro Rocha Chavaglia, a iniciativa contribui para o crescimento do segmento canavieiro. “O projeto fortalece, norteia e esclarece muita coisa para o produtor, possibilitando assim que ele se atualize e troque experiências sobre sua atividade”, disse ele, que foi o primeiro anfitrião dos participantes do Caminhos da Cana neste ano.
Opinião compartilhada com a gestora técnica operacional da Canaoeste, Alessandra Durgian. “O Caminhos da Cana é uma grande oportunidade para o produtor ter conhecimento das necessidades, dos desafios da real situação do setor sucroenergético.
São apresentados, pelo prof. dr. Marcos Fava Neves, de forma clara e objetiva, os números que quantificam o setor e também discutidos assuntos importantes para os produtores e associações sempre com o foco em aumento da competitividade”, afirma Alessandra, que acompanhou as reuniões nas cidades de abrangência da associação, entre elas, Sertãozinho-SP, sede da entidade. O evento em Sertãozinho fez parte das comemorações dos 70 anos da Canaoeste.
A iniciativa também foi aprovada pelos produtores, como o engenheiro agrônomo José Renato Parro, agrônomo e produtor de cana em Severínia, no oeste paulista. “A divulgação de novas ideias e aproximação da associação junto aos seus associados é muito importante para o setor, principalmente em momentos difíceis como tem vivido o segmento”, afirmou o produtor que participou de uma das reuniões, neste ano.
Resgate da Confiança
Para Fava Neves a confiança é a primeira coisa que deve ser resgatada no Brasil, pois ela está muito baixa. “O Governo Federal errou na conjuntura, fez a distribuição de renda, mas não fez nada no sentido de gerar renda, inclusive atrapalhou a capacidade dos senhores de gerar renda”, afirma durante suas palestras.
Segundo o pesquisador, a sociedade brasileira passou por um processo de “vagabundização”. “Não é qualquer país do mundo que tem um terço das pessoas em idade de trabalho (cerca de 61 milhões de pessoas não trabalham), que não procuram emprego e não estudam como no Brasil. Como nós vamos fazer para ser competitivo. Vamos ter que carregar esta carga de um terço que não trabalha?”, questionou ele.
"O Brasil enfrenta diversos problemas e as causas desses desajustes são estruturais e conjunturais. Adotou-se uma política equivocada, com pedaladas para escamotear os números, o crédito foi subsidiado via BNDES e agora enfrentamos ainda um aumento do desemprego com consequentemente redução do consumo futuro", ressaltou Fava Neves.
“A gente está atravessando uma fase econômica e social muito difícil no Brasil e a saída, como foi dito hoje aqui, é a união do produtor rural, em torno das suas associações, das suas cooperativas, dos seus sindicatos, enfim, a organização do produtor rural é fundamental para que a gente consiga atravessar essa fase dura que infelizmente o Brasil está atravessando, sobretudo no setor da cana-de-açúcar”, afirmou Ciro Pena Junior, presidente do Sindicato Rural de Barretos após participar do encontro realizado em Bebedouro-SP.
Segundo ele, na região de Barretos a situação não é diferente do resto da região canavieira. Custos altos e baixa remuneração para o produtor rural, concentração das usinas cada vez maiores, tudo isso vai contra a pluralidade no setor rural, que é uma questão que nós defendemos muito”, disse ele, contando que na sua região existem em torno de 500 fornecedores de cana-de-açúcar e duas usinas em atuação: Grupo Tereos, com a Usina São José, instalada em Colina, e a Biosev, que está instalada na Fazenda Continental, no município de Colômbia.
“Não diferente do Brasil, o que segura a economia nacional e também a nossa economia regional é o agronegócio, só que nós temos que fazer uma mea-culpa, pois o produtor rural se comunica muito mal com a sociedade e ele não faz valer os seus pontos de vista. A sociedade vive e sobrevive, se mantém é pelo agronegócio, pela produção de alimentos, pela produção de energia e pela produção de fibras, pela produção de matérias-primas que abastecem toda a indústria, só que o produtor rural tem que aprimorar esta arte da comunicação, isso eu acho fundamental”, afirmou.
