A produção de energia limpa e renovável pelo bagaço da cana-de-açúcar, chamada de bioeletricidade, completa 35 anos no Brasil e é destaque na Fenasucro & Agrocana
O mercado da bioenergia se atualizou ao longo das décadas, porém ainda há desafios a serem sanados para amparar o setor e este assunto foi tema do Seminário Ceise Br/ Unica “35 anos de bioeletricidade”, que aconteceu no dia 17 de agosto, durante a 28ª edição da Fenasucro & Agrocana.
De acordo com dados da Empresa de Pesquisa em Energia (EPE), o Brasil tem grande potencial na geração de energia a partir de fontes renováveis. Até 2031, a produção de biogás deve chegar a 7,1 bilhões de Nmᶟ. E para o biometano, de 3,8 bilhões de Nmᶟ.
O gerente de bioeletricidade da Unica, Zilmar de Souza, lembrou que no início falava-se em kilowatt-hora e atualmente que se escuta é gigawatt-hora e terawatt- hora. “O setor evoluiu muito em escala nesses últimos 35 anos e esse é um ótimo momento, é a oportunidade de aproveitar o potencial que temos e que venham mais 35 anos pela frente”, comentou Souza.
Arnaldo Jardim (deputado federal) e Zilmar de Souza (gerente de bioeletricidade da Unica)
Presente na abertura do evento, o presidente da Frente Parlamentar do Setor Sucroenergético, Arnaldo Jardim, apontou a Fenasucro no importante contexto de retomada do setor e também ressaltou os desafios. “Nos leilões de energia temos tido dificuldades e competitividade. Estabelecemos uma nova norma para GD (Geração Distribuída) e esperamos que isso dê um equilíbrio de disputa. Queremos garantir competitividade àquilo que vem da energia oriunda da biomassa”. O parlamentar ainda destacou que a cana-de-açúcar passou a ser a cana do etanol, da bioeletricidade e, agora, a nova fronteira: biometano e biogás. “Junto com a Unica e a Cogen - Associação da Indústria de Cogeração de Energia, conseguimos formular um projeto que institui o marco regulatório para o biogás. É uma alegria ver que as empresas estão se preparando para esta nova realidade. Queremos avançar muito neste setor”, disse Jardim.
O prefeito de Ribeirão Preto, Duarte Nogueira, também destacou os 35 anos de avanço da bioeletricidade e do setor como um todo. “O mundo todo respira e transpira as questões da sustentabilidade. As empresas estão incorporando a sustentabilidade e a agenda ESG, em busca das boas práticas. Precisamos disso para sobrevivermos e vivermos com qualidade”, afirmou.
Duarte: “A bioeletricidade é uma forma inteligente de cogeração”
Newton Duarte, presidente da Cogen - Associação da Indústria de Cogeração de Energia, explicou que, ao longo dos anos, o país aprimorou a capacidade para gerar eletricidade por meio dos subprodutos da cana-de-açúcar, mas ainda enfrenta um desafio antigo: o de operar livremente no mercado. “É inexorável que tenhamos um novo mercado nos próximos anos, com modernização e versatilidade, mas para isso precisamos de leis que garantam o livre mercado. O governo limita a venda de bioenergia, mas se apropria da geração de lucro, deixando de repassar aos fornecedores, que são impedidos de vender no mercado livre”, disse Duarte.
Duarte ainda destacou “Algo que foi muito enfatizado neste evento foi a perspectiva do biometano e principalmente do etanol se tornar um grande produtor de hidrogênio dentro do automóvel e esse hidrogênio trabalhar com células combustíveis produzindo eletricidade. Um hidrogênio advindo exatamente do etanol e do biometano, isso é maravilhoso. Que país que tem uma fonte com todas essas deriváveis, com todas essas potencialidades?”, observou.
Homenagens
Durante o seminário foram homenageadas 61 usinas, dez comercializadoras de energia elétrica e cinco consumidores, detentores do Certificado e do Selo Energia Verde.
Os diretores do Grupo Tonielo – Ricardo Toniello e Antonio Eduardo Tonielo Filho receberam a homenagem prestada à Viralcool Unidade Castilho
O Programa de Certificação da Bioeletricidade Energia Verde foi criado em 2015 pela Unica, em parceria com a CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica) e a ABRACEEL (Associação Brasileira dos Comercializadores), que emitem o Certificado (que é concedido às usinas sucroenergéticas) e o Selo Energia Verde (que pode ser solicitado e concedido aos consumidores no mercado livre e comercializadoras que adquiram bioeletricidade das usinas detentoras do Certificado Energia Verde, desde que atendam aos critérios estabelecidos nas diretrizes do programa).
Ao longo de 2022, as 61 unidades detentoras do Certificado devem produzir mais de 11 mil gigawatt-hora, sendo 65% exportados para a rede e o restante (35%) destinado ao autoconsumo das usinas sucroenergéticas. Trata-se de uma geração renovável equivalente a quase 40% da geração da Usina Belo Monte em 2021 ou a atender mais de 6 milhões de unidades consumidoras residenciais, além de evitar a emissão estimada de 4,2 milhões tCO2, marca que somente seria atingida com o cultivo de 30 milhões de árvores nativas ao longo de 20 anos.