Anfitrião do encontro realizado em Bebedouro-SP, José Osvaldo Junqueira Franco, presidente do Sindicato Rural de Bebedouro, destacou a relevância da iniciativa. “Eu acho que o projeto é muito bom, precisamos incentivar a participação dos produtores nas associações, nos sindicatos, nas cooperativas porque nós precisamos nos unir para conseguir melhorar, principalmente a geração de renda do setor e esse projeto visa exatamente isso, dar, principalmente, para os pequenos produtores, condições de sobreviver na atividade”, afirmou.
De acordo com Franco, Bebedouro tem 1250 propriedades e o sindicato tem 750 associados, sendo que sete usinas estão instaladas na região. Conhecida pela produção da laranja, hoje, Bebedouro tem 40 mil hectares de cana e 9 mil hectares de laranja, ao contrário do que existia há 15 anos. “Praticamente a totalidade da área do município hoje é ocupada por cana-de-açúcar. Infelizmente não temos nenhuma usina aqui na cidade, mas somos bem atendidos pelas usinas de Pitangueiras, Colinas, Sertãozinho, Paraíso e
Catanduva”, alegou o presidente.
Multinacionais investem no projeto
Nas duas etapas, o projeto contou com o apoio das multinacionais Bayer e Case IH. “O setor se fortalece com a união de várias entidades, associações e produtores em prol da indústria canavieira, que troca informação e tecnologia durante a realização do projeto. Como a Bayer trabalha para a melhoria do setor, temos a certeza que com essa união, resultados melhores aparecerão”, afirmou Plaucius de Figueiredo Seixas, gerente de Clientes cana-de--açúcar da Bayer.
Para Fábio Balaban, especialista de marketing para colhedoras de cana da Case IH, o “Caminhos da Cana” é um projeto relevante porque percorre as principais cidades produtoras de cana--de-açúcar. “Com isso, podemos ter todo o envolvimento da nossa rede de concessionária e estar cada vez mais próximo dos produtores de cana, desde o pequeno ao grande produtor, podendo entender melhor as suas necessidades e contribuir com produtos que garantam performance e tecnologia reduzindo os custos de produção e maximizando a lucratividade dos agricultores”, diz.
O projeto contou ainda com o apoio da FEARP/USP, Fundace, Fapesp, Orplana, Canaoeste e apoio institucional da UNICA e CEISE Br.
Disseminando experiência
O sucesso do projeto “Caminhos da Cana” virou case e passou a ser apresentado em outros eventos, como o Congresso Nacional da Bioenergia, organizado recentemente pela UDOP e STAB, em Araçatuba-SP. Na ocasião, o presidente da Canaoeste e da Orplana, Manoel Ortolan, que foi o moderador do painel "Caminhos da Cana: soluções e perspectivas de resgate para o etanol", ressaltou a importância da reestruturação que vem sendo feita na Orplana, resultado do projeto realizado pela Markestrat, em busca de sua modernização.
As ações feitas durante a realização do "Caminhos da Cana" foram apresentadas pelo gestor executivo da Orplana, Celso Albano de Carvalho, durante o evento. Segundo Albano, a campanha foi ponto de partida para a modernização da Orplana, com a implantação de 19 ações, sendo que três delas já estão sendo colocadas em prática: a reestruturação da governança; mudança da sede da Orplana de Piracicaba-SP para Ribeirão Preto-SP e a gestão de relacionamento com associações membros.
"A comunicação está sendo um catalizador de divulgação do Caminhos da Cana", afirmou. Albano pontuou ainda as percepções dos encontros realizados pelo projeto, entre eles, a necessidade de formação de lideranças; relacionamento distante entre produtos e usinas; alienação, entre outras.
Um dos elementos apontados por ele e que vem sendo trabalhado pela Orplana se refere à denominação do produtor. “O trabalho é no sentido de tentar mudar um pouco a denominação de fornecedor de cana para produtor integrado de cana, pois esta transformação vem acontecendo, a gente percebe produtores se verticalizando, buscando se profissionalizar. Tem que começar a entregar a cana na esteira, isto é uma demanda latente que as usinas estão exigindo ou procurando transformar essa atividade”, explicou, ressaltando que neste contexto, a associação quer ser o facilitador do desenvolvimento técnico e estratégico da cadeia sucroenergética, desenvolvendo um ambiente externo favorável, ou seja, permitindo que o produtor possa um relacionamento mais racional e de equilíbrio e contribuir para a manutenção da competitividade.
“A visão da Orplana baseado neste projeto oriundo do “Caminhos da Cana” foi ser reconhecida como principal porta voz do produtor de cana entre suas associações membros convergindo para a necessidade advinda de todos seus associados”, explicou ele, completando “A missão é garantir um futuro seguro, rentável para os produtores de cana buscando excelência na produção através de relacionamento entre as organizações, desenvolvendo e capacitando as pessoas buscando excelência técnica, um relacionamento político entre o público mais equilibrado”, afirmou.
De acordo com o gestor executivo, após a inauguração da nova sede da Orplana, localizada no prédio Iguatemi Empresarial, em Ribeirão Preto- SP, realizada no dia 11 de dezembro, e que fazia parte das 19 ações apontadas pelo trabalho feito pela Markestrat, a meta agora é levar a mensagem sobre os trabalhos já realizados ao maior número possível de pessoas, estreitar o relacionamento com as empresas e associações filiadas como também fechar novas parcerias.
A preparação de uma programação para 2016 também faz parte dos planos. “Seguiremos nossa jornada levando a mensagem de otimismo e trabalho”, conclui o comandante da expedição, Marcos Fava Neves, confirmando a terceira fase do Caminhos da Cana.
Ampliar o conhecimento da cadeia sucroenergética, debater seus principais problemas, levantar o pensamento de lideranças e expor tendências para o setor sucroenergético são lemas do projeto “Caminhos da Cana”, uma iniciativa que tem como objetivo transmitir a opinião pública, os benefícios da produção e do uso de etanol como energia limpa, renovável e sustentável de origem agrícola.
A primeira fase do projeto, executada em 2014, percorreu cerca de 10 mil quilômetros com a realização de eventos em 25 cidades do interior de São Paulo, como também, ultrapassou fronteiras, com a participação em congressos e seminários em outros Estados. A necessidade de modernizar a Orplana foi ponto de partida para o início desta ação, esclarece o presidente da organização, Manoel Ortolan, que também é presidente da Canaoeste. “Era essencial, para o fortalecimento da Orplana, traçar um plano estratégico para os próximos anos, pois as coisas mudaram muito, o país está mudando e o setor canavieiro também, pois passa por um processo de concentração atualmente, por isso a necessidade da modernização”, explicou.
Ortolan frisou ainda que, pelo mesmo motivo, era importante a reformulação da Canaoeste. “Novas estratégicas são essenciais para garantir o futuro da associação, fato que impulsionou a realização do trabalho para a Canaoeste”, afirmou, dizendo que o momento é o ideal para executar novas estratégias, já que 2015 é um ano significativo para a Canaoeste, que completou 70 anos no dia 22 de julho.
Ao apresentar o resultado da primeira etapa, no final de 2014, que culminou com um plano estratégico com 19 projetos de melhoria para a Orplana, o professor titular da FEA/USP, Marcos Fava Neves, comandante da expedição Caminhos da Cana e criador do Markestrat (Centro de Pesquisas e Projetos em Marketing e Estratégia da USP), que organizou as iniciativas do projeto, explicou que o estudo apontou que a associação tem condições de exercer um papel muito mais preponderante do que exercia, podendo absorver muitas das ações que são feitas por associações integrantes de maneira isolada, compartilhar essas informações, práticas de gestão, de certificação e de relacionamento com usinas. “Dentro de casa tem um conhecimento muito grande, que melhor compartilhado vai levar a um desempenho muito superior. É esse o nosso objetivo aqui, porque nós ouvimos todas elas e temos esse inventário de boas práticas que precisam ser compartilhadas”, disse o professor, na ocasião.
Segundo Fava Neves, as expectativas e metas continuaram arrojadas na segunda fase. “Diferentemente do mote de 2014, a campanha deste ano teve como temática turbinar o etanol, inspirado por um carro turbo, movido a etanol, que usamos durante a campanha. É o caminho para o setor sair mais rapidamente da crise, através da valorização e do consumo do hidratado e do anidro como puxadores”, explicou, afirmando que “é uma excelente oportunidade para rever amigos, discutir tendências e formular ações privadas e públicas para a competitividade da agroindústria canavieira”, disse o professor, ressaltando que o apoio das multinacionais foi essencial para a concretização do “Caminhos da Cana”.
O projeto tem como metodologia a realização de reuniões com líderes regionais e representantes dos diversos elos da cadeia para um profundo debate sobre as questões e necessidades do setor sucroenergético. Essas reuniões são realizadas na parte da manhã. Já na parte da tarde, é feito a coleta de informações junto aos associados e ministrada a palestra de Fava Neves, contando com a presença de produtores e lideranças. Durante este momento, são debatidos a atual situação do agronegócio brasileiro e os desafios do setor de cana-de-açúcar, como também, estudo feito pela Markestrat, que mapeou e quantificou o setor sucroenergético na safra 2013/14 e revelou números impressionantes do segmento, tais como o PIB Setorial estimado em US$ 107,72 bi, a geração de 613 mil empregos diretos e a arrecadação de US$ 8,52 bi em impostos agregados.
O livro Caminhos da Cana, de autoria do próprio palestrante, foi distribuído gratuitamente, durante os encontros, quando é feita também a aplicação de uma pesquisa realizada pela Universidade de São Paulo, apoiada pela FAPESP, com os produtores de cana de açúcar para identificação de demandas e encontrar um arcabouço teórico para melhoria do setor.
Durante sua apresentação, Fava Neves explica que num primeiro momento, a iniciativa tinha como objetivo fortalecer as associações setoriais, possibilitando que fossem mais competitivas. “Agora temos que dar um passo além, e a equipe está pensando em um plano estratégico para o setor de cana, expectativa de crescimento, consumo, qualquer dimensão que precisa ter para ajudar o Brasil a sair do buraco”, afirma.
De acordo com o pesquisador, é necessário buscar alternativas para que a produtividade da cana alcance os três dígitos, porque os custos de produção explodiram e os índices agrícolas só caem, se considerados os últimos 10 anos. “Tem um conjunto grande de iniciativas que precisam ser feitas”, alega o professor, pontuando que o lado do Governo se resume à agenda tradicional, de valorização do combustível renovável em detrimento do fóssil, ter um tratamento tributário mais privilegiado e valorizar a cogeração de energia. “A situação em que o Brasil se encontra ficou tão ruim agora que é praticamente inevitável que o Governo não olhe para o setor de cana”, diz ele.
Sobre a segunda fase do projeto, o professor ressalta que foi muito produtivo. “Em 6 meses foram alcançados quase 11 mil quilômetros em 24 cidades de todo o Brasil. A aposta para alavancar o setor sucroenergético é o etanol.
Por isso, nós o turbinamos com a união de forças entre associações, produtores e empresas. Tudo isso para que juntos pudéssemos alcançar os objetivos traçados”, explicou ele. No total, a segunda fase do projeto esteve em seis estados Alagoas, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraíba e São Paulo, rodando 10.931 km, sendo 5.649 km com o carro do Caminhos da Cana, e gastos 570 litros de etanol. A temporada atingiu cerca de duas mil pessoas e 800 produtores foram ouvidos.
Para o presidente do Sindicato de Ituverava-SP, Gustavo Ribeiro Rocha Chavaglia, a iniciativa contribui para o crescimento do segmento canavieiro. “O projeto fortalece, norteia e esclarece muita coisa para o produtor, possibilitando assim que ele se atualize e troque experiências sobre sua atividade”, disse ele, que foi o primeiro anfitrião dos participantes do Caminhos da Cana neste ano.
Opinião compartilhada com a gestora técnica operacional da Canaoeste, Alessandra Durgian. “O Caminhos da Cana é uma grande oportunidade para o produtor ter conhecimento das necessidades, dos desafios da real situação do setor sucroenergético.
São apresentados, pelo prof. dr. Marcos Fava Neves, de forma clara e objetiva, os números que quantificam o setor e também discutidos assuntos importantes para os produtores e associações sempre com o foco em aumento da competitividade”, afirma Alessandra, que acompanhou as reuniões nas cidades de abrangência da associação, entre elas, Sertãozinho-SP, sede da entidade. O evento em Sertãozinho fez parte das comemorações dos 70 anos da Canaoeste.
A iniciativa também foi aprovada pelos produtores, como o engenheiro agrônomo José Renato Parro, agrônomo e produtor de cana em Severínia, no oeste paulista. “A divulgação de novas ideias e aproximação da associação junto aos seus associados é muito importante para o setor, principalmente em momentos difíceis como tem vivido o segmento”, afirmou o produtor que participou de uma das reuniões, neste ano.
Resgate da Confiança
Para Fava Neves a confiança é a primeira coisa que deve ser resgatada no Brasil, pois ela está muito baixa. “O Governo Federal errou na conjuntura, fez a distribuição de renda, mas não fez nada no sentido de gerar renda, inclusive atrapalhou a capacidade dos senhores de gerar renda”, afirma durante suas palestras.
Segundo o pesquisador, a sociedade brasileira passou por um processo de “vagabundização”. “Não é qualquer país do mundo que tem um terço das pessoas em idade de trabalho (cerca de 61 milhões de pessoas não trabalham), que não procuram emprego e não estudam como no Brasil. Como nós vamos fazer para ser competitivo. Vamos ter que carregar esta carga de um terço que não trabalha?”, questionou ele.
"O Brasil enfrenta diversos problemas e as causas desses desajustes são estruturais e conjunturais. Adotou-se uma política equivocada, com pedaladas para escamotear os números, o crédito foi subsidiado via BNDES e agora enfrentamos ainda um aumento do desemprego com consequentemente redução do consumo futuro", ressaltou Fava Neves.
“A gente está atravessando uma fase econômica e social muito difícil no Brasil e a saída, como foi dito hoje aqui, é a união do produtor rural, em torno das suas associações, das suas cooperativas, dos seus sindicatos, enfim, a organização do produtor rural é fundamental para que a gente consiga atravessar essa fase dura que infelizmente o Brasil está atravessando, sobretudo no setor da cana-de-açúcar”, afirmou Ciro Pena Junior, presidente do Sindicato Rural de Barretos após participar do encontro realizado em Bebedouro-SP.
Segundo ele, na região de Barretos a situação não é diferente do resto da região canavieira. Custos altos e baixa remuneração para o produtor rural, concentração das usinas cada vez maiores, tudo isso vai contra a pluralidade no setor rural, que é uma questão que nós defendemos muito”, disse ele, contando que na sua região existem em torno de 500 fornecedores de cana-de-açúcar e duas usinas em atuação: Grupo Tereos, com a Usina São José, instalada em Colina, e a Biosev, que está instalada na Fazenda Continental, no município de Colômbia.
“Não diferente do Brasil, o que segura a economia nacional e também a nossa economia regional é o agronegócio, só que nós temos que fazer uma mea-culpa, pois o produtor rural se comunica muito mal com a sociedade e ele não faz valer os seus pontos de vista. A sociedade vive e sobrevive, se mantém é pelo agronegócio, pela produção de alimentos, pela produção de energia e pela produção de fibras, pela produção de matérias-primas que abastecem toda a indústria, só que o produtor rural tem que aprimorar esta arte da comunicação, isso eu acho fundamental”, afirmou.
Anfitrião do encontro realizado em Bebedouro-SP, José Osvaldo Junqueira Franco, presidente do Sindicato Rural de Bebedouro, destacou a relevância da iniciativa. “Eu acho que o projeto é muito bom, precisamos incentivar a participação dos produtores nas associações, nos sindicatos, nas cooperativas porque nós precisamos nos unir para conseguir melhorar, principalmente a geração de renda do setor e esse projeto visa exatamente isso, dar, principalmente, para os pequenos produtores, condições de sobreviver na atividade”, afirmou.
De acordo com Franco, Bebedouro tem 1250 propriedades e o sindicato tem 750 associados, sendo que sete usinas estão instaladas na região. Conhecida pela produção da laranja, hoje, Bebedouro tem 40 mil hectares de cana e 9 mil hectares de laranja, ao contrário do que existia há 15 anos. “Praticamente a totalidade da área do município hoje é ocupada por cana-de-açúcar. Infelizmente não temos nenhuma usina aqui na cidade, mas somos bem atendidos pelas usinas de Pitangueiras, Colinas, Sertãozinho, Paraíso e Catanduva”, alegou o presidente.
Multinacionais investem no projeto
Nas duas etapas, o projeto contou com o apoio das multinacionais Bayer e Case IH. “O setor se fortalece com a união de várias entidades, associações e produtores em prol da indústria canavieira, que troca informação e tecnologia durante a realização do projeto. Como a Bayer trabalha para a melhoria do setor, temos a certeza que com essa união, resultados melhores aparecerão”, afirmou Plaucius de Figueiredo Seixas, gerente de Clientes cana-de--açúcar da Bayer.
Para Fábio Balaban, especialista de marketing para colhedoras de cana da Case IH, o “Caminhos da Cana” é um projeto relevante porque percorre as principais cidades produtoras de cana--de-açúcar. “Com isso, podemos ter todo o envolvimento da nossa rede de concessionária e estar cada vez mais próximo dos produtores de cana, desde o pequeno ao grande produtor, podendo entender melhor as suas necessidades e contribuir com produtos que garantam performance e tecnologia reduzindo os custos de produção e maximizando a lucratividade dos agricultores”, diz.
O projeto contou ainda com o apoio da FEARP/USP, Fundace, Fapesp, Orplana, Canaoeste e apoio institucional da UNICA e CEISE Br.
Disseminando experiência
O sucesso do projeto “Caminhos da Cana” virou case e passou a ser apresentado em outros eventos, como o Congresso Nacional da Bioenergia, organizado recentemente pela UDOP e STAB, em Araçatuba-SP. Na ocasião, o presidente da Canaoeste e da Orplana, Manoel Ortolan, que foi o moderador do painel "Caminhos da Cana: soluções e perspectivas de resgate para o etanol", ressaltou a importância da reestruturação que vem sendo feita na Orplana, resultado do projeto realizado pela Markestrat, em busca de sua modernização.
As ações feitas durante a realização do "Caminhos da Cana" foram apresentadas pelo gestor executivo da Orplana, Celso Albano de Carvalho, durante o evento. Segundo Albano, a campanha foi ponto de partida para a modernização da Orplana, com a implantação de 19 ações, sendo que três delas já estão sendo colocadas em prática: a reestruturação da governança; mudança da sede da Orplana de Piracicaba-SP para Ribeirão Preto-SP e a gestão de relacionamento com associações membros.
"A comunicação está sendo um catalizador de divulgação do Caminhos da Cana", afirmou. Albano pontuou ainda as percepções dos encontros realizados pelo projeto, entre eles, a necessidade de formação de lideranças; relacionamento distante entre produtos e usinas; alienação, entre outras.
Um dos elementos apontados por ele e que vem sendo trabalhado pela Orplana se refere à denominação do produtor. “O trabalho é no sentido de tentar mudar um pouco a denominação de fornecedor de cana para produtor integrado de cana, pois esta transformação vem acontecendo, a gente percebe produtores se verticalizando, buscando se profissionalizar. Tem que começar a entregar a cana na esteira, isto é uma demanda latente que as usinas estão exigindo ou procurando transformar essa atividade”, explicou, ressaltando que neste contexto, a associação quer ser o facilitador do desenvolvimento técnico e estratégico da cadeia sucroenergética, desenvolvendo um ambiente externo favorável, ou seja, permitindo que o produtor possa um relacionamento mais racional e de equilíbrio e contribuir para a manutenção da competitividade.
“A visão da Orplana baseado neste projeto oriundo do “Caminhos da Cana” foi ser reconhecida como principal porta voz do produtor de cana entre suas associações membros convergindo para a necessidade advinda de todos seus associados”, explicou ele, completando “A missão é garantir um futuro seguro, rentável para os produtores de cana buscando excelência na produção através de relacionamento entre as organizações, desenvolvendo e capacitando as pessoas buscando excelência técnica, um relacionamento político entre o público mais equilibrado”, afirmou.
De acordo com o gestor executivo, após a inauguração da nova sede da Orplana, localizada no prédio Iguatemi Empresarial, em Ribeirão Preto- SP, realizada no dia 11 de dezembro, e que fazia parte das 19 ações apontadas pelo trabalho feito pela Markestrat, a meta agora é levar a mensagem sobre os trabalhos já realizados ao maior número possível de pessoas, estreitar o relacionamento com as empresas e associações filiadas como também fechar novas parcerias.
A preparação de uma programação para 2016 também faz parte dos planos. “Seguiremos nossa jornada levando a mensagem de otimismo e trabalho”, conclui o comandante da expedição, Marcos Fava Neves, confirmando a terceira fase do Caminhos da Cana.